Jo 15,1-8 "Sem mim nada podeis fazer".
Que bom depender de Jesus! Que extraordinário saber que temos uma reserva
divina de forças; que não dependemos só dos nossos fracos braços. Que maravilha
poder dizer: 'Senhor, não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima vosso
povo'! Com toda minha fragilidade, Senhor, quero estar agarrado a Ti. Quero que
Tua seiva inunde minha vida e possa participar da Tua natureza. Que minha vida
transmita a Tua para meus irmãos. Amém!
Jo 15,9-11 "Se guardardes os meus
mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do
meu Pai e permaneço no seu amor". Os mandamentos de Jesus explicitados no
evangelho segundo João são: que creiamos no nome dEle e que nos amemos
reciprocamente. O mandamento do Pai para Jesus é que não fizesse nada 'por si
mesmo'. Vivendo assim Jesus mostrou que amava o Pai. Nosso amor a Jesus é a
nossa dependência obediente a Ele e nossa escolha pela fraternidade como estilo
de vida. Nisso está nossa chance de experimentar a alegria plena de que fala
Jesus. Que o Espírito de Jesus nos dê a compreensão dos seus mandamentos e a
força interior para vivê-los!
Jo 15,12-17 "Amai-vos uns aos outros, assim
como eu vos amei". Amar do jeito de Jesus! O amor de Jesus não alimenta
nossas doenças, ele nos cura. Como amar assim? Precisamos de duas coisas: da
cura do coração voltado sobre si e de sermos ensinados a amar. Há em nós um
natural amor de posse, disposto a "roubar" o outro para nós. Este
amor não basta; ele pode até fazer o mal e, normalmente, o faz. Jesus pede um
amor oblativo, disposto a sofrer e perder, se o bem do outro o exigir. A cruz
de Cristo é a perfeição desses dois amores: ele dá a vida para nos conquistar
para si, porque isso é melhor para nós.
Jo 15,26-16,4a "Expulsar-vos-ão das
sinagogas, e virá a hora em que aquele que vos matar julgará estar prestando
culto a Deus". Os discípulos experimentam certa estranheza com o mundo.
Ser expulso da sinagoga é um fato mais que religioso; é ser considerado fora do
povo da promessa, cortado das raízes da eleição. São também tidos como inimigos
do bem, da liberdade, da justa ordem. É um preço alto a pagar! Além da luta
interior, seguir Jesus supõe a disposição a expor a própria vida, a fama, a
consideração dos outros. Senhor, que a tua amizade valha mais para nós que
sermos estimados pelos outros! Amém.
Jo 16,20-23a "A mulher, quando deve dar à
luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança
nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos". A imagem que Jesus usa pra
falar do sofrimento de seus discípulos é iluminadora: um parto. Quem tem a
'grande esperança' vive esse tempo sob a bem-aventurança dos perseguidos por
causa do Reino. Essa é uma palavra pascal, para que vivamos a vida nova em meio
ao mundo velho. Fiquemos alegres, nosso Cabeça já nos precedeu na glória do
céu, nossa pátria. Um dia nos encontraremos lá, onde não haverá mais dor, mas
somente a alegria da comunhão com o 'Inventor da alegria', Jesus
Jo 16,23b-28 "Em verdade, em verdade vos
digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará". Que
que dizer pedir 'em meu nome'? É pedir como se fosse ele mesmo a pedir; algo
feito nele, por ele e com ele. Na comunhão com Jesus Cristo, participamos
daquela 'onipotência suplicante'. O Pai escuta na nossa voz o ecoar da voz de
Jesus, a quem ele sempre escuta. Que vamos pedir hoje? Antes de tudo que seja
selada nossa união com Cristo, tendo seus sentimentos em nós, organizando nossa
vida a partir dos valores dele. Em união com Jesus, vamos pedir com a liberdade
e a confiança de filhos. Depois vamos pedir que venha o Reino, isto é, que seja
derramado sobre todos o Espírito!
Jo 16,29-33 "No mundo, tereis tribulações.
Mas tende coragem! Eu venci o mundo!”. Que quer dizer que Jesus tenha vencido o
mundo? A vitória de Jesus é a obediência ao Pai e o amor até o fim. Ele venceu
a tentação de Adão de ser providência para si mesmo, numa autonomia
individualista. Ele venceu o desânimo que a canseira do amor dá: amou-nos até o
fim. A vitória de Jesus foi decretada pelo Pai que o ressuscitou. Nossa coragem
é alimentada pela fé em Jesus, que ele fez as escolhas adequadas, ensinando-nos
que o caminho que vence não é o do enfrentamento, mas do amor obediente e
disposto a 'morrer' pra produzir fruto. Supliquemos que o Espírito venha em
auxílio de nossa fraqueza, não permitindo que as tribulações do mundo velho
sufoquem a novidade que já começou em nós.
Jo 17,11-19 "Não te peço que os tires do
mundo, mas que os guardes do Maligno". Jesus está em oração pelos
discípulos, por nós. Que quer dizer 'não tirar do mundo'? Não separar os seus,
não isolá-los. Afinal, o mundo é o campo da missão dos discípulos de Jesus. O
que a alma é para o corpo, são os cristãos no mundo. São chamados a animá-lo.
Somos chamados a conviver com quem pensa e vive diferente de nós, sem exigir
que, contra sua liberdade, aceitem algum estilo de vida. Por outro lado, nos sentimos livres para viver nosso específico. Por que Jesus
pede que o Pai nos guarde do maligno? Esse é o mesmo pedido do 'Pai-nosso':
'livra-nos do mal!'. Que o mal não nos tome o interior, nem nos oprima de fora.
Se o mal nos dominar, seremos sal sem sabor, luz escondida. Jesus sabe que
seremos tentados, mas pede que sejamos feitos livres do mal, consagrados à
Verdade, que é Jesus mesmo, a Palavra que o Pai nos deu.
Jo 17,20-26 “QUE TODOS SEJAM UM!”. Jesus ora ao
Pai. Ele roga por nós. O que pede? Nossa unidade. O cristianismo exige um
esvaziamento, exige abrir mão da pretensão de bastar-se. Isso choca os
“adultos” autossuficientes. O cristianismo, por sua natureza, traz um
escândalo: Jesus crucificado, ícone da vida cuja fecundidade passa pela
entrega, o ganho que exige perda. A esse escândalo não podemos nós ajuntar
outros, como é o caso da nossa falta de unidade. Em qualquer nível que faltar a
solidariedade será sempre escandaloso e contrário ao projeto do Pai de que
sejamos “um”. Pode acontecer este escândalo na falta de solidariedade entre o
casal, na família, nas comunidades cristãs, no trabalho. Onde a luta por um
lugar ao sol, para a autoafirmação for mais forte que a busca da comunhão, aí
está o pecado. Somos tentados a nos distinguir. O fato de sermos humanos é a
base para qualquer outra definição. Nossa pertença a esse grupo de humanos já deve
nos gerar uma corresponsabilidade. Temos uma solidariedade profunda. O pecado
nos faz sentir separados. A unidade dos cristãos é o sacramento do que Deus
quer para toda a humanidade. Sejamos conciliadores, pessoas do bem, capazes de
diálogo. Admitamos que pensem e vivam diferente de nós. Que
sejamos um!
Jo 21,15-19 “Simão, filho de João, tu me amas
mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. A
pergunta sobre o amor é a mais comprometedora que existe; é uma pergunta
incômoda. A resposta nos define: de alguma forma somos o que amamos. Tu me
amas? Quem faz essa pergunta, corre algum risco; a resposta não é óbvia.
Sintamo-nos diante desta indagação de Jesus. A resposta definirá o tipo de
existência que escolhemos: cristocêntrica ou egocêntrica. O amor a Jesus
corresponde à fé nele, à obediência a ele. A resposta de Pedro não é
pretensiosa, ela apela ao que Jesus sabe desse amor: limitado, com seus medos e
inseguranças. Pedro não
deixou a pergunta sem resposta.
Jo 21,20-25 "Este é o discípulo que dá
testemunho dessas coisas e que as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é
verdadeiro". Nossa fé se apóia no testemunho dos apóstolos. O que eles
viram, ouviram e tocaram do Verbo da Vida - o que receberam diretamente de Jesus
-, tornou-se o conteúdo da nossa esperança. A Igreja está fundada no testemunho
dos Apóstolos. Nossa gratidão pela fé recebida e dócil acolhida daqueles que,
na comunidade cristã, nos confirmam na fé. Quem atesta para mim que o
testemunho do Apóstolo é verdadeiro? O Espírito Santo através da Igreja.
"Concedei-nos, Deus todo-poderoso, conservar sempre em nossa vida e nossas
ações a alegria das festas pascais que estamos para encerrar" Essa é a experiência
do amor perfeito é a experiência com o Espírito Santo. A experiência com
Espírito Santo exige a entrega dócil da própria vida para que Deus mande em
nós. No fundo
é a disposição à obediência da fé.
Jo 20,19-23 "Depois de ter dito isso,
soprou sobre eles e disse: 'Recebei o Espírito Santo'". Aquele a quem o
Pai encheu do Espírito, ressuscitando-o dos mortos, torna-se doador do
Espírito. O sopro de Jesus é a renovação do sopro original de Deus criador que
faz do 'barro', um ser vivente. O sopro de Jesus faz da fragilidade dos
discípulos, homens destemidos, testemunhas que amam mais a Deus que a própria
vida. O que aconteceu? Experimentaram o Amor no nível mais perfeito, que é a
divina pessoa do Espírito Santo. Hoje suplicamos que o Espírito renove a
Igreja, renove nossa vida, que experimentemos seu fruto: amor, alegria, paz,
paciência, bondade...
Mc 10,28-31 "Em verdade vos digo, quem
tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e
do Evangelho...". O cristianismo exige, na sua essência, uma atitude de
'deixar', uma disposição da criatura que é participar da aventura da cruz,
aquele vazio onde só resta a fé. Afinal, não existe outra alternativa na
existência cristã, senão a existência cruciforme. Essa existência consiste na
aposta crente de que a vida de Jesus é a existência completa, a forma original
que foi por nós oferecida, mas também a nós oferecida como única chance de
plena realização do humano. Quem 'deixar', experimentará a Páscoa: agora com
perseguição, depois na saciedade.
Mc 10,32-45 "Entre vós, não deve ser assim:
quem quiser ser grande seja vosso servo". Assim como? Como os que
'oprimem' e 'tiranizam'. O servo é o que está à disposição: que lava os pés,
que serve à mesa e fica de prontidão para o serviço. Veja que no Reino não são
os mais simples que servem, não são os pequenos que cedem o lugar; a lógica do
Reino inverte a normalidade. Na novidade do Reino, os relacionamentos são
'crucificados' para que sejam renovados na medida de Jesus, o servo. Não há
espaço para a carteirada. Se há alguma voz a se levantar, deverá ser: 'quem
serve aqui sou eu!'. Esse tipo de transformação não acontece por pressão da
base, mas por um retorno de todos à forma de vida do Nazareno com seus
seguidores, nas periferias da Galileia, abertos à possibilidade da cruz que os
espera em Jerusalém, cidade que mata os profetas.
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