O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Catequese sobre a Família - "sobre as feridas que se abrem precisamente no seio da convivência familiar" Papa Francisco

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 24 de Junho de 2015
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nas últimas catequeses falamos da família que vive as fragilidades da condição humana, a pobreza, a doença, a morte. Ao contrário, hoje refletimos sobre as feridas que se abrem precisamente no seio da convivência familiar. Ou seja, quando na própria família nos magoamos reciprocamente. O aspecto mais negativo!

Sabemos bem que em nenhuma história familiar faltam momentos em que a intimidade dos afetos mais queridos é ofendida pelo comportamento dos seus membros. Palavras e ações (e omissões!) que, em vez de exprimir amor, o subtraem ou, pior ainda, o mortificam. Quando estas feridas, ainda remediáveis, são descuidadas, agravam-se: transformam-se em prepotência, hostilidade, desprezo. E a este ponto podem tornar-se lacerações profundas, que separam marido e esposa, que induzem a procurar alhures entendimentos, apoio e consolação. Mas frequentemente estes «apoios» não pensam no bem da família!

O esvaziamento do amor conjugal difunde ressentimento nas relações. E muitas vezes a desunião «desaba» sobre os filhos.

Então, os filhos. Gostaria de analisar um pouco este ponto. Não obstante a nossa sensibilidade aparentemente evoluída, e todas as nossas requintadas análises psicológicas, pergunto-me se não nos entorpecemos também em relação às feridas da alma das crianças. Quanto mais se procura compensar com presentes e docinhos, tanto mais se perde o sentido das feridas — mais dolorosas e profundas — da alma. Falamos muito sobre distúrbios de comportamento, saúde psíquica, bem-estar da criança, ansiedade dos pais e dos filhos... Mas sabemos porventura o que é uma ferida da alma? Sentimos o peso da montanha que esmaga a alma de uma criança, nas famílias onde as pessoas se magoam reciprocamente e causam mal umas às outras, até quebrar o vínculo da fidelidade conjugal? Que peso tem nas nossas escolhas — escolhas erradas, por exemplo — quanta importância tem a alma das crianças? Quando os adultos perdem o raciocínio, quando cada um só pensa em si mesmo, quando o pai e a mãe se ferem, a alma das crianças sofre muito, prova um sentido de desespero. E são feridas que deixam a marca para toda a vida.

Na família, tudo está interligado: quando a sua alma está ferida em qualquer ponto, a infecção contagia todos. E quando um homem e uma mulher, que se comprometeram a ser «uma só carne» e a formar uma família, pensam obsessivamente nas próprias exigências de liberdade e de gratificação, este desvio corrói profundamente o coração e a vida dos filhos. Muitas vezes as crianças escondem-se para chorar sozinhas... Devemos compreender bem isto. Marido e esposa são uma só carne. Mas as suas criaturas são carne da sua carne. Se pensarmos na severidade com a qual Jesus admoesta os adultos para que não escandalizassem os pequeninos — ouvimos o trecho do Evangelho — (cf. Mt 18, 6), podemos compreender melhor também a palavra sobre a grande responsabilidade de preservar o vínculo conjugal que dá início à família humana (cf. Mt 19, 6-9). Quando o homem e a mulher se tornam uma só carne, todas as feridas e todos os abandonos do pai e da mãe incidem sobre a carne viva dos filhos.

Por outro lado, é verdade que há casos em que a separação é inevitável. Por vezes, pode tornar-se até moralmente necessária, quando se trata de defender o cônjuge mais frágil, ou os filhos pequenos, das feridas mais graves causadas pela prepotência e a violência, pela humilhação e a exploração, pela alienação e a indiferença.

Graças a Deus não faltam aqueles que, apoiados pela fé e pelo amor aos filhos, testemunham a sua fidelidade e um vínculo no qual acreditaram, embora pareça impossível fazê-lo reviver. Contudo, nem todos os separados sentem esta vocação. Nem todos reconhecem, na solidão, um apelo que o lhes Senhor dirige. Ao nosso redor encontramos diversas famílias em situações chamadas irregulares — eu não gosto desta palavra — e colocamo-nos muitas interrogações. Como podemos ajudá-las? Como podemos acompanhá-las? Como podemos acompanhá-las para que as crianças não se tornem reféns do pai ou da mãe?

Peçamos ao Senhor uma fé grande, a fim de ver a realidade com o olhar de Deus; e uma grande caridade, para aproximar as pessoas ao seu Coração misericordioso.
Fonte: Libreria Editrice Vaticana

Lc 7,11-15 - "Compaixão de Jesus por quantos sofrem" Catequese Para Francisco sobre a Família.

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 17 de Junho de 2015
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No percurso de catequeses sobre a família, hoje inspiramo-nos diretamente no episódio narrado pelo evangelista Lucas, que há pouco ouvimos (cf. Lc 7, 11-15). Trata-se de uma cena muito comovedora, que nos mostra a compaixão de Jesus por quantos sofrem — neste caso, uma viúva que perdeu o seu único filho — e nos manifesta também o poder de Jesus sobre a morte.

A morte é uma experiência que diz respeito a todas as famílias, sem excepção alguma. Faz parte da vida; e no entanto, quando atinge os afetos familiares, a morte nunca consegue parecer-nos natural. Para os pais, sobreviver aos próprios filhos é algo de particularmente desolador, que contradiz a natureza elementar das relações que dão sentido à própria família. A perda de um filho ou de uma filha é como se o tempo parasse: abre-se um abismo que engole o passado e também o futuro. A morte, que leva embora o filho pequeno ou jovem, é uma bofetada às promessas, aos dons e aos sacrifícios de amor jubilosamente confiados à vida que fizemos nascer. Muitas vezes vêm à Missa em Santa Marta pais com a fotografia de um filho, filha, criança, rapaz, moça, e dizem-me: «Ele foi-se, ela foi-se!». E o seu olhar está cheio de dor. A morte acontece, e quando se trata de um filho, fere profundamente. 

A família inteira permanece como que paralisada, emudecida. E algo semelhante padece também a criança que permanece sozinha, com a perda de um dos pais, ou de ambos. E pergunta: «Mas onde está o meu pai? Onde está a minha mãe?» — Está no Céu!» — «Mas por que não o vejo?». Esta pergunta oculta uma angústia no coração da criança que permanece sozinha. O vazio do abandono que se abre dentro dela é ainda mais angustiante porque ela nem sequer tem a experiência suficiente para «dar um nome» àquilo que lhe aconteceu. «Quando volta o meu pai? Quando volta a minha mãe?». Que responder, quando a criança sofre? Assim é a morte em família.

Nestes casos, a morte é como um buraco negro que se abre na vida das famílias e ao qual não sabemos dar explicação alguma. E às vezes chega-se até a dar a culpa a Deus! Quantas pessoas — entendo-as — ficam com raiva de Deus e blasfemam: «Por que me tiraste o filho, a filha? Não há Deus, Deus não existe! Por que me fez Ele isto?». Muitas vezes ouvimos frases como esta. Mas a raiva é um pouco aquilo que provém do cerne de uma grande dor; a perda de um filho ou de uma filha, do pai ou da mãe, é uma dor enorme! Isto acontece continuamente nas famílias. Em tais casos, como eu disse, a morte é como que um buraco. Mas a morte física possui «cúmplices» que são até piores do que ela, e que se chamam ódio, inveja, soberba, avareza; em síntese, o pecado do mundo que trabalha para a morte, tornando-a ainda mais dolorosa e injusta. Os afetos familiares parecem as vítimas predestinadas e inermes destes poderes auxiliares da morte, que acompanham a história do homem. Pensemos na absurda «normalidade» com que, em certos momentos e lugares, os acontecimentos que acrescentam horror à morte são provocados pelo ódio e pela indiferença de outros seres humanos. O Senhor nos livre de nos habituarmos a isto!

No povo de Deus, com a graça da sua compaixão conferida em Jesus, muitas famílias demonstram concretamente que a morte não tem a última palavra: trata-se de um verdadeiro ato de fé. Todas as vezes que a família em luto — até terrível — encontra a força de conservar a fé e o amor que nos unem a quantos amamos, ela impede desde já que a morte arrebate tudo. A escuridão da morte deve ser enfrentada com um esforço de amor mais intenso. «Meu Deus, ilumina as minhas trevas!», é a invocação de liturgia da noite. À luz da Ressurreição do Senhor, que não abandona nenhum daqueles que o Pai lhe confiou, nós podemos privar a morte do seu «aguilhão», como dizia o apóstolo Paulo (1 Cor 15, 55); podemos impedir que ela envenene a nossa vida, que torne vãos os nossos afetos, que nos leve a cair no vazio mais obscuro.

Nesta fé, podemos consolar-nos uns aos outros, conscientes de que o Senhor venceu a morte de uma vez para sempre. Os nossos entes queridos não desapareceram nas trevas do nada: a esperança assegura-nos que eles estão nas mãos bondosas e vigorosas de Deus. O amor é mais forte do que a morte. Por isso, o caminho consiste em fazer aumentar o amor, em torná-lo mais sólido, e o amor preservar-nos-á até ao dia em que todas as lágrimas serão enxugadas, quando «já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor» (Ap 21, 4). 

Se nos deixarmos amparar por esta fé, a experiência do luto poderá gerar uma solidariedade de vínculos familiares mais forte, uma renovada abertura ao sofrimento das outras famílias, uma nova fraternidade com as famílias que nascem e renascem na esperança. Nascer e renascer na esperança, é isto que nos propicia a fé. Contudo, gostaria de ressaltar a última frase do Evangelho que ouvimos hoje (cf. Lc 7, 11-15). Depois que Jesus restituiu à vida este jovem, filho da mãe que era viúva, o Evangelho reza: «Jesus entregou-o à sua mãe». Esta é a nossa esperança! O Senhor restituir-nos-á todos os nossos entes queridos que já partiram, e encontrar-nos-emos todos juntos. Esta esperança não desilude! Recordemos bem este gesto de Jesus: «Jesus entregou-o à sua mãe», assim fará o Senhor com todos os nossos amados familiares!

Esta fé protege-nos da visão niilista da morte, assim como das falsas consolações do mundo, de tal maneira que a verdade cristã «não corra o risco de se misturar com mitologias de vários tipos», cedendo aos ritos da superstição, antiga ou moderna» (Bento XVI, Angelus de 2 de Novembro de 2008). Hoje é necessário que os Pastores e todos os cristãos exprimam de modo mais concreto o sentido da fé em relação à experiência familiar do luto. Não se deve negar o direito de chorar — devemos chorar no luto — pois até Jesus «começou a chorar» e sentiu-se «intensamente comovido» pelo grave luto de uma família que Ele amava (Jo 11, 33-37). Ao contrário, podemos haurir do testemunho simples e vigoroso de numerosas famílias que souberam ver, na dificílima passagem da morte, também a passagem certa do Senhor, crucificado e ressuscitado, com a sua promessa irrevogável da ressurreição dos mortos. O esforço amoroso de Deus é mais forte do que a obra da morte. É deste amor, precisamente deste amor, que nos devemos tornar «cúmplices» laboriosos, com a nossa fé! E recordemos aquele gesto de Jesus: «Jesus entregou-o à sua mãe»; assim fará Ele com todos os nossos entes queridos e também connosco, quando nos encontrarmos, quando a morte for derrotada definitivamente em nós. Ela é vencida pela cruz de Jesus. Jesus restituir-nos-á todos à família!
Fonte: Libreria Editrice Vaticana

A debilidade e o sofrimento dos nossos afetos mais queridos e mais sagrados podem ser, para os nossos filhos e os nossos netos, uma escola de vida.

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 10 de Junho de 2015
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Continuemos com as catequeses sobre a família, e nesta audiência gostaria de me referir a um aspecto muito comum na vida das nossas famílias, a doença. Trata-se de uma experiência da nossa fragilidade, que vivemos principalmente em família, desde a infância e depois sobretudo na velhice, quando chegam os achaques. No âmbito dos vínculos familiares, a enfermidade das pessoas que amamos é padecida com um «suplemento» de dor e de angústia. É o amor que nos faz sentir este «suplemento». Muitas vezes para um pai e uma mãe é mais difícil suportar o mal de um filho, de uma filha, do que uma dor pessoal. Podemos dizer que a família foi desde sempre o «hospital» mais próximo. Ainda hoje, em muitas regiões do mundo, o hospital é um privilégio para poucos, e muitas vezes fica distante. São a mãe, o pai, os irmãos, as irmãs, as avós que garantem os cuidados e ajudam a curar.

Nos Evangelhos, muitas páginas narram os encontros de Jesus com os doentes e o seu compromisso por cuidar deles. Ele apresenta-se publicamente como alguém que luta contra a enfermidade e que veio para curar o homem de todos os males: o mal do espírito e o mal do corpo. É verdadeiramente comovedora a cena evangélica recém-narrada pelo Evangelho de Marcos. Reza assim: «À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e endemoninhados» (1, 32). Se penso nas grandes cidades contemporâneas, pergunto-me onde estão as portas ao limiar das quais levar os enfermos, na esperança de que sejam curados! Jesus nunca se subtraiu aos seus cuidados. Jamais passou além, nunca virou o rosto para o outro lado. E quando um pai ou uma mãe, ou então até simplesmente pessoas amigas traziam um doente à sua presença para que o tocasse e curasse, não perdia tempo; a cura vinha antes da lei, até daquela tão sagrada como o descanso do sábado (cf. Mc 3, 1-6). Os doutores da lei repreendiam Jesus porque Ele curava no dia de sábado, fazia o bem no dia de sábado. Mas o amor de Jesus consistia em dar a saúde, em fazer o bem: e isto vem sempre em primeiro lugar!

Jesus manda os discípulos realizar a obra que Ele mesmo faz, conferindo-lhes o poder de curar, ou seja, de se aproximar dos enfermos e de cuidar deles até ao fim (cf. Mt 10, 1). Devemos ter presente aquilo que Ele disse aos discípulos no episódio do cego de nascença (cf. Jo 9, 1-5). Os discípulos — com o cego ali em frente! — debatiam sobre quem tivesse pecado por ter nascido cego, ele ou os seus pais, para provocar a sua cegueira. O Senhor disse claramente: nem ele, nem os seus pais; é assim para que nele se manifestem as obras de Deus. E curou-o. Eis a glória de Deus! Eis a tarefa da Igreja! Ajudar os doentes, sem se perder em bisbilhotices, assistir sempre, consolar, aliviar, estar próximo dos doentes; esta é a sua tarefa.

A Igreja convida à oração incessante pelos nossos entes queridos, atingidos pelo mal. A prece pelos doentes nunca deve faltar. Aliás, temos que rezar ainda mais, tanto pessoalmente como em comunidade. Pensemos no episódio evangélico da mulher cananeia (cf. Mt 15, 21-28). Trata-se de uma mulher pagã, não pertence ao povo de Israel, mas é uma pagã que suplica a Jesus a cura da própria filha. Para pôr à prova a sua fé, Jesus primeiro responde duramente: «Não posso, devo pensar primeiro nas ovelhas de Israel!». A mulher não desiste — quando pede ajuda para a sua criatura, uma mãe nunca cede; todos nós sabemos que as mães lutam pelos seus filhos — e responde: «Até os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos!», como se dissesse: «Trata-me pelo menos como uma cachorrinha!». Então, Jesus diz-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu desejas» (v. 28).

Diante da doença, até em família surgem dificuldades, por causa da debilidade humana. Mas em geral o tempo da enfermidade faz aumentar a força dos vínculos familiares. E penso como é importante educar desde crianças os filhos para a solidariedade na hora da doença. Uma educação que mantenha à distância a sensibilidade pela enfermidade humana torna árido o coração. E leva os jovens a ser «anestesiados» em relação ao sofrimento do próximo, incapazes de se confrontar com o sofrimento e de viver a experiência do limite. Quantas vezes nós vemos chegar ao trabalho um homem, uma mulher com o rosto cansado, com uma atitude fatigada, e quando lhe perguntamos: «O que acontece?», responde: «Eu dormi só duas horas, porque em casa nos revezamos para estar próximos do filho, da filha, do doente, do avô, da avó». E o dia continua com o trabalho. São coisas heróicas, é a heroicidade das famílias! Estas formas de heroicidade escondida verificam-se com ternura e com coragem, quando em casa alguém está doente.

A debilidade e o sofrimento dos nossos afetos mais queridos e mais sagrados podem ser, para os nossos filhos e os nossos netos, uma escola de vida — é importante educar os filhos, os netos, para que compreendam esta proximidade na doença em família — e tornam-se tal quando os momentos de enfermidade são acompanhados pela oração e pela proximidade carinhosa e cheia de esmero dos familiares. A comunidade cristã sabe bem que, na prova da doença, a família não deve ser deixada sozinha. E temos que dar graças ao Senhor pelas lindas experiências de fraternidade eclesial que ajudam as famílias a atravessar o árduo momento da dor e do sofrimento. Esta proximidade cristã, de uma família em relação à outra, é um verdadeiro tesouro para a paróquia; um tesouro de sabedoria, que assiste as famílias nas fases difíceis, levando-as a compreender o Reino de Deus melhor do que muitos discursos! São carícias de Deus!
Fonte: Libreria Editrice Vaticana

Reflexão sobre a Família - Papa Francisco - Catequese

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 3 de Junho de 2015
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Nas últimas quartas-feiras meditamos sobre a família e vamos em frente com este tema, com a reflexão sobre a família. E a partir de hoje as nossas catequeses abrem-se, com a reflexão, à consideração da vulnerabilidade de que a família é susceptível, nas condições de vida que a põem à prova. A família enfrenta tantos problemas que a põem à prova.

Uma destas provas é a pobreza. Pensemos em tantas famílias que vivem nas periferias das megalópoles, mas também nas áreas rurais... Quanta miséria, quanta degradação! E depois, a alguns lugares, para agravar a situação, chega também a guerra. A guerra é sempre terrível. Além disso ela atinge sobretudo as populações civis, as famílias. A guerra é deveras a «mãe de todas as pobrezas», a guerra empobrece a família, uma grande predadora de vidas, de almas e dos afetos mais sagrados e queridos.

Apesar de tudo isto, há tantas famílias pobres que procuram levar a sua vida diária com dignidade, muitas vezes confiando abertamente na bênção de Deus. Mas esta lição não deve justificar a nossa indiferença, antes, deveria aumentar a nossa vergonha pelo facto de haver tanta pobreza! É quase um milagre que, até na pobreza, a família continue a formar-se, e até a conservar — como pode — a humanidade especial dos seus vínculos. Este facto irrita aqueles planificadores do bem-estar que consideram os afetos, a geração, os vínculos familiares, uma variável secundária da qualidade de vida. Não percebem nada! Ao contrário, deveríamos ajoelhar-nos diante destas famílias, que são uma verdadeira escola de humanidade que salva as sociedades da barbárie.
Com efeito, o que nos resta se cedermos à chantagem de César e Mamona, da violência e do dinheiro, e renunciarmos também aos afetos familiares? Uma nova ética civil só chegará quando os responsáveis da vida pública reorganizarem o vínculo social a partir da luta à espiral perversa entre família e pobreza, que nos leva ao abismo.

A economia hodierna especializou-se muitas vezes no usufruto do bem-estar individual, mas pratica amplamente a exploração dos vínculos familiares. Trata-se de uma contradição grave! Naturalmente, o imenso trabalho da família não é calculado nos balanços! Com efeito, a economia e a política são avarentas de reconhecimentos a este propósito. Contudo, a formação interior da pessoa e a circulação social dos afetos têm precisamente ali o seu pilar. Se for tirado, desmorona tudo.

Não está em questão só o pão. Falamos de trabalho, falamos de instrução, falamos de saúde. É importante compreender bem isto. Ficamos sempre muito comovidos quando vemos imagens de crianças desnutridas e doentes em muitas partes do mundo que nos são mostradas. Ao mesmo tempo, comove-nos muito também o olhar flamejante de muitas crianças, privadas de tudo, que estão em escolas feitas de nada, quando mostram com orgulho o seu lápis e caderno. E como olham com amor para o seu professor ou professora! Verdadeiramente, as crianças sabem que o homem não vive só de pão! Também de afeto familiar; quando há a miséria as crianças sofrem, porque querem o amor, os vínculos familiares.

Nós cristãos deveríamos estar cada vez mais próximos das famílias que a pobreza põe à prova. Considerai, todos vós conheceis alguém: pai sem trabalho, mãe desempregada... e a família sofre, os vínculos debilitam-se. Isto é mau. Com efeito, a miséria social atinge a família e por vezes destrói-a. A falta ou a perda do trabalho, ou a sua grande precariedade, incidem em grande medida sobre a vida familiar, põem à dura prova as relações. As condições de vida nos bairros mais desfavorecidos, com problemas de habitação e de transporte, assim como a redução dos serviços sociais, de saúde e escolares, causam ulteriores dificuldades. A estes factores materiais acrescenta-se o dano provocado à família por pseudomodelos, difundidos pelos mass media baseados no consumismo e no culto da aparência, que influenciam as camadas sociais mais pobres e incrementam a desagregação dos vínculos familiares. Cuidar das famílias, cuidar do afeto, quando a miséria põe a família à prova!

A Igreja é mãe, e não deve esquecer este drama dos seus filhos. Também ela deve ser pobre, para se tornar fecunda e responder a tanta miséria. Uma Igreja pobre é uma Igreja que pratica uma simplicidade voluntária na própria vida — nas próprias instituições, no estilo de vida dos seus membros — para abater qualquer muro de separação, principalmente dos pobres. São necessárias a oração e a ação. Rezemos intensamente ao Senhor, para que nos desperte, a fim de tornarmos as nossas famílias cristãs protagonistas desta revolução da proximidade familiar, que agora nos é tão necessária! A Igreja, desde o início, é feita desta proximidade familiar. E não esqueçamos que o juízo dos necessitados, dos pequeninos e dos pobres antecipa o juízo de Deus (cf.Mt 25, 31-46). Não esqueçamos isto e façamos tudo o que pudermos para ajudar as famílias a ir em frente na prova da pobreza e da miséria que atingem os afetos, os vínculos familiares. Gostaria de ler outra vez o texto da Bíblia que ouvimos no início e cada um de nós pense nas famílias que são provadas pela miséria e pela pobreza, a Bíblia diz assim: «Filho, não negues ao pobre a esmola, nem deixes que definhem os olhos dos indigentes. Não desprezes aquele que tem fome, nem irrites o pobre na sua necessidade. Não aflijas o coração do infeliz, nem recuses a esmola àquele que está na miséria. Não rejeites a petição do aflito nem voltes a cara ao humilde. Não afastes os olhos do indigente, nem lhe dês ocasião para te amaldiçoar» (Ecli 4, 1-5). Porque será isto que o Senhor fará — diz Ele no Evangelho — se não fizermos estas coisas.
Fonte: Libreria Editrice Vaticana

Reflexão do Evangelho de Mt 8,1-22; Mt 16,13-19

Mt 8,1-4: “SE QUERES, TU PODES PURIFICAR-ME”. 


Quem pede a purificação é porque se reconhece impuro. No caso do leproso, tratava-se de uma enfermidade. Naquele “eu quero” de Jesus está nossa salvação. Ele se expõe para que sejamos purificados: Ele se torna impuro ao tocar o leproso. Jesus se fez pecado para nos salvar. O que é nossa salvação senão esse “eu quero” de Deus!? O leproso sabia que Jesus era poderoso (“tu podes”), agora experimenta que Ele é bom ("eu quero"). Jesus estende a mão e o toca. A ação é plástica. Quase podemos ver o movimento do braço que o alcança ali prostrado. A distância estabelecida entre o leproso e os sãos foi suprimida por Jesus. A oferta do leproso é testemunho também para nós, testemunho para que nos encorajemos e, se tivermos alguma enfermidade – todos somos in-firmus (não firme) –, que nos aproximemos dEle, do Seu Corpo e fiquemos ao alcance do Seu toque. Jesus, com a purificação, dá ao leproso a saúde, recupera lhe a possibilidade da relação social e a liberdade de poder ir ao templo.


Mt 8,5-17: “EM ISRAEL NÃO ACHEI ALGUÉM QUE TIVESSE TAL FÉ.” 


Em que atitudes aquele homem demonstrou tal fé, levando Jesus a admirar-se? Antes de tudo, ele reconhece que Jesus é ‘Senhor’, depositando nEle a confiança para aliviar as dores do seu servo. Mas o que se destaca é que ele se reconheça ‘não digno’ diante de Jesus. Nunca é demais afirmar que a salvação no Cristianismo é dom imerecido, para a qual nossas obras são desproporcionais e que pleitear algum retorno baseado no status é tentar a Deus. Essa indignidade não é por ser estrangeiro, mas por ser criatura. Quanto mais reconhecemos que não merecemos, mais percebemos a gratuidade de Deus e mais naturalmente nasce no coração o louvor a Ele. O louvor nasce quando os dons recebidos são apreciados como dádivas e não como pagamento. A fé que nos introduz na “mesa do Reino” é a fé desnudada do sentimento de autojustificação, e que vive de entrega confiante e obediente Àquele que “carrega nossas doenças”. Louvemos a Deus hoje, dando graças por tudo, pois esse é ótimo antídoto contra o mau humor causado pela sensação de que a vida é pouco generosa conosco. Por tudo dá graças, pois essa é a vontade de Deus a teu respeito em Cristo Jesus. Amém!


Mt 16,13-19: “TU ÉS PEDRO E SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA.” 


Essa Palavra é cheia de promessas de Jesus. Ele aborda “sua” Igreja, uma comunidade que terá assegurada sua permanência; nem as forças do inferno podem conter a força do Evangelho. Como um rei que parte, Ele verifica se seu “general” tem as credenciais adequadas: a justa profissão de fé. Daí a pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. A resposta adequada de Pedro faz com que o Rei possa confiar o que LHE é mais precioso, pois LHE custou a entrega da vida: Suas ovelhas, Sua Igreja. Essa Palavra é acolhida como um dos elemento fundantes da comunidade dos crentes. A nossa fragilidade não anula a promessa de Jesus - estava assim garantido que, sobre a rocha da profissão de fé de Pedro, se apoiaria a fé dos cristãos de todos os tempos. Se é verdade que é importante a experiência pessoal da fé – e de fato o é -, ela, porém, deverá sempre ser novamente verificada nos moldes da fé de Pedro. Louvemos a Deus pela fé recebida e rezemos por aquele que, na Igreja, tem a missão de nos confirmar na fé: o Papa e, com ele, os bispos.


Mt 8,18-22: “SEGUE-ME E DEIXA QUE OS MORTOS ENTERREM SEUS MORTOS.”

Poderá até enterrar o pai, mas não ‘primeiro’. O primeiro a fazer é seguir Jesus. Somente um coração livre poderá seguir Jesus aonde quer que ele vá. O coração humano tem um magnetismo que o atrai ao apego de segurança nas “coisas” ou nos afetos. É desumano o que Jesus pede? Ele pede o que Ele mesmo oferece: a liberdade interior. Usaremos melhor as “coisas” e amaremos melhor as pessoas, quando a relação com elas estiver no lugar certo em nossa vida; e esse lugar não é o primeiro. Jesus se encarrega de desatar-nos das amarras em que nos colocamos. O Cristianismo não é misantropo – ódio às pessoas -, mas sem uma medida de renúncia, passaremos a vida buscando nas criaturas o que elas não podem nos dar. Em algum momento, então, nós nos voltaremos contra elas. Em cada momento da nossa vida, essa Palavra pedirá algo diverso e mais profundo. A quem não custa o desapego? A vida cristã, porém, visa a libertar nosso coração para amarmos com liberdade e na liberdade dos filhos de Deus.
Fonte: Pe.José Otácio O.Guedes.


quinta-feira, 25 de junho de 2015

Mt 7,21-29 "Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus"

Mt 7,21-29: “NEM TODO AQUELE QUE ME DIZ ‘SENHOR, SENHOR’ ENTRARÁ NO REINO DOS CÉUS.” 

Profetizar, expulsar demônios e fazer milagres são ações que expressam o poder de Deus e podem ser permitidas por Ele mesmo a pessoas que estejam fora da vontade dEle. Que enigma! Essa Palavra nos alerta sobre o perigo do “pragmatismo cinzento”, daquela rotina no cumprimento das coisas de Deus: gestos de culto, orações e ações sem a alma da obediência à vontade de Deus. Fazer a vontade do Pai, eis o que nos interessa! Como é importante o tempo que dedicamos a escutar a Palavra diariamente, pois quando melhor poderemos colher a porção de vontade de Deus para cada dia senão na Palavra que nos é dada pela mãe Igreja? Essa sim é a rocha sobre a qual se constrói uma casa existencial sólida. Faço a mim e desejo que sinta feita também a você a seguinte indagação: Qual é a vontade de Deus para mim no momento presente? Estou nela? A vontade de Deus é o anteparo da nossa vida. Ela é a torre forte contra o inimigo.
Fonte: José Otácio O. Guedes.

São João Batista

SÃO JOÃO BATISTA foi enviado para preparar a missão de Jesus e apresentá-lo a Israel. Ele o batizou e o indicou como o “Cordeiro de Deus” para seus discípulos. João não é um predestinado, para quem todas as coisas já estão traçadas, executando-as com clarividência. Ele terá dúvidas e será desafiado a ser fiel a Deus. As ações de Jesus parecem destoar do anúncio de João sobre a justiça de Deus, de quem o Messias deveria fazer valer pela queima da “palha”; Jesus tem algo de inesperado nas suas ações. Seu testemunho contra as ações de Herodes lhe custará a vida. João Batista é um profeta atual. Ele sabe que é um enviado de Deus, mas vive cada dia buscando seu querer. Sabe que não é o Messias, pois sabe seu lugar! É fiel, sem ter nenhuma especial revelação de que estava agradando a Deus. Que saibamos viver de fé e de fidelidade, como João Batista!
Fonte: Pe. José Otácio O.Guedes.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Reflexão dos Evangelhos de Mt 6,1-7,6.12-14 e Mc 4,35-40

Mt 6,1-6;16-18: “TEU PAI, QUE VÊ NO SEGREDO, TE RECOMPENSARÁ.”  

A apreciação externa de um gesto não aumenta nem diminui seu valor. Quando Jesus pede para não ostentarmos as boas ações, Ele nos pede para não gastarmos forças na visibilidade, aplicando-a na profundidade do gesto. O retorno da glória que as pessoas podem dar, não alarga o coração, mas pode, sim, expandir a vaidade. Não precisamos querer esconder, mas é preciso querermos não fazer para sermos vistos. O que, profundamente, Jesus quer nos dizer? Que o valor do que fazemos está nas intenções do coração e que a Vida de que precisamos está em Deus, não nas criaturas, pois elas são inconstantes e não se pode viver a partir da expectativa dos outros. No segredo entre nós e Deus se mede o valor dos gestos. Senhor, que as intenções das minhas ações sejam agradáveis a Ti. Amém!

Mt 6,7-16: “VOSSO PAI SABE DO QUE PRECISAIS.” 

Jesus nos ensina a orar o Pai nosso! O que é lícito pedir na oração? Tudo depende do que representa para nós Aquele a quem oramos. Diante de quem estou? Oração é mais que as palavras ditas. Ela pode até ser sem palavras. Oração é um encontro com o Pai. Se Ele sabe do que preciso, a essência da oração não está no que falo, mas no que passa no meu coração de orante. O Pai vê o coração, o segredo. Nosso segredo com Deus é aquela medida não mensurável de confiança, de entrega à Sua vontade, de disposição a acolher a porção do Seu querer para nosso dia. O ‘Pai Nosso’ explicita esses sentimentos. Atrás de cada súplica, deve estar aquela reserva de renúncia da própria vontade, dos projetos próprios. Nossos pedidos são balbucios para mantermos a face do Pai ao nosso alcance. Que não nos dispersemos no caminho da vida!

Mt 6,19-23: “AJUNTAI PARA VÓS TESOUROS NO CÉU.” 

A metáfora da vida como ajuntar tesouros que não corram risco supõe viver a grande aventura da fé. Abdicar-se de construir a própria segurança – que, em última análise, é insegura – só se justifica se algo melhor nos for oferecido, algo mais seguro. Jesus desmascara a fragilidade que cerca os frutos materiais de nossas conquistas: a qualquer momento alguém pode nos roubar, ou os objetos podem ficar obsoletos, ou ser corroídos pela ferrugem. Como essas palavras são fortes em tempos de consumismo, para o qual nos sentimos sugados como ondas que nos puxam para o mar! Qual é a alternativa? Ajuntar tesouros no céu. Como assim? Vivendo a lógica do céu nas escolhas do que é mais valioso: um gesto gratuito de amor, um desapego de algo material para ajudar alguém, a opção por viver na simplicidade de Jesus, por não buscar a fama – que é bolha – ou o sucesso, mas servir, gastar a vida por amor, somente pelo fato de fazer o bem.

Mt 6,24-34: “NÃO VOS PREOCUPEIS COM O DIA DE AMANHÃ.” 

Essa Palavra parece ser uma ofensa aos pobres. Como não se preocupar? Pensemos em um pai desempregado..., pois é, essa fala de Jesus é também para ele! Diante de tudo o que vemos - e não somos cegos! –, os cristãos ousam afirmar que Deus é bom, que é Pai e cuida de nós. Somos desafiados na fé a viver da Providência, afinal o de que mais precisamos não o conquistamos nós, ele nos é dado. Quem pode dar a si mesmo a vida, a paz, a fé, a consolação, a felicidade? Busquemos, em primeiro lugar, a Deus, as outras “coisas” são acréscimos. A Palavra de hoje liberta o coração, suaviza a alma e nos permite dar graças sempre. Sirvamos ao único Senhor e Ele cuidará de nós.

Mc 4,35-40: “MESTRE, NÃO TE IMPORTA QUE PEREÇAMOS?” 

Como assim não se importa? Ora justamente por se importar é que Ele está ali: sendo rico, se fez pobre. O medo e a insegurança geram o desespero que faz perder a lucidez, perder a percepção da presença de Deus. A tempestade do nosso texto ilustra bem nossos momentos difíceis. O que fazer? Confiar! “Silêncio! Quieto!” Que palavras eficazes! Esta tempestade acontece também dentro de nós: os nossos impulsos desordenados pela concupiscência. É preciso que ecoem as palavras de autoridade de Jesus: “Por que tendes medo?” Por que ainda não cremos suficientemente, porque ainda queremos viver da nossa força. O que é isto? É Jesus, e Ele está no barco da Igreja, está no barco da tua vida. Creia e terás atitudes pacíficas nas tempestades da vida.

Mt 7,1-5: “NÃO JULGUEIS PARA NÃO SERDES JULGADOS.” 

Não julgueis o irmão para não serdes julgados por Deus. Julgar envolve as intenções por trás das atitudes do outro. Quem de nós sabe o que, profundamente, passa no coração das pessoas? Quem julga se coloca na posição de juiz; o outro, portanto, é réu. Há espaço para defesa? De regra, não. O que Jesus nos propõe nessa Palavra? Que sejamos menos afoitos em corrigirmos o outro e bem mais envolvidos com nossa correção pessoal. A imagem da trave e do cisco expressa bem o tipo de julgamento que Jesus reprova. Ninguém nos nomeou “chatos de plantão”. O que pode estar na base dessa atitude? Pode ser um espírito de disputa ou mesmo de inveja, em que expor o outro pode dar uma sensação de ser melhor; uma projeção das próprias doenças espirituais sobre o outro; uma presunção em adivinhar as intenções dos outros. Jesus pede de nós um retorno de autocrítica para nós mesmos, com grande propensão a sermos compreensivos com o próximo, que sempre terá seus motivos, embora, às vezes, não os aprovemos, mas são os motivos dele.

Mt 7,6.12-14: “TUDO, PORTANTO, QUANTO DESEJAIS QUE OS OUTROS VOS FAÇAM, FAZEI-O, VÓS TAMBÉM, A ELES.” 

Essa é a regra de ouro. Esse deve ser aquele desejo da busca mais profunda de amor e valorização. Amar as pessoas que encontrarmos e valorizá-las. Como valorizá-las? Deixando-as se manifestarem, pedindo suas sugestões, “gastando” tempo com elas. As pessoas buscam outras compensações menos dignas quando essas necessidades emocionais básicas não são satisfeitas. Aqui, também está a porta estreita de que Jesus nos fala, a atitude exigente do amor. É estreito, porque precisamos nos submeter ao processo pascal, de passagem do egoísmo ao dom de si, do culto do próprio umbigo para a atenção a quem está próximo a nós. A grandeza do gesto está sempre na verdade que ele expressa, na porção de amor nele investida. Não desperdicemos o tesouro que encontramos. Vamos colher toda a verdadeira ocasião de quem o possa acolher. Na dúvida, partilhemos o Tesouro.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

"LAUDADO SI" Encíclica do Papa Francisco


"Laudato Si" é o nome da nova Encíclica do Papa Francisco e tem como referência o "Cântico das Criaturas" composta por São Francisco de Assis. 185 páginas.
Vale a pena ler >> http://goo.gl/kfJ39N


terça-feira, 16 de junho de 2015

Reflexão do Evangelho de São Mateus: 5,17-19; 5,20-26; 5,38-42; 5,43-48

Mt 5,17-19: “NÃO PENSEIS QUE VIM REVOGAR A LEI.” Não existe um cristianismo não religioso; uma religiosidade não moral. O Cristianismo é um fenômeno que está intimamente ligado a pessoa de Jesus: Ele é o modelo pronto para quem se propõe a ser cristão. Não podemos decidir sobre o que é bem ou mal, pois há um dado que nos precede através do qual nos definimos. A liberdade é o pressuposto para fazer o bem, mas não pode criar as normas de bem e mal. Há um jeito de viver que é adequado à relação com Jesus, que se inspira nEle e vive a partir da comunhão com Ele. A cultura está subordinada à verdade. O cristão vive da gratidão pela revelação, pois dela sabe que não é senhor, mas servidor.

Mt 5,20-26: “NÃO MATARÁS! EU, PORÉM, VOS DIGO[...].” A medida de Deus amar é sem medida. Ele nos convida a essa mesma aventura, à aventura do homem novo. Como não se encolerizar? O pecado de homicídio não nasce pronto – como de resto, nenhum pecado – é preciso evitar o primeiro passo em direção a ele: a cólera. Jesus indica alguns pontos concretos: facilitar para o irmão a reconciliação, indo-lhe ao encontro; não alimentar raiva e mágoas; não ser agressivo nas palavras. O Cristianismo, por natureza, é maximalista. É farisaico, por outro lado, identificar os limites para “escorregar o pé” até a divisória. Essa moral alta não é fruto do nosso esforço soberbo, mas de uma novidade de coração que somente o Espírito pode fazer em nós; depois, sim, vem o nosso esforço. O Cristianismo exige a moral da justiça que excede a dos fariseus, cujo parâmetro de justiça é a regra. Olhar o ponto mínimo é medíocre. Deus pede magnanimidade de coração e sentimentos. Perdoar sempre, amar sempre, amar mais, amar de modo a gerar vida em torno de nós. O Cristianismo não é remendo novo na roupa velha da moral rigorista.

Mt 5,38-42: “NÃO RESISTAIS AO HOMEM MAU.” Não deixar que o outro determine meus sentimentos e reação. Se devolvo o tapa, deixei que a maldade dele entrasse em mim. O outro não pode violentar meu interior, tenho que manter meu coração livre, a mente soberana e determinada pelo bem. O transbordar da bondade inibe a maldade, que perde sua força alimentada com o enfrentamento, com a reação proporcional ou superior à ação. Jesus propõe aos Seus discípulos ir além do princípio da "não violência". O que está em jogo não é só não enfrentar o malvado, é propor a ele uma medida de bem, antes desconhecida por ele. Em um mundo de disputa, há que abrir mão da briga e sugerir um plus do pretendido pelo opositor. Aqui são situações exemplares que Jesus indica, que trazem um espírito de magnanimidade, de generosidade, de convencimento de que o mal é alimentado com o enfrentamento no seu campo. Ele deve ser enfrentado no campo do bem. Temos aqui não um trilho, mas uma trilha para percorrer. Jesus nos dá um espírito, não uma regra. Em cada situação, será chamado em causa esta disposição. Pensemos no trânsito: não revidarmos um farol alto, não “pagarmos uma fechada” com outra; pelo contrário, a alguém afoito, dar-lhe a passagem; ao agressivo, mostrar mansidão.

Mt 5,43-48: “AMARÁS O TEU PRÓXIMO E ODIARÁS O TEU INIMIGO. EU, PORÉM, VOS DIGO [...].” Jesus não nos dispensa de amar os inimigos: amar a todos, amar por primeiro, amar concretamente! Que grande graça é ter um coração livre para amar! Ir além do amor concupiscente, aquele movido pelo gosto das simpatias - eis a meta! Como amar desse jeito? Deus ama assim; Jesus amou assim. Da cruz de Jesus vem nosso remédio e exemplo: imitemo-lO! Mas, antes, deixemos que Ele nos cure o coração cheio de beiras, de condições, de sentimentos doentios e limites mesquinhos. Ele, porém, só pode curar quem se reconhece doente e O busca com sinceridade e disposto a desnudar a ferida para mostrá-la a Ele. É possível amar mais! O amor verdadeiro é como água em planta, dá vida, faz produzir fruto. Ninguém está dispensado dessa aventura de amar a todos, de alargar o coração até as medidas divinas. Senhor, faça nosso coração semelhante ao Teu!
Fonte: Pe. José Otácio. O. Guedes

Reflexão dos Evangelhos: Jo 19,31-37 ; Lc 2,41-51; Mc 4,26-34


Jo 19,31-37 "Um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água". 

Onde a mesquinhez parecia levar a melhor, num zelo pela 'festa', há espaço para o sinal de um amor até o fim: o coração aberto. A lança que traspassa o lado daquele que já havia entregue o espírito, indica a radicalização do desejo de morte. Só um desejo de amor infinito poderia fazer frente àquele desejo. Não é somente com a morte que Jesus nos ama; ele nos ama na vida: o coração aberto na cruz é somente o desfecho de um coração sempre aberto a todos. Se a vida de Jesus nos faz conhecer a Deus, como Deus é - e é isso que nós cremos - então, realmente, ele nos convence que Deus é amor.
Jesus, manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso!

Lc 2,41-51 "Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-lhes obediente". 

A palavra de hoje é uma escola de vida familiar. Diante de uma situação difícil, a perda do filho, a família permanece unida pra resolver o problema. A possível desatenção em relação ao filho, não gera acusações pra se desculpar: os pais voltam juntos para Jerusalém. Há diálogo respeitoso e sincero, com perguntas e respostas que iluminam o acontecido. O desfecho é a obediência de Jesus: sua obediência ao seu Pai é mediada pela obediência a José e Maria.


Mc 4,26-34: “A TERRA POR SI MESMA PRODUZ FRUTO.” 

Esta metáfora do Reino nos liberta do orgulho de construirmos o Reino; aliás, atrás desta pretensão está escondido o veneno de Adão: tomar o fruto e não estender a mão para recebê-lo. A nossa cooperação com Deus é sempre na resposta ao dom que nos precede. Aqui, está o primado da graça, que não só não dispensa, mas também exige todo nosso esforço ascético para deixar Deus agir em nós, não impedi-lO com nossa pressa voraz e desejosa de tudo controlar. É Deus que tem de estar no controle! A essência do pecado é nos distanciarmos da Verdade, da verdade radical do nosso ser ‘dependente de’. Não podemos buscar vida independente de Deus, por nós mesmos. Busquemos confiar mais, orar mais, entregar-nos mais, depender mais, esperar mais; preocupar-nos menos, agitar-nos menos, correr menos, estressar-nos menos. Senhor, dá a mim e aos meus amigos a graça de não desanimarmos no cultivo do grão de mostarda. Que creiamos que, pela Tua graça, quando quiseres, o Reino, entre nós, será uma árvore frondosa. Que venha o Teu Reino e que eu o acolha. Amém!

Fonte: Pe José Otácio O. Guedes

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O QUADRO - TEXTO REFLEXIVO - ENCONTRO COM PAIS DA CATEQUESE INFANTIL

                                                    TEXTO REFLEXIVO



O quadro

Um homem havia pintado um lindo quadro. No dia de apresentá-lo ao público, convidou
todo mundo para vê-lo.
Compareceram as autoridades do local, fotógrafos, jornalistas e muita gente, pois o pintor era muito famoso e um grande artista.
                   
Chegando o momento, tirou-se o pano que escondia o quadro. Houve caloroso aplauso. Era uma impressionante figura de Jesus batendo suavemente à porta de uma casa. O Cristo parecia vivo. Com o ouvido junto à porta, Ele parecia querer ouvir se lá dentro alguém respondia.
                   
Houve discursos e elogios. Todos admiravam aquela obra de arte. Um observador curioso, porém, achou uma falha no quadro: a porta não tinha fechadura, e foi perguntar ao artista:
         ___Sua porta não tem fechadura? Como se fará para abri-la?
         ___É assim mesmo ___ respondeu o pintor.___Essa é a porta do coração humano. Só se abre do lado de dentro.


                                      Agradeço a todos a presença.

                                         Paz em seus corações!!!!

Fonte: Catequistas Fatinha e Maria do Carmo
Encontro com os Pais da Iniciação a Vida Cristã - Catequese Infantil.
Paróquia São Gonçalo de Amarante - São Gonçalo - RJ em 13.06.2015.

terça-feira, 9 de junho de 2015

REFLEXÃO DO EVANGELHO - SÃO MARCOS E SÃO MATEUS

São Marcos - Evangelista
REFLEXÃO DO EVANGELHO - SÃO MARCOS E SÃO MATEUS
Fonte: Pe. José Otácio O. Guedes

Mc 14,12-16.22-26 “Tomai, isto é o meu corpo...Isto é o meu sangue". 

Essas são palavras densas, carregadas do realismo de uma vida entregue. Como repeti-las sem se sentir comprometido com o dom de si pelos irmãos? Esta é a medida do 'amor maior', aquele que entrega a vida. Ao dispormos a comungar este Corpo doado e este Sangue derramado, aceitamos uma existência pascal como regra para nossa vida. Adoremos, festejemos e nos saciemos dAquele que se fez nosso alimento, para que vivendo dEle tenhamos a reserva de vitalidade para sermos dom para os irmãos.

Mc 12,35-37: “O PRÓPRIO DAVI O CHAMA SENHOR.” 

Em Jesus se cumpre a promessa feita a Davi de que o Seu filho sentaria eternamente no trono. Mas Jesus não cabe nas categorias estreitas dos escribas: Jesus é o Filho de Deus. Essa Palavra nos pede para estarmos sempre atentos ao nosso modo de entender e expressar as “coisas” de Deus, pois Ele também não cabe nas nossas categorias. Podemos afirmar concepções verdadeiras sobre Deus, mas tudo o que sabemos é bem menos do que o que não sabemos. Deus revelou o que basta para nossa vida de criaturas. Seria orgulho pretendermos dominar o conhecimento de Deus. Do que foi revelado requer de nós atitude de escuta para nos aprofundarmos. Inteligências brilhantes podem não entrar no mundo de Deus por quererem transportar para lá os mesmos instrumentos de observação utilizados nas pesquisas. Para ser bom médico não é necessário ter humildade, nem silêncio interior, nem moldar a vida com a própria ciência. Para sermos iniciados nas “coisas” de Deus, precisamos nos predispor durante toda a vida: inteligência, vontade, coração e afetos. Não esqueçamos: Deus não se dá a conhecer aos meramente curiosos.

Mc 12,38-44: “ESTA VIÚVA QUE É POBRE LANÇOU MAIS DO QUE TODOS.” 

Há um princípio que rege o Cristianismo: a disposição a ter, como única segurança, a Deus. A questão não é financeira, mas do coração, da confiança que sabe que pode abrir mão de tudo. O tesouro do templo representa as mãos de Deus. Estamos dispostos a colocar nas mãos de Deus tudo o que temos para viver? Não sejamos afoitos em responder, até porque a resposta adequada não é dada com os lábios. Oferecer “tudo” significa não reservar espaços na vida para cultivar sonhos loucos, ter zonas na vida em que não perguntemos o que Deus queira, ou se realmente Ele aprova o que estamos vivendo. Dar da pobreza é assumir o ônus de uma vida difícil, se o caminho alternativo for o da porta larga que não leva a Deus. Seremos tentados a apertar as duas moedas na mão para apostá-las em algo que nos dê algum retorno de felicidade. Aquela viúva também queria felicidade, queria vida e ela foi suficientemente inteligente para ver que nas mãos de Deus estava o melhor investimento a fazer. Ela se dispôs a perder para ganhar: eis a lógica pascal. Quem guarda sua vida para si corre o risco de perdê-la.

Evangelista - São Mateus

Mt 5,1-12: “BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS.” 

Afirmação como essa sinaliza a origem divina dos evangelhos. Quem de nós colocaria os aflitos dentre as pessoas felizes? Os pobres, os mansos e os aflitos estão aptos a receber a bênção do Reino, a plenitude de vida dada de forma não merecida. Os aflitos estão mais dispostos, pois sabem que não podem esperar do mundo a consolação. A felicidade do Evangelho nos alcança, quando não aguardamos “deste mundo” nosso consolo, quando nos convencemos de que não se trata somente de um erro de estratégia nossa insatisfação, mas de uma exigência que nada daqui possa atender. O cristão não espera deste tempo, nem neste tempo a realização do Reino. Realmente, não está de todo errado quem nos acusa de sermos “trasmundanos”, enquanto nos negamos a viver aqui como fonte última de vida. Nós vivemos o princípio paulino do ‘como se não’: os que compram, os que se alegram, os que se casam, como se não... Essa é a lógica do Evangelho; e não segundo a carne e o sangue. Deixemos que o Evangelho nos transforme, não mudemos o Evangelho, colocando-o nos limites da nossas conveniências mundanas. Em Jesus está a consolação, que já podemos experimentar.

Mt 5,13-16: “BRILHE A VOSSA LUZ DIANTE DOS HOMENS.” 

Brilhe para nos gloriar? Não! Para a glória do Pai. Somos como a lua, não temos luz própria, nossa energia interior depende da nossa ligação com Jesus, o Sol da justiça, que do alto nos veio visitar. Essa Palavra traz o testemunho, a vibração que gera em quem encontra Jesus. Sem a vivência com Jesus somos como sal que se iguala à areia, ou como a luz escondida embaixo do móvel. A glória do Pai, no mundo, fica diminuída se formos opacos. Que nossa face seja manifestação de fé na vitória de Jesus sobre a morte, do quanto nos sentimos cuidados pelo Pai e de que o Espírito habita em nós quais templos. Nossa intensidade de amor ao próximo sinalize que Jesus é o centro irradiador da nossa vida. Nosso estilo de vida desperte em quem encontrarmos a ação de graças ao Pai e que, através de nós, o nome de Deus seja honrado. Amém!
Fontes: Pe. José Otácio O. Guedes.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Reflexão Evangelho Mc 12,13-17 e Mc 12,18-27

São Marcos Evangelista
Mc 12,13-17: “DAI, POIS, A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS.” 

César representa todo poder humano, particularmente o poder público. Se a imagem de César sobre a moeda tornava lícito o imposto, o que dizer da imagem e semelhança de Deus que trazemos em nossa face? Somos de Deus, totalmente de Deus! Eis o sinal do direito absoluto de Deus sobre a criatura. O erro é dar as “coisas” de Deus para César. Não dar ao Estado e nem esperar dele o que é próprio de Deus. Por outro lado, nossa relação com Deus não nos exime dos deveres cíveis, nem nossa condição de cidadão justificaria atitudes contrárias à lei de Deus. Vivamos como quem sabe ser um dom saído das mãos de Deus, quem dEle depende e para O qual fomos criados para servir, amar e louvar. Nossa liberdade não seja pretexto para nos afastarmos da marca divina que trazemos em nosso ser. Tudo o que fizermos em palavras ou atitudes seja para maior glória de Deus.

Mc 12,18-27: “ACASO NÃO ESTAIS ERRADOS, PORQUE NÃO COMPREENDEIS AS ESCRITURAS, NEM O PODER DE DEUS?” 

Por que afirmam que não há ressurreição dos mortos? Porque concluíram que disso não fala a Escritura (Torah). O conteúdo da fé não é o resultado do que obtemos por reflexão, mas sim o que recebemos por audição. A fé nos é transmitida, nos é proposta: “Crês?” A nossa resposta nos coloca em uma nova aventura: a aventura do crente. Nesse momento, pode entrar - e até deve - a reflexão, o processo de personalização da fé. Os saduceus não compreendem as Escrituras pois as leem nos limites da razão; não compreendem o poder de Deus, porque O aprisionam no limite das possibilidades humanas. Deixemos que Deus nos surpreenda, admitamos ser Ele maior que nossas mentes e corações. Senhor, cremos que és o Deus dos vivos, que és a Ressurreição e a Vida. Cremos que estás vivo, que nos vês e nos escutas. Amém!
Fonte: Pe. José Otácio O. Guedes.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Reflexão Evangelho Mc 10, 6-52; Mc 11,11-26; Mc 11,27-33; Mt 28,16-20; Mc 12,1-12

São Marcos Evangelista
Mc 10,46-52 "O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus"

Marcos conservou o detalhe do cego ter jogado o manto, antes de ir até Jesus. Ao contrário do 'jovem' rico que não abriu mão das posses, vemos aqui alguém que abre mão de algo importante pra ele: o manto era a segurança dele, sua 'casa'. Estamos diante de um despojamento, um esvaziamento. Essa aventura que corre o risco da máxima frustração, chamamos cristianismo. A aposta é inerente à fé. Até que ponto era razoável ele abrir mão do manto? Pergunta sem sentido, quando do outro lado está passando a chance da vida: Jesus, o filho de Davi. A atitude de Bartimeu se tornou 'cânon' para as experiências sucessivas: o estilo 'Linus' de vida, apegado ao cobertor, não é ainda a resposta adequada da fé.

Mc 11,11-26: “COMEÇOU A EXPULSAR OS VENDEDORES.” 

Jesus está em Jerusalém. Começam os embates com os chefes do povo. A figueira estéril está ligada à esterilidade do templo como lugar de encontro com Deus. A casa de oração foi feita esconderijo de ladrões. O que roubam? Roubam a glória devida a Deus; roubam a esperança das pessoas a quem as promessas de Deus se dirigiam; roubam a chance das nações de conhecerem o Senhor e virem a Jerusalém adorar o Deus verdadeiro. E nós, que tipo de figueira somos? Como está nossa fé? Verifiquemos se realmente temos uma vida fecunda, se as pessoas saboreiam os frutos da nossa maturidade cristã. Não aconteça que Jesus venha e não encontre em nós, fruto, no momento em que Ele, no irmão, tenha fome. O que fazer? Conversão profunda, poda das folhagens infrutíferas. Se necessário, procuremos alguém que nos ajude nessa poda, passando em revista os hábitos de vida e o lugar que tem sido dado a Deus nela.

Mc 11,27-33: “COM QUE AUTORIDADE FAZES ESTAS COISAS?” 

Há perguntas que não são dignas de resposta, pois não buscam a verdade. Há perguntas que são capciosas, cujo intuito é expor o indagado, dando a conhecer sua fragilidade. Ligada à fé está a necessidade de conhecimento. Mas, atenção, o conhecimento de Deus que não traz consigo o desejo de adesão é estéril. Nas coisas de Deus não há espaço para curiosidade mórbida, conhecimento a fim de ter algum domínio, ou para vaidade – sentir-se acima dos outros. Na Palavra de hoje, vemos os maiorais perguntando a Jesus sobre Sua autoridade, no fundo sobre quem Ele era, mas para quê? A razão tem papel fundamental na fé, mas uma razão humilde, aberta a toda a verdade, sem determinação ideológica. Alguma ideologia todos temos, mas não podemos nos fechar à verdade. Devemos estar atentos também por quem nos deixamos formar nas coisas de Deus. Somos responsáveis pelos mestres que buscamos. Não é sincera busca da verdade escutar somente quem sabemos justifica nosso estilo de vida. Assim como Jesus não quis responder para aqueles homens mal intencionados, também nós ficaremos aquém dos mistérios de Deus se deles não nos aproximarmos com atitude crente e aberta à Sua totalidade.

São Mateus Evangelista
Mt 28,16-20 "Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim duvidaram". 

Mesmo tendo dúvidas, eles se prostram. Eles não exigiram a evidência para se prostrar. Era razoável que se prestassem: o Mestre havia marcado esse encontro na Galileia; as mulheres noticiaram o sepulcro vazio e a fala dos anjos. O que temos aqui? Homens crentes, mas que têm dúvidas. Gosto da imagem da dúvida do crente como as ondas que batem no rosto do náufrago; esse flutua sobre mar, amarrado num madeiro. Ele está suspenso, tendo o madeiro para se transportar. Diante da grandeza dos mistérios de Deus cabe a nós, criaturas, a gratidão pelo que foi revelado e a humildade da inteligência no processo de conhecimento. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

São Marcos Evangelista
Mc 12,1-12: “RESTAVA-LHE AINDA ALGUÉM: O FILHO AMADO.” 

Essa é uma Palavra de juízo, dirigida historicamente aos chefes do povo, mas que hoje nos chama à responsabilidade do que fazemos com o que recebemos de Deus. Somos arrendatários dos bens de Deus e devemos dar a parte dEle. Não somos autossuficientes, pelo contrário, temos que dar a Sua parte, pois a vinha não é nossa. O desfecho é que o dono, reprovando os arrendatários, “dará a vinha a outros”. A vinha é um dom, administrá-la é também um dom, não podemos dispor dela como nos convém. A vinha tem regras que nos precedem. A sequência dos servos enviados nos faz pensar na presença de várias pessoas que a Providência nos faz encontrar pelos caminhos da nossa vida e que nos despertam para revermos nossas escolhas, reprogramarmos nossas prioridades, endireitarmos nossa vida. Essa “parte dos frutos” que Deus nos pede identifica-se com nossa corresponsabilidade para com o próximo. A parte de Deus é a luz que doamos para o caminho dos outros, a energia que partilhamos com o próximo, o amor e o carinho que o outro redescobre a partir do modo como me coloco na relação com ele. Se vivo a justiça na relação com Deus, o próximo dela usufruirá, pois da adequada relação com Deus emana uma luz que a todos ilumina.
Fonte: Pe. José Otácio Oliveira Guedes.