O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Reflexão dos Evangelhos de Mt 6,1-7,6.12-14 e Mc 4,35-40

Mt 6,1-6;16-18: “TEU PAI, QUE VÊ NO SEGREDO, TE RECOMPENSARÁ.”  

A apreciação externa de um gesto não aumenta nem diminui seu valor. Quando Jesus pede para não ostentarmos as boas ações, Ele nos pede para não gastarmos forças na visibilidade, aplicando-a na profundidade do gesto. O retorno da glória que as pessoas podem dar, não alarga o coração, mas pode, sim, expandir a vaidade. Não precisamos querer esconder, mas é preciso querermos não fazer para sermos vistos. O que, profundamente, Jesus quer nos dizer? Que o valor do que fazemos está nas intenções do coração e que a Vida de que precisamos está em Deus, não nas criaturas, pois elas são inconstantes e não se pode viver a partir da expectativa dos outros. No segredo entre nós e Deus se mede o valor dos gestos. Senhor, que as intenções das minhas ações sejam agradáveis a Ti. Amém!

Mt 6,7-16: “VOSSO PAI SABE DO QUE PRECISAIS.” 

Jesus nos ensina a orar o Pai nosso! O que é lícito pedir na oração? Tudo depende do que representa para nós Aquele a quem oramos. Diante de quem estou? Oração é mais que as palavras ditas. Ela pode até ser sem palavras. Oração é um encontro com o Pai. Se Ele sabe do que preciso, a essência da oração não está no que falo, mas no que passa no meu coração de orante. O Pai vê o coração, o segredo. Nosso segredo com Deus é aquela medida não mensurável de confiança, de entrega à Sua vontade, de disposição a acolher a porção do Seu querer para nosso dia. O ‘Pai Nosso’ explicita esses sentimentos. Atrás de cada súplica, deve estar aquela reserva de renúncia da própria vontade, dos projetos próprios. Nossos pedidos são balbucios para mantermos a face do Pai ao nosso alcance. Que não nos dispersemos no caminho da vida!

Mt 6,19-23: “AJUNTAI PARA VÓS TESOUROS NO CÉU.” 

A metáfora da vida como ajuntar tesouros que não corram risco supõe viver a grande aventura da fé. Abdicar-se de construir a própria segurança – que, em última análise, é insegura – só se justifica se algo melhor nos for oferecido, algo mais seguro. Jesus desmascara a fragilidade que cerca os frutos materiais de nossas conquistas: a qualquer momento alguém pode nos roubar, ou os objetos podem ficar obsoletos, ou ser corroídos pela ferrugem. Como essas palavras são fortes em tempos de consumismo, para o qual nos sentimos sugados como ondas que nos puxam para o mar! Qual é a alternativa? Ajuntar tesouros no céu. Como assim? Vivendo a lógica do céu nas escolhas do que é mais valioso: um gesto gratuito de amor, um desapego de algo material para ajudar alguém, a opção por viver na simplicidade de Jesus, por não buscar a fama – que é bolha – ou o sucesso, mas servir, gastar a vida por amor, somente pelo fato de fazer o bem.

Mt 6,24-34: “NÃO VOS PREOCUPEIS COM O DIA DE AMANHÃ.” 

Essa Palavra parece ser uma ofensa aos pobres. Como não se preocupar? Pensemos em um pai desempregado..., pois é, essa fala de Jesus é também para ele! Diante de tudo o que vemos - e não somos cegos! –, os cristãos ousam afirmar que Deus é bom, que é Pai e cuida de nós. Somos desafiados na fé a viver da Providência, afinal o de que mais precisamos não o conquistamos nós, ele nos é dado. Quem pode dar a si mesmo a vida, a paz, a fé, a consolação, a felicidade? Busquemos, em primeiro lugar, a Deus, as outras “coisas” são acréscimos. A Palavra de hoje liberta o coração, suaviza a alma e nos permite dar graças sempre. Sirvamos ao único Senhor e Ele cuidará de nós.

Mc 4,35-40: “MESTRE, NÃO TE IMPORTA QUE PEREÇAMOS?” 

Como assim não se importa? Ora justamente por se importar é que Ele está ali: sendo rico, se fez pobre. O medo e a insegurança geram o desespero que faz perder a lucidez, perder a percepção da presença de Deus. A tempestade do nosso texto ilustra bem nossos momentos difíceis. O que fazer? Confiar! “Silêncio! Quieto!” Que palavras eficazes! Esta tempestade acontece também dentro de nós: os nossos impulsos desordenados pela concupiscência. É preciso que ecoem as palavras de autoridade de Jesus: “Por que tendes medo?” Por que ainda não cremos suficientemente, porque ainda queremos viver da nossa força. O que é isto? É Jesus, e Ele está no barco da Igreja, está no barco da tua vida. Creia e terás atitudes pacíficas nas tempestades da vida.

Mt 7,1-5: “NÃO JULGUEIS PARA NÃO SERDES JULGADOS.” 

Não julgueis o irmão para não serdes julgados por Deus. Julgar envolve as intenções por trás das atitudes do outro. Quem de nós sabe o que, profundamente, passa no coração das pessoas? Quem julga se coloca na posição de juiz; o outro, portanto, é réu. Há espaço para defesa? De regra, não. O que Jesus nos propõe nessa Palavra? Que sejamos menos afoitos em corrigirmos o outro e bem mais envolvidos com nossa correção pessoal. A imagem da trave e do cisco expressa bem o tipo de julgamento que Jesus reprova. Ninguém nos nomeou “chatos de plantão”. O que pode estar na base dessa atitude? Pode ser um espírito de disputa ou mesmo de inveja, em que expor o outro pode dar uma sensação de ser melhor; uma projeção das próprias doenças espirituais sobre o outro; uma presunção em adivinhar as intenções dos outros. Jesus pede de nós um retorno de autocrítica para nós mesmos, com grande propensão a sermos compreensivos com o próximo, que sempre terá seus motivos, embora, às vezes, não os aprovemos, mas são os motivos dele.

Mt 7,6.12-14: “TUDO, PORTANTO, QUANTO DESEJAIS QUE OS OUTROS VOS FAÇAM, FAZEI-O, VÓS TAMBÉM, A ELES.” 

Essa é a regra de ouro. Esse deve ser aquele desejo da busca mais profunda de amor e valorização. Amar as pessoas que encontrarmos e valorizá-las. Como valorizá-las? Deixando-as se manifestarem, pedindo suas sugestões, “gastando” tempo com elas. As pessoas buscam outras compensações menos dignas quando essas necessidades emocionais básicas não são satisfeitas. Aqui, também está a porta estreita de que Jesus nos fala, a atitude exigente do amor. É estreito, porque precisamos nos submeter ao processo pascal, de passagem do egoísmo ao dom de si, do culto do próprio umbigo para a atenção a quem está próximo a nós. A grandeza do gesto está sempre na verdade que ele expressa, na porção de amor nele investida. Não desperdicemos o tesouro que encontramos. Vamos colher toda a verdadeira ocasião de quem o possa acolher. Na dúvida, partilhemos o Tesouro.

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