O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

CATEQUESE PAPA FRANCISCO - SOBRE O BATISMO

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 8 de Janeiro de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje começamos uma série de Catequeses sobre os Sacramentos, e a primeira diz respeito ao Batismo. Por uma feliz coincidência, no próximo domingo celebra-se precisamente a festa do Batismo do Senhor.
O Batismo é o sacramentos sobre o qual se fundamenta a nossa própria fé e que nos insere como membros vivos em Cristo e na sua Igreja. Juntamente com a Eucaristia e com a Confirmação forma a chamada «Iniciação cristã», a qual constitui como que um único, grande evento sacramental que nos configura com o Senhor e nos torna um sinal vivo da sua presença e do seu amor.
Pode surgir em nós uma pergunta: mas o Batismo é realmente necessário para viver como cristãos e seguir Jesus? Não é no fundo um simples rito, uma ato formal da Igreja para dar o nome ao menino ou à menina? É uma pergunta que pode surgir. E a este propósito, é esclarecedor quanto escreve o apóstolo Paulo: «Ignorais, porventura, que todos nós, que fomos baptizados em Jesus Cristo, fomos baptizados na Sua morte? Pelo batismo sepultamo-nos juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também numa vida nova» (Rm 6, 3-4). Por conseguinte, não é uma formalidade! É um ato que diz profundamente respeito à nossa existência. Uma criança baptizada ou uma criança não baptizada não é a mesma coisa. Uma pessoa baptizada ou uma pessoa não baptizada não é a mesma coisa. Nós, com o Batismo, somos imergidos naquela fonte inesgotável de vida que é a morte de Jesus, o maior ato de amor de toda a história; e graças a este amor podemos viver uma vida nova, já não à mercê do mal, do pecado e da morte, mas na comunhão com Deus e com os irmãos.
Muitos de nós não recordam minimamente a celebração deste Sacramento, e é óbvio, se fomos baptizados pouco depois do nascimento. Fiz esta pergunta duas ou três vezes, aqui, na praça: quem de vós conhece a data do próprio Batismo, levante a mão. É importante conhecer o dia no qual eu fui imergido precisamente naquela corrente de salvação de Jesus. E permito-me dar um conselho. Mas, mais do que um conselho, trata-se de uma tarefa para hoje. Hoje, em casa, procurai, perguntai a data do Batismo e assim sabereis bem o dia tão bonito do Batismo. Conhecer a data do nosso Batismo significa conhecer uma data feliz. Mas o risco de não o conhecer significa perder a memória daquilo que o Senhor fez em nós, a memória do dom que recebemos. Então acabamos por considerá-lo só como um evento que aconteceu no passado — e nem devido à nossa vontade, mas à dos nossos pais — por conseguinte, já não tem incidência alguma sobre o presente. Devemos despertar a memória do nosso Batismo. Somos chamados a viver o nosso Batismo todos os dias, como realidade atual na nossa existência. Se seguimos Jesus e permanecemos na Igreja, mesmo com os nossos limites, com as nossa fragilidades e os nossos pecados, é precisamente graças ao Sacramento no qual nos tornamos novas criaturas e fomos revestidos de Cristo. Com efeito, é em virtude do Batismo que, libertados do pecado original, somos inseridos na relação de Jesus com Deus Pai; que somos portadores de uma esperança nova, porque o Batismo nos dá esta nova esperança: a esperança de percorrer o caminho da salvação, a vida inteira. E esta esperança que nada e ninguém pode desiludir, porque a esperança não decepciona. Recordai-vos: a esperança no Senhor nunca desilude. É graças ao Batismo que somos capazes de perdoar e amar também quem nos ofende e nos faz mal; que conseguimos reconhecer nos últimos e nos pobres o rosto do Senhor que nos visita e se faz próximo. O Batismo ajuda-nos a reconhecer no rosto dos necessitados, dos sofredores, também do nosso próximo, a face de Jesus. Tudo isto é possível graças à força do Batismo!
Um último elemento, que é importante. E faço uma pergunta: uma pessoa pode baptizar-se a si mesma? Ninguém pode baptizar-se a si mesma! Ninguém. Podemos pedi-lo, desejá-lo, mas temos sempre a necessidade de alguém que nos confira este Sacramento em nome do Senhor. Porque o Batismo é um dom que é concedido num contexto de solicitude e de partilha fraterna.
Ao longo da história sempre um baptiza outro, outro, outro... é uma corrente. Uma corrente de Graça. Mas, eu não me posso baptizar sozinho: devo pedir o Batismo a outra pessoa. É um ato de fraternidade, uma ato de filiação à Igreja. Na celebração do Batismo podemos reconhecer os traços mais característicos da Igreja, a qual como uma mãe continua a gerar novos filhos em Cristo, na fecundidade do Espírito Santo.
Peçamos então de coração ao Senhor podermos para experimentar cada vez mais, na vida diária, esta graça que recebemos com o Batismo. Que os nossos irmãos ao encontrar-nos possam encontrar verdadeiros filhos de Deus, verdadeiros irmãos e irmãs de Jesus Cristo, verdadeiros membros da Igreja. E não esqueçais a tarefa de hoje: procurar, perguntar a data do próprio Batismo. Assim como eu conheço a data do meu nascimento, devo conhecer também a data do meu Batismo, porque é um dia de festa.


CATEQUESE - PAPA FRANCISCO - SOBRE O BATISMO

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2014
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Na quarta-feira passado demos início a uma breve série de catequeses sobre os Sacramentos, começando pelo Batismo. E também hoje gostaria de meditar sobre o Batismo, para ressaltar um fruto muito importante deste Sacramento: ele leva-nos a ser membros do Corpo de Cristo e do Povo de Deus. S. Tomás de Aquino afirma que quantos recebem o Batismo são incorporados a Cristo quase como seus próprios membros e agregados à comunidade dos fiéis (cf. Summa Theologiae, III, q. 69, art. 5; q. 70, art. 1), ou seja, ao Povo de Deus. Na escola do Concílio Vaticano II, hoje dizemos que o Batismo nos faz entrar no Povo de Deus, levando-nos a ser membros de um Povo a caminho, um Povo peregrino na história.
Com efeito, assim como a vida se transmite de geração em geração, também de geração em geração, através do renascimento na pia baptismal, é transmitida a graça, e com esta graça o Povo cristão caminha no tempo como um rio que irriga a terra e propaga no mundo a bênção de Deus. Desde que Jesus disse o que ouvimos do Evangelho, os discípulos partiram para baptizar; e desde aquela época até hoje há uma cadeia na transmissão da fé mediante o Batismo. E cada um de nós é um elo daquela corrente: um passo em frente, sempre; como um rio que irriga. Assim é a graça de Deus, assim é a nossa fé, que devemos transmitir aos nossos filhos, às crianças, para que elas, quando forem adultas, possam transmiti-la aos seus filhos. Assim é o batismo. Porquê? Porque o batismo nos faz entrar neste Povo de Deus, que transmite a fé. Isto é deveras importante. Um Povo de Deus que caminha e transmite a fé.
Em virtude do Batismo nós tornamo-nos discípulos missionários, chamados a levar o Evangelho ao mundo (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 120). «Cada um dos baptizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização... A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo» (ibid.) da parte de todos, de todo o Povo de Deus, um novo protagonismo de cada baptizado. O Povo de Deus é um Povo discípulo — porque recebe a fé — e missionário — porque transmite a fé. É isto que o Batismo faz entre nós: confere-nos a Graça, transmite-nos a Fé. Todos na Igreja somos discípulos, e somo-lo sempre, a vida inteira; e todos nós somos missionários, cada qual no lugar que o Senhor lhe confiou. Todos: até o mais pequenino é missionário; e aquele que parece maior é discípulo. Mas algum de vós dirá: «Os Bispos não são discípulos, eles sabem tudo; o Papa sabe tudo, e não é discípulo». Não, até os bispos e o Papa devem ser discípulos, pois se não forem discípulos não farão o bem, não poderão ser missionários nem transmitir a fé. Todos nós somos discípulos e missionários.
Existe um vínculo indissolúvel entre as dimensões mística e missionária da vocação cristã, ambas arraigadas no Batismo. «Ao receber a fé e o batismo, os cristãos acolhem a ação do Espírito Santo, que leva a confessar a Jesus como Filho de Deus e a chamar Deus “Abba”, Pai. Todos os batizados e batizadas... são chamados a viver e a transmitir a comunhão com a Trindade, pois “a evangelização é um chamado à participação da comunhão trinitária”» (Documento final de Aparecida, n. 157).
Ninguém se salva sozinho. Somos uma comunidade de fiéis, somos Povo de Deus e nesta comunidade experimentamos a beleza de compartilhar a experiência de um amor que nos precede a todos, mas que ao mesmo tempo nos pede para ser «canais» da graça uns para os outros, apesar dos nossos limites e pecados. A dimensão comunitária não é apenas uma «moldura», um «contorno», mas constitui uma parte integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização. A fé cristã nasce e vive na Igreja, e no Batismo as famílias e as paróquias celebram a incorporação de um novo membro a Cristo e ao seu corpo, que é a Igreja (cf. ibid., n. 175b).
A propósito da importância do Batismo para o Povo de Deus, é exemplar a história da comunidade cristã no Japão. Ela padeceu uma perseguição árdua no início do século XVII. Houve numerosos mártires, os membros do clero foram expulsos e milhares de fiéis foram assassinados. No Japão não permaneceu nem sequer um sacerdote, todos foram expulsos. Então, a comunidade retirou-se na clandestinidade, conservando a fé e a oração no escondimento. E quando nascia um filho, o pai ou a mãe baptizavam-no, pois todos os fiéis podem baptizar em circunstâncias particulares. Quando, depois de cerca de dois séculos e meio, 250 anos mais tarde, os missionários voltaram para o Japão, milhares de cristãos saíram do escondimento e a Igreja conseguiu reflorescer. Sobreviveram com a graça do seu Batismo! Isto é grande: o Povo de Deus transmite a fé, baptiza os seus filhos e vai em frente. E apesar do segredo, mantiveram um vigoroso espírito comunitário, porque o Batismo os tinha levado a constituir um único corpo em Cristo: viviam isolados e escondidos, mas eram sempre membros do Povo de Deus, membros da Igreja. Podemos aprender muito desta história!

Saudações
Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, presentes nesta audiência, especialmente aos grupos vindos do Brasil. Queridos amigos, todos os batizados estão chamados a ser discípulos missionários, vivendo e transmitindo a comunhão com Deus, transmitindo a fé. Em todas as circunstâncias, procurai oferecer um testemunho alegre da vossa fé. Que Deus vos abençoe!

"O Espírito Santo, que é muito importante na vida cristã, porque nos concede a força para ir em frente."

PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 29 de Janeiro de 2014

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Nesta terceira catequese sobre os Sacramentos, meditemos sobre a Confirmação ou Crisma, que deve ser entendida em continuidade com o Batismo, ao qual ela está vinculada de modo inseparável. Estes dois Sacramentos, juntamente com a Eucaristia, formam um único acontecimento salvífico, que se denomina «iniciação cristã», no qual somos inseridos em Jesus Cristo morto e ressuscitado, tornando-nos novas criaturas e membros da Igreja. Eis por que motivo, na origem destes três Sacramentos, eram celebrados num único momento, no final do caminho catecumenal, normalmente na Vigília pascal. Era assim que se selava o percurso de formação e de inserção gradual no seio da comunidade cristã, que podia durar até alguns anos. Procedia-se passo a passo para chegar ao Batismo, depois à Crisma e enfim à Eucaristia.
Em geral, fala-se de Sacramento da «Crisma», palavra que significa «unção». E com efeito através do óleo, chamado «Crisma sagrado», nós somos confirmados no poder do Espírito, em Jesus Cristo, o Único verdadeiro «Ungido», o «Messias», o Santo de Deus. Além disso, o termo «Confirmação» recorda-nos que este Sacramento contribui com um aumento da graça baptismal: une-nos mais solidamente a Cristo; leva a cumprimento o nosso vínculo com a Igreja; infunde em nós uma especial força do Espírito Santo para difundir e defender a fé, para confessar o nome de Cristo e para nunca nos envergonharmos da sua Cruz (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1.303).
Por isso, é importante prestar atenção a fim de que as nossas crianças, os nossos jovens recebam este Sacramento. Todos nós prestamos atenção para que eles sejam batizados, e isto é bom, mas talvez não nos preocupemos muito a fim de que recebam a Crisma. Deste modo, eles permanecerão a meio caminho e não receberão o Espírito Santo, que é muito importante na vida cristã, porque nos concede a força para ir em frente. Pensemos um pouco nisto, cada um de nós: preocupamo-nos verdadeiramente para que as nossas crianças, os nossos jovens recebam a Crisma! Isto é importante, é importante! E se vós, em casa, tendes crianças e jovens que ainda não a receberam, e que já estão na idade de a receber, fazei todo o possível para que levem a cumprimento a iniciação cristã e recebam a força do Espírito Santo. É importante!
Naturalmente, é necessário oferecer aos crismandos uma boa preparação, que deve ter em vista levá-los a uma adesão pessoal à fé em Cristo e despertar neles o sentido da pertença à Igreja.
Como cada Sacramento, a Confirmação não é obra dos homens mas de Deus, que cuida da nossa vida, de maneira a plasmar-nos à imagem do seu Filho, para nos tornar capazes de amar como Ele. E fá-lo infundindo em nós o seu Espírito Santo, cuja ação permeia cada pessoa e a vida inteira, como transparece dos sete dons que a Tradição, à luz da Sagrada Escritura, sempre evidenciou. Eis os sete dons: não quero perguntar-vos se vos recordais quais são os sete dons. Talvez todos vós saibais... Mas cito-os em vosso nome. Quais são estes dons? A Sabedoria, a Inteligência, o Conselho, a Fortaleza, a Ciência, a Piedade e o Temor de Deus. E estes dons são concedidos precisamente através do Espírito Santo no Sacramento da Confirmação. Além disso, a estes dons tenciono dedicar as catequeses que se seguirão às reservadas aos Sacramentos.
Quando acolhemos o Espírito Santo no nosso coração e deixamos que Ele aja, é o próprio Cristo que se torna presente em nós e adquire forma na nossa vida; através de nós será Ele, o próprio Cristo, que rezará, perdoará, infundirá esperança e consolação, servirá os irmãos, estará próximo dos necessitados e dos últimos, que criará comunhão e semeará paz. Pensai como isto é importante: mediante o Espírito Santo, é o próprio Cristo que vem para fazer tudo isto no meio de nós e por nós. Por isso, é importante que as crianças e os jovens recebam o Sacramento da Crisma.
Estimados irmãos e irmãs, recordemo-nos que recebemos a Confirmação. Todos nós! Recordemo-lo antes de tudo para dar graças ao Senhor por esta dádiva, e além disso para lhe pedir que nos ajude a viver como cristãos autênticos e a caminhar sempre com alegria segundo o Espírito Santo que nos foi concedido.

Saudações
Queridos peregrinos de língua portuguesa: uma cordial saudação para todos! Lembrai-vos de agradecer ao Senhor o dom do sacramento da Crisma, pedindo-lhe que vos ajude a viverdes sempre come verdadeiros cristãos, para confessar por todo o lado o nome de Cristo! Desça sobre vós a Bênção do Senhor!
Dirijo um pensamento especial aos jovens, aos doentes e aos recém-casados. Na próxima sexta-feira celebraremos a memória de São João Bosco. Amados jovens, a sua figura de pai e de mestre vos acompanhe ao longo dos anos de estudo e de formação. Queridos doentes, não percais a esperança nem sequer nos momentos mais árduos do sofrimento. E vós, diletos recém-casados, inspirai-vos no modelo salesiano do amor preventivo na educação integral dos vossos filhos.

Libreria Editrice Vaticana

CAIVIC - Comissão Arquidiocesana de Iniciação à Vida Cristã: CRISMA OU CONFIRMAÇÃO, "DOM DE DEUS QUE NOS AJUDA ...

CAIVIC - Comissão Arquidiocesana de Iniciação à Vida Cristã: CRISMA OU CONFIRMAÇÃO, "DOM DE DEUS QUE NOS AJUDA ...: Papa ressalta a Crisma, “dom de Deus que nos ajuda a viver como cristãos” Em sua catequese semanal, (29.01.2014) o Santo Padre contin...

APRESENTAÇÃO DO SENHOR Lucas 2,22-40

"OS MEUS OLHOS VIRAM A SALVAÇÃO QUE PREPARASTES DIANTE DE TODOS OS POVOS"

Esta festa nos convida a vivermos três atitudes: encontrar o Senhor, sofrer com o Senhor e acolher a luz.
Encontrar o Senhor. O encontro de Jesus com Simeão e Ana no Templo de Jerusalém significa o encontro do seu Senhor com a Igreja e com a humanidade. Diz-nos o profeta Malaquias: “Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais”. Hoje temos muitos lugares de encontro com o Senhor, mas não podemos deixar de encontrá-lo nos espaços do cotidiano e na pessoa do irmão. Valorizamos o encontro privilegiado na Igreja – sacramento de salvação. A comunidade reunida, os sacramentos são mediações para o Senhor manifeste a sua presença. Triste seria não encontrá-lo na Igreja-comunidade que se reúne no templo. Ora se dá muita importância aos pecados da Igreja e da comunidade, à liturgia mal preparada, ao grupo desafinado, à falta de acolhida. São defeitos, mas o encontro com o Senhor está acima de tudo isso, pois se trata de uma graça. Hoje devemos abrir os braços e acolher o Senhor em nossa vida, em nosso coração, seguindo o gesto de Simeão e Ana.

Sofrer com o Senhor. Acolher o Senhor implica em entrar na dinâmica da cruz. A Apresentação do Senhor é já o começo do mistério da dor redentora de Jesus, que atingirá o seu ponto culminante com sua morte. Por isso, Simeão diz que ele será “causa de contradição”; para Maria, sobrou a profecia de uma “espada que transpassa a alma”. Hoje se propaga uma experiência religiosa como remédio contra o sofrimento, como negação da dor e dos limites da vida. Seguindo este caminho, logo vem a crise quando se participa de uma comunidade religiosa, quando práticas religiosas são realizadas e, nem por isso, os problemas da vida somem num “passe de mágica”. O papa Francisco nos exorta: “O Senhor que viveu humildemente nos ensina que nem tudo é mágica em nossa vida e que o triunfalismo não é cristão. A justa atitude do cristão é perseverar no caminho do Senhor, até o fim, todos os dias. Eu não digo recomeçar de novo todos os dias: não, perseguir o caminho, um caminho com dificuldades, mas com tantas alegrias. O caminho do Senhor”.

Acolher a luz. Diz-nos Simeão sobre o menino: “luz para iluminar as nações”. A luz de Cristo inunda tudo. Mas certamente, na nossa vida, muitas são as escuridões que necessitam de um brilho dissipador: o medo, a incerteza, a depressão, o ressentimento, o desamor, o desalento... Todas estas trevas são dissipadas, quando se acolhe o Cristo luz nos braços, com fé e esperança. Também nós que hoje acendemos nossas velas, devemos sair iluminando a luz do Cristo. Esta luz deve ser o testemunho de nossa fé e alegria de discípulos. O mundo precisa deste brilho. Oferecer este brilho de cores é um grande presente a este mundo imerso nas trevas.

Pe Roberto Nentwig
Catequese e Bíblia.

Todo primogênito era consagrado ao Senhor. Um rito pelo que se reconhecia que Deus é o autor e Senhor da vida. Ao ser apresentado no templo, Simeão diz que Jesus é sinal de contradições.

É um momento de alegria porque ele confirma que Jesus é o Filho de Deus, mas é também um momento de dor. Foi um anúncio de dor de Maria: "Uma espada transpassará a tua alma".

Simeão e Ana mostram que Jesus pertence totalmente a Deus. Ele virá para salvar os homens, será pedra de tropeço para uns e degrau para outros.

E termina o relato com a frase de que ele cresce e se desenvolve. Isto mostra que, como Jesus, precisamos crescer em todas as dimensões: biológica, psicológica e espiritualmente.
Diário Bíblico.
"É ele o rei da glória. É o Senhor dos exércitos" Salmo 23(24), 10.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

“…porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos” (Lc 2,30)

“…porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos” (Lc 2,30)
  
O texto de Lucas se transforma na história de uma espera e de um encontro surpreendente. 
             “O ar está cheio de nossos gritos” (Beckett).
 
Esse suspiro de expectativa e de esperança não fica sem resposta. Toda a narrativa lucana é invadida por uma atmosfera festiva, litúrgica, musical: o menino Jesus é ofertado a Deus no Templo. Simeão é um homem justo e temente a Deus, que espera a consolação de Israel, que não teme e morte, porque sabe que ela será precedida pela grande surpresa, o encontro com o Messias do Senhor. O Espírito age em todos os justos, movendo-os e consolando-os; Simeão bendiz a Deus cantando um hino de paz, de luz e de alegria; o pai e a mãe do menino são tomados de espanto, e testemunham um mistério glorioso e tremendo; há também Ana que diante da criança explode em louvores a Deus.
 
A vinda do Cristo é, portanto, o grande evento que agita os corações: aterrorizou Herodes e, com ele, toda Jerusalém, mas fez exultar o coração dos justos. Simeão, como Ana, pertencem ao povo dos “Anawim”, os “pobres de Javé”, pois é descrito como “justo e piedoso”. Sua característica fundamental é a fé profunda, a confiança total em Deus. Simeão toma o menino Jesus entre os braços. A arte dos ícones vai representá-lo como o Theodochos, “aquele que acolhe Deus”. Homem “pobre”, homem da espera, homem do Espírito: por essas qualidades Simeão é também profeta, no sentido bíblico de conhecedor do mistério de Deus e revelador da sua Palavra.
 
Simeão é um homem bom do povo que guarda em seu coração a esperança de um dia ver “o consolo” de que tanto precisam. Ele é também o homem da espera, um pouco como todos os personagens do Evan-gelho da infância. Ele recolhe em si a longa expectativa da esperança messiânica. Ele não é prisioneiro da “cotidianidade”: mantém o olhar fixo no horizonte, para a consolação, para a revelação da glória. Se o presente é sem sol, ele está seguro da aurora. Deus quebrará seu silêncio, a noite escura será iluminada, a primavera substituirá o inverno. Ainda que “avançado em anos”, nele ainda não se apagou a chama da esperança e da juventude  de espírito. 
 
Simeão guarda em si o fogo do Espírito Santo, que o mantém sempre vivo, forte, aberto ao futuro. Ele não olha para o passado; vê longe e sonha grande, sonha com a  salvação de todas as nações. Seu olhar é limpo, diáfano, que desarma, que não esconde engano ou segundas intenções; olhar admirado e gratuito que transforma, que liberta e que se comove diante da realidade, especialmente a realidade humana de uma criança. 
 
O olhar de Simeão nasce da camada mais profunda e secreta do seu ser, onde a vida se torna vida que sente, vida que acolhe toda a realidade e traduz as ressonâncias em estados de espírito. Esse é o seu modo habitual de olhar que é, ao mesmo tempo, o seu modo habitual de sentir; um olhar afetuoso, que não intimida e não se sente intimidado, um olhar desarmado, acolhedor, estimulante...
 
Em um gesto atrevido e paternal, “toma o menino em seus braços” com grande amor e carinho. No entanto, este menino que tem em seus braços será uma “bandeira discutida”: sua presença será rejeitada e ocasião de conflitos e enfrentamentos; ele desvelará o que há no mais profundo das pessoas.  Uns o acolherão e sua vida adquirirá uma dignidade nova: sua existência se encherá de luz e de esperança. Outros o rejeitarão e sua vida terminará na ruína.  A acolhida deste menino pede uma mudança profunda. Jesus não vem trazer tranquilidade, mas gerar um processo doloroso e conflitivo de conversão radical. Quanto mais nos aproximamos de Jesus, melhor veremos nossas incoerências e desvios, o que há de verdade ou de mentira em nossas vidas, o que há de fechamento e resistência em nossos corações e em nossas instituições.
 
Podemos pensar também no simbolismo do sentinela: como o guarda noturno espera ansioso que chegue outro para substituí-lo, assim Simeão espreita a aurora, porque sua vigília está terminando, e então poderá descansar no Senhor, adentrando em seu Reino. O cântico de Simeão, porém, não é uma despedida melancólica, porque sua missão foi cumprida. É, antes, uma saudação festiva à Palavra de Deus que agora se realiza, é uma oração de serena e alegre entrega, de suave abandono, de confiança, pronunciado por um homem que pressente o fim, mas um fim cheio de luz e, portanto, não assustador. Seus sentimentos são os mesmos da bem-aventurança de Lucas: “Felizes os olhos que vêem o que vós vedes” (10,23) Um canto de fé e de esperança segura, não um sonho melancólico. Esse é o sentido da existência cristã.
 
O perfil de Ana é também todo luminoso e alegre. Como Miriam, irmã de Moisés, como Débora, como a mulher de Isaías, ela também é profetisa, está atenta aos sinais da história, e a este sinal decisivo que é Cristo. Porque está aberta ao Espírito, não permanece espectadora e passiva. Ana é o retrato da velhice feliz, abençoada por Deus, no estilo das narrações patriarcais, segundo as quais a velhice veneranda é sinal de justiça e de recompensa divina. Ana, portanto, é modelo de velhice alegre e pacífica, uma velhice ativa e cheia de esperanças. Seus 84 anos não são um tempo que fugiu, que escapou das mãos como a areia, deixando-as vazias. Para ela não existem apenas recordações. Lucas a descreve como a mulher de oração, uma “pobre do Senhor”. O Salmo do ancião canta (Sl. 92,12-16):
O justo floresce como a palmeira, cresce como o cedro do Líbano. Quem está arraigado na casa do Senhor, floresce nos átrios de nosso Deus; ainda dará fruto na velhice, con-servando toda a exuberância e frescor, para proclamar que o  Senhor é justo...”
 
Pertencemos a uma geração devorada pelo imediatismo e pela rapidez, com enorme dificuldade para acolher processos de longa duração: navegamos na Internet, viajamos em carros supervelozes, cozinhamos em micro-ondas, consumimos “fast-foods”...
O problema é quando aplicamos estes mesmos ritmos às relações humanas; no entanto, nem uma amizade, nem uma família, nem uma comunidade se forjam com essa medida ultrarrápida do tempo, senão que necessitam de processos lentos de crescimento, difíceis de serem aceitos.
Ana, a profetisa, nos oferece a sabedoria do saber esperar; o Evangelho de hoje nos apresenta esta anciã, durante toda sua vida, esperando a chegada do Messias e celebrando o fato de ter podido encontrá-lo em seus últimos dias de vida. A imagem que dela nos dá Lucas é que foi recompensada por ter passado a vida inteira à espera e que agora sua alegria se transborda em louvor e agradecimento.
 
Texto bíblico:  Lc 2,22-40
 
Na oração:  S. Inácio, nos Exercícios Espirituais, recomenda que o exercitante eleve o pensamento para o alto, considerando como Deus nosso Senhor o olha. Talvez seja este o momento de maior recolhimento e elevação da oração, quando ele se torna diálogo silencioso de olhares, como acontece entre duas pessoas que se amam.
 
Deveríamos nos situar diante de Deus desse modo com mais freqüência, deixando os olhos, os d’Ele e os nossos, se falarem silenciosamente. Em momentos de aridez do coração e de resistência interior, o olhar é tudo o que resta para rezar.
 
 Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI

Fonte: Catequese Hoje - Regional Leste II

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

CATEQUESE E INICIAÇÃO PARA A VIDA CRISTÃ

Catequese e Iniciação para a Vida Cristã

“A gente quer ser feliz! Isso é bom, isso é correto. Pedir a ajuda de Deus. É importante, decerto, mas é preciso empenho, é necessário humildade, abertura, para aprender. Pois ser feliz se aprende, como a ler e escrever. Mas a escola é a vida, a tal arte de viver”. Maria das Graças

A catequese se depara com um desafio crescente: Os batizados chegam para a catequese e percebe-se que não foram devidamente evangelizados. Os catequizandos apresentam-se para a catequese sem o mínimo contato com Jesus Cristo, sem saber o básico da vida cristã. Isto ocorre porque talvez não foram verdadeiramente iniciados. Faltou-lhes uma iniciação mais sólida.

A catequese com adultos aparece hoje como prioridade na ação evangelizadora da Igreja, apresentando uma proposta de iniciação cristã, inspirada no catecumenato da Igreja primitiva.
Contudo é importante ressaltar que toda a catequese precisa ter essa inspiração catecumenal.

Os adultos não podem ser preparados aos moldes de uma catequese infantil, nem através de uma rápida preparação sem metodologia própria, sem um processo sistemático e organizado. É impensável que nossas comunidades continuem batizando jovens e adultos junto com crianças, utilizando até mesmo o Ritual de batismo de crianças.

Existe um ritual apropriado, o Ritual da iniciação cristã de adultos (RICA) especificamente para aqueles que não foram iniciados aos sacramentos e que necessitam de uma metodologia mais apropriada para viverem o itinerário de fé e de inserção na vida comunitária.

É urgente tratar do processo de iniciação cristã envolvendo anúncio, liturgia, serviço, comunhão (comunidade) e testemunho. O primeiro objetivo é a adesão à pessoa e mensagem de Jesus, através da mudança de vida, do engajamento na comunidade e no serviço ao próximo como testemunho cristão para o mundo. Os frutos da evangelização e da catequese são a conversão e o seguimento de Jesus Cristo.

O modelo de iniciação, que remonta aos primeiros séculos do cristianismo, é aquele no qual a recepção conjunta dos três sacramentos coloca-se entre uma fase de preparação chamada catecumenato e uma posterior de aprofundamento, a mistagogia (do grego, significa ser conduzido aos mistérios).
O Catecumenato caracteriza-se como processo progressivo de desenvolvimento da fé.

A iniciação produz uma passagem de um estado ao outro, de um modo de vida a outro. O modelo catecumenal faz a interação catequese-liturgia-conversão dos costumes. A catequese com adultos não é uma supérflua introdução na fé, nem um verniz ou um cursinho de admissão à Igreja.
É, sim, um processo; um itinerário de preparação, acolhimento e participação no mistério da fé, da
vida nova em Cristo e celebrada na Liturgia.

Hoje não se pode contar com uma sociedade religiosamente uniforme. Por isso, o processo da catequese com adultos pretende introduzir a pessoa na relação com o Deus de Jesus, acolher e inseri-la Gradativamente na vida da Igreja, proporcionando uma adesão fiel e duradoura a Jesus Cristo e sua mensagem. Esse objetivo vem de encontro à evangelização dos católicos não praticantes, que constituem o maior desafio que a Igreja no Brasil enfrenta, ao menos do ponto de vista quantitativo.

Catecumenato é uma palavra de origem grega que quer dizer “lugar onde ressoa alguma mensagem”. É a fase em que os candidatos se preparam para receber os sacramentos do batismo, da confirmação e eucaristia.

Desde o Concílio Vaticano II, ao dirigir sua atenção para a evangelização dos adultos a Igreja recuperou o catecumenato antigo para criar um processo de amadurecimento da fé. Em 6 de janeiro de 1972, foi promulgado o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), que constitui uma proposta para se fazer um itinerário de iniciação cristã, através de alguns ritos próprios para cada etapa.

A formação catecumenal, mais do que ser doutrinária, é enfocada como discipulado, através de um modo de ser e viver coerentes com a proposta de Jesus. É preciso escutá-lo, viver em comunidade e cumprir o mandamento principal: amar a Deus e ao próximo.


1. Iniciação Cristã
Senhor Jesus [...], livrai da morte os que buscam a vida através de vossos sacramentos [...], comunicai-lhes, pelo vosso Espírito vivificante, a fé, a esperança e a caridade [...].

(Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, n. 178)

A Iniciação Cristã: constitui um itinerário ou caminhada de preparação para integrar novos membros na vida cristã de uma comunidade de fé. Ela é o processo pelo qual nos tornamos cristãos, mediante uma inserção global na vida de fé, eclesialmente expressa nos três sacramentos que assinalam e consagram o início da vida cristã: o batismo, a confirmação e a eucaristia.

O Batismo, a Crisma e a Eucaristia são os três sacramentos da Iniciação Cristã que compõem um itinerário para o mergulho completo e comprometido com o mistério pascal de Jesus Cristo.

A palavra itinerário (do latim iter) significa caminho. Antigamente, as pessoas se utilizavam de um itinerário, ou seja, de um roteiro de viagem para realizar um caminho adequado. Na simbologia da arte cristã, caminho pode ser entendido como o processo ativo do próprio andar, uma marcha, uma viagem.

O caminho de Jesus nos evangelhos sinóticos e o chamado dos discípulos vai se constituir um itinerário de discipulado. O ápice dessa simbologia é Cristo no testemunho que ele dá de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Jesus não é só o caminho, mas a meta do caminho, ou seja, a vida.

No livro dos Atos, encontramos a designação “ser do Caminho” (At 9,2; 24,14), indicando uma conduta em conformidade com Cristo. É no livro dos Atos dos Apóstolos que “O Caminho” foi um dos modos de chamar a Igreja como comunidade dos discípulos. “Os do Caminho” eram os discípulos!

Paulo dá testemunho de fé ao fazer sua defesa diante de seus acusadores, confessando antes ter sido perseguidor dos cristãos que assumiam este caminho: “Persegui até a morte este caminho (Atos 22,4) Sendo o espírito do Evangelho um movimento humano no mundo, um mover de gente, de pessoas; “O Caminho” implica numa adesão consciente e livre da fé em Jesus. Daí a razão de hoje se fazer um caminho de iniciação cristã que ofereça condições para testemunhar a fé na Igreja e no mundo.

Se a ação cristã no mundo não for um ato de fé testemunhada, pode patinar no patamar humano e cair na tentação do ter, poder e prazer, onde o homem tenta satisfazer suas próprias necessidades egoístas.

A iniciação catequética era, antes de tudo, litúrgica. Isto significa que o catecúmeno (do grego, significa aquele que ia ser iniciado) participava de celebrações litúrgicas, sobretudo da liturgia da Palavra da Missa e depois era ajudado a compreender a Palavra que lhe tocara o coração.
Quando amadurecido o suficiente, numa determinada noite da vigília pascal recebia os três sacramentos (Batismo-Crisma-Eucaristia: B - C - E), e continuava fielmente a participar da celebração da eucaristia, instaurando um processo permanente de assimilação do mistério da fé.
Assim, o mistério era experimentado continuamente, sobretudo na missa, e aprofundado por um desejo crescente e inesgotável do conhecimento de Deus.

Esta maneira de se deixar conduzir ao mistério pela celebração litúrgica e de fazer desta experiência explicitado o conteúdo da catequese é conhecida como “mistagogia”. A pessoa se deixa envolver pelo mistério celebrado que lhe toca o coração e, a partir disto, se entrega a uma sincera e substanciosa vontade de conhecer e discursar sobre o que a experiência de Deus lhe proporcionou na liturgia.

Na iniciação cristã, o elemento celebrativo é anterior ao discursivo. Primeiro se reza, e daí é que brota o interesse de se aprofundar o conteúdo da oração, fazendo rezar melhor ainda. É a oração que toca o nosso mundo afetivo e nos abre ao desejo do conhecimento de Deus. O contrário não funciona.


Falar-se teoricamente de uma realidade que não nos toca pode servir para um exame ou uma prova, mas não para uma iniciação na fé, que exige um envolvimento afetivo direcionado a uma entrega confiante e total.

Tal visão apóia-se na experiência da Igreja primitiva, cujo esquema básico foi resgatado pelo Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), do Concílio Vaticano II: (catequese (catecumenato) – celebração dos sacramentos – mistagogia).

Hoje, ao contrário não só a ordem certa dos sacramentos de iniciação foi alterada (B - C - E para B - E - C), como também o processo mistagógico praticamente desapareceu. Muitos recebem os sacramentos hoje na Igreja e amanhã desaparecem, aniquilando todo o processo de iniciação cristã. Muitos não voltam porque não foram iniciados autenticamente.

Para sanar essa triste realidade que a catequese ainda assiste de muitos sumirem da Igreja depois de receber os sacramentos, vale abordar aqui a ligação intrínseca entre os sacramentos do batismo, da crisma e da eucaristia para que não se tornem sacramentos isolados.

Para celebrar os sacramentos como momento histórico da salvação é necessário fazê-lo com consciência. A prática sacramental atual necessita ser revista porque tem apresentado notáveis dificuldades, sobretudo, no campo da perseverança, o que pode indicar justamente a falta de mistagogia.

Este problema é antigo e está sempre de roupagem nova. O que no passado as devoções significaram em termos de tentativa de iniciação na fé, por causa de uma liturgia inexpressiva, agora são os novos movimentos eclesiais que tomam a dianteira do processo de iniciação. Porém, estes movimentos substancialmente iniciam para si mesmos, oferecendo aos seus membros um itinerário peculiar, que pode estar carregado dos mesmos aspectos devocionais do passado. As devoções, no entanto, são um fenômeno positivo, uma maneira de preencher a lacuna e o papel que a liturgia, em determinados períodos, não conseguiu desempenhar. Por isso, algumas devoções sempre subsistirão e irão compor com a liturgia o caminho de conduzir ao mistério.

Mas é preciso voltar às fontes da Iniciação Cristã e beber na mais pura Tradição o método que compromete a vida cristã de forma radical com Jesus Cristo e seu evangelho, em outras palavras, com o Reino de Deus já presente na história.

É importante saber que:
Iniciação Cristã não é sinônimo de instrução ou doutrinação.
Iniciação não é prática exclusiva de cristãos, as outras religiões também têm suas formas de iniciação.
Iniciação Cristã tem tudo a ver com caminho e comunidade (A comunidade é o lugar da iniciação cristã).

Vantagens da Iniciação Cristã:
Compreende a iniciação em função do itinerário espiritual a ser desenvolvido: CAMINHO.
Há um caminho feito por etapas, há um processo para entrar no mistério: CONVERSÃO.
Cresce-se no sentido de pertença, sendo incorporado em Cristo e na Igreja: COMUNIDADE.
Busca formar a consciência cristã, interagindo fé e vida, razão e fé: CONHECIMENTO.
Desenvolve-se a alegria pelo seguimento de Jesus e intimidade com Ele: ESPIRITUALIDADE.
Prepara-se não só para os sacramentos, mas para a vida de fé: MATURIDADE CRISTÃ.

2. Catecumenato
Catecumenato significa preparação para aqueles que vão ser iniciados na vida de fé. Sua prática se origina da Igreja primitiva (dos primeiros séculos) e o termo vem do grego catecúmenos e significa aquele que deve ser iniciado. O Ritual de Inicial Cristã diz: “O Catecumenato é um espaço de tempo em que os candidatos recebem formação e exercitam-se praticamente na vida cristã. Desse modo, adquirem madureza as disposições que manifestaram para o ingresso” (n. 19, RICA).

O catecumenato se constitui de uma série de ensinamentos (catequese) e práticas litúrgicas.
Ele é exercício de vida cristã e de prática evangélica que conduz à inserção gradual na vida da comunidade. Ele é uma etapa importante de todo o processo de iniciação cristã.

Vejamos suas vantagens:
O catecumenato comporta o anúncio da Palavra.
Na linguagem dos padres do séc. IV, ele é o “tempo da gestação”.
É tempo de formar-se e nutrir-se no seio da Mãe Igreja até ser regenerado pela água e pelo Espírito.
É o tempo apropriado para o crescimento da fé, o amadurecimento da conversão.
É período de contato e familiarização com a comunidade cristã.
Nele se revela a ação pastoral da Igreja constituída pela ampla catequese.
O catecumenato é uma espécie de iniciação de discípulos que descobrem um caminho.
Não é doutrinação, mas discipulado, um modo de ser e viver consoante ao de Jesus.
O Catecumenato primitivo na Igreja (séc. II-V) apresentava o seguinte esquema:

.. ETAPA MISSIONÁRIA
Fase do 1º anúncio de Jesus Cristo (fé e conversão). Querigma.
.. TEMPO DO CATECUMENATO
Fase de formação e orientação (instrução pela Palavra de Deus).
.. PREPARAÇÃO IMEDIATA
Iniciava na Quaresma, com instrução, formação espiritual, litúrgica e ritual.
.. CELEBRAÇÃO DOS SACRAMENTOS
Numa única celebração (Vigília Pascal) administrava-se os sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia.
.. ETAPA MISTAGÓGICA
(do grego, mistagogia significa ser conduzido ao mistério).
Vivia-se todo o tempo pascal na Igreja saboreando os mistérios na participação ativa na comunidade e nos sacramentos.

Em 1972, foi promulgado o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), como fruto da reforma litúrgica conciliar. O RICA restaurou o catecumenato (período de preparação), a celebração conjunta dos três sacramentos de iniciação (B, C e E na vigília pascal) e contemplou a continuidade no período pós-pascal até Pentecostes (mistagogia).

Graças ao novo Ritual de Iniciação Cristã (RICA) encontramos um novo esquema que traça as seguintes etapas e tempos da Iniciação Cristã de Adultos:


INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS
ETAPAS TEMPOS MOMENTOS
PRÉ-CATECUMENATO
(Anúncio evangélico, despertar a fé e a conversão)
e
CATECUMENATO
(Aprofundar a fé)
(1ª etapa)
ENTRADA OU ADMISSÃO NO CATECUMENATO
Tempo especial para o acolhimento:
1º momento: Evangelização
(Pré-Catecumenato)
.. Da evangelização brotam a fé e a conversão inicial. (Contato com os evangelhos)
2º momento: Catequese
(Catecumenato)
.. Rito de Instituição dos Catecúmenos.
.. Aprofundamento da fé.
.. Celebrações da Palavra, Exorcismos menores, bênçãos.
PURIFICAÇÃO e ILUMINAÇÃO
(2ª etapa)
ELEIÇÃO DOS CANDIDATOS
Tempo de intensa preparação espiritual:
Quaresma: tempo propício
Eleição dos candidatos
3 Escrutínios (solenemente celebrados aos domingos)
Entregas (do Símbolo da Fé e da Oração do Pai-nosso)
Preparação Imediata: Ritos
(Recitação do Símbolo, Éfeta, Escolha do nome cristão, unção com o óleo dos catecúmenos)
PURIFICAÇÃO E ILUMINAÇÃO SACRAMENTOS DE INICIAÇÃO CRISTÃ
(3ª etapa)
CELEBRAÇÃO DOS SACRAMENTOS
Tempo de aquisição de experiências e aprofundamento das relações com a comunidade:
.. Nova experiência dos sacramentos
(B - C - E)
Tempo pascal: tempo propício.
Mistagogia: iniciação aos mistérios.
A comunidade acolhe os neófitos
.. Pelo B, C e E, os neófitos crescem pela prática cristã, adquirem novo senso de fé, da Igreja e do mundo.
TEMPO DA MISTAGOGIA


De acordo com este esquema, o catecumenato contempla uma celebração que marca seu início. Os tempos e as etapas fundamentam o processo de uma conversão cada vez mais decidida para os valores da vida cristã. Cada etapa supõe uma resposta de adesão sempre mais consciente do candidato.

Ser iniciado é ser introduzido no mistério da fé e da Igreja. Por mais amadurecida que seja a fé, ela é sempre catecumenal, no sentido de que carece de crescimento e conversão.

No pré-catecumenato, a fé e a conversão iniciais servem para amadurecer a vontade sincera de seguir a Cristo e pedir o batismo. O princípio de conversão coincide com o desejo de mudar de vida e relacionar-se pessoalmente com Deus na oração.

É tempo de evangelização: anuncia-se o Deus vivo e Jesus Cristo. A pessoa é chamada a conhecer e a desejar viver com um sentido cristão, a aprender a conhecer a Cristo para poder segui-lo.

a) Rito de instituição dos catecúmenos

Após haver constatado algum resultado da primeira evangelização, celebra-se o rito de instituição dos catecúmenos, que é o rito de acolhida de catecúmeno na Igreja e faz do ser humano um cristão. Deve significar um relacionamento novo entre Deus e a pessoa pela mediação da Igreja, à qual o futuro batizado passa a pertencer. O rito transcorre em clima de alegria e ação de graças da Igreja.

O diálogo inicial mostra que o candidato pede à Igreja o dom da fé, virtude que deverá ser acompanhada sempre pela conversão. Não se trata de uma entrada individual, mas por meio da Igreja que se faz educadora e mãe.

O RICA (n. 83-87) estabelece a entrada no catecumenato com a assinalação da fronte e dos sentidos, sinal do amor de Deus e força para o seguimento. O sinal da cruz é feito na fronte e sobre os sentidos (ouvidos, olhos, boca, peito, ombros) e também é dada a bênção com o sinal da cruz sobre toda a assembléia. Os responsáveis do catecúmeno e os catequistas podem traçar o sinal da cruz sobre o candidato.

Com o sinal da cruz, o catecúmeno entra em uma nova situação de vida, é marcado pela vitória de Cristo e deve empenhar-se para conhecê-Lo e para viver como Ele viveu. A assinalação da fronte e dos sentidos é a resposta da Igreja ao pedido de fé, pois a cruz de Cristo é o sinal concreto do amor de Deus e a força para o seguimento.

Depois o candidato é introduzido na Igreja e poderá, de agora em diante, tomar parte na mesa da Palavra de Deus: o futuro batizado já é membro da Igreja. Dá-se a entrega do livro dos evangelhos ao catecúmeno, como possibilidade de entregar também o crucifixo.

Há de notar a mudança de estatuto que sofre o indivíduo: após receber a signação da cruz e inscrever seu nome no livro dos catecúmenos, passa a ser cristão, ainda que não seja considerado fiel. Os catecúmenos começam a pertencer à Igreja e são desde já cristãos sem ser ainda fiéis.

b) Ritos no Catecumenato

Passa-se a uma dimensão celebrativa mais intensa nos encontros, que constarão de catequese, celebração da Palavra, exorcismos menores, bênçãos. Os ritos próprios desse tempo expressam o encorajamento da Igreja, na luta que os catecúmenos empreendem para superar as próprias limitações e armadilhas do mal, já que não possuem, ainda, a graça dos sacramentos.

O catecumenato é um tempo dedicado à catequese completa. Longa formação do espírito e do coração.

c) Celebração da Palavra de Deus


As celebrações da Palavra ao longo do ano litúrgico servem para a instrução dos catecúmenos, para se prepararem melhor para a futura participação na eucaristia e para as necessidades da comunidade.

É uma catequese que encontra na liturgia sua mais plena expressão, seu incessante manancial e um centro constante de referência. Na liturgia da Palavra, o Espírito Santo “recorda” à assembléia tudo o que Cristo fez por nós.

É indispensável apresentar ao candidato a história da salvação e no encontro com a Palavra de Deus, descobrir o agir de Deus na sua vida pessoal.

d) Exorcismos menores

Ao iniciar um processo de conversão, é preciso reconhecer a situação de pecador, muitas vezes subjugado pelo tentador, para sentir-se necessitado da intervenção divina. Neste rito, o catecúmeno é chamado a lutar contra o demônio e todas as suas expressões mundanas. O ser humano por si só, não tem força para desprender-se da dinâmica do mal. Deus é sua única esperança.

Os exorcismos menores manifestam aos catecúmenos as verdadeiras condições da vida espiritual, a luta entre a carne e o espírito, a importância da renúncia para alcançar as bem aventuranças do Reino de Deus e a necessidade contínua do auxílio divino (Cf. RICA, n. 101).

As orações constam de um memorial salvífico, súplicas para proteger-se do mal, prece ao Espírito Santo para o crescimento interior dos catecúmenos. Os exorcismos pedem para Deus penetrar o íntimo do ser, sondar os corações e iluminá-los para que se reconheçam pecadores (nn. 117,118,373).

O efeito do exorcismo é precisamente a libertação progressiva do domínio do diabo na espera de que o banho batismal traga a santificação completa. O catecúmeno, livre das amarras do pecado e do tentador, coloca-se como discípulo bem disposto pela graça e preparado para conhecer e seguir a vontade do Senhor manifestada no Evangelho.

Há um caráter epiclético, ou seja, de invocação do Espírito Santo. O gesto de imposição das mãos sobre os catecúmenos ajoelhados ou inclinados é muito antigo na Igreja e significa comunicação do Espírito Santo. De fato, o Espírito Santo de Deus deve libertar o catecúmeno de toda incredulidade e de toda dúvida, arrancando-o de todas as formas de vícios e fortificando-o na grande virtude da fé, da esperança e da caridade.

e) Bênção dos catecúmenos

Essas orações apresentam a nova realidade que se abre àquele que se faz discípulo e está a caminho. São verdadeiras preces de acompanhamento do catecúmeno. Elas expressam o amor de Deus e a solicitude da Igreja, a fim de que recebam a coragem, a alegria e a paz.

As bênçãos, com imposição das mãos, têm por objetivo o crescimento espiritual dos candidatos ao batismo. Há invocações dirigidas ao Pai, pedido de súplica pelos catecúmenos a fim de predispô-los para os sacramentos, crescendo a cada dia no conhecimento da verdade, no entendimento, na perfeição e na fé inabalável. As bênçãos terminam com sua finalidade principal, pedindo os frutos dos sacramentos.

f) Rito da Unção

Situada entre a renúncia e a profissão de fé, também pode ser antecipada durante o catecumenato e prevê-se a repetição do rito, se for oportuno (cf. n. 128). É um símbolo polivalente, pois tem caráter preparatório para o batismo, como também para toda a vida cristã batismal.

A unção expressa a necessidade da força divina, para se libertar das forças diabólicas e para fazer o batizando convicto de sua fé. Ela é realizada no peito, ou em ambas as mãos, ou ainda em outras partes do corpo, conforme a sensibilidade da cultura local. O ungido deverá aderir a Cristo na fé e no mistério do banho batismal, terá de lutar com Satanás, ser ágil na luta, como o mesmo Senhor o foi uma vez para sempre na vitória pascal. Morrerá com Cristo para o pecado e, assim, ressurgirá participando de sua vitória. Esse “morrer com” fica prolongado por meio da vida cristã, por isso que a proteção se pede para toda a perspectiva da luta do tempo presente.

Debaixo de diversas formas, é sempre a história da salvação e o mistério pascal que estão presentes sob a forma de exorcismos ou de bênçãos no fim da liturgia da Palavra. A escuta da Palavra de Deus transforma-se em pronta oração, na qual o catecúmeno percebe de modo mais profundo a ação de Deus e sente em si mesmo a forca daquela radical conversão, que o leva a instaurar um diálogo de amor com aquele que no Espírito deve habituar-se a chamar com o nome de Pai.

Um texto para refletir:

“Andar com fé eu vou que a fé não costuma faiá” (Gilberto Gil)

Dizem que é a fé que move o mundo. Mas fé em que?

No governo que elegemos, no papa que o mundo aplaudiu, nos programas de governo, na esperança, no amor, na união, na religião, na verdade, na mentira, na paz, no jogo do bicho, na loteria, na zebrinha, em Deus, na tábua, em quê?

A humanidade está a mercê dessa força. Na minha opinião a fé é um sentimento de devoção muito particular. Não dá para discutir, apenas respeitar. O que eu acho que acontece é que ela própria em determinados casos gera um fanatismo sem limite, totalmente exagerado e imbecil. É a partir de obsessão como essa que muitos chegam a morte.

A fé tanto oferece força como também oferece perigo. O fanático pelo futebol tem tanta fé que o time dele vai ganhar que se por azar ou uma zebra qualquer o time perde, o sujeito é capaz de se matar ou no mínimo como vem acontecendo nos estádios matar alguém.

A decepção é a companheira da fé assim como o ódio é o inimigo do amor. Mas a fé realmente vem da religião. Costuma-se acreditar através da fé.

Essa semana eu estava procurando uma foto para ilustrar uma palestra sobre mídia e consumo e navegando na internet me perdi em tantas opções e foi numa delas que parei para pensar.

Mas a foto que eu procurava tem a seguinte descrição:

Um judeu ligando de um celular para sua esposa doente que estava em casa, e dizendo para
ela que ele ia encostar o celular no muro das lamentações e que ela fizesse seu pedido então.

Isso para mim é fé. E o modelo acima é o abuso da fé das pessoas, seria então má fé.

Mundialmente falando o consumo da fé é assustador. As pessoas estão se matando todos os
dias em nome da fé. As guerras acontecem em nome da fé. A população cresce em nome da fé. O atual governo brasileiro ganhou a eleição em nome da fé do seu povo na esperança de um país melhor.

Caros amigos, esse tema é complexo, portanto eu escreveria muito e para que isso não aconteça, eu termino por aqui dizendo que: Haja fé para nos mantermos em pé!

Para questionar:

a) O que significa ter fé? Como cultivá-la na vida cristã?

“Fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura”. (Rabindranath Tagore)

As outras duas etapas da Iniciação Cristã, o tempo da Iluminação e Purificação e o tempo
da Celebração dos Sacramentos, não serão especificados aqui, porque já estão bem detalhadas no
Ritual de Iniciação Cristã (RICA).


3. Catequese com Adultos
A Catequese com Adultos é uma iniciativa da Igreja voltada para os adultos que não foram
iniciados à fé. Vejamos as características da Metodologia da Catequese com Adultos:

a) Aprender, aprendendo.
b) Tratar o adulto como adulto. linguagens.
c) Partir das inquietações, sonhos e conquistas.
d) Valorizar a vivência grupal. aprendizes.
e) Trabalhar as motivações.
f) Fazer da sabedoria do adulto conteúdo dimensão catecumenal.
g) Valorizar os momentos celebrativos.
h) Favorecer a dimensão lúdica.
i) Aproveitar a riqueza das múltiplas conquistas
j) Parar, retomar e caminhar
k) Estar a caminho sempre como eternos
l) Propor um processo de iniciação
m) Avançar na organização de um itinerário aberto.

Pilares da Formação com Adultos:

Aprender a ser e a viver (formação humana).
Aprender a conviver (formação comunitário-eclesial).
Aprender a conhecer (formação intelectiva).
Aprender a saber fazer (formação pedagógica).
Aprender a discernir (formação espiritual).
Aprender a irradiar (formação missionária).

Conseqüências para a Catequese com Adultos:

1. Não infantilizar o adulto.
2. Responder às suas perguntas, partir de seus questionamentos e necessidades.
3. Olhar as dimensões da vida de modo integral: família, trabalho, política, saúde, realização,
luta, sofrimento, carências, morte.
4. Propor uma catequese vivencial e não apenas doutrinal.
5. Ajudar o adulto a desenvolver sua resposta de fé.
6. Não enquadrar os outros em esquemas, mas personalizar o acompanhamento.
7. Ajudar o adulto a interpretar as experiências vitais.
8. Conciliar o pessoal e o comunitário.
9. Levar em conta a pessoa.
10. Sempre guiar-se pelo princípio de interação (vida-formulação da fé).
11. Quebrar preconceitos.

“Uma catequese verdadeiramente adulta parte da própria situação religiosa dos catequizandos, para
um progressivo caminho de fé: sua história pessoal de busca de Deus, (...) sua visão de mundo, seu
contato com o Evangelho e com a Igreja. Cada caso exige uma abordagem adequada”.

(Doc. 80, Com Adultos, Catequese Adulta, n. 155)

Uma catequese “que motive a continuar buscando sempre mais, aprofundando a experiência de
Deus, o compromisso com a comunidade e o engajamento evangélico na transformação da
sociedade. Toda catequese deve possibilitar a opção pessoal por Jesus Cristo e colocar a pessoa no
seguimento de Jesus, caminho ‘rumo a maturidade em Cristo’” (cf. Ef. 4,13).

(Doc. 80, Com Adultos, Catequese Adulta, n. 156)


Iniciação à vida cristã

“Recordamos que o caminho de formação do cristão na tradição mais antiga da Igreja teve sempre
um caráter de experiência, na qual era determinante o encontro vivo e persuasivo com Cristo,
anunciado por autênticas testemunhas. Trata-se de uma experiência que introduz o cristão numa
profunda e feliz celebração dos sacramentos, com toda a riqueza de seus sinais. Deste modo, a vida
vem se transformando progressivamente pelos santos mistérios que se celebram, capacitando o
cristão a transformar o mundo. Isto é o que se chama ‘catequese mistagógica’” (DA, n. 290).

“A catequese não pode se limitar a uma formação meramente doutrinal, mas precisa ser uma
verdadeira escola de formação integral. Portanto, é necessário cultivar a amizade com Cristo na
oração, o apreço pela celebração litúrgica, a experiência comunitária, o compromisso apostólico
mediante um permanente serviço aos demais” (DA, n. 299).

Uma historinha para refletir:

POR QUE IR À IGREJA?

Um freqüentador de Igreja escreveu para o editor de um jornal e reclamou que não faz sentido ir à Igreja todos os domingos.

Eu tenho ido à Igreja por 30 anos, ele escreveu, e durante este tempo eu ouvi uns 3.000 sermões.

Mas por minha vida, eu não consigo lembrar nenhum si quer deles... Assim, eu penso que estou perdendo meu tempo e os Padres e Pastores estão desperdiçando o tempo deles pregando sermões!

Esta carta iniciou uma grande controvérsia na coluna "Cartas ao Editor", para prazer do Editor Chefe do jornal.

Isto foi por semanas, recebendo e publicando cartas no assunto, até que alguém escreveu este argumento: " Eu estou casado já há 30 anos. Durante este tempo minha esposa deve ter
cozinhado umas 32.000 refeições. Mas, por minha vida, eu não consigo me lembrar do cardápio de
nenhuma destas 32.000 refeições. Mas de uma coisa eu sei...

Todas elas me nutriram e me deram a força que eu precisava para fazer o meu trabalho. Se minha esposa não tivesse me dado estas refeições, eu estaria hoje fisicamente morto.

Da mesma maneira, se eu não tivesse ido à Igreja para alimentar minha fome espiritual, eu estaria hoje morto espiritualmente.
fonte: cbv

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

CATEQUESE E FAMÍLIA

Catequese e família 

1. A catequese pergunta: E a família como vai?
“À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé, torna-se comunidade evangelizadora.” (João Paulo II)

Chamada a ser o Santuário da Vida e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a família hoje vive as ameaças da sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo, individualismo, utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer).

O mundo hoje é plural, mas também fragmentado. As ciências e as tecnologias se desenvolveram tanto que acabam passam por cima dos princípios da ética e da religião. E quem acaba sofrendo os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num horizonte cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a família fica num beco sem saída.

Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que influencia as famílias hoje?

Olhando para a realidade atual, verificamos diversas realidades. Entre elas, vale mencionar:


  • Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de diálogo e de comunhão. 
  • Ausência dos pais na educação de seus filhos. 
  • Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos filhos. 
  • Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da situação. 
  • O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer, banalizando a sacralidade do ato conjugal.
  • Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo relativizados. 
  • Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras dificuldades, casais optam por trocar os parceiros. 
  • Número crescente de divórcios. 
  • Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à vida, incentivando assim a prática do aborto. 
  • Instauração de uma mentalidade contraceptiva. 

Uma historinha nos ajuda a refletir:

Uma catequista pediu aos catequizandos que elaborassem um texto sobre o que gostariam
que Deus fizesse por eles. Quando terminou o encontro de catequese, ela chegou em casa e
começou a ler as mensagens. Uma mensagem a deixou profundamente emocionada e intrigada. Seu
esposo ao chegar, viu-a a chorar e perguntou: O que é que aconteceu? Ela respondeu: Leia você
mesmo. O texto era uma oração e dizia assim: "Senhor, esta noite peço-te algo especial:
transforma-me numa televisão. Quero ocupar o lugar dela. Viver como vive a TV da minha casa.
Ter um lugar especial para mim, e reunir a minha família à volta... Ser levado a sério quando
falo... Quero ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções nem perguntas. Quero
receber o mesmo cuidado especial que a TV recebe quando não funciona. E ter a companhia do
meu pai quando ele chega a casa, mesmo quando está cansado. E que a minha mãe me procure
quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar... E ainda, que os meus irmãos fiquem
discutindo para estar comigo... Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado, de vez em
quando, para passar alguns momentos comigo. E, por fim, faz com que eu possa diverti-los a todos.
Senhor, não te peço muito... Só quero viver o que vive qualquer televisão".

Naquele momento, o marido de Ana Maria disse: Meu Deus, pobrezinho deste menino! Que
pais ele tem? E ela olhou-o e respondeu: Esta mensagem que o nosso filho escreveu.


Vamos conversar:

1. O que essa historinha tem a dizer para a catequese e a família? Qual a lição que tiramos?
2. Luzes e esperanças para a família do século XXI
Nem tudo são só espinhos e sombras. Temos presente em nossa realidade familiar luzes que
nos dão muitas esperanças:

Cresceu a consciência da liberdade pessoal e maior atenção à qualidade das relações interpessoais no matrimônio.
A promoção da dignidade da mulher.
Maior atenção na educação dos filhos no exercício da paternidade e maternidade responsável.
Maior união da família nas relações de ajuda, nos momentos de necessidade.
Descoberta da importância da família e sua missão na Igreja e na sociedade.
Tanto a família quanto a catequese tem uma missão em comum: educar para o Amor, transmitindo valores humanos e cristãos. Diante das ameaças do mundo capitalista, é preciso não perder a esperança e abrir-se ao diálogo, revendo nossos métodos para educar os filhos no lar.

O Papa Paulo VI, em seu documento Evangelização no mundo contemporâneo (n. 71) oferece uma catequese ao tratar sobre a família como centro de irradiação do Evangelho. Vamos refletir alguns aspectos importantes para a família na educação da fé:

No conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dos leigos, não se pode deixar de pôr em realce a ação evangelizadora da família. Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a bela designação aprovada pelo II Concílio do Vaticano: ‘Igreja doméstica’. Isso quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira. Por outras palavras, a família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e donde o Evangelho irradia.
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No seio de uma família que tem consciência desta missão, todos os membros da mesma família evangelizam e são evangelizados. Os pais, não somente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido. E ‘uma família assim torna-se evangelizadora de muitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se insere’.
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A futura evangelização depende em grande parte da Igreja doméstica. Esta missão apostólica da família tem as suas raízes no batismo e recebe da graça sacramental do matrimônio uma nova força para transmitir a fé, para santificar e transformar a sociedade atual segundo o desígnio de Deus.
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A família cristã, sobretudo hoje, tem uma especial vocação para ser testemunha da aliança pascal de Cristo, mediante a irradiação constante da alegria do amor e da certeza da esperança, da qual deve tornar-se reflexo: ‘A família cristã proclama em alta voz as virtudes presentes do Reino de Deus e a esperança na vida bem-aventurada.’
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O mistério de evangelização dos pais cristãos é original e insubstituível: assume as conotações típicas da vida familiar, entrelaçada como deveria ser com o amor, com a simplicidade, com o sentido do concreto e com o testemunho do quotidiano.
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A família deve formar os filhos para a vida, de modo que cada um realize plenamente o seu dever segundo a vocação recebida de Deus. De fato, a família que está aberta aos valores do transcendente, que serve os irmãos na alegria, que realiza com generosa fidelidade os seus deveres e tem consciência da sua participação cotidiana no mistério da Cruz gloriosa de Cristo, torna-se o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada ao Reino de Deus.
O Documento da Conferência de Santo Domingo (cf. n. 214) apresenta a identidade e a missão da família através de quatro aspectos:

a) A missão da família é viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas chamadas a testemunhar a unidade por toda a vida (valor unitivo).

b) Ser santuário da vida, serva da vida, conservando o direito à vida como a base de todos os direitos humanos (valor procriativo). Nela deve-se transmitir e educar para os valores autenticamente humanos e cristãos.

c) Ser ‘célula primeira e vital da sociedade’. Por natureza e vocação, a família deve ser promotora do desenvolvimento, protagonista de uma nova cultura que valorize a família.

d) Ser ‘Igreja doméstica’ que acolhe, vive, celebra e anuncia a Palavra de Deus. Lugar privilegiado para a “fazer catequese”, aprofundando e dando razões para a fé, na vivência do discipulado de Jesus.

A Conferência de Santo Domingo propôs como uma das linhas pastorais para a família:

“Fortalecer a vida da Igreja e da sociedade a partir da família: enriquecê-la a partir da catequese
familiar, a oração no lar, a Eucaristia, a participação no Sacramento da Reconciliação, o conhecimento da Palavra de Deus, para ser fermento na Igreja e na sociedade.” (Santo Domingo, n.
225).

A Família é o melhor espaço para formar e orientar os filhos rumo a uma vida verdadeiramente humana, cristã e feliz.

Quanto maior for a nossa formação humana e cristã, melhores condições temos para transmitir às nossas crianças e adolescentes o interesse pela descoberta das riquezas da fé. E o gosto de, juntos saborearmos as maravilhas do amor de Deus para connosco, e de Lhe correspondermos com o nosso amor filial.

A família encontra hoje não poucos obstáculos, sobretudo neste “momento histórico em que ela é vítima de muitas forças que buscam destruí-la ou deformá-la” (Santo Domingo, n. 210). Deste modo, a catequese precisa conhecer algumas pistas de ação para ajudar a família a encontrar a sua missão:

a) Conhecer as diversas situações e a realidade de cada catequizando.
b) Conscientizar as famílias para participação mais ativa na Igreja, como incentivo e testemunho para os seus filhos que estão caminhando na catequese.

c) Por meio de ações conjuntas com a Pastoral Familiar, oferecer esclarecimentos e possibilidades de regularização às famílias em situações irregulares (especialmente aos amasiados que não têm impedimentos para casar na Igreja).

d) Não discriminar as famílias e crianças e não abandoná-las por motivo algum. Acolher a todos, sem distinção, independentemente de suas opções.

e) Oferecer às famílias em dificuldades apoio e orientação, no diálogo.

f) Aos casais separados, prestar apoio e acolhida, com especial atenção aos seus filhos.

g) Distinguir entre o mal e a pessoa. No dizer do papa Paulo VI: “Jesus foi intransigente para com o mal, porém misericordioso para com as pessoas”.

h) Distinguir com perspicácia as famílias que procuram a Igreja não muito bem intencionada, querendo dar um jeitinho para receber os sacramentos sem a devida preparação.

i) As situações delicadas que aparecem na catequese, levar ao conhecimento do padre para descobrirem juntos as possíveis soluções. Depois de averiguar os casos, dar os encaminhamentos necessários, baseando sempre na verdade e na caridade.

A família continua sendo muito importante para os planos de Deus. Ela é uma instituição divina, sonhada por Deus e fruto da sua benigna vontade. Ela não pode ficar desacreditada. Ela é dom de Deus, por isso merece todo o nosso empenho e todo o nosso amor. Se a catequese não zela pela família, como vai cuidar pastoralmente dos seus catequizandos? E se as famílias não se interessam pela catequese, que futuro poderão dar a seus filhos no caminho da justiça e da fé?

O papa João Paulo II, na encíclica Familiaris Consortio, dirige algumas palavras significativas que servem de horizonte para a missão da catequese: “Amar a família significa saber estimar os seus valores e Possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, e por fim, forma eminente de amor à família cristã, de hoje, muitas vezes tomada por desconfortos e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça na missão que Deus lhe confiou”.

A parábola familiar do Bom Samaritano

Conta-se que uma família ia descendo de Jerusalém a Jericó, caminhando pelas estradas da história. De repente, uma quadrilha de inimigos, chamada de “tempos modernos”, a atacou no caminho e foi roubando todos os seus bens, a saber: a fé, a unidade, a fecundidade, a indissolubilidade, o diálogo familiar e, por último, a santidade. Em seguida, fugiram travestidos com novas roupas de modernidade.

Aconteceu que, pela estrada da história, passou um psicólogo, representante de uma das escolas psicológicas, viu a família caída no chão e sentenciou? ‘Não disse? A família não quer aceitar a teoria da liberdade sexual total e é uma grande desmancha-prazer dos filhos e castradora dos seus desejos de felicidade. Então só poderia acabar assim, rejeitada. E seguiu adiante.

Em seguida, passou um sociólogo, que também representava certas teorias modernas, viu a
família prostrada e também a acusou: ‘Faz tempo que, atrás de minhas pesquisas, eu achava que a
família fosse uma instituição falida e que deveria acabar. Precisamos viver a era do amar livre’.
Dito isto, passou adiante.

Veio depois a Catequese, a Boa Samaritana, viu a família machucada, perdendo muito
sangue e recordando as atitudes de Jesus, teve pena e compaixão, inclinou-se sobre ela, tomou-a em
seus braços e levou-a para seu a hospedaria que se chama Comunidade Cristã, a fim de que fosse
tratada e recuperada.

(Extraída da Revista de Catequese, p. 48, n. 121, Janeiro/2008, com adaptações).

Para refletir:

.. O que essa parábola tem a nos ensinar? Quais os ensinamentos para a catequese?

3. A família é o berço da fé: Dois fatos que nos fazem pensar

Há um provérbio chinês que dizia: “Quem embala um berço, está embalando o futuro do mundo”. Quem cultiva a educação cristã de uma criança, desde o seu berço, desde sua infância, está promovendo a formação dos homens e mulheres que irão renovar o mundo.

Havia uma família de cristãos que vivia na Polônia e procurava educar seus dois filhos na fé.
Numa situação, a mãe morreu prematuramente e o pai ficou com a responsabilidade de criar e
educar na fé os filhos, sobretudo o mais novo, após a morte do filho mais velho.

O berço da educação religiosa para o filho foi decisivo, pois mais tarde este menino se
tornou papa da Igreja, João Paulo II. Graças às orientações que embalaram o berço da sua fé, ele
pode mais tarde embalar o mundo inteiro com palavras de paz.


Na Albânia, dominada por um consumismo cruel, um lar corajoso conservou a fé e embalou
de modo cristão o berço da pequenina Agnes. Sua educação religiosa foi tão bela, que esta menina,
agora já adulta, foi para um grande país, a Índia e revelou pelo exemplo e testemunho, a beleza da
fé cristã e do seguimento de Jesus, como caminho verdade e vida.

Seu trabalho foi respeitado no mundo inteiro e o seu nome ficou gravado como o grande
nome da solidariedade cristã, Madre Tereza de Calcutá. Ela catequizou o mundo inteiro para a
prática da caridade e para a promoção da paz no mundo.

A família perde em qualidade quando não conta com a valiosa ajuda da catequese na
educação da fé de crianças, jovens e adultos. E a catequese não pode realizar um trabalho fecundo
se não contar com o apoio e a atenção da família. Hoje, verifica-se na realidade pastoral da Igreja
que é praticamente impossível imaginar uma catequese com jovens, adolescentes e crianças sem um
trabalho específico com os pais. Para ampliar a presença da catequese nas famílias, é preciso, então,
envolver a família através de reuniões, celebrações e confraternizações, visitas às famílias,
encontros nas casas dos catequizandos e outras iniciativas que possam colaborar no cultivo de
valores e da responsabilidade da família na iniciação cristã de seus filhos.

Como salienta o Catecismo da Igreja Católica ( cf. CIC 2221 ): “É urgentíssimo ajudar a
família a a recuperar a beleza original da sua vocação matrimonial, querida por Deus. Pois, o papel
dos pais na educação é tão importante que é quase impossível substituí-los. O direito e o dever da
educação são primordiais e inalienáveis para os pais”.

A fé não começa na catequese, mas na família:

Certa vez uma senhora foi reclamar ao padre sobre o catequista de seu filho, alegando que
não havia ensinado ao seu filho a rezar o pai-nosso na catequese. O padre retrucou-lhe dizendo
que isto não era obrigação do catequista, mas da família. E acrescentou: “Minha filha, não é só
educação que vem do berço. A fé também!”.

Muitos acham que a catequese é só para os sacramentos. Esta visão é muito reducionista.
Também não se pode divorciar a catequese dos sacramentos. A catequese está profundamente
ligada à ação litúrgica e sacramental da Igreja. Contudo, a celebração dos sacramentos sem uma
preparação séria (Catequese), não tem sentido algum. Sem a catequese os sacramentos se reduzem a
um mero ritualismo, o qual não será capaz de nos transformar, dar vida e felicidade e fazer de nós
autênticos cristãos.

Vejamos o que sugere o quadro abaixo em relação às dimensões da vida cristã:

DIMENSÕES DA VIDA CRISTA da opção por Jesus:

  • DESCOBRIR EM PROFUNDIDADE A SUA MENSAGEM 
  • ADOTAR O SEU ESTILO DE VIDA 
  • CELEBRAR A SUA PRESENÇA NOS SACRAMENTOS 
  • REUNIR-SE EM SEU NOME E EM COMUNIDADE 
  • PARTICIPAR NA CONSTRUÇÃO DO REINO DE DEUS 

A FAMÍLIA: é o berço da fé, o qual deve favorecer o desabrochar das dimensões da vida cristã.
A CATEQUESE: desenvolve a fé inicial do batismo até à maturidade, cuja medida é Cristo.


4. Mística para a relação Catequese-Família

A catequese é uma das facetas da ação evangelizadora da Igreja e a família é um nível de Igreja (“Igreja Doméstica”). Paulo VI já direcionava a ação pastoral a ter um olhar para a família: “no conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dos leigos, não se pode deixar de por em realce a ação evangelizadora da família. Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a expressão sancionada pelo Vaticano II: ‘Igreja Doméstica’. Isto quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira” (EN 71).

A fecundidade da catequese depende em parte da família. Como salienta João Paulo II, na Familiaris Consortio: “a própria vida da família torna-se itinerário de fé e, em certo modo, iniciação cristã e escola para seguir Cristo” (FC 39).

O Documento de Puebla menciona a família como um lugar privilegiado de catequese (cf. 640). O Diretório Geral de Catequese diz: “a família como lugar de catequese tem uma prerrogativa única: transmite o Evangelho, radicando-o no contexto de profundos valores humanos” (DGC 255).

Para cultivar a mística da catequese a serviço da família é preciso:


Que a família esteja no coração da catequese e que a catequese esteja no coração da família.

Acreditar que a salvação do mundo passa pela família (João Paulo II). É a família que
salvará a família. Parafraseando o antigo princípio: “Fora da família não há salvação”.

Como bons samaritanos, curar as muitas chagas que o mundo moderno causou no seio da
família, tais como: infidelidades, separações, aborto, perda da fé, etc.

Devolver à família a missão de ser berço da vida e da fé.

Recordar aos pais que a catequese começa em casa e que eles são os primeiros e
permanentes catequistas de seus filhos.

Que a família se sinta uma Igreja Doméstica, onde se cultivam a leitura da Bíblia e a
meditação por meio dos Círculos Bíblicos, o terço e outras devoções.

Que os catequistas continuem a missão apostólica, visitando os lares e levando a alegria da
mensagem de fé.

Que os pais estejam acompanhando o processo de educação e amadurecimento da fé de seus
filhos.

Cultivar a oração da família em família: “família que reza unida, permanece unida”.

Participar da Eucaristia aos domingos, para celebrar com a família eclesial o mistério pascal
do Senhor.

Valorizar as datas festivas: Semana da Família, Natal, Páscoa, Dia das mães e dos pais.

Incentivar as famílias cristãs para a formação de pequenos grupos e comunidades. Pois não
existe catequese sem comunidade. Esta é a fonte, lugar e meta de toda a catequese. (cf. DGC
158).

5. Catequese e Encontro com os Pais
O encontro com os pais é uma rica oportunidade para interagir família e catequese. Os encontros precisam ser melhor aproveitados. Muitos pais não gostam de participar das “reuniões” porque dizem que é só bronca. Outros lugares só fazem reunião para informar às famílias preços de camiseta, lembrancinha, vela, etc.

Os encontros com os pais na Catequese precisam ser oportunidade para catequizar a família, incentivando para a missão de oferecer condições para o desenvolvimento da fé dos catequizandos.

A catequese instrui os catequizandos na fé e prepara para a vida na comunidade, mas isso não tira o mérito e a responsabilidade dos pais de educarem seus filhos. Os pais são os primeiros catequistas na família e o seu testemunho que vai motivar os seus filhos a experimentarem o amor de Deus e a buscarem o caminho da fé.

Para que os pais tenham consciência da sua missão, é importante que a catequese dê a devida atenção aos encontros com as famílias e oferecendo outros espaços para que pais e filhos estejam dentro do itinerário catequético. Assim como os encontros com catequizandos, os encontros com os pais precisam ser Planejados, a fim de despertar a motivação dos pais e apontar caminhos
novos para a educação da fé na família.

Os pais têm necessidade de ouvir dos catequistas coisas tão simples, mas muito importantes,
tais como: o que é catequese? Qual a sua finalidade? Qual a missão do catequista?

Muitos pais passaram pela catequese, mas ficaram esclarecidos sobre as responsabilidades
na educação da fé de seus filhos.

Aqui propomos algumas idéias para o encontro com os pais na catequese:

A catequese (Etimologicamente, significa “fazer ecoar”).


Catequese: um importante ministério da Igreja que nasce da Palavra.

“Processo de educação comunitária, permanente, progressiva, ordenada, orgânica e
sistemática da fé” (CR 318).

“A missão catequética não se improvisa e nem fica ao sabor do imediatismo ou do gosto de
uma pessoa” (DNC 319).

“A Catequese é uma urgência no vosso país. Fazei da catequese uma prioridade” (João
Paulo II).

“A finalidade definitiva da catequese é fazer com que alguém se ponha, não apenas em
contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo” (CT 5).

A catequese tem por fim “tornar a fé viva, consciente e operosa, por meio de uma instrução
adequada” (CD 14).
O catequista: um educador da fé.


Aquele que assume um ministério em nome da comunidade.

Um colaborador da Igreja mãe e mestra.

Torna visível o Cristo Mestre.

É porta-voz da comunidade.

É instrutor na fé.
Igreja:


Catequese é ação da Igreja e projeto assumido pela comunidade.

A catequese é obra de toda a Igreja e sua missão consiste em oferecer os fundamentos da fé
e promover o amadurecimento integral na vida de cada um.

A catequese é o coração da Igreja. É como o sangue nas veias. Ela é fundamental para a vida
da comunidade cristã.

O lugar da catequese é a comunidade.

Há na sociedade uma mentalidade: “catequese é coisa de criança”.
Família:


A catequese acompanha a nossa vida em todos os seus estágios.

Os pais são os primeiros catequistas.

Importância da família na catequese:
a) Família – Santuário da Vida.
b) Família – Berço da Fé.
c) Família – Igreja Doméstica.
d) Família – Célula da Sociedade.

É importante para a família:
1) O testemunho dos pais (participação na comunidade de fé)
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2) A vida de oração na família.
3) Compreender as fases e o processo de desenvolvimento da fé.
4) O diálogo e transparência.

5) A liberdade e responsabilidade.
6) Exercitar a paciência.
7) Buscar parcerias (Igreja – comunidade – sociedade)

Texto para reflexão:

Pai, eu quero brócolis

Fui convidado para falar para uma plateia formada por pais, mães e responsáveis por adolescentes que frequentam a catequese de crisma.

O catequista que me convidou teve o cuidado de enviar uma carta e ainda reforçou o convite
a todos com um telefonema.

Não sou pai mas sou catequista há 20 anos. Encarei o desafio. A plateia que encontrei era passiva, porém, atenta.

Iniciei minha fala dizendo que se não houver um incentivo maior em casa para as questões da religião, estamos fadados ao fracasso na nossa relação com os filhos. Exagerei um pouco nas palavras e no tom de voz. Mesmo assim continuei e insisti em algo que parece chato e enfadonho repetir, mas que se mostra sempre atual: os pais são os melhores catequistas do mundo e devem ser parceiros dos catequistas no processo de evangelização.

Desandei a falar e peguei fundo mesmo jogando com a emoção que o momento merecia,
afinal de contas não é sempre que encontramos oportunidades como estas para um contato direto
com os pais.

Noto que está havendo um ruído constante na relação Pais/Catequese. Com isso, o que
vemos são jovens desanimados com a religião e pais pouco (ou nada) participativos. O reflexo disso
é uma catequese incompleta.

Me olhavam atentamente e pareciam compreender minha mensagem. Continuei.

Ser pai ou mãe nos dias de hoje é um ato de heroísmo e ser catequista não é muito diferente.
Falar de Deus apenas uma hora por semana é um concorrência desleal com a internet, messenger,
televisão, rádio, shoppings e tantas outras atrações que se apresentam. Entrei nas novas tecnologias
e notei que aprovaram.

Quando o catequista se estende um pouco mais no encontro de catequese, coisa de cinco,
dez minutos, os pais reclamam. Mas não se importam quando seus filhos ficam nas festas até às
quatro, cinco da manhã ou na frente do computador um tempão.

Nossa, peguei pesado, mas eu precisava dizer isso. Ao contrário do que eu pensava, não
reagiram. Então, dei a tacada final.

Quantos de vocês, algum dia, já foram acordados por seus filhos, num domingo de manhã,
com o pedido surpreendente de que eles estão com vontade de ir à missa?

Todos, sem exceção, sinalizaram com a cabeça negativamente.

Isso não aconteceu e nem vai acontecer num curto espaço de tempo. Na idade em que eles
estão, esta é tarefa de vocês. Pais, escutem bem o que eu vou lhes dizer: vocês possuem uma
responsabilidade muito grande no processo de evangelização. Façam um convite, despertem o
interesse deles pela religião e por Deus e não se acomodem. Mas antes de tudo, mostrem interesse
também. Se não for desta forma, a catequese será inútil e continuará sendo meramente um evento
social.

Ufa! Me estendi mas acho que valeu o discurso. Fui até meio teatral na entonação de voz ,
mas a intenção era tocar mesmo o coração daqueles pais.

O encontro não durou mais do que uma hora e foi um contato precioso, uma iniciativa
brilhante do catequista que me convidou.

Momentos assim de avaliação, reflexão, conversa, testemunho e "dedo na moleira" são
essenciais. Catequistas precisam ter a iniciativa e a coragem de proporcionar aos pais e crismandos
este tipo de encontro e não ficar sempre lamentando a sorte.


Temos, sim, pais acomodados, crismandos desanimados, mas é preciso que reconheçamos a
existência de um bom número de catequistas sem iniciativa alguma para mudar este quadro.

Evangelizar crianças e adolescentes requer a mesma paciência que se tem, por exemplo, de
ensiná-los à alimentação correta. Você dificilmente irá ouvir de uma criança um pedido do tipo
"pai, eu quero brócolis!

Mas se der o exemplo e comer brócolis junto, logo esta criança estará comendo um prato
inteiro de salada.

Alberto Meneguzzi

Para discutir em grupo:

1. Que ensinamento traz o texto?
2. Que atitudes concretas podemos assumir na catequese?
“Família humana, comunidade de paz”.
(No Dia Mundial da Paz - 1 de janeiro de 2008, o papa Bento XVI escolheu o tema da família para
proferir uma mensagem ao mundo inteiro. Vejamos alguns trechos...).

1. “(...) a primeira forma de comunhão entre pessoas é a que o amor suscita entre um homem e
uma mulher decididos a unir-se estavelmente para construírem juntos uma nova família” (n. 1).
2. “A família (...) constitui o lugar primário da ‘humanização’ da pessoa e da sociedade, o
‘berço da vida e do amor’” (n. 2).
3. “A família é fundamento da sociedade inclusivamente porque permite fazer decisivas
experiências de paz. Devido a isso, a comunidade humana não pode prescindir do serviço
que a família realiza. Onde poderá o ser humano em formação aprender melhor a apreciar o
‘sabor’ genuíno da paz do que no ‘ninho’ primordial que a natureza lhe prepara?” (n.3).
4. “Na inflação das linguagens, a sociedade não pode perder a referência àquela
‘gramática’que cada criança aprende dos gestos e olhares da mãe e do pai, antes mesmo das
suas palavras” (n. 3).
5. “A própria comunidade social, para viver em paz, é chamada a inspirar-se nos valores por
que se rege a comunidade familiar” (n. 6).
6. “Condição essencial para a paz nas famílias é que estas assentem sobre o alicerce firme de
valores espirituais e éticos compartilhados” (n. 7).
7. “Uma família vive em paz, se todos os seus componentes se sujeitam a uma norma comum:
é esta que impede o individualismo egoísta e que mantém unidos os indivíduos” (n. 11).

Os Dez mandamentos da família para a Catequese:

1. Não fecheis o coração! Não vos bastais a vós próprios na educação da fé, mesmo que sejais
os primeiros catequistas dos vossos filhos. Os catequistas são vossos colaboradores na
educação da fé, mas não substitutos.

2. Amai a Catequese! A Catequese não é um "ensino" avulso e desorganizado. É processo de
educação da fé, feita de modo ordenado e sistemático. É itinerário para amadurecer na vida
cristã e caminho para o discipulado. Velai pela assiduidade dos vossos filhos e pelo seu
acompanhamento, num estreito diálogo com os catequistas e com a comunidade de fé.
3. Não exijais dos vossos filhos o que não sois capazes de fazer. Não exijais dos vossos
filhos, o que não sois capazes de dar. Exigir do outro o que não se tem pra oferecer é negar a
si mesmo enquanto sujeito de fé.
4. Não queira transformar a catequese em curso para que vossos filhos "saibam muitas
coisas"! Mas alegrai-vos sempre, ao verificardes que eles saboreiam a alegria de serem
cristãos, e vão descobrindo, com outros cristãos, a pessoa de Jesus, o Amigo por excelência,
que convida a seguir os seus passos no anúncio/testemunho da sua Palavra.
5. Demonstrem amor e cuidado pela família! A primeira forma de catequese acontece sem
palavras e sermões, no respeito à dignidade de cada membro da família. O amor exige
cuidado, como diz o poeta: “Quem ama cuida”.
6. Vivei a comunhão na família e na Igreja! Não sois uma ilha nem uma ostra. Sem diálogo
não há espaço para a fé se desenvolver. Sem a sociedade não podereis progredir e sem a
Igreja não podereis iluminar o mundo.
7. Sede discípulos e não expectadores! Não espereis que a Catequese faça de vós e vossos
filhos bons alunos ou expectadores. Ao contrário, procurai que ela vos ajude a formar
discípulos de Jesus, que O seguem, em comunidade.
8. Saiba testemunhar a fé na participação da comunidade e no sacramento da Eucaristia.
Procurai pensar e viver de acordo com os valores do Evangelho. Sabeis bem que o
testemunho é a primeira forma de evangelização. Deste modo, os filhos aceitarão melhor a
proposta dos vossos ideais e valores.
9. Procurem aprofundar a fé e ter um gosto pelo conhecimentos das coisas de Deus!
Como diz o célebre ditado bíblico: “Um cego não pode guiar outro cego”. Quem não é
esclarecido na fé não pode orientar os outros a viver o compromisso cristão. Nem tem o
direito de manipular a fé segundo a sua ignorância. Também não cedais à tentação de achar
que se pode "mandar" os filhos à Catequese, para vos verdes livres deles ou para fugirdes
das vossas responsabilidades.
10. Orai e celebrai a vida em família! Rezar e celebrar com toda a família, de modo a que a
vossa fé seja vivida em comum na pequena Igreja que é a família, se exprima na grande



família que é a Igreja e transforme a diversificada família humana que integra a sociedade.