O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

sábado, 11 de maio de 2013

Celebração da Ceia do Senhor (1Cor 11,17-34) no relato de Paulo

"Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que ele venha" (1Cor 11,17-34).

Paulo enfrenta um problema muito mais sério, o escândalo das celebrações eucarísticas dos coríntios. A "ceia do Senhor" ou eucaristia costumava ser celebrada ao entardecer nas casas particulares - não havia ainda igrejas - dos mais ricos da comunidade, as únicas que tinham capacidade para acolher cinquenta ou sessenta pessoas.
Antes de começar a "ceia do Senhor" propriamente dita, fazia-se uma refeição fraterna à qual os ricos traziam suas provisões que evidentemente tinham de ser compartilhadas entre todos. Sem esperar que chegassem os mais necessitados e os retardatários que costumavam ser os trabalhadores e escravos em razão de sua longa jornada de trabalho, os ricos comiam e bebiam a mais não poder, de modo que quando chegavam os pobres para eles restavam as sobras, se é que sobrava alguma coisa.
Imediatamente depois ricos e pobres, uns de barriga cheia e até embriagados e outros famintos e sedentos, procediam à celebração da eucaristia.

Ao saber disso, Paulo fica cheio de indignação. Até esse extremo chegam as divisões entre os ricos e os pobres da comunidade? Que espécie de eucaristia celebrais vós?, chega a dizer o apóstolo para aqueles ricos. Para comer e embriagar-se, comam e embriaguem-se em suas casas. Fazê-lo onde o fazem menosprezam a assembleia de Deus e envergonham os que nada possuem(v.22) e que são simplesmente seus irmãos e suas irmãs.
Diante dessa situação, Paulo expõe aos coríntios o relato da Instituição da Eucaristia, seu sentido e consequências, em uma bela catequese que, ao mesmo tempo que ensina, denuncia e repreende.
Trata-se do documento mais antigo do Novo Testamento sobre a Instituição da Eucaristia, dado que esta carta foi escrita lá pelos anos 55-56, muito temo antes dos evangelhos. O apóstolo diz que lhes transmite uma tradição que ele mesmo recebeu, provavelmente em Antioquia, e que remonta até o Senhor.
Nos tempos de Paulo, essa tradição já se havia concretizado em uma celebração litúrgica na qual se realizavam as duas ações eucarísticas (vv 23-25), uma em continuação da outra - exatamente como em nossas celebrações eucarísticas de hoje, na qual à benção do pão segue a benção do cálice (vinho) -, e não espaçadas de acordo com o ritmo da ceia judaica da Páscoa, tal como aconteceu na "última ceia do Senhor".
A refeição fraterna se realizava antes e estava intimamente ligada ao próprio sentido da eucaristia, isto é, união e solidariedade.

Paulo situa a celebração eucarística entre dois horizontes, ambos referentes a Jesus. Um histórico: "na noite em que foi traído" (v.23). Outro, futuro: "até que venha" (v.26).
Entre ambos os horizontes transcorre o "aqui e agora" da vida e missão da comunidade cristã que tem seu coração e seu centro
 na Eucaristia. O pão e o vinho consagrados recordam, atualizam, tornam presentes no seio da comunidade "a memória de Jesus", isto é, toda a sua vida entregue aos pobres, aos marginalizados e pecadores que culmina com a morte na cruz e a ressurreição.

Pois bem, essa "memória de Jesus" pela invocação e presença do Espírito Santo liberta, transforma e salva, pois "todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha" (v.26). Assim, o "corpo eucarístico" de Jesus não é já somente seu corpo morto e ressuscitado, presente no pão e no vinho, mas abrange toda a comunidade de crentes que fica transformada no "corpo de Cristo", segundo a metáfora favorita de Paulo para se referir à comunidade cristã.

O apóstolo tira as consequências. Pode-se participar da eucaristia, ouvir a Palavra de Deus, comungar o corpo e o sangue do Senhor e depois ignorar o pobre e o oprimido? O apóstolo é duríssimo: quem come o pão e bebe o cálice do Senhor de maneira indigna comete pecado contra o Corpo e o Sangue do Senhor, come e bebe sua própria condenação porque despreza o Corpo de Cristo em seus membros mais frágeis, oprimidos e marginalizados.

O compromisso pela justiça e pela libertação não é já uma simples exigência ética para Paulo, e sim que surge do próprio cerne do ser cristão, isto é, de pertencer ao "Corpo" daquele que deu sua vida pela libertação de todos em uma clara opção pelos mais desprotegidos e marginalizados da sociedade.

Essa é a missão da Igreja, Corpo de Cristo, "até que venha" e faça definitiva e universal a salvação já começada.
fonte: Bíblia Jerusalém
         Bíblia Ave Maria
     

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