O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O CONTEÚDO DO QUERIGMA

Além de ser um ato de comunicação, o querigma oferece um conteúdo que é proclamado: Cristo crucificado e ressuscitado, força e sabedoria de Deus (1Cor 1,23-24), que transforma e salva a vida. Pedro, nos Atos dos Apóstolos, é po primeiro que, por ocasião da festa judaica de Pentecostes (cf.At 2,14-41), proclama a Boa Nova, quando anuncia aos judeus e a todos os habitantes de Jerusalém que Jesus é o Senhor e Cristo.

O querigma tem um caráter imperioso e expansivo que não é possível sem uma profunda e contagiante experiência de Deus. As aparições do Senhor Ressuscitado, documentadas por uma antiqquíssima tradição (1Cor 15,3-7), produziram um impacto irrefreável devido à expediência do encontro com o Mestre, que volta gloriosamente à vida depois de ter sido crucificado e morto. O querigma é inseparável desta experiência de vida, pois anuncia Cristo presente que nos faz participar de sua vitória sobre a morte. Aos Doze, Jesus confia o mandato: ide e anunciai (cf.Mc 16,15) e, por meio deles, a todos os demais seguidores, de modo que essa mensagem chegue a todos, em todos os tempos. A experiência pascal suscita o envio de pessoas que reconhecem no Senhor ressuscitado a resposta plena às suas necessidades e ao desejo infinito de vida de seus corações.

O conteúdo do querigma não é um simples discurso ou uma exortação moral; é a proclamação de um acontecimento de vida e de salvação que se dá agora, no presente dos ouvintes. Este conteúdo proclama uma pessoa, Jesus Cristo, esta proclamação provoca e abre caminhos para uma experiência de encontropessoal e apaixonado por Ele. Este conteúdo não é a simples explicitação de conceitos. É antes de tudo, uma experiência que toca a liberdade, reorienta as escolhas e ´dá sentido verdadeiro à vida.

Fonte: CNBB-Subsídios Doutrinais n.4


Como fazer o querigma?
Não é fácil ter clareza sobre o que é e como realizar o querigma. A primeira ponderação que devemos fazer é a de serem evitadas duas posturas: uma visão muito ampla e outra muito estreita.  A muito ampla consistiria em afirmar que toda pregação do Evangelho já é um primeiro anúncio, porque o Evangelho ressoa de maneira sempre nova, inclusive a vida do cristão e porque o caminho de fé consiste em um permanente recomeçar. Ora, isso seria esvaziar a especificidade do querigma. Uma visão estreita, pelo contrário, tenderia a limitar o “primeiro anúncio” à proclamação da fé, calorosa e breve, de tipo querigmático, com o objetivo de suscitar uma conversão imediata, sem duração, sem debate, sem múltiplas mediações. Nesse caso, o primeiro anúncio se reduz a um estilo de pregação direto tanto na praça pública como nas relações interpessoais. Na verdade, o querigma se entende ao “primeiro anúncio” dos elementos da fé cristã que, sob formas variáveis e em determinados contextos, torna possível os primeiros passos na fé de pessoas que a desconhecem ou se afastaram dela.
Recordemos que o querigma é um anúncio direto, profético, testemunhal, que parte da experiência do Ressuscitado. Deve surgir de uma experiência, até certo ponto, vital e positiva, que não se pode contagiar e compartilhar dela a todo momento: “Não podemos calar o que vimos e ouvimos, o que as nossas mãos tocaram da Palavra de Vida.” (1 Jo 1,1). É uma evangelização caracterizada como ponto de partida, que “toca” e mobiliza a pessoa inteira, num processo de busca por aquilo que dá sentido à sua vida.
Os destinatários do primeiro anúncio são aqueles que se afastaram da fé. Contudo, o destinatário é também interlocutor que é escutado, que se vai aprendendo a conhecer, que tem direito à palavra, com quem se estabelece uma relação de amizade. Nesse sentido, quem anuncia deve também se deixar ensinar por aqueles aos quais se dirige e apreender com eles. Não se esqueça de que antes de alguém fazer o querigma, será precedido pelo Espírito de Cristo ressuscitado.
Os lugares para realizar o querigma são todos aqueles onde se desenvolve a vida, nas periferias geográficas e existenciais, nos espaços de lazer, de trabalho, de cultura, de formação, de meios de comunicação, momentos de dor, morte e angústia, situações durante as quais as pessoas procuram um sentido maior para viver.  Mas também os espaços internos da comunidade cristã são chamados a ser destinos de primeiro anúncio na medida em que, conforme o Evangelho, devem ser acolhedores e permeáveis ao seu entorno social: as celebrações da comunidade cristã e suas atividades caritativas ou culturais.
As pessoas que se dispõem a realizar o querigma devem ter feito a experiência do encontro com o Senhor, se entender como suas discípulas e, por isso, são missionárias. Quem crê anuncia. Não são pessoas prontas ou “perfeitas” no discipulado, mas membros de uma comunidade, as quais desejam que outros participem da alegria de seguir “o Caminho, a Verdade a Vida”. Sem comunidade não existe querigma. Ninguém se torna cristão sem uma comunidade, nem pode receber um anúncio que não seja para iniciar uma vida comunitária de fé. As comunidades cristãs são portadoras do primeiro anúncio pelo seu estilo de vida, seu espírito, suas assembleias, suas celebrações, seus projetos e seus compromissos.
As formas para realizar o primeiro anúncio são múltiplas.  Pode ser de forma narrativa e testemunhal, que é quando quem anuncia narra sua própria história e desperta nos ouvintes o desejo de crer. Outra pode ser a forma querigmática, quando quem anuncia proclama a fé cristã de forma breve, inteligente e cativante, tudo ao mesmo tempo,  como ocorreu com o Eunuco ao ouvir a explicação das Escrituras dada por Filipe. Pode ter uma forma expositiva, um catecismo para adultos ou uma obra teológica que proporcione um primeiro contato com a fé e acabe suscitando o desejo de crer, como ocorreu com Edith Stein ao ler o livro de Santa Teresa. Também pode ser de forma dialógica, por meio de um debate, de um intercâmbio de argumentos entre pessoas que, juntas, se interrogam sobre o sentido da vida e se esforçam para dar razão às suas convicções. Igualmente pode ter uma forma litúrgica, como uma homilia que converteu Agostinho ao ouvir Ambrósio na Catedral de Milão. A liturgia cristã, frequentemente, é assistida por pessoas afastadas da fé e pode exercer, para elas, um papel de primeiro anúncio.
Resta-nos esclarecer os pontos essenciais do querigma, isto é, o seu conteúdo específico.  Embora não seja absolutamente rígido, o querigma é constituído dos seguintes elementos ou passos:
1) O amor de Deus: É preciso ter clareza ao afirmar: “Deus te ama: te acolhe, tu és Dele, Ele quer o teu bem. Ninguém te ama como Ele”; 

2) O pecado: Na liberdade, todo ser humano tem a tentação de se afastar desse amor fundante. O pecado é a experiência de afastar-se da fonte da vida. O anunciador precisa dizer com segurança:
 “Tu não podes te salvar por ti mesmo: vê a experiência de finitude, a necessidade de ser salvo, de indigência? Como superar o vazio do coração humano diante de tantas experiências que temos ao longo da vida?”;

3) Jesus é a única resposta: “Ele te salvou e perdoou. Nele fomos reconciliados. Ele é nosso caminho, verdade e vida, nosso último sentido. Sua pessoa e sua vida são guias e sentido. Em sua páscoa, encontramos o centro da nossa vida”; 

4) Fé e conversão: é preciso aceitar o dom da salvação e se unir a Cristo, vê-lo como aquele que nos oferece e se nos oferece como o melhor exemplo de vida, como pessoa realizada, como verdadeira salvação;

5) O dom do Espírito: a promessa é para ti: Jesus continua presente em tua vida pelo seu Espírito; Deus conosco. O Espírito é presença e força de Deus em mim e em ti;

6) A comunidade: Jesus está no irmão: “Cristo não é só para mim ou só para ti, mas para nós.” O encontro com Cristo leva ao encontro com o irmão, nos faz pertencer à família de Cristo: a Igreja.


Finalmente, quem propõe o querigma precisa estar intimamente convencido de que o Evangelho dá sentido a toda sua vida. E deve se sentir como um enviado de Deus.  Considere que a primeira evangelização dirige-se a pessoas que nos escutam livremente. Tudo o que faça pressão ou manipulação leva ao afastamento.  Tenha presente que não interessa tanto pegar no megafone e ir para os centros comerciais “vender” o Evangelho. É muito mais importante estar disponível para tanta gente que procura um sentido, uma esperança, uma espiritualidade. Seja acolhedor! Pondere os métodos variados! Há diferenças de idade, de cultura e de experiência religiosa, as quais devem ser respeitadas. Perceba o momento oportuno! Não tem muito sentido propor o Evangelho a pessoas que dele não querem saber. A essas pessoas, nessa fase, é preferível lançar interrogações capazes de pôr em causa as suas certezas.
por Dom Leomar Brustolin.

A PROCLAMAÇÃO DO QUERIGMA

A palavra tem uma força própria e um dinamismo transformante porque é Boa Nova proposta à liberdade da pessoa, convidando-a a uma resposta; o querigma interpela e realiza um diálogo. Por meio do querigma, o próprio Senhor entra em diálogo vital com a liberdade das pessoas.

Acolher o querigma significa abrir-se ao mistério de Cristo, que vem ao encontro da pessoa como Senhor e Salvador, reconhecendo somente a sua soberania. A adesão ao querigma introduz o discípulo no Reino de Deus.

A proclamação do querigma faz parte do ato de comunicar a Boa Nova de Jesus Cristo. O Diretório Geral para a Catequese, da Congregação para o Clero, identifica três formas deste ato de comunicação:

- o primeiro anúncio, que desperta a fé(querigma);
- o conhecimento sistemático e a adesão progressiva a Jesus (catequese e ensino);
- a dimensão litúrgica da proclamação da Palavra, que implica em juízo sobre as dificuldades da vida (perseguições) e nas circunstâncias quotidianas (homilia).
Assim, o querigma comporta o primeiro anúncio, que desperta a fé inicial em Jesus Cristo como o Senhor.

O QUE É O QUERIGMA?

O querigma é a proclamação de um evento histórico-salvífico e, ao mesmo tempo, um anúncio de vida. Enquanto proclamação de um evento histórico, o querigma é o anúncio de que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus que se fez homem, morreu e ressuscitou para a asalvação de todos. Enquanto anúncio de vida, o querigma ultrapassa ps limites de tempo e de espaço, abraça toda a história e oferece aos homens uma esperança viva de salvação. Cristo está vivo e comunica a sua vida realizando as promessas feitas por Deus Pai a seu povo, por meio dos profetas, no Antingo Testamento (Cf. Rm 16,25-27; Mt 12,41; Lc 11,32).

O querigma é o anúncio do nome, do ensinamento, da vida, das promessas, do Reino e do mistério pascal de Jesus de Nazaré, Filho de Deus (cf.EN, n 22), que acompanha todo o processo da evangelização. As demandas e desafios deste anúncio é que reacendem na igreja, em cada etapa de sua história, a urgência da tarefa missionária. Isto é, o desafio de ser uma Igreja em estado permanente de missão.

O querigma é anúncio e proclamação para suscitar a fé nos ouvintes e manter acesa sua chama, de modo que acolhendo Jesus como Filho de Deus, Senhor e salvador participem da sua própria vida, da vitória sobre a morte, e alcancem, assim, a vida eterna (cf Jo 20,31).

O querigma é um anúncio pelo qual se atualiza a irrupção do espírito de Deus que transforma a face da terra e converte os corações. Para os judeus e para os gregos do início do cristianismo, como para muitas pessoas do nosso tempo, esta mensagem pode parecer loucura ou escândalo (cf.1Cor 1,2-10), porque baseada não na arte retporica dos homens, nem na sabedoria deste mundo, mas somente no poder do Espírito Santo (At 2,4). Com efeito, o anúncio e a experiência da fé se baseiam "no poder de Deus e não na sabedoria humana" (1Cor 2,5). Por meio do querigma, pois, um fato novo acontece na história: a salvação é oferecida.

O querigma é o anúncio da chegada do Reino de Deus na pessoa de Jesus, realizando o ideal da justiça ardentemente desejado pela humanidade. A soberania de Deus, cheia de misericórdia, se manifesta em Jesus Cristo (cf.1Cor 1,13; 2 Cor 3,9; 5,21; Ef 4,24; Fil 1,11) e se traduz no amor aos pecadores, aos pobres e àqueles que se reconhecem necessitados.