O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O ESPÍRITO SANTO - CARIDADE NA IGREJA, Unidade dos Cristãos.

O Pai e o Filho quiseram que ficássemos unidos entre nós e com eles por meio daquele mesmo vínculo que os une, isto é o AMOR, que é o Espírito Santo.
Este é o princípio que permite passar da contemplação do Espírito-Amor na Trindade a este mesmo Espírito-amor na Igreja.
A partir do século V, esta função unificante do Espírito na Trindade e na Igreja foi encerrada numa fórmula breve, que durante muito tempo, constituiu a única menção do Espírito Santo no cânon latino da Missa: "Na unidade do Espírito Santo" (in unitate Spiritus Sancti).

Este é um tema que Agostinho desenvolve em todos os seus discursos sobre Pentecostes. Usa sempre o mesmo esquema. Reevoca o evento de Pentecostes e o milagre das línguas. E então se pergunta: se cada apóstolo, naquele dia, falava todas as línguas, como é que hoje um cristão, mesmo tendo já recebido o Espírito Santo, não fala todas as línguas? A resposta do bispo é esta: Mas, não há dúvida, hoje também o cristão fala todas as línguas. cada cristão, com efeito, pertence ao corpo, que é a Igreja, que fala todas as línguas e em todas as línguas anuncia a verdade de Deus.
Nem todos os membros do nosso corpo vêem, nem todos ouvem, nem todos andam, e no entanto, não dizemos: o meu olho enxerga, o meu pé anda; mas dizemos, eu velo, eu ando, porque cada membro age por todos, e todo o corpo age em cada membro.
Assim faz o Espírito Santo no corpo de Cristo, que é a Igreja.
Ele se comporta, no corpo de Cristo, como a alma no corpo humano.
É o princípio motor e inspirador de tudo. Qual, então, o sinal seguro de se ter recebido o Espírito Santo? Falar em línguas, fazer milagres?
Não! é amar a unidade, manter-se unido firmemente à Igreja:
"Se portanto, quereis viver do Espírito Santo, conservai a caridade, amai a verdade, desejai a unidade e alcançareis a eternidade" 
"Como então as várias línguas que um homem podia falar eram o sinal da presença do Espírito Santo, assim também, agora, o amor à unidade de todos os povos é o sinal de sua presença.... Sabeis, portanto, que tereis o Espírito Santo quando consentirdes que o vosso coração se afeiçoe à unidade através de uma caridade sincera" (Agostinho)

Isto explica por que a caridade é "o caminho melhor" (1Cor 12,31): ela multiplica os carismas. Do carisma de um ela faz o carisma de todos.
Segundo Agostinho existem dois níveis de unidade da Igreja: o nível visível dos sinais, que se designa por "Comunhão dos Sacramentos", e o nível invisível, que se chama de "sociedade dos santos". Este último se realiza quando uma pessoa adere, mediante a caridade, à unidade do corpo e é "animada" pelo Espírito Santo.
Esta Igreja, íntima e plena, constituída por aqueles que, mediante a caridade, compartilha o mesmo Espírito Santo é representada em forma visível por uma pomba, símbolo ao mesmo tempo da Igreja (Cânticos dos Cânticos) e do Espírito Santo (batismo de Cristo).
Não é um fato singular que o mesmo termo caridade tenha se tornado na tradição cristã um modo de designar, simultaneamente, o Espírito Santo e a Igreja? Diz Inácio de Antioquia que a comunidade de Roma "preside à agapè", ou seja, ao conjunto de toda a Igreja.
Esta é a constelação doutrinal que o título de "amor"
 evocava no tempo em que se compôs o Veni Creator (hino). O que nos sugere, hoje?

O que professamos, o que pedimos quando chegamos à palavra caritas? No discurso da Igreja, com a encíclica Mystici Corporis, de Pio XII, se fala do Espírito Santo como da alma e do vínculo de unidade da Igreja.
Esta redescoberta recebeu decisivo impulso com o Concílio Vaticano II, que fala dos carismas e da dimensão pneumática da Igreja.
Depois do Vaticano II, falou-se da Igreja, entre os católicos, como do "mistério do Espírito Santo em Cristo e nos cristãos". Como na Trindade, o Espírito Santo é uma espécie de nós divino, em que se acham reunidos o eu do Pai e o tu do Filho, bem como na Igreja Ele é aquele que faz de uma multidão de pessoas uma única "mística pessoa".

"Onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus; e onde está o Espírito de Deus, ali também está a Igreja e toda a graça" (Santo Irineu).

A necessidade que a Igreja tem do Espírito Santo, segundo o Papa Paulo VI.

"Mais de uma vez nos perguntamos(...) que necessidade percebemos, em primeiro e último lugar, para esta nossa Igreja bendita e amada. Devemos dizê-lo, quase com estremecimento e suplicantes, porque é o seu mistério e a sua vida, bem o sabeis: o Espírito, o Espírito Santo, animador e santificador da Igreja, seu alento divino, o vento das suas velas, seu princípio unificador, sua fonte interior de luz e de força, seu sustentáculo e seu consolador, sua fonte de carismas e de cantos, sua paz e sua alegria, seu penhor e prelúdio de vida bem-aventurada e eterna.
A Igreja tem necessidade de seu perene Pentecostes; tem necessidade de fogo no coração, de palavras nos lábios, de profecia no olhar. (...) Tem necessidade, a Igreja, de readquirir o anseio, o gosto e a certeza da sua verdade(...) E tem ainda necessidade, a Igreja, de sentir refluir por todas as suas humanas faculdades a onda do amor, daquele amor que se chama caridade, e que está precisamente derramada em nossos corações justamente pelo Espírito Santo que nos foi dado". (Paulo VI, 19.11.72).

A contemplação do Espírito como caridade e amor pode ser-nos útil também na caminhada rumo à unidade de todos os cristãos. A pergunta que hoje muitos começam a se pôr é esta: posso eu, como católico, sentir-me mais em comunhão com a multidão daqueles que, batizados na mesma Igreja que eu, não mostram todavia nenhum interesse por Cristo e são cristãos apenas de nome, do que com o grande contingente daqueles que, embora pertencendo a outras Igrejas, creem nas mesmas verdades fundamentais em que eu também creio, amam a Jesus Cristo a ponto de darem a vida por Ele e operam pelo poder do mesmo Espírito Santo?

Se o sinal da presença do Espírito Santo, como dizia Agostinho, é "amor à unidade", devemos então dizer que o Espírito Santo está operando, hoje, sobretudo ali onde é viva a paixão pela unidade dos cristãos, onde se trabalha e se sofre por ela.
Fonte: Meditações-Raniero Cantalamessa.

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