Os caminhos para chegar ao conhecimento de Deus
Refletimos sobre o
desejo de Deus que o ser humano leva no profundo de si mesmo. Hoje gostaria de
continuar a aprofundar este aspecto, meditando brevemente convosco sobre alguns
caminhos para chegar ao conhecimento de Deus. Contudo, gostaria de recordar que
a iniciativa de Deus precede sempre todas as iniciativas do homem e, também no
caminho rumo a Ele, é Ele em primeiro lugar quem nos ilumina, orienta e guia,
respeitando sempre a nossa liberdade. E é sempre Ele quem nos faz entrar na sua
intimidade, revelando-se e doando-nos a graça para poder acolher esta revelação
na fé. Nunca esqueçamos a experiência de santo Agostinho: não somos nós que
possuímos a Verdade depois de a termos procurado, mas é a Verdade que nos
procura e nos possui.
Todavia, há caminhos que podem abrir o
coração do homem ao conhecimento de Deus, sinais que conduzem para Deus.
Certamente, com frequência corremos o risco de sermos ofuscados pelo cintilar
da vida mundana, que nos torna menos capazes de percorrer tais caminhos ou de
ler tais sinais. Contudo, Deus não se cansa de nos procurar, é fiel ao homem
que criou e salvou, permanece próximo da nossa vida, porque nos ama. Esta é uma
certeza que nos deve acompanhar todos os dias, mesmo se determinadas
mentalidades difundidas dificultam que a Igreja e o cristão comuniquem a
alegria do Evangelho a cada criatura e levem todos ao encontro com Jesus, único
Salvador do mundo. Todavia, esta é a nossa missão, é a missão da Igreja e todos
os crentes devem vivê-la jubilosamente, sentindo-a como própria, através de uma
existência animada verdadeiramente pela fé, marcada pela caridade, pelo serviço
a Deus e aos outros, e capaz de irradiar esperança. Esta missão resplandece
sobretudo na santidade para a qual todos somos chamados.
Hoje — sabemo-lo — não faltam dificuldades e
provações para a fé, frequentemente pouco compreendida, contestada e rejeitada.
São Pedro dizia aos seus cristãos: «Estai sempre prontos a responder, para a
vossa defesa, com doçura e respeito, a todo aquele que vos perguntar a razão da
vossa esperança» (1 Pd 3,
15). No passado, no Ocidente, numa sociedade considerada cristã, a fé era o
âmbito no qual ela se movia; a referência e a adesão a Deus eram, para a
maioria das pessoas, parte da vida quotidiana.
Ao contrário, era quem não
acreditava que devia justificar a própria incredulidade. No nosso mundo a
situação mudou e cada vez mais o crente deve ser capaz de dizer a razão da sua
fé. O beato João Paulo II, na Encíclica Fides
et ratio, realçava o modo como a fé é posta à prova também na época
contemporânea, atravessada por formas súbtis e capciosas de ateísmo teórico e
prático (cf. nn. 46-47).
A partir do Iluminismo, a crítica à religião
intensificou-se; a história foi marcada também pela presença de sistemas ateus,
nos quais Deus era considerado uma mera projeção do ânimo humano, uma ilusão e
o produto de uma sociedade já alterada por tantas alienações. Depois, o século
passado conheceu um forte processo de secularismo, sob a bandeira da autonomia
absoluta do homem, considerado como medida e artífice da realidade, mas
empobrecido do seu ser criatura «à imagem e semelhança de Deus».
No nosso tempo
verificou-se um fenômeno particularmente perigoso para a fé: de fato, existe
uma forma de ateísmo que definimos «prático», no qual não se negam as verdades
da fé ou os ritos religiosos, mas simplesmente se consideram irrelevantes para
a existência quotidiana, destacadas da vida, inúteis. Então, com frequência, cremos
em Deus de modo superficial, e vivemos «como se Deus não existisse» (etsi
Deus non daretur). Mas, no final este modo de viver resulta ainda mais destrutivo,
porque leva à indiferença à fé e à questão de Deus.
Na realidade, o homem separado de Deus
reduz-se a uma só dimensão, a horizontal, e precisamente este reducionismo é
uma das causas fundamentais dos totalitarismos que tiveram consequências trágicas
no século passado, assim como a crise de valores que vemos na realidade atual.
Obscurecendo a referência a Deus obscureceu-se também o horizonte ético,
abrindo espaço ao relativismo e confirmando-se uma concepção ambígua da
liberdade que em vez de ser liberatória acaba por ligar o homem a ídolos.
As
tentações que Jesus enfrentou no deserto antes da sua missão pública,
representam bem aqueles «ídolos» que fascinam o homem, quando não vai além de
si mesmo. Se Deus perder a centralidade, o homem perde o seu justo lugar, e não
encontra a sua colocação na criação, nas relações com os outros. Não se
extinguiu o que a sabedoria antiga evoca com o mito de Prometeu: o homem pensa
que pode tornar-se ele mesmo «deus», dono da vida e da morte.
Diante deste quadro, a Igreja, fiel ao
mandato de Cristo, nunca cessa de afirmar a verdade sobre o homem e sobre o seu
destino. O Concílio Vaticano II afirma sinteticamente que: «O aspecto mais
sublime da dignidade humana encontra-se na vocação do homem à união com Deus.
Começa com a existência o convite que Deus dirige ao homem para dialogar com
Ele: se o homem existe é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de
o conservar na existência; e o homem não vive plenamente segundo a verdade, se
não reconhecer livremente este amor e não se entregar inteiramente ao seu
criador» (Const. Gaudium
et spes, 19).
Então, que respostas está a fé chamada a dar,
com «doçura e respeito», ao ateísmo, ao cepticismo, à indiferença pela dimensão
vertical, para que o homem do nosso tempo possa continuar a interrogar-se sobre
a existência de Deus e a percorrer os caminhos que levam a Ele? Gostaria de
mencionar alguns caminhos, que derivam tanto da reflexão natural, como da
própria força da fé. Gostaria de os resumir muito sinteticamente em três
palavras: o mundo, o homem e a fé.
A primeira: o mundo.
Santo Agostinho, que na sua vida procurou a Verdade por muito tempo e foi
arrebatado pela Verdade, escreveu uma página lindíssima e célebre, na qual
disse: «Perscruta a beleza da terra, do mar, do ar rarefeito e onde quer que se
expanda; perscruta a beleza do céu... e todas as realidades. Todas te
responderão: olha para nós e vê como somos bonitas. A sua beleza é como um hino
de louvor. Ora, estas criaturas tão bonitas, mas também mutáveis, quem as fez
se não aquele que é a beleza inalterável? (Sermo 241, 2: PL 38, 1134). Penso que
devemos recuperar e fazer recuperar ao homem de hoje a capacidade de contemplar
a criação, a sua beleza, a sua estrutura. O mundo não é um magma amorfo, mas
quanto mais o conhecemos e descobrimos os seus mecanismos maravilhosos, tanto
mais vemos um desígnio, vemos que existe uma inteligência criadora. Albert
Einstein disse que nas leis da natureza «se revela uma razão tão superior que
toda a racionalidade do pensamento e dos ordenamentos humanos em comparação é
um reflexo absolutamente insignificante» (O Mundo como eu o vejo).
Portanto, um primeiro caminho que leva à descoberta de Deus é a contemplação da
criação com um olhar atento.
A segunda palavra: o homem.
É sempre de santo Agostinho a frase célebre com a qual diz que Deus é mais
íntimo de mim de quanto eu o seja de mim mesmo (cf. Confissões III, 6, 11). A partir disto ele
formulou o convite: «Não saias de ti mesmo, entra em ti mesmo: a verdade habita
no homem interior» (De vera religione, 39, 72). Este é outro aspecto que
corremos o risco de perder no mundo ruidoso e dispersivo no qual vivemos: a
capacidade de refletir, de meditar em profundidade e de detectar aquela sede
de infinito que trazemos no íntimo, que nos impele a ir além e nos remete para
Alguém que a possa satisfazer. O Catecismo
da Igreja Católica afirma:
«Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu sentido do bem moral, com a
sua liberdade e a voz da sua consciência, com a sua ânsia de infinito e de
felicidade, o homem interroga-se sobre a existência de Deus» (n. 33).
A terceira palavra: a fé.
Sobretudo na realidade do nosso tempo, não devemos esquecer que um caminho que
leva ao conhecimento e ao encontro com Deus é a vida da fé. Quem crê está unido
a Deus, está aberto à sua graça e à força da caridade. Assim a sua existência
torna-se testemunho não de si mesmo, mas do Ressuscitado, e a sua fé não teme
mostrar-se na vida quotidiana, está aberta ao diálogo que expressa profunda
amizade pelo caminho de cada homem, e sabe dar esperança a necessidade de
resgate, de felicidade e de futuro. De facto, a fé é encontro com Deus que fala
e age na história e que converte a nossa vida diária, transformando a nossa
mentalidade, juízos de valor, escolhas e ações concretas. Não é ilusão, fuga
da realidade, refúgio cômodo, sentimentalismo, mas é participação de toda a
vida e é anúncio do Evangelho, Boa Nova capaz de libertar o homem todo. Um
cristão e uma comunidade que sejam ativos e fiéis ao projeto de Deus que nos
amou em primeiro lugar, constituem um caminho privilegiado para quantos vivem
na indiferença e na dúvida acerca da sua existência e ação. Contudo, isto
exige que o testemunho de fé de cada um se torne cada vez mais transparente,
purificando a própria vida para que esteja em conformidade com Cristo.
Hoje
muitos têm uma concepção limitada da fé cristã porque a identificam com um mero
sistema de crença e de valores e não com a verdade de um Deus que se revelou na
história, desejoso de comunicar intimamente com o homem, numa relação de amor
com ele. Na realidade, como fundamento de toda a doutrina e valor está o evento
do encontro do homem com Deus em Jesus Cristo. O Cristianismo, antes de uma
moral ou de uma ética, é o acontecimento do amor, é o acolhimento da pessoa de
Jesus. Por isso o cristão e as comunidades cristãs antes de mais devem olhar e
fazer olhar para Cristo, o verdadeiro Caminho que leva a Deus.
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