O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ANO LITÚRGICO - ANO A - para Catequistas e Catequizandos

O NOVO POVO DE DEUS

A Ano A, leva no conjunto, a marca do evangelista Mateus. Este Evangelho foi redigido, provavelmente, depois da destruição do templo em 70 d.C., com o intuito de oferecer às comunidades Judeu-cristãs da região siro-palestinense uma didaqué, instrução da fé, para sustentar sua vocação a serem o novo Israel. Acentua a figura de Jesus como Mestre, que nos faz conhecer a vontade de Deus como Pai dele e Pai nosso, além da dimensão comunitária e eclesial do Reino e da vida cristã.

TEMPO DO ADVENTO

No Advento, primeira fase do período natalino, destacam-se as "utopias messiânicas" de Is (caps 2,11 e 35), relacionadas com a esperança da justiça que vem de Deus, não do jogo do poder. Os evangelhos, tomados de Mateus (Mt), tem como teor fundamental essa justiça que vem de Deus e que se realiza no projeto divino de salvação, inaugurado nos tempos antigos e atestado pelas Escrituras, bem como na atuação ética do homem, guiada pela vontade de Deus.
Assim, as primeiras leituras (tomadas de Isaias -Is- aparecem como projeção escatológica daquilo que deve acontecer no homem mediante a conversão (conf.sobretudo o 2º domingo).
Da interação de "utopia" e conversão brotam a alegria e a esperança por causa da vinda do Cristo (3º domingo). No 4º  domingo, ponto culminante, tanto a leitura de Isaias quanto o correspondente evangelho de Mateus apontam para uma salvação personalizada: a salvação que vem de Deus não é uma utopia "em geral", mas a própria presença de Deus, manifestada em seu Filho e envolvendo os que pela conversão a ele aderem.
Esta primeira fase do ciclo natalino se estica assim entre Isaias e Mateus: leva-nos a celebrar, com Mateus, o cumprimento da esperança messiânica expressa em Isaias. Culmina na figura do Emanuel, Deis-conosco, que nos traz a justiça de Deus e exige nossa participação na mesma (Is 7,10ss; Mt 1,18ss).

TEMPO DE NATAL

O Natal e as festas conexas - segunda fase do período natalino - nos falam da luz que surge nas trevas e transforma o homem pela manifestação da graça de Deus; da Palavra de Deus que se torna "carne", isto é, existência humana; da mensagem de Deus dirigida em primeiro lugar aos humildes; do lugar central da "serva do Senhor", Maria, a Virgem-Mãe, flor do povo de Israel, que integra o Filho de Deus na humanidade, num povo e numa história concretos; e por fim, da manifestação da Salvação ao mundo, simbolizada pela homenagem dos magos do Oriente e pelo batismo de Jesus (interpretado por Mateus como uma epifania).

TEMPO DA QUARESMA

Os dois primeiros domingos da Quaresma evocam a tentação de Jesus no deserto e sua glorificação no Tabor (este ano, na versão de Mateus). São temas que fazem aparecer Jesus como aquele que vence o mal e, por isso, é glorificado por Deus, antes que a liturgia passe a celebrar o seu sofrimento, na "hora das trevas".
Paralelamente, as primeiras leituras narram os primórdios da História da Salvação: o pecado de Adão e a vocação de Abraão, ambos mostrando um germe de salvação que desabrochará na vitória final do Cristo. No 3º, 4º e 5º domingos quaresmais, encontramos as grandes "catequeses batismais" de João (Jo 4, a samaritana; Jo 9, o cego de nascença; Jo 11, Lázaro, já prefigurando a ressurreição de Cristo e nossa vida eterna).
Nestes domingos, as primeiras leituras, sempre escolhidas dentre os grandes episódios da História da Salvação antes de Cristo, combinam, em parte, com os evangelhos (a água do Horeb com Jo 4; os ossos revivificados com Jo 11).
As segundas leituras demonstram certo nexo com as primeiras leituras e/ou os evangelhos (o comentário de Paulo sobre o pecado de Adão, o dom do amor de Deus em Jesus Cristo, o espírito vivificador).
Porém, parecem escolhidas mais por causa de seu grande valor intrínseco; são trechos de grande densidade teológica, os "clássicos do Novo Testamento", por assim dizer. O relato da Paixão, no domingo de Ramos, é tomado de Mateus.

TRÍDUO SACRO E TEMPO PASCAL

É digno de nota que, para o Missal, o Tríduo Sacro (5ª feira, 6ª feira e sábado da Semana Santa) não pertence à Quaresma.
Constitui, de fato, uma única celebração da Páscoa. Os temas do Tríduo Sacro e da Páscoa devem, portanto, ser vistos como uma unidade.
No tempo depois da Páscoa, as primeiras leituras são tomadas dos Atos dos Apóstolos e mostram a Igreja logo depois da Páscoa (a ordem não é cronológica, pois os primeiros capítulos de Atos aparecerão por volta da Festa de Pentecostes). Como o tempo pascal é o tempo batismal por excelência, o ano A colhe as segundas leituras da homilia pascal e batismal que é a 1 Pedro. Os evangelhos são escolhidos de João (Jo) (menos os discípulos de Emaús, no 3º domingo., e o evangelho da Ascenção).
João é o evangelista que apresenta da maneira mais clara o Cristo pascal, glorioso (mesmo ao narrar sua atividade terrestre, Paixão e morte).
O que une todos esses textos é a ideia batismal, presente antes e depois da Páscoa: participamos da morte e ressurreição de Cristo, numa existência convertida e renovada; e, quanto mais a vivermos, tanto mais seremos capazes de contemplar a presença do Cristo glorioso nesta nossa existência e em nossa comunidade de fé.

TEMPO COMUM E SOLENIDADES DO SENHOR

Os Evangelhos (Mt)

É sobretudo no tempo comum que se torna significativo o "evangelista do ano". Na medida em que a liturgia é catequese, pode-se dizer que passamos este ano na escola de Mateus, o mais didático dos evangelistas, como mostra sua organização dos dizeres de Jesus em cinco grandes discursos: o Sermão da Montanha (Mt 5_7), o sermão missionário (Mt 10) e o sermão escatológico (Mt 24_25). O mais característico, na catequese Mateana, parece-nos o espírito de renovação e da gratuidade. renovação, no sentido de que o novo povo de Deus não se deve apegar ao formalismo antigo. E gratuidade, no sentido de que o fator decisivo na salvação não é a nossa auto-suficiência, mas a graça de Deus acolhida na fé.

A Igreja para a qual mateus destinou seu escrito como "livro da comunidade" era oriunda do judaísmo; compunha-se de judeus que aderiram ao movimento de Jesus. O grande problema dessas comunidades judeu-cristãs era a relação com o judaísmo antigo. No começo, "judeu-judeus" e judeus-cristãos" frequentavam o mesmo templo, as mesmas sinagogas. Os judeus tradicionais consideravam o movimento de Jesus apenas como uma outra forma de judeu. Contudo, aos poucos, a tendência dominante, o farisaísmo, ganhou força e, depois da destruição do templo (em 70 d.C), se impôs como judaísmo formativo. Diante do judaísmo formativo, atraente porque seguro, os cristãos deviam testemunhar Jesus de Nazaré, um 'fora da lei', que morreu na cruz; deviam provar que foi ele o Messias, mesmo, e sua doutrina, superior à dos fariseus escribas. Aos que diziam: "Nós somos filhos de Abraão, nós temos a Lei, a Aliança, a Circuncisão e o Sábado", os cristãos deviam mostrar a necessidade de uma conversão radical, uma nova Aliança, uma circuncisão do coração, misericórdia em vez de sacrifícios, como Jesus já tinha dito. Assim, a comunidade mateana é um pequeno grupo de fiéis em conflito com os próprios irmãos de sangue, por causa do testemunho de Cristo. O evangelho de Mateus quis fornecer, a esses 'pequenos', argumentos para ficarem firmes e se defenderem no seu testemunho. Daí a importância considerável que este evangelho dá às citações escriturísticas: mostram que o que aconteceu com Jesus de Nazaré estava prefigurado na Sagrada Escritura do Antigo Testamento e, portanto fazia parte do modo  de agir de Deus (isto é, de sua "justiça", de sua vontade salvífica). Por outro lado, denuncia o formalismo do judaísmo farisaico, a autosuficiência dos 'bons', que achavam que não havia mais nada a ser melhorado no seu relacionamento com Deus e com o próximo. Daí a apaixonada ironia que marca muitos destes textos (p.ex., Mt 23). De modo complementar, Mateus insiste que a salvação não vem do autosuficiente merecimento (estudo e observância da Lei), mas da gratuita bondade de Deus, sua graça e misericórdia, que inclusive devemos imitar em nossa vida. E assim, chega a desenvolver toda uma ética do amor gratuito.

Esta catequese de Mateus (Mt) tem muito para nos dizer, hoje. Pois, no catolicismo tradicional em que vivemos, transformado em mera grandeza sociológica, identificada com o sistema sociocultural do Ocidente, os verdadeiros seguidores de Cristo estão, muitas vezes, na mesma situação que os antigos judeu-cristãos no meio de seus irmãos de sangue.
A mensagem de Mateus (Mt) para seus contemporâneos era: também os "filhos de Abraão" precisam de conversão e renovação, mediante a graça de Deus manifestada no amor radical de Jesus de Nazaré e no triunfo de sua ressurreição. Para nós, hoje, basta substituir "filhos de Abraão" por "bons cristãos", para ver a atualidade deste evangelho. O mesmo impacto que a palavra de Mateus causou em seu ambiente pode renovar-se em nosso ambiente: a salvação nunca é um direito adquirido; fé não é segurança, mas confiança, uma força de amor!

O evangelho de mateus nos mostra que os verdadeiros seguidores de Cristo, de algum modo, terão de ser "pequenos" neste mundo. Dá mais chances aos que estão fora da Lei do que aos bem instalados. Proclama a felicidade escatológica dos pobres, dos que são capazes de receber. E, no último ensinamento de Jesus, apresenta "gente de nada" como representantes do Cristo em nossas relações humanas (Mt 25,31-46). não será tempo perdido passar um ano na escola de Mateus, escutando-o em verdadeira "obediência de fé". Encontraremos um grande mestre, que nos faz conhecer a fé como entrega à graça de Deus, frutificando em obras de verdadeiro e gratuito amor.

As Leituras do Antigo Testamento

Por causa da peculiaridade de ser o evangelho de Mateus (Mt) uma discussão com o judaísmo, ganham uma importância particular, no tempo comum do ano A, as leituras do A.T. (Primeiras Leituras). Elas ajudam a imaginar, concretamente, o contexto em que ressoou a mensagem de Mateus, facilitando o "esforço histórico" que é necessário para imaginar esse outro lugar e outro tempo no qual se situou o anúncio do evento de Jesus Cristo. Ajudam a imaginar "ao vivo" os conceitos religiosos e culturais, os costumes, as esperanças, o próprio povo de Israel, do qual Jesus nasceu, para entender melhor Jesus e suas testemunhas da primeira hora, e para bem traduzir sua mensagem para o contexto de hoje. Por isso, ainda que por razões pastorais se poderia eliminar uma das leituras, nãos se tire do povo este mínimo de conhecimento do Antigo Testamento, pois, não sabendo como foi o antigo, não entenderá em que consiste a novidade do novo.

As Cartas de São Paulo

Nos domingos do tempo comum ano A, ouvimos a leitura contínua de 1Cor, Rm, Fl e 1Ts. A ordem não é cronológica (pois a 1Ts é o escrito mais antigo de Paulo e do Novo Testamento), mas aparentemente estabelecida com vistas ai desenvolvimento do evangelho. De fato, a 1Cor, que opõe a loucura da cruz aos critérios deste mundo, coincide mais ou menos com o Sermão da Montanha, que também demonstra a distância entre os critérios de Jesus e os do seu ambiente.
As leituras de Rm, sobre a justificação pela graça, coincidem com o tema da evangelização e as parábolas do Reino em Mateus. A leitura de Fl não permite aproximações tão específicas com as leituras evangélicas, mas 1Ts, apresentando os temas escatológicos, combina bastante bem com a pregação escatológica de Jesus, presente nas leituras de Mateus nos últimos domingos do ano.

A contribuição paulina na liturgia do ano A tem o seu peso principalmente na Carta aos Romanos. Contrariamente ao que muitos dizem, o espírito de Rm é bem semelhante ao de Mateus. Geralmente se diz que a mensagem central de Rm é a justificação pela fé (ou pela graça de Cristo, acolhida na fé), enquanto Mt (como Tiago) acentuaria "as obras". Tal oposição é artificial e injusta. O evangelho de Mateus, como vimos, proclama o xeque-mate à autosuficiência do legalismo farisaico (o que Paulo chama: as obras da Lei) e mostra que só a misericórdia de Deus (que Paulo chama: a graça) nos pode salvar.
As críticas à incredulidade, em Mateus, correspondem à acentuação da fé, em Paulo. E, quanto à insistência no comportamento ético, as cartas de Paulo, com as suas longas parêneses (exortações morais), não perdem de Mateus. Assim, a Carta aos Romanos nos ajuda a compreender melhor o espírito do evangelho de Mateus. O que é implícito em Mt, muitas vezes encontra-se de modo explícito em Paulo.

Além disso, Rm enfrenta, exatamente como Mt, o problema da relação com o judaísmo. Paulo, em função de seu trabalho junto aos gentios, e Mateus, em função da oposição entre o judaísmo farisaico e o (judeu) cristianismo, chegam à mesma conclusão: seu "filho de Abraão" para nada serve, se a gente não se converte; e para realizar essa conversão, não é preciso ser "filho de Abraão".
Assim, ambos nos ensinam a não nos fiarmos a posições adquiridas, nem mesmo altamente estimadas em círculos religiosos.
Fonte: Liturgia Dominical

Nenhum comentário:

Postar um comentário