O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

SANTA HILDEGARDA DE BINGEN - DOUTORA DA IGREJA

Bento XVI proclamou em 07.04.2012 Doutores da Igreja: Santa Hildegarda de Bingen e São João de Ávila.

Hildegarda de Bingen, Abadessa beneditina (1078-1179) e o padre espanhol João de Ávila (1500-1569).

O título de Doutor da Igreja Universal é conferido àqueles santos e santas, como precisamente Santa Hildegarda de Bingen e São João D'Ávila, que, com a sua eminente doutrina, contribuiram ao aprofundamento do conhecimento da Revelação Divina , enriquecendo o patrimônio teológico da Igreja e ajudando os fieis a crescerem na fé e na caridade.
De um ponto de vista teológico, os Doutores da Igreja evidenciam aspectos inéditos da verdade evangélica. De um ponto de vista pastoral, suscitam nos fieis um renovado apelo à coerência de vida.- Pode dizer alguma coisa sobre a "eminente doutrina" de Hildegarda de Bingen?
- A benedetina alemã Hildegarda de Bingen, fundadora e abadesa de dois mosteiros, nas suas obras enuncia uma doutrina exímia por profundidade, originalidade e fidelidade à revelação. Animada por uma autêntica caridade intelectual, ela ilustra com densidade de conteúdo e frescura de linguagem o mistério de Deus Trindade, da Encarnação, da Igreja, da Humanidade. Para Hildegarda, por exemplo, o ser humano é visto como uma unidade corpo-alma com uma admiração positiva da corporeidade por ordem de mérito. Que o corpo não tenha sido concedido ao Homem apenas como um peso demonstra-nos o facto que as almas dos santos desejam ardentemente a reunificação com o seu corpo mortal. Por consequência, o cumprimento escatológico significa uma transformação e uma ressurreição do corpo para a vida eterna.

A história da vida de uma das personalidades femininas mais fascinantes da Idade Média. Escritora, compositora e autora teatral, pedagoga e reformadora monástica; como mística, Hildegarda foi uma freira beneditina à frente do seu tempo, que criou uma abordagem humanista à devoção e tornou-se revolucionária do amor, baseando sua vida em uma misteriosa inspiração.

ASSISTA O FILME:
www.youtube.com/watch?v=_aTLe4xZvAM&index=44&list=PLVTWROeuEmCJpRRuv9tBa2m4-IHoC6g2O

O Papa destaca contribuição inteligente e sensível das mulheres à teologia.


VATICANO, 08 Set. 10 / 01:17 pm (ACI).- O Papa Bento XVI dedicou sua catequese das quartas-feiras a seguir refletindo sobre a mística alemã Santa Hildegarda de Bingen e destacou a peculiar contribuição das mulheres à teologia na história.

O Santo Padre explicou desde a Sala Paulo VI que em contribuições como as de Santa Hildegarda "vemos como a teologia também pode receber uma contribuição peculiar das mulheres, porque são capazes de falar de Deus e dos mistérios da fé com sua inteligência e sensibilidade próprias".

Neste sentido, o Papa alentou a "todas as que desenvolvem este serviço a realizá-lo com profundo espírito eclesiástico, alimentando a própria reflexão com a 
oração e tendo em conta a grande riqueza, ainda em parte inexplorada, da tradição mística medieval, sobre tudo aquela representada por modelos luminosos como Hildegarda de Bingen".

Falando sobre a santa Hildegarda de Bingen, o Pontífice recordou que ela "distinguiu-se por sua santidade de 
vida e sua sabedoria espiritual". Sublinhou que as visões místicas das que gozou durante sua vida, "eram ricas em conteúdo teológico. Fazem referência aos principais acontecimentos da história da salvação, e usam uma linguagem principalmente poética e simbólica. Por exemplo, em sua obra mais famosa, titulada ‘Scivias’, quer dizer, ‘Conheça as vias’, resume em trinta e cinco visões os eventos da história da salvação, da criação do mundo ao fim dos tempos. Na parte central de sua obra desenvolve o tema do matrimônio místico entre Deus e a humanidade realizado na Encarnação".

Falando de outros escritos da Santa, o Papa recordou "o "Liber vitae meritorum" (Livro dos méritos da vida) e o "Liber divinorum operum" (Livro das obras divinas), também chamado "De operatione Dei". No primeiro, "sublinha a profunda relação entre o homem e Deus e nos recorda que toda a criação, da qual o ser humano é a cúpula, recebe a vida da Trindade". No segundo, "considerado por muitos sua obra mestra, descreve a criação em sua relação com Deus e a centralidade do homem, com um forte cristocentrismo de sabor bíblico-patrístico".

O Santo Padre assinalou que Hildegarda "ocupou-se da medicina e das ciências naturais, assim como da música. Para ela, toda a criação é uma sinfonia do Espírito Santo, que é em si mesmo alegria e júbilo".

"A popularidade de Hildegarda levava muitas pessoas a consultar-lhe coisas. Dirigiam-se a ela comunidades monásticas de homens e mulheres, 
bispos e abades. Muitas das respostas seguem sendo válidas para nós", acrescentou.

O Santo Padre afirmou que "com a autoridade espiritual da que estava dotada, Hildegarda viajou nos últimos anos de sua vida. Todos a escutavam com gosto, inclusive quando utilizava um tom severo: consideravam-na uma mensageira enviada Por Deus. Recordava sobre tudo às comunidades monásticas e ao clero que deveriam viver conforme sua vocação”.

“Em particular, Hildegarda contrastou o movimento dos cátaros alemães. Os cátaros -que literalmente significa ‘puros’-, propugnavam uma reforma radical da 
Igreja, sobre tudo para combater os abusos do clero. Ela os repreendeu com força por querer subverter a natureza mesma da Igreja, recordando-lhes que uma verdadeira renovação da comunidade eclesiástica não se consegue tanto com a mudança das estruturas, como com um sincero espírito de penitência e um caminho contínuo de conversão. Esta é uma mensagem que nunca devemos esquecer".

"Invoquemos sempre o Espírito Santo para que suscite na Igreja mulheres santas e valentes, como santa Hildegarda de Bingen, que apreciando os dons recebidos de Deus, contribuam sua preciosa e peculiar contribuição para o crescimento espiritual de nossas comunidades e da Igreja em nosso tempo", concluiu.

 Sua trilogia teológica
Liber scivias Domini

Primeira visão do Liber scivias Domini.
Iluminura do Scivias mostrando a estrutura do cosmos.
Seu primeiro livro descrevendo suas visões, o Liber scivias Domini, cujo título é uma abreviação de Scito vias Domini (Conhecei os caminhos do Senhor), foi escrito entre 1141 e 1151 e foi em sua vida o mais conhecido e apreciado. Foi o livro cujo esboço o papa Eugênio III leu e aprovou, trazendo-lhe uma fama imediata. O público pretendido por Hildegarda para ele foi o dos clérigos e monges, com um intuito de corrigir sua indolência, como lhe ordenou Deus: "Mostrai-lhes a inutilidade dos mistérios que eles, tímidos como são, escondem em um campo oculto e estéril. Jorrai como uma fonte de abundância, e inundai-os com o conhecimento místico, até que eles, que agora te julgam desprezível por causa do erro de Eva, renasçam com as grandes águas de tua irrigação".57 É uma obra alentada dividida em três volumes, contendo cada um, respectivamente, seis, sete e treze visões. O primeiro volume abre com uma descrição do Reino dos Céus. O principal tema dessa parte é a origem do pecado no mundo, explicada como advinda da rebelião de Lúcifer e a consequente queda de Adão e Eva. Então segue o exame das consequências disso para o mundo e para a humanidade. Em alguns pontos ela antecipou o remédio para o mal, que seria a Encarnação de Cristo, mas não a inseriu numa perspectiva cronológica. Antes trabalhou sobre o contraste entre a Sinagoga, ou a Antiga Dispensação, e a Igreja, a Nova Dispensação, e a visão final do primeiro volume aborda as hierarquias angélicas. A temática do segundo volume é a obra divina da redenção da humanidade, falando sobre a vinda de Cristo, as pessoas da Trindade e sobre a eclesiologia, incluindo seções sobre as virtudes dos Sacramentos. O volume final retoma os temas principais abordados antes numa perspectiva mais vasta, histórica e arquitetural, recapitulando as etapas da queda e da salvação do homem, tanto coletiva como individualmente. Estabelece um painel do Juízo Final e encerra com 14 peças musicais em forma de um pequeno drama sacro que compõem a primeira versão do auto musicado Ordo Virtutum, coroando de forma dramática sua descrição da origem e destino final do homem com uma ilustração teatral e musical das beatitudes do Paraíso.58 A seguir se transcrevem, a título de ilustração, dois trechos da IV Visão do II Volume, referente o primeiro à descrição simbólica da Igreja, e o segundo à explicação dada pela voz que ouvia:
"Então eu vi como se fosse uma imensa torre circular inteiramente construída de pedra branca, com três janelas no topo, de onde saía uma luz tão clara que até mesmo o teto cônico da torre parecia translúcido. As janelas eram decoradas com as mais belas esmeraldas. E esta torre estava colocada como que no dorso da imagem da mulher (a Igreja) que já citei, como uma torre que é construída na muralha de uma cidade, de forma que a imagem não poderia de forma alguma ser abalada por causa de sua solidez e força…"
"Pois a razão pela qual viste uma grande torre redonda toda feita de pedra branca é porque a suavidade do Espírito Santo é imensa e engloba totalmente todas as criaturas em sua graça, de modo que nenhuma corrupção na integridade da plenitude da sua justiça a pode destruir; e, brilhando, indica o caminho e emana todos os rios de santidade na claridade de sua força, onde não se pode achar mácula alguma de insensatez. Portanto o Espírito Santo é um fogo cuja ardente serenidade, acendendo as virtudes ígneas, jamais será destruída e assim afugenta toda a escuridão".59
Neste livro ela introduziu o conceito da viriditas, que percorre todas as suas outras obras, significando literalmente "verdor", mas que é empregado tanto no sentido da cor verde das plantas como no de ser uma qualidade vivificante do Espírito Santo que é infusa em toda a Criação. Como obra visionária, segundo o que pensam Bishop & Hart, o Scivias é único, e como suma de doutrina se alinha à melhor produção de seu tempo, comparável às obras de um influente contemporâneo seu, Hugues de Saint-Victor, particularmente ao Sobre os Sacramentos da Fé Cristã, que é em muito similar. Mas o tom da narrativa é todo diferente: enquanto que Hugues fez uma meditação privada em seu próprio nome, Hildegarda não raro falou em nome de Deus. Seu estilo de escrita sofre com um latim um tanto desajeitado, não obstante o monge Volmar tê-lo revisado e corrigido. O Scivias pode ser lido de uma variedade de maneiras - como uma proclamação profética, um livro de alegorias, um estudo de exegese e uma suma teológica. Cada visão era acompanhada, no manuscrito original definitivo de c. 1165 produzido em Rupertsberg, por uma iluminura, elaboradas por algum de seus assistentes, sob a sua direta supervisão, e são tão originais em seu estilo plástico quanto o conteúdo e o estilo textual de Hildegarda. Esse manuscrito foi perdido na II Guerra Mundial, mas por fortuna em 1927 havia sido feita uma cópia fac-similar em pergaminho, preparada pelas monjas de Eibingen. 60
Liber vitae meritorum
O segundo livro de visões, Liber vitae meritorum, é um tratado de ética que trabalha sobre a oposição entre os vícios e as virtudes, um tema que era comum em sua época. O texto é dominado por uma figura monumental que representa Cristo ou Deus. Ela reaparece ao longo das visões; seus pés assentam no abismo das águas e a cabeça se perde no éter, enquanto que nuvens ígneas de virtudes emanam de sua boca. As virtudes não são vistas individualmente, mas sua voz é ouvida, ou são representadas por símbolos. Os vícios são descritos em formas grotescas que misturam partes humanas e animais, e falam uma linguagem muito grosseira mas muito sedutora. Parte do sucesso deste livro vem de sua habilidade no dar voz àquelas entidades abstratas em diálogos de grande eficiência. Trinta e cinco virtudes são contrapostas a trinta e cinco vícios, e as visões concluem por enfatizar a responsabilidade e a liberdade do homem na escolha de seu caminho e informam sobre as consequências de sua opção. O livro também oferece um painel das práticas penitenciais de seu tempo, e é muito possível que tenha sido usado como um manual prático para as monjas não só de Rupertsberg, mas também dos mosteiros de Gembloux e Villiers. Outra característica interessante do texto é ter sido um dos primeiros tratados de ética religiosa a incluir uma detalhada descrição e explicação do Purgatório, cuja doutrina há pouco havia sido formulada.61 62
Liber divinorum operum
A trilogia se encerra com o seu Liber divinorum operum, escrito quando Hildegarda já tinha mais de sessenta anos de idade e já era famosa como escritora e conselheira espiritual. O livro é um vasto painel de toda a criação divina, e aborda três temas principais: o mundo da humanidade, o mundo além e a história da salvação desde Adão e Eva até o Juízo Final. Seu esquema narrativo é o mesmo do Scivias: uma visão introduz cada nova seção principal, e que é descrita em detalhe. Depois uma voz desce do céu para explicar o significado do que foi visto. Embora o conteúdo revelado sobrenaturalmente tenha a clara primazia em termos de autoridade, Hildegarda não se furtou de acrescentar inúmeros comentários próprios que dão explicações mais claras ou enfatizam algum ponto importante. Como a maioria dos teólogos de seu tempo, Hildegarda via nas Escrituras mais do que seu significado literal e histórico, e buscava sua explicação profunda através de leituras simbólicas, moralizantes e alegóricas. Ao final de cada seção aparece um exortação para que o leitor use o texto de moto para suas penitências e meditações, e o livro como um todo é fechado com uma severa advertência para que futuros copistas não acrescentem ou removam uma só letra ao que foi escrito, sob pena de o autor de tal profanação cometer um pecado contra o Espírito Santo - imperdoável - e ser excluído do Livro da Vida de Deus. O manuscrito que contém as iluminuras, o Codex 1942 da Biblioteca Estatal de Lucca, é posterior à sua morte, mas parece copiar a fonte original. O livro se abre com a figura alada monumental da Caridade/Amor, que engloba em si todo o universo criado.63 64 Diz ela:
Caritas, a primeira visão do Liber divinorum operum.
Liber divinorum operum: o homem divino.
"Eu sou a suprema e incandescente força que acendeu todas as centelhas vivas, e eu não criei coisa alguma morta… e eu sou a vida ígnea da essência de Deus: Eu ardo acima da beleza dos campos, eu brilho nas águas, eu queimo no sol, na lua e nas estrelas… Sou também a Razão. É meu o trovão da sonora Palavra pela qual toda criação veio à existência, e eu animei todas as coisas com meu alento de modo que nenhuma é mortal em seu gênero, pois eu sou a Vida".65
Boa parte do livro está concentrada na descrição da constituição e forma do ser humano, compreendendo seu corpo físico e sua alma, correlacionando a forma humana com vários aspectos do microcosmo e do macrocosmo, como ilustração de um extenso comentário aos 14 primeiros versículos do Evangelho de São João e ao livro do Gênesis. Todas as partes do corpo são carregadas de simbolismo.63 Um exemplo:
"A esfera do crânio indica o poder dominante da humanidade… Deus revela através de nossos olhos o conhecimento pelo qual Deus prevê e conhece tudo de antemão… Deus se nos revela através de nossa habilidade de ouvir todos os sons da glória sobre os mistérios ocultos… pelo nosso nariz Deus mostra a sabedoria que reside como um oloroso senso de ordem em todas as obras de arte… por nossa boca Deus indica a Palavra divina, a Palavra pela qual Deus criou todas as coisas…".66
A forma humana é vista, pois, como o modelo divino da Encarnação, de acordo com o conceito básico apresentado no Gênesis, e é louvada como uma manifestação da vitalidade, amor e beleza de Deus. Corpo e alma são concebidos como uma unidade integral, onde as forças da natureza e do espírito interagem em harmonia, e servem como um espelho e objetivo para toda a obra da Criação. "Deus inscreveu toda sua obra na forma humana", escreveu. Assim a criação do universo estava ligada indissoluvelmente à criação da forma humana, e mais do que isso, aquela estava quase que subordinada a esta, já que para Hildegarda a Encarnação do Verbo divino estava prevista desde antes do Tempo e a forma humana serviria como o instrumento privilegiado para a reunião da criatura com o Criador após o longo trajeto desde a origem do universo até sua redenção.63
Ao mesmo tempo, dizia que a vida que animava o homem era a mesma que animava todo o universo, e que o universo criado era a luz do homem, significando que o trabalho da Redenção estava na dependência do entendimento do mundo, e por consequência, do entendimento da vontade divina. Nesse sentido, até mesmo as paixões humanas, tantas vezes condenadas por outros escritores cristãos de sua época, eram vistas como parte integral do plano divino. Entretanto, ela não foi muito além do reconhecimento e aceitação puros e simples do estado de coisas da humanidade, pois numa perspectiva ideal ainda pensava que o ser humano devia aspirar à reconquista da inocência edênica, o que necessariamente excluía toda a sexualidade. Tendo de administrar ideal e real, concebeu uma teoria da sexualidade muito sutil e ambígua, e de certa forma precária. Comparando o desejo humano à fertilidade da terra, reconhecia que ele dava à luz uma pletora de riquezas, e também que o sexo era fonte de prazer, mas via o corpo como um instrumento da alma que devia ser disciplinado para que se formasse uma cooperação entre ambos, potencialmente confortável e prazerosa, e para que o objetivo primeiro da salvação da alma pudesse ser alcançado.67 Escreveu:
"E assim a alma diz depois de sua vitória: Oh minha carne, e vós, meus membros, onde fiz minha morada! Quanto me regozijo de ter sido enviada a vós, e de ver que estais em acordo comigo, e que com isso me encaminheis para minha recompensa eterna!"68
O Liber divinorum termina com uma seção dedicada à escatologia, pintando o Juízo Final em cores escuras, provavelmente estando Hildegarda abalada com o cisma de 1159. Embora em suas cartas ela se recusasse a comentar o assunto, alegando ter sido proibida por Deus de fazê-lo, alusões a um cisma, ainda que inespecífico, são claras no final do livro, colocando a imagem da Justiça a invectivá-lo sonoramente. Também o clero não aparece sob uma luz favorável, sendo acusado de muitos vícios e de submersão nos assuntos mundanos. O tom do livro é bem mais pesado que o do Scivias, mas a estrutura do cosmos que dele emerge é muito mais poderosamente organizada.69
Ciência natural
Sobre este tema Hildegarda escreveu o Liber subtilitatum diversarum naturarum creaturarum, (Livro das propriedades - ou sutilezas - das várias criaturas da natureza), dividido em Physica (Liber simplices medicinae) (Física - Livro da medicina simples) e Causae et curae (Liber compositae medicinae) (Causas e curas - Livro da medicina complexa). Não se sabe como ela veio a adquirir seu conhecimento; sua atividade como médica foi toda informal e sua formação nesse campo aconteceu provavelmente de forma autodidata, mas ela pode ter recebido uma base terapêutica prática com Jutta e os monges de Disibodenberg durante seu noviciado. Fazia parte das obrigações das superioras conventuais velar pela saúde de suas monjas, mas a prática profissional do ofício exigia formação universitária, o que era vedado às mulheres.34 Seja como for, pelo conteúdo do tratado se infere que ela estava familiarizada com a medicina de Galeno, de Hipócrates, as práticas árabes e o curandeirismo tradicional alemão, e deve ter ampliado seus conhecimentos com a prática de atendimento a doentes no seu mosteiro. Também deve ter conhecido as obras de naturalistas antigos como Plínio, o Velho e Isidoro de Sevilha, bem como os bestiários e livros de maravilhas de sua época, e as teorias dos temperamentos, dos fluidos corporais e dos humores, estabelecidas desde a Antiguidade, mas fez muitas observações originais e inventou diversas terapias novas. O texto traça um panorama abrangente das práticas medicinais disponíveis em sua época, derivadas das tradições pagãs greco-romanas, muçulmanas, cristãs efolclóricas, e fica clara sua concepção de que a natureza e o homem são espelhos mútuos e integrados. O Liber subtilitatum foi o primeiro livro de ciência natural escrito no Sacro Império Romano-Germânico, permanecendo uma influência para o estudo da Botânica na Europa do norte até o século XVI, mas ainda espera dos pesquisadores estudos mais detidos que o posicionem mais corretamente no contexto do desenvolvimento da ciência e medicina medievais.24 70 Suas ideias têm sido apontadas como uma referência para os adeptos modernos damedicina holística.44
As estações e o cultivo da terra, iluminura do Liber divinorum operum.
A primeira parte tem o caráter de uma enciclopédia e descreve as propriedades dos elementos naturais como os rios e lagos, o ar e a terra, as pedras preciosas, plantas, animais e minerais, na perspectiva de seu uso medicinal pelo homem. O texto não é visionário, mas a interpretação das propriedades desses elementos se encaixa em sua teologia geral, avaliando a natureza sob premissas cristãs. Considerava que ela fora desvirtuada através da queda de Adão e Eva, mas identificava vários domínios naturais ainda intactos e portadores de um valor sacramental. Muitas das práticas terapêuticas que ela descreveu têm um interesse apenas histórico, mas outras foram confirmadas pela ciência moderna e permanecem válidas. Também assinalou a importância do conhecimento do natural para o bem-estar do homem, e a necessidade do uso das forças da natureza em aliança com a graça salvífica de Cristo, sempre atribuindo o resultado da intervenção terapêutica à vontade divina. Para ela bênçãos e maldiçõestinham uma realidade concreta, e muitas de suas práticas curativas traziam um elemento de magia ou de prece. Um exemplo é sua receita para curar a loucura nascida de uma maldição, onde recomendou que se passasse uma certa pedra preciosa através de uma fenda em forma de cruz aberta na casca de um pão aquecido, enquanto o terapeuta devia recitar as palavras: "Deus, que privou o diabo de todas as pedras preciosas, se este mandamento foi quebrado, remova de (fulano) todas as fantasias e palavras mágicas, levando com elas o sofrimento da loucura".71
Causae et curae tem uma estrutura bem mais frouxa e um conteúdo mais heteróclito, e aparentemente nunca recebeu uma redação definitiva pela autora; possivelmente foi compilado como um manual prático para seu uso pessoal. Traz uma miscelânea de tradições folclóricas sobre Adão e Eva, notas astrológicas, mas sobretudo enfoca o corpo humano, estudando sua anatomia e fisiologia.72 Para Hildegarda boa parte das doenças do homem derivam das consequências do pecado original, da perda da harmonia e moderação primitivas e da integração entre Criador, natureza e criatura, e se recusava a ver a doença como um assunto exclusivamente de ordem física, fazendo constantes conexões entre os males que afligiam a alma e aqueles de que padecia o corpo.73 Ademais, também deu instruções sobre higiene geral e para as gestantes e mães, e com uma franqueza inédita em sua época, abordou a sexualidade e suas disfunções, provendo remédios para elas. Fez também uma detalhada análise do desejo e do prazer, e embora visse o ato sexual e o prazer positivamente, comparando-os à música, e o corpo humano a um instrumento musical, muito de sua apreciação positiva é obscurecida na análise e condenação da luxúria.71 74 Via o relacionamento entre homem em mulher - num sentido lato - essencial para a própria definição de seus gêneros, e, como assinalou Heinrich Schipperges, para Hildegarda
"Homem e mulher foram atraídos um para o outro desde um plano espiritual, e se manifestaram na encarnação como seres sexuados. Esta visão, expressa claramente, era de todo incomum na Idade Média. Homem e mulher estavam assim tão interligados que um era o verdadeiro produto do outro. (sic ad invicem admisti sunt, ut opus alterum per alterum est). Sem a mulher, o homem não poderia ser chamado de homem; sem o homem a mulher não poderia ser chamada de mulher (quia vir sine femina vir non vocaretur, nec femina sine viro femina nominaretur). Homem e mulher obviamente haviam sido criados um para o outro."75
Música e poesia
Ver artigo principal: Canto gregoriano, Modos gregos, Música medieval
Fólio 466 recto do Riesencodex, onde aparece um trecho da Symphonia armonie celestium revelationum.
A técnica da música de Hildegarda se insere em linhas gerais, mas com diferenças importantes, no contexto do canto gregoriano. Não fez uso dos recursos harmônicos e rítmicos que estavam sendo introduzidos pelos proto-polifonistas da Catedral de Notre-Dame de Paris, e sua música, até onde se pôde descobrir, é inteiramente monódica e melódica, embora ela possivelmente estivesse familiarizada com a técnica doorganum76 e o estilo de seu melodismo incorpore elementos da vanguarda musical de sua época e seja ele mesmo inovador em vários aspectos. Os poemas que servem de substrato à música, sempre em latim, são construídos livremente, em versos brancos com metrosdesiguais, e com estruturas estróficas flexíveis, adaptando-se ao conteúdo textual.77 78 Sua música é modal, mas emprega os modos com muita liberdade, e é típico de seu estilo o uso intensivo do mais instável de todos, o frígio. Usa frequentes melismas com finalidades expressivas, alguns de até cinquenta notas sobre palavras particularmente importantes, com um caso de oitenta notas na antífona O vos angeli; trabalha numa tessitura ampla de mais de duas oitavas, em certas peças quase três oitavas, exigindo muito do intérprete e sendo um caso único na música vocal medieval, e sua construção melódica se faz amiúde através de graus disjuntos, sendo muito comum um salto de quintaascendente que é sua marca registrada. Para construir a forma total da composição emprega a variação motívica, com um fragmento melódico reconhecível que aparece várias vezes ao longo da peça em contextos diversos, e usa muitas vezes seções em modos distintos com fins estruturais.16 78 É provável, a partir de algumas alusões de Hildegarda, que ela tenha empregado rotineiramente recursos instrumentais acessórios, capazes de prover algum grau de heterofonia ornamental, mas não sobrevive nenhuma partitura com notação de instrumentos, e restam apenas as linhas vocais.79
A produção de Hildegarda está compreendida em duas obras: o auto sacro Ordo Virtutum (A Ordem das Virtudes) e a Symphonia armonie celestium revelationum (Sinfonia da Harmonia das Revelações Celestes), uma coletânea heterogênea de 77 canções para uso litúrgico ou semi-litúrgico. É importante assinalar que sua produção poética-musical é toda de cunho moralizante e pedagógico, está intimamente ligada aos seus escritos teológicos, e foi-lhe inspirada durante suas inúmeras visões. E mais do que isso, completamente alheia aos dilemas morais de outros compositores sacros de seu tempo, acusados de introduzirem excessiva beleza sensual nas longas e floridas linhas melódicas que se tornavam comuns, e de com isso distraírem perigosamente quem atendia ao serviço divino, Hildegarda via a música como parte quintessencial do ser humano - ele não poderia viver sem ela, pois reunia de forma única alma e corpo e também de certa forma compensava a perda do Éden.80 A música tinha, para Hildegarda, poderes imensos:
"…a música de júbilo suaviza os corações endurecidos, e lhes extrai as lágrimas de compunção, invocando o Espírito Santo… e as canções atravessam (os corações) de modo que eles possam compreender a Palavra perfeitamente; pois a graça divina assim age, banindo toda escuridão, e tornando luminosas todas as coisas que são obscuras para os sentidos corpóreos por causa da fraqueza da carne".81
"Na música se pode ouvir o som da paixão que arde no peito de uma virgem. Podemos ouvir o botão se tornando flor. Podemos ouvir o fulgor da luz espiritual brilhando do céu. Podemos ouvir a profundidade do pensamento dos profetas. Podemos ouvir a sabedoria dos apóstolos se espalhando pelo mundo inteiro. Podemos ouvir o sangue a pingar das chagas dos mártires. Podemos ouvir os mais íntimos movimentos do coração que caminha para a santidade. Podemos ouvir a alegria de uma menina diante da beleza da terra de Deus. Na música a criação devolve para seu Criador seu júbilo e sua exultação; e dá graças por sua própria existência. Também podemos ouvir na música a harmonia entre pessoas que antes eram inimigos e agora são amigos. A música expressa a unidade do mundo como ela era no princípio, a unidade que é restaurada através da penitência e da reconciliação"82
Outros diferenciais são que suas composições foram criadas para serem cantadas por mulheres e a temática do feminino é recorrente no texto; alusões à corporalidade da prática musical e à musicalidade do corpo também são comuns. Disse ela que o cantor é como um instrumento musical de Deus, e que "as palavras simbolizam o corpo, e a música jubilosa revela as atividades do espírito; a harmonia celestial nos mostra Deus, e as palavras, a humanidade do Filho de Deus". Nesse sentido, segundo a análise de Bruce Holsinger, a música vivificava sualiturgia assim como a harmonia celeste vivificava o corpo de Cristo, e sugere que para ela o canto apontava para a imanência da vida espiritual dentro da carne e para a própria Encarnação divina.81 As reiteradas menções ao prazer do canto e ao corpo, particularmente ao corpo feminino, quando Hildegarda teorizou sobre música, a temática do feminino tão presente nos poemas que musicou, e o estilo muitas vezes ricamente ornamental de suas melodias, desviando-se radicalmente da moderação e economia prescritas pela maioria dos teóricos da música sacra do século XII, têm dado margem a uma série de especulações contemporâneas sobre as possíveis ligações de sua concepção musical com as problemáticas dohomoerotismo e da sublimação do desejo no contexto do ambiente monástico, aspectos que têm sido trazidos à evidência por numerosos pesquisadores também quando analisam outros compositores sacros de sua época, como sumarizou Holsinger.83 O que é certo é que a música ocupou um lugar de enorme relevo na vida da comunidade monástica regida por Hildegarda, e todo ofício sacro era decorado com canto. Segundo Barbara Newman era um lugar-comum monástico em seu tempo pensar que o canto agradava a Deus quando era desempenhado com uma mente atenta e um coração devoto, imitando dessa forma os coros angélicos que se dizia estarem perpetuamente louvando a divindade em cantos exaltados, o que seguia uma tradição que remontava à Antiguidade pré-cristã.79
Até pouco tempo atrás sua música permaneceu ignorada pelos historiadores em vista de seu estilo muito distinto das correntes principais da música medieval, mas diversos estudos recentes têm enfatizado a originalidade de sua criação, assim como fizeram seus próprios contemporâneos.84 Suas composições tem ganhado destaque nos programas de música erudita; já há uma discografia significativa e em 1994 o álbum Vision: The Music of Hildegard von Bingen, harmonizando suas melodias vocais com recursos eletrônicos, vendeu 450 mil exemplares e permaneceu por dezesseis semanas no topo da lista Billboard na categoria de música clássica crossover.85
Ordo Virtutum
A Alma humana, iluminura do Scivias.
O auto musicado Ordo Virtutum foi a primeira peça dramática de seu gênero a ser escrita. Deve ter sido composta em torno de 1151, quando ela estava finalizado o Scivias, e de fato uma primeira versão da peça está inclusa no final do livro. É em linhas gerais uma dramatização musicada da luta de uma alma que caiu em pecado em busca de redenção. Os personagens principais são a Alma, o Demônio e as personificações das várias Virtudes que concorrem para o resgate da alma caída, e o texto tem uma clara função moralizante. Cada Virtude tem pelo menos uma seção solo onde descreve suas características. No final a Alma redimida é levada para o céu, enquanto que as Virtudes, lideradas pela Humildade, acorrentam o Demônio.86
A principal fonte documental da obra é o Riesencodex, que traz uma versão contínua, mas em edições modernas o texto foi subdividido em seções. A peça inicia com um Prólogo que apresenta ao público as Virtudes e um coro de Patriarcas e Profetas. Na Cena I um coro de Almas em pranto lamenta as dificuldades da vida na Terra, enquanto que uma delas, a Alma protagonista, celebra, e no final da cena ela acaba desencaminhada pelos argumentos persuasivos do Demônio. A Cena II apresenta em sequência todas as Virtudes, que cantam em solos alternados com passagens em coro. Na Cena III o coro das Almas deplora a perda de uma delas para o mundo, e tentam convencê-la a corrigir seu comportamento. A Cena IV, final, mostra o diálogo entre o Demônio e as Virtudes, que por fim o derrotam e resgatam a Alma. A peça encerra com um coro que sumariza a história do povo de Deus, narrando a Criação, a queda da Natureza e o sofrimento de Cristo.16
Musicalmente a Ordo Virtutum é um exemplo bastante típico do estilo desenvolvido por Hildegarda. Emprega uma larga tessitura vocal, com uma escrita neumática na maior parte do texto, mas com muitas passagens melismáticas, e em vários pontos aparece a sua típica figura de quinta ascendente. A parte do Demônio não é cantada, mas recitada, e devia ser interpretada com rudeza e espalhafato, de acordo com indicações explícitas na partitura, a fim de evidenciar sua carência de harmonia, o que faz um forte contraste com o restante da música. Em muitos momentos há ilustrações musicais do conteúdo do texto, como por exemplo na tessitura instável da parte da Alma, que ilustra seu caráter fraco e suas emoções rebeldes, ou quando passagens em notas agudas indicam sentimentos nobres enquanto que notas graves retratam a aflição ou o desespero. As passagens mais melismáticas aparecem quando as Virtudes descrevem a si mesmas, o que parece querer ilustrar seu caráter sublime e transcendente. De acordo com instruções de Hildegarda os personagens deviam usar figurinos adequados para seu caráter.16
·         Trecho do Ordo Virtutum: O frondens
Symphonia armonie celestium revelationum
Esta coletânea compreende composições em vários gêneros - antífonas, responsórios, sequências, hinos, um Kyrie eleison e um Alleluia - e foi composta a partir de 1150 em peças individuais, mais tarde compiladas juntas. O texto poético dessas pequenas obras é muito próximo da prosa, mas em um estilo artificioso conhecido como Kunstprose (prosa artística). Hildegarda fez um uso muito versátil e criativo do relativamente reduzido vocabulário poético e das formas sintáticas convencionais de que dispunha, e se valeu de justaposições originais de imagens simbólicas que produzem efeitos grandiloquentes e vigorosos, obtendo sonoridades que são musicais independentemente da música. Seus temas geralmente celebram a Encarnação de Cristo, o espelhamento entre humanidade e natureza e a excelsitude das mulheres santas, e o estilo musical do conjunto é em tudo semelhante ao que já foi descrito acima, mas a variedade de soluções formais torna impossível aqui uma análise, mesmo sucinta, das 77 composições individualmente. Não pôde ser determinado com exatidão como essas peças deveriam ser incluídas na liturgia, pois apenas em algumas delas há indicações claras, e a diversas delas é especialmente difícil atribuir um emprego dentro dos ofícios sacros regulares em função de seu estilo muito ornamental; devem, pois, possivelmente ter-se destinado à devoção privada ou para uso em procissões.87 88 A seguir um dos poemas musicados na Symphonia,O viridissima virga:

 fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hildegarda_de_Bingen#Sua_trilogia_teol.C3.B3gica

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