O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Reflexão do Evangelho de São Marcos Mc 6,17-29 à Mc 9,30-37

Mc 6,17-29: “GOSTAVA DE OUVI-LO, MAS FICAVA DESCONCERTADO.” 

Fui ordenado padre no dia em que se celebrava o martírio de São João Batista, 29 de agosto. Deus me pede uma vida com transparência na presença dEle, que eu não use minha fraqueza como desculpa para não ser santo. Distinguir o que Deus quer daquilo que LHE desagrada; e estar disposto ao “ódio do mundo” contra Jesus e contra quem quiser ser Seu discípulo. S. João Batista viveu para mostrar Jesus presente no mundo, mesmo quando isso lhe custou a liberdade e a vida. Senhor, peço, para mim e para meus amigos, a força interior que nos faça indicar Jesus sem esmorecermos, nem por causa da nossa fragilidade, nem por qualquer perseguição. Amém! (Pe. José Otácio O. Guedes)

Mc 7,1-8.14-15.21-23: “ESTE POVO ME HONRA COM OS LÁBIOS, MAS SEU CORAÇÃO ESTÁ LONGE DE MIM.” 

Essa Palavra é dita hoje a todos nós. Seu foco é a busca por um centro, do qual não podemos abrir mão. Qual é a essência da Religião? Não é o cumprimento dos preceitos, os quais nossa fraqueza ou maldade pode ajustar à nossa conveniência, ou até observá-los com o intuito de obtermos direitos perante Deus, mas a radicalização da obediência a Deus. O coração é a sede das decisões: ter o coração longe é ter a obediência condicionada aos gostos. Religião é relação da pessoa inteira com Deus: inteligência, vontade, sentimentos. Senhor, não permita que o vinho novo do Cristianismo se perca. Dá-nos medir nossa vida com a regra do Evangelho, que é o Teu Filho Jesus. No Cristianismo, jogam papel preponderante as intenções do coração: porque o que está em jogo não é um cardápio de tarefas a fazer, mas a intenção interior movida pelo bem e pela verdade. Ninguém está dispensado da busca da verdade, mas, sem a pureza de intenção, as ações não edificam quem as pratica. O Cristianismo nunca aceitou vincular sua pureza ao aumento de regras externas. Disso a história tem muitos exemplos (os cátaros; os observantes). Mas essa é uma tentação muito recorrente. Paulo teve que falar a mais de uma de suas comunidades sobre a liberdade de comer e beber. As disciplinas externas são importantes, mas não nos iludamos, não está aí o ponto fundamental para a robustez de uma vida cristã. Ou estamos vinculados de dentro e as regras são manifestação do amor, ou entremos a desempenhar mais um papel.

Mc 7,31-37: “TROUXERAM UM SURDO QUE GAGUEJAVA.” 

Jesus está numa terra estrangeira. A surdez impede, também, de falar. Quem não escuta limita suas ações. Há uma palavra de autoridade: Effatha (Abre-te!). Ouvidos e coração são alcançados por essa ordem. Aqui nasce a fé. A fé é uma abundância de luz que entra na vida. Não é um pulo no escuro, mas uma clareira nova que se abre na existência. A fé não estreita os limites da vida, mas os alarga. A memória da ação de Deus nos assegura que Ele é confiável. Jesus se envolve com aquele surdo: leva-o à parte, toca-lhe as orelhas e a língua. Isso sinaliza os meios sacramentais deixados por Jesus na Sua Igreja. Mas eles indicam, também, o desdobrar de meios que Deus aplica para nos curar da nossa surdez. Se ouvirmos bem, falaremos bem. Sem a fé, continuaremos gaguejando. Experimentemos a força que tem a palavra da fé na vida de quem a acolhe.

Mc 8,27-35: “QUEM DIZEM OS HOMENS QUE EU SOU?” 

Jesus é o Cristo, o Salvador esperado: essa é a fé da Igreja à qual devemos nos ajustar. Há diversas teorias sobre Jesus, mas a salvação é realidade muito séria para embarcarmos nas ideias de qualquer exaltado que apareça. Jesus é o Messias que, para curar nossas feridas, será chagado. A existência é uma oferta de Deus: quem nela quer colher o que convém, prazerosamente, nunca entenderá a cruz. Pedro parece não aceitá-la. Por que Pedro repreende Jesus? Porque, ao admitir o sofrimento para o Mestre, deveria estar aberto também ele a sofrer. A entrega de Jesus é justamente para que sejamos capazes de nos entregarmos à vontade do Pai, a toda vontade do Pai, sem cortes. O que Deus quer de nós? Não pode também ser uma parcela de experiência de cruz? Ela é um componente da vida e bons e maus a experimentam. O fruto da cruz dependerá de como a carregamos: se de má vontade e revoltosos, ou obedientes e confiantes. Quem não aceita a cruz acaba por experimentar solidão ao carregá-la. Quem a acolhe terá consigo Jesus, pois em toda cruz acolhida está a única cruz redentora de Cristo, caminho para a Páscoa.


Mc 9,30-37: “SE ALGUÉM QUISER SER O PRIMEIRO, SEJA O ÚLTIMO DE TODOS.” 

Esta não é uma mera questão moral, de ser humilde. Aqui está em jogo nossa percepção de Deus e do próximo. De onde esperamos a vida: da nossa competência que alcança os altos patamares ou da Providência de Deus? O que se pretende com o “ser maior”: poder dispor das benesses do posto, ou ter ocasião de servir mais? O poder é inerente às relações. Sempre alguém, por motivo de força, de escolaridade, de função social, disporá de algum poder. A questão é como dispor desse poder. Jesus menciona que só há sentido no poder se ele se tornar serviço. Que esse seja um assunto importante está no fato dos discípulos silenciarem, quando Jesus lhes pergunta sobre o que conversavam; era evidente, para eles, a reprovação do Mestre, pois a vida dEle estava ali a desautorizar discussão em torno de quem seria o maior. Reflitamos sobre o modo como dispomos do espaço de autoridade em que, por algum motivo, nos encontramos na posse dele: geramos vida ou sugados algum benesse egoísta?

Fonte Pe. José Otácio Oliveira Guedes

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