O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A BÍBLIA NA CATEQUESE COM ADULTOS

O documento n.26 da CNBB Catequese Renovada diz que a Bíblia é a primeira fonte da catequese. Ela deve inspirar todo o processo catequético e também a catequese com adultos.

Hoje em dia, a Bíblia já está na mão dos adultos através dos círculos bíblicos e outros de reflexão como da Campanha da Fraternidade, da Novena de Natal etc.A Bíblia é inspiração constante nas Comunidades.

Mas, para trabalhar adequadamente com a Bíblia na formação dos adultos, o próprio agente deve se formar para ter uma visão da bíblia que realmente ajude os adultos a alimentar sua vida cristã.

A Bíblia é um livro para adultos.
A Bíblia é um livro escrito por adultos para adultos. Ela trata as pessoas como adultos. Deixa espaço para refletir e para decidir. Não dá receitas prontas, nem coloca grandes dogmas de fé. A Bíblia leva a descobrir a mão de Deus nos acontecimentos, alerta para a vivência da Aliança e deixa espaço para se posicionar diante dela. Na própria Bíblia encontramos correntes diferentes, ideias às vezes opostas, releituras de antigos textos. A Bíblia é diferente de um catecismo que coloca as verdades da fé sem muita possibilidade de discussão ou de opiniões diferentes.

A Bíblia relata a experiência que um povo tem de Deus.
A Bíblia não é a Palavra de Deus que caiu do céu. Ela brotou da própria vida com suas lutas e sofrimentos, com suas situações e acontecimentos. É aí que o Povo da Bíblia foi descobrindo a mão de Deus, seu rosto, seus apelos. A Bíblia foi escrita a partir da experiência de Deus que o Povo fazia na sua história, orientado pelos profetas. para entender bem o texto, devemos ler o mesmo a partir da situação concreta (contexto). O que levou a escrever? A partir disto podemos interpretá-lo para nossa situação.
Em Jesus, a revelação de Deus chegou ao auge. Os primeiros seguidores de Jesus experimentaram nele a presença do próprio Deus. Hoje, a Bíblia vai nos ajudar a descobrir Deus na nossa vida, escutar seus apelos, dar nossa resposta.

A Bíblia é uma Biblioteca
A Bíblia é um conjunto de escritos com gêneros literários diferentes. É necessário conhecer tais estilos literários para não tomar ao pé da letra e cair numa leitura fundamentalista. A Bíblia está cheia de simbolismos e narrativas que ajudam a encontrar o sentido mais profundo dos acontecimentos e da ação de Deus. A Bíblia não é um livro de ciências, nem de história, no atual sentido da palavra. Ela não pretende transmitir dados científicos e históricos. Sua linguagem não é informativa sem consequências para nossa vida, mas propositiva: apela a uma resposta.
Na catequese com adultos damos uma visão geral do livro e da história do povo da Bíblia e da sua mensagem central: a Aliança.

A Bíblia é uma luz para a vida de hoje.
O documento de Puebla (n.997) diz assim: "A catequese deve iluminar com a Palavra de Deus as situações humanas e os acontecimentos da vida, para neles fazer descobrir a presença ou ausência de Deus".
A Bíblia não pode ser lida desligada da vida ou ser lida num sentido espiritualista. O povo da Bíblia chora, louva, grita a Deus. Isto brota da vida que não é só doçura, mas coloca o ser humano diante de duras e incompreensíveis realidades. Às vezes, a Bíblia dá respostas, mas também se cala diante do mistério da vida e do sofrimento.

A Bíblia é o livro da Aliança
Toda a Bíblia é impregnada da mensagem da Aliança que Deus contraiu com seu Povo. É um pacto de amor e fidelidade. É uma mensagem de libertação, de salvação. Mostra o caminho da verdadeira vida e os caminhos tortos e pecaminosos que desviam dela.
A leitura catequética deve sempre levar em conta esta mensagem libertadora da Bíblia. Deus quer salvar em situações bem concretas, como podemos ler no livro do Êxodo, nos livros dos Profetas e na mensagem da Aliança e, no Novo Testamento, no anúncio do reino de Deus. A Bíblia quer ajudar a descobrir o plano salvífico de Deus.
Há certas passagens na Bíblia que, à primeira vista, não são libertadoras. Foram escritas em determinados contextos que devem ser levados em conta. O que valia naquele tempo, naquela cultura, nem sempre valia naquele tempo, naquela cultura, nem sempre pode ser aplicado à nossa situação.
Dentro de uma visão libertadora, devemos dialogar com esses textos e até criticá-los. Alguns exemplos: as guerras santas e o extermínio dos inimigos, a dominação da mulher, o casamento polígamo, as leis de purificação e de alimentação... Se tomarmos tudo literalmente para nós hoje, caímos numa leitura fundamentalista que não liberta, mas escraviza.
Uma verdadeira leitura bíblica ilumina as situações de dominação e injustiça que existem hoje e anuncia a libertação integral de todos.

A Bíblia faz uma leitura a partir dos pobres.
Pode-se fazer a leitura da Bíblia a partir de diversos ângulos.  Cada ângulo descobrirá determinadas facetas. Podemos ler a Bíblia como uma interessante leitura de fama mundial ou para defender nossas posições religiosas contra aqueles que pensam diferente. Podemos ler a Bíblia para encontrar consolo e paz. O poderoso encontrará textos a seu favor. nos sintonizar com os profetas e com o próprio Jesus, façamos a leitura da Bíblia a partir do pobre, do marginalizado. Os pobres têm lugar preferencial na Bíblia, são chamados bem-aventurados e benditos.

A Bíblia é o livro da comunidade.
A Bíblia é o livro do Povo de Deus, das primeiras comunidades cristãs, das nossas comunidades hoje. Lida em comunidade, a reflexão se aprofunda e enriquece. A Bíblia quer construir e fazer crescer a comunidade de fé, a comunhão fraterna, a vida de oração (leitura orante da Bíblia). Leva à solidariedade e compromisso. Por isto, é importante a leitura da Bíblia em grupo, onde jesus está no meio para nos iluminar.
Evita-se uma leitura intimista, simplista. A Palavra de Deus é altamente questionadora, visa a conversão do seu povo, denuncia atitudes que vão contra a prática comunitária da fraternidade e igualdade.

A Bíblia deve ser lida na perspectiva do Reino.
A leitura Bíblica não visa somente a formação da comunidade, mas deve inspirar o serviço ao mundo, o qual deve ser transformado em Reino de Deus, Reino de paz e de justiça, de fraternidade e igualdade, onde Deus é tudo em todos. O Reino ultrapassa as fronteiras da Igreja, não depende de estruturas e se completará na eternidade.
Por isso a leitura da Bíblia deve levar a uma conscientização, a um compromisso para uma ação transformadora da sociedade, onde o Reino está para ser construído. Tal leitura acentuará a nossa responsabilidade como colaboradores de Deus no seu plano de salvação que é um plano universal.
Evitemos a visão de um Deus milagreiro que resolve os problemas humanos sem a atuação do ser humano. Saibamos ler a linguagem simbólica da Bíblia que, através de muitas narrativas de milagres, quer fazer entender que Deus não nos deixa sozinhos no processo de libertação. Tomando literalmente as narrações de milagres, corremos o risco de fazer uma leitura alienante que dispensa a atuação humana, deixando a solução dos problemas unicamente à ação milagreira de Deus. É importante saber que Deus efetua e realiza seu plano de salvação com a nossa cooperação e que recebemos um chamado divino para construir o Reino. Nossa atuação é indispensável.

Evitar uma oposição entre Antigo e Novo Testamento.
Não façamos oposição entre o Antigo e o Novo Testamento. É o mesmo Deus que se dá a conhecer: o Deus da Aliança que ama seu Povo e quer libertar. Em Jesus, Deus veio completar a Aliança, mas não a derrubou ou substituiu. O Novo Testamento é uma releitura do Antigo Testamento à luz da morte e ressurreição de Jesus. Jesus está na linha de muitos profetas e os primeiros cristãos entenderam Jesus a partir das Escrituras.
É importante conhecer o Antigo Testamento. Quanto mais o conhecermos, tanto mais entenderemos quem é Jesus, suas ações, seus ensinamentos, seus muitos títulos. A riqueza do Antigo Testamento reflete na pessoa de Jesus com maior fulgor e perfeição.
Tal leitura despertará também maior respeito pelas raízes judaicas do cristianismo. Aumentará o respeito pelo povo judeu, o primeiro chamado por Deus e que continua sendo chamado (cf. Rm 11).

A Bíblia ensina grandes valores
Não reduzamos a Bíblia a exemplos edificantes, acentuando normas, proibições. Mas levemos a viver os grandes valores que a Bíblia nos mostra: serviço, justiça, misericórdia, perdão, fraternidade e tantos outros. A Bíblia resume toda a moral em amar a Deus e ao próximo. Este amor será criativo e descobrirá como colocar isto em prática do melhor modo possível.

A Bíblia não dá receitas prontas para nosso agir hoje. A vida moderna nos coloca diante de questionamentos não tão simples e que não se apresentavam ainda no tempo da bíblia, como: guerras nucleares, corrida armamentista, preservação da natureza, controle da natalidade, aborto, democracia, direitos dos trabalhadores, emancipação da mulher, problemas da bioética e tantos outros.
A Bíblia não fala diretamente sobre isto. Fala sobre problemas morais e éticos do seu tempo, problemas que nem sempre são os nossos, como a observância da Lei de Moisés, as guerras "santas", a idolatria e outros. Por outro lado, problemas como riqueza/pobreza, poder/opressão, culto/vivência estão bem presentes também nos dias de hoje.
A Bíblia quer ser uma inspiração para nós, hoje, para encontrarmos o caminho certo dentro do plano da salvação de Deus. Trata-se mais de uma mentalidade do que de prescrições exatas; é mais uma procura, uma descoberta da vontade de Deus hoje que quer nos tirar da "casa da escravidão" (Ex 20,2).

Jesus Cristo está no Centro
Para os cristãos, Jesus Cristo é o ponto alto da salvação de Deus. Toda a Bíblia encontra seu sentido pleno na pessoa dele. Não devemos cultuar o Livro. Antes do Livro está a pessoa viva de Jesus Cristo, presente na sua comunidade que, pela força do seu Espírito, quer renovar a face da terra e implantar o Reino do pai, desde já, aqui e agora.

O método da Leitura Bíblica.
O método é o conhecido VER (a realidade, as experiências, as dúvidas...); JULGAR à luz da Bíblia; AGIR (mudar de mentalidade e chegar à ação); CELEBRAR a reflexão da vida; AVALIAR de vez em quando.
Um bom exemplo do método de Jesus encontramos em Lc 24,13-35, onde encontramos os momentos de diálogo e situação (v.13-24), julgar à luz das Escrituras (v.25-27), celebrar (v.28-31), agir (v.32-35).
A narração da mulher samaritana segue o mesmo desenvolvimento. Cursos ou cursinhos sistemáticos também têm seu lugar e seu momento, conforme os desejos dos participantes.

Conclusão
Estas reflexões (que não pretendem ser completas) mostram que não se trata de colocar simplesmente a Bíblia na catequese com adultos e fazer a leitura de certos textos. Supõe que o agente saiba usar a Bíblia dentro de uma visão libertadora, dentro do contexto atual da vida, levando a um compromisso em nível pessoal, comunitário e social.
Fontes: Como nossa Igreja lê a Bíblia; A Bíblia na catequese com adultos; Revista Vida pastoral; A Bíblia na catequese; 2ª Sem.Bras.Catequese.

Um comentário:

  1. O texto é muito bem escrito,e fácil de entender, com trechos interessantes.Estou sempre pesquisando, e achei este muito legal.

    ResponderExcluir