Lc 24,35-48 “ABRIU A MENTE DELES PARA QUE ELES ENTENDESSEM AS
ESCRITURAS”.
Por vezes somos preguiçosos na busca do sentido profundo das
coisas. Não dedicamos tempo para refletir sobre as verdades eternas. A palavra
de hoje diz que Jesus “abriu a mente” dos discípulos. Não esqueçamos, o
cristianismo fez a escolha pela palavra, pela clareza e luz; deixou em segundo
lugar o mito, o mágico e não razoável. Aprendamos a ler os acontecimentos da
humanidade e da nossa vida à luz da palavra revelada por Deus. A pessoa de
Jesus, com sua morte e ressurreição, é a Palavra por excelência, a grande chave
de leitura para a vida. Antes das queixas, verifiquemos se não há um sentido
profundo no que nos está acontecendo. Não fique só na própria capacidade
reflexiva, vá à Palavra de Deus revelada.
Lc 24,13-35 "ESTAVAM COMO CEGOS, E NÃO O RECONHECERAM".
A
palavra que aquece o coração e a fração do pão desperta-os da tristeza que
cega. Alegria e otimismo andam juntos; também tristeza e pessimismo. A
percepção de que temos uma Companhia extraordinária no caminho dá olhos novos
sobre a vida, renova as relações, novo vigor para esperar a surpresa de Deus.
Nada mais revolucionário que saber que o DIVINO PEREGRINO armou sua tenda na
nossa história, no caminho da nossa vida.
"Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos
amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida
com Cristo. É por graça que vós sois salvos!" (Ef 2,4-5)
Misericórdia é uma atitude não devida, de uma parte; não merecida, de outra parte. Expressa a essência das ações de Deus em relação a nós, criaturas. Na misericórdia de Deus está toda nossa esperança!
Misericórdia é uma atitude não devida, de uma parte; não merecida, de outra parte. Expressa a essência das ações de Deus em relação a nós, criaturas. Na misericórdia de Deus está toda nossa esperança!
Jo 3,1-8 “QUEM NASCE DO ESPÍRITO É ESPÍRITO”.
Quem nasce do Espírito
Santo participa da sua natureza livre, como o vento. Nascer do Espírito é o
nascimento espiritual, um novo nascimento. A “vida fútil” é pascalizada, porque
mergulhada em Jesus que está cheio do Espírito. Como isso acontece? Quando a
vida de Jesus se torna a forma da nossa vida. O nosso batismo é o sacramento
desse novo nascimento, mas a realidade do novo nascimento pode expressar-se
existencialmente em momento diferente do
sacramento. Tem momentos tão difíceis na vida que desejaríamos recomeçar tudo,
nascer de novo mesmo. Por que não? É sempre possível nascer de novo, viver uma
vida nova, diferente, como novos valores e critérios de juízo sobre a
importância das coisas. As crises na vida servem para isso, para nos ajudar a
escolher uma nova vida, mais autêntica, mais conforme à plenitude de existência
vivida por Jesus Cristo.
Jo 3,7b-15: “O VENTO SOPRA ONDE QUER...ASSIM É TAMBÉM TODO AQUELE QUE
NASCE DO ESPÍRITO”.
Há duas forças que podem nos mover: os nossos impulsos ou a
vontade de Deus; a nós a escolha. A fé – como entrega obediente a Jesus – nos
encaminha para uma liberdade extraordinária. Não se trata de não depender de
ninguém, de ser autossuficiente, mas de ser livre dos impulsos do homem velho,
tornando-se capaz de entender as coisas do céu: o amor a todos, gastar a vida
na doação por amor, fazendo da vontade do Pai o próprio alimento. O vento é
desapegado, maleável, reprograma-se constantemente. Quem nasce do Espírito vive
da novidade da vontade de Deus: se ele pede isso, tudo bem; se ele pede outra
coisa, também tudo bem. Senhor, dá-nos esta liberdade dos filhos de Deus!
Jo 3,7b-15 “TODO AQUELE QUE NELE CRER TENHA A VIDA ETERNA”.
Jesus fala
que a fé nele permite experimentar já agora vida eterna. Que é esta vida
eterna? É aquela vida que Jesus ressuscitado tem em si, não submetida à morte;
essa vida Ele a pode dar a quem decide não viver da própria pequena reserva de
energia, mas aceita viver de fé. Nesta existência crente entra o espaço para o
inesperado de Deus, aceita viver da liberdade “do vento” que sopra onde quer.
Não dá pra ser cristão e preocupado ao mesmo tempo.
Também nós, como Nicodemos, somos tentados sempre de novo a perguntar: “como
isso pode acontecer?”. A relação com Deus gera uma nova existência, abre a vida
estreita e submetida ao marasmo do tempo e da rotina ao extraordinário da vida
revitalizada que nos vem do Ressuscitado. Onde encontramos isso? Nos
sacramentos, no ventre da Igreja, nos irmãos abertos à ação de Deus. Recebemos
esta vida eterna de graça para deixá-la gerar em nós um jeito de viver que
alimenta o próximo, faminto de vida.
Jo 3,16-21: “QUEM NELE CRÊ NÃO É CONDENADO”.
O Juízo acontece na decisão
que tomamos diante de Jesus: crer ou não crer. O que é verdadeiramente crer?
Não é uma mera ação psicológica que leva a um medo ou confiança em face ao
perigo; isso é instintivo. O crer tem a ver com ato da vontade que se dobra
diante do critério oferecido por Deus em Jesus. Não há outro modo de agradar a
Deus senão como Jesus viveu: a obediência e o amor até o fim. Jesus veio para
salvar-nos da queda existencial que nos metemos quando decidimos viver
egocentricamente, a partir de nós e para nós. A alternativa é viver de e viver
para: viver da vontade de Deus e viver como um dom para os outros. Ele nos amou
tanto... vivamos deste amor, ele nos capacitará para vivência adequada.
Jo 3,16-21 ”ASSIM DEUS AMOU O MUNDO: AO PONTO QUE DEU O SEU FILHO”.
O
amor do Pai por nós leva-O a dar o Filho; o amor do Filho por nós leva-O a se
entregar por nós e em nosso lugar. Esse é o amor salvador, que ama a todos e a
todos dá chance de experimentá-lo. O desfecho da vida acontece na resposta que
damos ao amor de Deus manifestado na pessoa de Jesus. Aceitar Jesus é mais que
a adesão a um grupo religioso, é uma nova determinação dada para vida. Não
aceitar Jesus é a escolha pela autossuficiência.
Quem não faz a opção por Jesus passará a vida procurando se justificar,
tentando provar que pode se arranjar na vida por si mesmo. Aqui já está a
condenação: decidir ter somente a si na vida! A fé em Jesus, por outro lado,
coloca na comunhão com a vida que Jesus dá, a vida eterna, aquela que não
morre. Essa vida é dada a todos os que crerem, podendo viver a comunhão dos que
decidiram não esperar só de si a quota de significado para a própria vida.
Fonte: Pe.José Otácio O. Guedes
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