O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

A BELA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO - Lc 10,25-37

Aprofundamento para Catequistas sobre "A Parábola do bom Samaritano" narrado pelo evangelista São Lucas , Capítulo 10, versículos de 25 a 37. - Lc 10,25-37

A COMPAIXÃO DO DISCÍPULO DE JESUS.

A Misericórdia ou Compaixão é outra das notas distintivas do discípulo de Jesus.

O que Jesus entende por "compaixão"? A bela parábola do bom samaritano responde a esta pergunta.

O contexto da parábola é uma controvérsia iniciada por um rabino ou mestre da Lei. Sua má intenção é manifesta: pergunta a Jesus sobre a vida eterna para lhe preparar uma armadilha. (Lc 10,25; cf. 4,12). É evidente que o mestre conhece a resposta, e assim o demonstra quando cita dois textos do Antigo Testamento.

Que razões tem para colocá-lo a prova? Isto, é, o que o motiva a desafiar Jesus? O que quer provar diante do auditório que à prova é a honra ou a fama que as pessoas atribuem a Jesus como mestre em Israel (Lc 4,37; 5,15; 7,17).

Segundo o mundo rabínico, a honra do mestre em Israel diz respeito à procedência familiar (honra atribuída) ou então aos estudos realizados (honra adquirida). Jesus, que não tem honra atribuída, pois não vem de uma família de rabinos, nem honra adquirida, pois não estudou com os grandes mestres de seu tempos, por que ensina? Por que tanta gente o escuta e o segue? Para o mundo dos escribas do tempo de Jesus é evidente que este falso "mestre" tem que ser desmascarado (Lc 10,25b; 20,2) por que exerce um ofício que não lhe corresponde e recebe honras que não são merecidas (Jo 8,49).

Jesus aceita o desafio e responde com outra pergunta: "Que está escrito na Lei? Como lês?" (Lc 10,26). A resposta do escriba com base no AT é correta (Dt 6,5 e Lv 19,18), mas incompleta, e Jesus o faz ver: "Faze isso e viverás" (Lc 10,28). Ao completar a resposta com um texto da Lei de Moisés (Lv 18,4-5; 20,8), Jesus demonstra que seu conhecimento da Escritura é superior ao do escriba: a honra que as pessoas lhe atribuem não é fortuita, porque fala com conhecimento de causa (Lc 4,31-32).

Uma nova pergunta do escriba, que procura recuperar a honra que perde, dá sentido à parábola: "Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?" (Lc 10,29). Novamente não quer aprender, mas colocar à prova. Na Lei está claro quem é o próximo (Lv 19,13.16-18). Sua pergunta, portanto, responde à lógica da controvérsia pela honra de rabino em Israel que atribuem a Jesus.

Jesus situa a parábola no caminho de Jerusalém a Jericó (uns 37 km), percurso no qual não era de estranhar um assalto com resultado de homens feridos e mortos à margens do caminho.

Um sacerdote e um levita fazem esse percurso. Certamente vinham do templo onde haviam exercido o culto a Deus, segundo os turnos prescitos com antecedência (Lc 1,5.8-9). As leis de pureza ritual para exercer o culto eram muitas e exigentes. Esses homens voltavam para suas casas (1,23) com a alma profundamente marcada pela pureza e pela santidade ritual. Sem dúvida, vão vivendo aquilo que diz a Escritura: "Serão santos para Deus e não profanarão o seu nome, pois são eles que apresentam as ofertas ao Senhor..." (Lv 21,6).

Quando vêem o homem meio morto o caminho dão uma volta e seguem adiante (Lc 10,31-32), e o fazem não porque são maus ou não têm compaixão, mas porque são homens piedosos que vêm santificados do templo e cumprem a lei perfeitamente. A Lei de Santidade lhes proíbe aproximar-se de um homem meio morto, porque contrariam a impureza ritual... e "quem se lava depois de tocar um morto e novamente o toca, de que lhe aproveita a ablução?" (Eclo 34,30). Ambos os homens não querem, de maneira alguma, ofender ao seu Deus que os santificou, contraindo impurezas que podem evitar (Lv 22,9).

Pelo mesmo caminho passa um samaritano que "se compadece" diante do ferido (Lc 10,33) e este será - segundo Jesus - o modelo de discípulo.

O verbo compadecer-se" descreve um carinho terno e profundo que brota das próprias entranhas que "se resolvem" ou estremecem diante da desgraça alheia. Trata-se do carinho do pai que acolhe o filho perdido (Lc 15,20) e do Deus que se comove diante de seu povo oprimido (1,78). este carinho, por "vir de dentro", não é entendido sem ações concretas destinadas a resolver a situação do ferido.

Aquele que se compadece é ninguém menos que um samaritano, a quem, por problemas históricos, os judeus consideravam estrangeiro e endemoniado (Jo 8,48). Além disso, como tem azeite e vinho, tem cavalgadura, conhece pensões e viaja com dinheiro com o qual paga a estadia (Lc 10,34-35), parece que se trata de um comerciante, ofício desprezado pelos judeus do século I. O comércio em Israel era confiado aos servos de confiança que, por carecer de honra, nada perdiam ao posar em terra estrangeira e manipular bens e moedas estrangeiras (Mt 25,14-30). Portanto, não somente se trata de um samaritano, mas provavelmente de um samaritano dedicado aos negócios e, por isso, aos olhos dos fariseus, sua condição de impuro e de ímpio é extrema. Este samaritano é quem se compadece do ferido e o faz com tal dedicação que não o deixa até que recupere totalmente a vida. De um homem assim não se esperava tal comportamento e o discípulo de Jesus deve imitar esse homem.

O contraste entre o comportamento do pessoal do templo e o do samaritano salta à vista, mas esse contraste de ações reflete, na realidade, um contraste de motivações. sacerdote e levita amam intensamente a Lei de Deus; Jesus, ao contrário, exorta a amar intensamente o Deus da Lei. O Deus da Lei é paciente e rido em misericórdia (Nm 14,18-19), e, por isso, exige benevolência e conhecimento de Deus (= comunhão de vida) mais que precitos legais e sacrifícios (Os 6,6; Jr 7,15). Se a motivação fundamental de um discípulo de Jesus é a observância da Lei ao pé da letra, é fácil que esqueça o pai de Jesus Cristo que por ele revela sua justiça e seu amor (Lc 11,42; cf. 2Cor 3,4-6). Se não se age "com o coração" (Lc 11,41 qualquer catálogo legal, por mais perfeito que seja, é inútil para estimular a comunhão com Deus e com os irmãos.

Aqui está a diferença entre um discípulo da Lei e um discípulo de Jesus.

A parábola não termina aqui. Jesus pergunta ao escriba quem realmente foi próximo daquele que estava ferido no caminho. A pergunta é a chave de leitura da parábola. O que antes o mestre da Lei tinha perguntado era: "Quem é o meu próximo?" (Lc 10,29). Jesus lhe devolve a pergunta quando lhe diz: "Qual dos três foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos assaltantes?" (10,36).

Jesus leva o rabino a reconhecer que próximo não é quem vem para perto de mim, mas aquele de quem eu me aproximo. Enquanto na pergunta do escriba, este se estabelece como centro da questão, na de Jesus é o outro - o ferido - quem verdadeiramente importa. Compassivo como Deus é aquele que se aproxima para oferecer consolo e cuidar do desvalido até que sua dignidade e sua vida fiquem totalmente restauradas (Lc 6,36). O amor ou compaixão, segundo Jesus Cristo, inclui também os inimigos, é vivida de coração e com obras (10,27-35), leva à sua plenitude toda a Lei e os Profetas (Mt 7,21). E este é o novo mandamento ou a nova "lei de Cristo" (Gl 6,2), isto é, este é o comportamento que identifica o discípulo de Cristo entre os discípulos de outros mestres!

À pergunta do escriba sobre o "que devo fazer para herdar a vida eterna?" (Lc 10,25), a resposta de Jesus é esta: quem se faz próximo do desvalido alcança a vida eterna.

Fazer-se próximo dos marginalizados para viver a "lei de Cristo passa por:

a) Libertar-se de preconceitos e sensibilizar-se diante da dor do irmãos. deve-se pedir a Deus com insistência dos dons do "espanto" e da "ternura" diante das feridas dos irmãos marginalizados para não "seguir adiante".

b) Tomar consciência da honra inerente a todo homem por ser filho de Deus e membro da humanidade, independentemente de sexo, religião, condição civil, social...

c) Dar tempo e colocar os bens a serviço do outro, como sinal autêntico da doação do ser. Somente assim a oferenda não é "migalha", mas solidariedade autêntica, como a do Verbo encarnado que, dando sua vida, restaura a dignidade de homens e mulheres.

d) Acompanhar no processo de cura, sinal de que a pessoa é o que importa. O discípulo de Jesus não se compadece em razão de uma "função", de uma "ideia" religiosa ou motivado por ideologias, mas pela "lei de Cristo e pela imitação de seus sentimentos (Fl 2,5). A caridade cristã não pode ter o tempo contado" nem desconhecer "rostos" ou "necessidades". Deve sempre agir decoração, somatizando o amor.

e) Oferecer a vida, não à Lei de Deus, mas ao Pai de Jesus, "pai dos órfãos e defensor das viúvas" (Sl 68,6; cf. Eclo 35,11-24). A "imolação pela Lei cria homens ritualmente puros e sagrados; o segundo, a doação ao Pai, mulheres e homens santos, participantes da vida e da lória trinitária.

Fonte: Estudando, li este texto num livro quando em preparação para a V conferência do Episcopado Latino Americano (2007), onde o autor Santiago Silva Retamales, em 2005,  escreve sobre o tema: "Discípulo de Jesus e Discipulado segundo a Obra de São Lucas". (CELAM/CNBB).

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