Catequese sobre o Pai Nosso - 1
- A ORAÇÃO DO PAI NOSSO
Prezados irmãos e irmãs, bom
dia!
Hoje iniciamos um ciclo de
catequeses sobre o “Pai-Nosso”.
Os Evangelhos transmitiram-nos
alguns retratos muito vivos de Jesus como homem de oração: Jesus
rezava. Não obstante a urgência da missão e a premência de tantas pessoas que o
reivindicavam, Jesus sentia a necessidade de se afastar na solidão e de orar. O
Evangelho de Marcos narra-nos este pormenor desde a primeira página do
ministério público de Jesus (cf. 1, 35). O dia inaugural de Jesus em Cafarnaum
concluiu-se de modo triunfal. Ao anoitecer, uma multidão de doentes chegou à
porta onde Jesus estava: o Messias prega e cura. Realizam-se as antigas
profecias e as expectativas de muitos sofredores: Jesus é o Deus próximo, o
Deus que nos liberta. Mas aquela multidão ainda é pequena se for comparada a
muitas outras multidões que se reunirão em volta do profeta de Nazaré; em
certos momentos trata-se de assembleias oceânicas, e Jesus permanece no centro
de tudo, o esperado pelo povo, o êxito da esperança de Israel.
E no entanto ele afastava-se;
não permanecia refém das expectativas de quem o elegeu líder. Este
é um perigo para os líderes: apegar-se demasiado às pessoas, não manter as
distâncias. Jesus dá-se conta disto e não permanece refém do povo. Desde a
primeira noite de Cafarnaum demonstra que é um Messias original. Na última
parte da madrugada, quando já se anunciava a aurora, os discípulos
procuravam-no mas não conseguiam encontrá-lo. Onde está? Até que Pedro
finalmente o encontra num lugar isolado, completamente absorto em oração. E
diz-lhe: «Todos te procuram!» (Mc 1, 37). A exclamação parece ser a
cláusula ligada a um sucesso plebiscitário, a prova do bom êxito de uma missão.
Mas Jesus diz aos seus
discípulos que deve ir para outro lugar; que não é o povo que o procura mas,
antes de tudo, é Ele que procura os outros. Por isso não pode ganhar raízes,
mas permanece continuamente peregrino pelas estradas da Galileia (vv. 38-39). E
peregrino também rumo ao Pai, isto é: rezando. A caminho em oração. Jesus reza.
E tudo acontece numa noite de oração.
Nalgumas páginas da Escritura
parece que principalmente é a oração de Jesus, a sua intimidade com o Pai, que
governa tudo. Por exemplo, será assim sobretudo na noite do Getsemani. O último
trecho do caminho de Jesus (absolutamente o mais difícil entre os que tinha
percorrido) parece encontrar o seu sentido na escuta contínua que Jesus oferece
ao Pai. Uma oração certamente não fácil, aliás, uma verdadeira “agonia”, no
sentido agnóstico dos atletas, e no entanto uma prece capaz de apoiar o caminho
da cruz.
Eis o ponto essencial: ali Jesus
rezava.
Jesus orava com intensidade nos
momentos públicos, partilhando a liturgia do seu povo, mas procurava também
lugares afastados, separados do turbilhão do mundo, lugares que permitissem
entrar no segredo da sua alma: é o profeta que conhece as pedras do deserto e
sobe aos cimos dos montes. As últimas palavras de Jesus, antes de expirar na
cruz, foram palavras dos salmos, isto é da oração, da prece dos judeus: rezava
com as orações que a mãe lhe ensinara.
Jesus orava como todos os homens
do mundo. E no entanto, no seu modo de rezar, havia também um mistério, algo
que certamente não escapava aos olhos dos seus discípulos, se nos Evangelhos
encontramos aquela súplica tão simples e imediata: “Senhor, ensina-nos a
rezar” (Lc 11, 1). Eles viam Jesus rezar e tinham vontade de
aprender a orar: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E Jesus não se recusou, não era
ciumento da sua intimidade com o Pai, pois veio precisamente para nos
introduzir nesta relação com o Pai. E assim torna-se mestre de oração dos seus
discípulos, como certamente quer sê-lo para todos nós. Também nós devemos
dizer: “Senhor, ensina-me a rezar. Ensina-me”.
Mesmo se rezamos há muitos anos,
devemos aprender sempre! A oração do homem, este anseio que nasce de maneira
tão natural da nossa alma, talvez seja um dos mistérios mais impenetráveis do
universo. E não sabemos sequer se as preces que dirigimos a Deus são efetivamente
aquelas que Ele quer que lhe dirijamos. A Bíblia dá-nos inclusive testemunho de
orações inoportunas, que no fim são recusadas por Deus: é suficiente recordar a
parábola do fariseu e do publicano. Somente este último, o publicano, volta
justificado do templo para casa, porque o fariseu era orgulhoso e gostava que
as pessoas o vissem rezar e fingia que orava: o coração era frio. E Jesus
disse: este não é justificado «porque quem se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado» (Lc 18, 14). O primeiro passo para rezar é
ser humilde, ir ter com o Pai e dizer: “Olha para mim, sou pecador, débil,
malvado”, cada um sabe o que dizer. Mas começa-se sempre com a humildade, e o
Senhor ouve. A prece humilde é ouvida pelo Senhor.
Portanto, ao iniciar este ciclo
de catequeses sobre a oração de Jesus, o melhor e mais correto que todos
deveríamos fazer seria repetir a invocação dos discípulos: “Mestre, ensina-nos
a rezar!”. Será bom, neste tempo de Advento, repetir: “Senhor, ensina-me a
rezar”. Todos podemos ir além e rezar melhor; mas pedindo-o ao Senhor: “Senhor,
ensina-me a rezar”. Façamos isto neste tempo de Advento e Ele certamente não
deixará cair no vazio a nossa invocação.
Catequese sobre o Pai Nosso - 2
- "PEDIR COM CONFIANÇA"
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Prossigamos o caminho de
catequeses sobre o “Pai-Nosso”, iniciado na semana passada. Jesus põe nos
lábios dos seus discípulos uma prece breve, audaz, formada por sete pedidos —
um número que na Bíblia não é casual, indica plenitude. Digo audaz, porque se
Cristo não a tivesse sugerido, provavelmente nenhum de nós — aliás, nenhum dos
teólogos mais famosos! — ousaria rezar a Deus desta maneira.
Com efeito, Jesus convida os
seus discípulos a aproximar-se de Deus e a fazer-lhe com confidência alguns
pedidos: antes de tudo em relação a Ele e depois em relação a nós. Não há
prefácios no “Pai-Nosso”. Jesus não ensina fórmulas para “adular” o Senhor,
aliás, convida a pedir-lhe abatendo as barreiras da reverência e do medo. Não
diz para se dirigir a Deus chamando-lhe “Omnipotente”, “Altíssimo”, “Tu, que
estás tão distante de nós, eu sou miserável”: não, não diz assim, mas
simplesmente “Pai”, com toda a simplicidade, como as crianças se dirigem ao
pai. E esta palavra “Pai", expressa a confidência e a confiança filial.
A oração do “Pai-Nosso” afunda
as suas raízes na realidade concreta do homem. Por exemplo, faz-nos pedir o pão
de cada dia: pedido simples mas essencial, o qual diz que a fé não é uma
questão “decorativa”, separada da vida, que intervém quando todas as outras
necessidades foram satisfeitas. No máximo, a oração começa com a própria vida.
A prece — ensina-nos Jesus — não começa na existência humana quando o estômago
está cheio: ao contrário, existe onde quer que haja um homem, um homem qualquer
que tem fome, que chora, que luta, que sofre e se pergunta “porquê”. A nossa
primeira prece, num certo sentido, foi o gemido que acompanhou o primeiro
respiro. Naquele choro de recém-nascido anunciava-se o destino de toda a nossa
vida: a nossa fome contínua, a nossa sede perene, a nossa busca de felicidade.
Jesus, na oração, não quer
apagar o humano, não o quer anestesiar. Não quer que moderemos as perguntas nem
os pedidos aprendendo a suportar tudo. Ao contrário, quer que cada sofrimento,
qualquer preocupação, se projete rumo ao céu e se torne diálogo.
Ter fé, dizia uma pessoa,
significa acostumar-se ao brado.
Todos deveríamos ser como o
Bartimeu do Evangelho (cf. Mc 10, 46-52) — recordemos aquele
excerto do Evangelho, Bartimeu, o filho de Timeu — aquele homem cego que
mendigava às portas de Jericó. Tinha à sua volta tantas pessoas bondosas que
lhe impunham o silêncio: “Cala-te! O Senhor passa. Cala-te. Não incomodes. O
Mestre tem muitas coisas a fazer; não o aborreças. Tu importunas com os teus
gritos. Não perturbes”. Mas ele não ouvia aqueles conselhos: com santa
insistência, pretendia que a sua mísera condição pudesse finalmente encontrar
Jesus. E bradava mais alto! E as pessoas educadas: “Não, é o Mestre, por favor!
Ficas mal visto!”. E ele bradava porque queria ver, queria ser curado: «Jesus,
tem piedade de mim!» (v. 47). Jesus restitui-lhe a vista e diz-lhe: «A tua fé
te salvou» (v. 52), como que para explicar que o mais decisivo para a sua cura
foi aquela prece, aquela invocação bradada com fé, mais forte que o
“bom senso” de muitas pessoas que queriam que ele se calasse. A oração não só
precede a salvação, mas de certa forma já a contém, pois liberta do desespero
de quem não acredita numa saída para tantas situações insuportáveis.
Depois, certamente, os crentes
sentem também a necessidade de louvar a Deus. Os evangelhos contêm a exclamação
de júbilo que promana do Coração de Jesus, cheio de grata admiração pelo Pai
(cf. Mt 11, 25-27). Os primeiros cristãos sentiram até a
exigência de acrescentar ao texto do “Pai-Nosso” uma doxologia: «Porque teu é o
poder e a glória nos séculos» (Didaqué, 8, 2).
Mas nenhum de nós é obrigado a
aceitar a teoria que no passado alguém propôs, isto é, que a oração de pedido
seja uma forma tíbia da fé, enquanto que a oração mais autêntica seria o louvor
puro, aquele que procura Deus sem o peso de pedido algum. Não, isto não é
verdade. A prece de pedido é autêntica, espontânea, é um ato de fé em Deus que
é Pai, que é bom, omnipotente. Trata-se de um ato de fé em mim, que sou
pequenino, pecador, necessitado. E por isso a oração para pedir algo é muito
nobre. Deus é o Pai que tem imensa compaixão por nós, e deseja que os seus
filhos lhe falem sem medo, chamando-lhe diretamente “Pai”; ou nas dificuldades
dizendo: “Mas Senhor, o que me fizeste?”. Por isso podemos contar-lhe tudo, até
aquilo que na nossa vida permanece distorcido e incompreensível. E prometeu-nos
que teria ficado conosco para sempre, até ao último dia que vivermos nesta
terra. Rezemos o Pai-Nosso, começando assim, simplesmente: “Pai” ou “Papá”. E
Ele compreende-nos e ama-nos muito.
Catequese sobre o Pai Nosso: 3
- "PAI NOSSO NO CENTRO DO SERMÃO DA MONTANHA"
Amados irmãos e irmãs, bom dia e
também bom ano!
Prosseguimos as nossas
catequeses sobre o “Pai-Nosso”, iluminados pelo mistério do Natal que acabamos
de celebrar.
O evangelho de Mateus coloca o
texto do “Pai-Nosso” num ponto estratégico, no centro do sermão da montanha
(cf. 6, 9-13). Entretanto observemos o cenário: Jesus sobe à colina junto do
lago, senta-se; em seu redor, em círculo, estão os seus discípulos mais
íntimos, e depois uma grande multidão de rostos anônimos. É esta assembleia
heterogênea a primeira que recebe a recomendação do “Pai-Nosso”.
A colocação, como foi dito, é
muito significativa; pois neste longo ensinamento, que está sob o nome de
“sermão da montanha” (cf. Mt 5, 1-7, 27), Jesus condensa os
aspectos fundamentais da sua mensagem. O começo é como um arco decorado para a
festa: as Bem-aventuranças. Jesus coroa de felicidade uma série de categorias
de pessoas que no seu tempo — mas também no nosso! — não eram muito
consideradas. Bem-aventurados os pobres, os mansos, os misericordiosos, as
pessoas humildes de coração... Esta é a revolução do Evangelho. Onde há o
Evangelho há revolução. O Evangelho não nos deixa impassíveis, estimula-nos: é
revolucionário. Ao contrário, todas as pessoas capazes de amor, os artífices de
paz, que até então tinham acabado nas margens da história, são os construtores
do Reino de Deus. É como se Jesus dissesse: ide em frente vós, que levais no
coração o mistério de um Deus que revelou a sua omnipotência no amor e no
perdão!
Desta porta de entrada, que
inverte os valores da história, sobressai a novidade do Evangelho. A Lei não
deve ser abolida mas precisa de uma nova interpretação, que a reconduza ao seu
sentido originário. Se uma pessoa tem um coração bondoso, predisposto para o
amor, então compreende que cada palavra de Deus deve ser encarnada até às suas
últimas consequências. O amor não tem confins: pode-se amar o próprio cônjuge,
o próprio amigo e até o próprio inimigo com uma perspectiva totalmente nova.
Jesus diz: «Eu, porém, digo-vos: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu,
pois Ele faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a
chuva sobre os justos e os pecadores» (Mt 5, 44-45).
Eis o grande segredo que está na
base de todo o sermão da montanha: sede filhos do vosso Pai que está
nos céus. Aparentemente estes capítulos do Evangelho de Mateus parecem ser
um sermão moral, parecem evocar uma ética tão exigente impossível de praticar,
mas ao contrário descobrimos que são sobretudo um discurso teológico. O cristão
não é alguém que se compromete a ser mais bondoso que os outros: sabe que é
pecador como todos. O cristão é simplesmente um homem que para diante da nova
Sarça Ardente, da revelação de um Deus que não inclui o enigma de um nome
impronunciável, mas que pede aos seus filhos que o invoquem com o nome de
“Pai”, que se deixem renovar pelo seu poder e que reflitam um raio da sua
bondade para este mundo tão sedento de bem, à espera de boas novas.
Eis portanto como Jesus introduz
o ensinamento da oração do “Pai-Nosso”. Fá-lo afastando-se de dois grupos do
seu tempo. Antes de tudo os hipócritas: «não sejais como os hipócritas, que
gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos
pelos homens» (Mt 6, 5). Há pessoas capazes de tecer orações
ateias, sem Deus e fazem-no para serem admirados pelos homens. E quantas vezes
nós vemos o escândalo daquelas pessoas que vão à Igreja e ficam lá o dia
inteiro ou vão todos os dias e depois vivem odiando os demais ou falando mal
das pessoas. Isto é um escândalo! É melhor não ir à igreja: vives assim, como
se fosses ateu. Mas se vais à igreja, vive como filho, como irmão e dá um
verdadeiro testemunho, não um contratestemunho. Ao contrário, a oração não tem
outro testemunho crível a não ser a própria consciência, na qual se entrelaça
um contínuo diálogo muito intenso com o Pai: «Tu, porém, quando orares, entra
no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai» (Mt 6,
6).
Depois Jesus distancia-se da
oração dos pagãos, «que usam de vãs repetições [...] porque pensam que, por
muito falarem, serão atendidos» (Mt 6, 7). Talvez aqui Jesus faça
alusão àquela “captatio benevolentiae” que era a premissa necessária de
tantas preces antigas: a divindade devia ser de qualquer forma acalmada com uma
longa série de louvores, até de orações. Pensemos naquele cenário do Monte
Carmelo, quando o profeta Elias desafiou os sacerdotes de Baal. Eles gritavam,
dançavam, pediam muitas coisas para que o seu deus os ouvisse. E Elias, ao
contrário, estava em silêncio e o Senhor revelou-se a Elias. Os pagãos pensam
que falando, falando, falando, falando se reza. E também eu penso em tantos
cristãos que creem que rezar é — desculpai — “falar a Deus como um papagaio”.
Não! Rezar faz-se com o coração, de dentro. Ao contrário — diz Jesus — quando
rezas, dirige-te a Deus como um filho ao seu pai, o qual sabe do que precisas
ainda antes que tu lho peças (cf. Mt 6, 8). Poderia ser
também uma prece silenciosa, o “Pai-Nosso”: no fundo é suficiente pôr-se sob o
olhar de Deus, recordar-se do seu amor de Pai, e isto é suficiente para sermos
ouvidos.
É bom pensar que o nosso Deus
não precisa de sacrifícios para conquistar o seu favor! Não tem necessidade de
nada, o nosso Deus: na oração pede unicamente que mantenhamos aberto um canal
de comunicação com Ele para nos descobrirmos sempre seus filhos amadíssimos. E
Ele ama-nos tanto.
Catequese sobre o Pai Nosso: 4
- "JESUS ORANTE"
Prezados irmãos e irmãs, bom
dia!
A catequese de hoje refere-se ao
Evangelho de Lucas. Com efeito, é sobretudo este Evangelho, desde as narrações
da infância, que descreve a figura de Cristo numa atmosfera densa de oração.
Ele contém os três hinos que cadenciam todos os dias a oração da Igreja:
o Benedictus, o Magnificat e o Nunc
dimittis.
E nesta catequese sobre o Pai-Nosso vamos
em frente, e vemos Jesus como orante. Jesus reza! Por exemplo, na narração de
Lucas o episódio da Transfiguração deriva de um momento de oração. Diz assim:
«Enquanto orava, o seu rosto transformou-se e as suas vestes tornaram-se
resplandecentes» (9, 29). Mas cada passo na vida de Jesus é como que impelido
pelo sopro do Espírito que o guia em todas as ações. Jesus reza no batismo no
Jordão, dialoga com o Pai antes de tomar as decisões mais importantes,
retira-se muitas vezes na solidão para orar, intercede por Pedro que em breve o
renegará. Diz assim: «Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos
joeirar como o trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça» (Lc 22,
31-32). Isto consola: saber que Jesus reza por nós, ora por mim, por cada um de
nós, a fim de que a nossa fé não desfaleça. E isto é verdade! “Mas padre, ainda
o faz?”. Ainda o faz perante o Pai. Jesus reza por mim. Cada um de nós pode
dizê-lo. E também podemos dizer a Jesus: “Tu oras por mim, continua a rezar
porque preciso disto”. Assim: com coragem!
Até a morte do Messias está
imersa num clima de oração, a ponto que as horas da Paixão parecem marcadas por
uma calma surpreendente: Jesus consola as mulheres, reza pelos seus
crucificadores, promete o paraíso ao bom ladrão e expira dizendo: «Pai, nas
tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46). A prece de Jesus
parece atenuar as emoções mais violentas, os desejos de vingança e de desforra,
reconcilia o homem com a sua acérrima inimiga, reconcilia o homem com esta
inimiga, que é a morte.
É ainda no Evangelho de Lucas
que encontramos o pedido, expresso por um dos discípulos, de poderem ser
instruídos na oração pelo próprio Jesus. E diz assim: «Senhor, ensina-nos a
rezar» (Lc 11, 1). Viam que Ele orava. “Ensina-nos — também nós o
podemos dizer ao Senhor — Senhor. Bem sei que Tu rezas por mim, mas ensina-me a
rezar, para que também eu possa orar”.
Deste pedido — «Senhor,
ensina-nos a rezar» — nasce um ensinamento bastante amplo, através do qual
Jesus explica aos seus com que palavras e com que sentimentos se devem dirigir
a Deus.
A primeira parte deste
ensinamento é precisamente o Pai-Nosso. Rezai assim: “Pai, que
estais no céu”. “Pai”: esta palavra tão agradável de pronunciar. Nós podemos
passar todo o tempo da oração unicamente com esta palavra: “Pai”! E sentir que
temos um Pai: não um patrão, nem um padrasto. Não: um Pai! O cristão dirige-se
a Deus, chamando-o antes de tudo “Pai”!
Neste ensinamento que Jesus
oferece aos seus discípulos é interessante meditar sobre algumas instruções que
coroam o texto da oração. Para nos dar confiança, Jesus explica algumas coisas.
Elas insistem sobre as atitudes do crente que reza. Por
exemplo, há a parábola do amigo importuno, o qual vai perturbar uma família
inteira que dorme, porque uma pessoa chegou inesperadamente de uma viagem e ele
não tem pão para lhe oferecer. O que diz Jesus àquele que bate à porta e acorda
o amigo? «Digo-vos — explica Jesus — que embora não se levante para lhos dar
por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e
dar-lhe-á tudo quanto precisar» (Lc 11, 8). Com isto quer
ensinar-nos a rezar e a insistir na oração. E imediatamente depois cita o
exemplo de um pai que tem um filho faminto. Todos vós, pais e avós, que estais
aqui, quando o filho ou o neto pede algo, quando tem fome e pede com
insistência, depois chora, grita, tem fome: «Qual pai entre vós, se o filho lhe
pedir um peixe, porventura lhe dará uma serpente?» (v. 11). E todos vós tendes
a experiência, quando o filho pede algo, vós dais de comer aquilo que ele pede,
para o seu bem.
Com estas palavras Jesus dá a
entender que Deus responde sempre, que nenhuma oração deixará de ser ouvida,
porquê? Porque Ele é Pai e não se esquece dos seus filhos que sofrem.
Sem dúvida, estas afirmações
põem-nos em crise, porque parece que muitas das nossas preces não obtêm
resultado algum. Quantas vezes pedimos e não fomos atendidos — todos nós
fizemos esta experiência — quantas vezes batemos e encontramos uma porta
fechada? Nestes momentos, Jesus recomenda-nos para insistir e não
desistir. A oração transforma sempre a realidade, sempre. Se não mudam
as coisas ao nosso redor, pelo menos nós mudamos, o nosso coração muda. Jesus
prometeu o dom do Espírito Santo a cada homem e a cada mulher que reza.
Podemos estar certos de
que Deus responderá. A única incerteza é em relação ao tempo,
mas não temos dúvida que Ele responderá. Talvez tenhamos que insistir durante a
vida inteira, mas Ele responderá! No-lo prometeu: Ele não é como um pai que dá
uma serpente em vez de um peixe. Não há nada de mais certo: um dia
realizar-se-á o desejo de felicidade que todos temos no coração. Jesus diz:
«Porventura não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que clamam por Ele dia e
noite?» (Lc 18, 7). Sim, fará justiça, ouvir-nos-á! Aquele dia será
de glória e de ressurreição! Rezar é desde já a vitória sobre a solidão e o
desespero. Rezar! A oração muda a realidade, não o esqueçamos. Ou muda as
coisas ou transforma o nosso coração, mas muda sempre. Rezar é desde já a
vitória sobre a solidão e o desespero. É como ver cada fragmento da criação que
fervilha no torpor de uma história da qual por vezes não entendemos o porquê.
Mas está em movimento, está a caminho, e no final de cada estrada, o que há no
fim do nosso caminho? No fim da oração, no final de um tempo em que estamos a
rezar, no fim da vida: o que há? Há um Pai que espera tudo e todos de braços
abertos. Olhemos para este Pai!
Catequeses sobre o Pai Nosso: 5
- "Abbà, Pai!"
Prezados irmãos e irmãs, bom
dia!
Prosseguindo as catequeses sobre
o “Pai-Nosso”, hoje comecemos pela observação de que, no Novo Testamento,
parece que a oração deseja chegar ao essencial, até se concentrar numa única
palavra: Aba, Pai!
Ouvimos o que São Paulo escreve
na Carta aos Romanos: «Porquanto não recebestes um espírito de escravidão, para
viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual
clamamos: “Aba! Pai!”» (8, 15). E aos Gálatas, o Apóstolo diz: «A prova de que
sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito do seu Filho, que
clama: “Aba, Pai!’’» (Gl 4, 6). Repete-se duas vezes a mesma
invocação, na qual está condensada toda a novidade do Evangelho. Depois de ter
conhecido Jesus e ouvido a sua pregação, o cristão já não considera Deus como
um tirano que se deve temer, já não tem medo mas sente florescer no seu coração
a confiança n’Ele: pode falar com o Criador chamando-o “Pai”! A expressão é tão
importante para os cristãos, que muitas vezes se conservou intacta na sua forma
originária: “Aba”!
É raro que no Novo Testamento as
expressões aramaicas não sejam traduzidas em grego. Devemos imaginar que nestas
palavras aramaicas tenha permanecido como que “gravada” a voz do próprio Jesus:
respeitaram o idioma de Jesus! Na primeira palavra do “Pai-Nosso” encontramos
imediatamente a novidade radical da oração cristã.
Não se trata apenas de usar um
símbolo — neste caso, a figura do pai — relacionado com o mistério de Deus; ao
contrário, trata-se de ter, por assim dizer, todo o mundo de Jesus derramado no
próprio coração. Se realizarmos esta operação, poderemos recitar
verdadeiramente o “Pai-Nosso”. Dizer “Aba” é algo muito mais íntimo e
mais comovedor do que simplesmente chamar a Deus “Pai”. Eis por que motivo
alguém propôs traduzir esta palavra aramaica original, “Aba” com “Papá”
ou “Paizinho”. Em vez de dizer “Pai nosso”, dizer “Papá, Paizinho”. Nós
continuamos a dizer “Pai nosso”, mas com o coração somos convidados a dizer
“Papá”, a ter com Deus um relacionamento como o de uma criança com o seu pai,
que diz “papá”, diz “paizinho”. Com efeito, estas expressões evocam afeto e
calor, algo que nos projeta no contexto da infância: a imagem de uma criança
completamente envolvida pelo abraço de um pai que sente ternura infinita por
ela. E por isso, caros irmãos e irmãs, para rezar bem é necessário chegar a ter
um coração de criança! Não um coração suficiente: assim não se pode rezar bem.
Como uma criança no colo do seu pai, do seu papá, do seu paizinho.
Mas certamente são os Evangelhos
que nos introduzem melhor no sentido desta palavra. O que significa para Jesus
esta palavra? O “Pai-Nosso” adquire sentido e cor, se aprendermos a recitá-lo
depois de ter lido, por exemplo, a parábola do pai misericordioso, no capítulo
15 de Lucas (cf. 15, 11-32). Imaginemos esta prece pronunciada pelo filho
pródigo, depois de ter experimentado o abraço do seu pai, que tinha esperado
por muito tempo, um pai que não se recorda das palavras ofensivas que ele lhe
dirigira, um pai que agora lhe faz entender simplesmente a falta que tinha
sentido dele. Assim descobrimos como aquelas palavras adquirem vida e força! E
interrogamo-nos: como é possível que Tu, ó Deus, conheças unicamente o amor? Tu
não conheces o ódio? Não — Deus responderia — Eu só conheço o amor. Onde se
encontram em ti a vingança, a pretensão de justiça, a raiva pela tua honra
ferida? E Deus responderia: Eu só conheço o amor!
O pai daquela parábola tem modos
de agir que recordam muito o espírito de uma mãe. São sobretudo as
mães que perdoam os filhos, que os defendem, que não interrompem a empatia em
relação a eles, que continuam a amar, mesmo quando eles já não mereceriam mais
nada.
É suficiente evocar esta
expressão — Aba — para que se desenvolva uma prece cristã. E
nas suas Cartas, São Paulo segue este mesmo caminho, e não poderia ser de outra
forma, porque é a vereda ensinada por Jesus: esta invocação contém uma força
que atrai o resto da oração.
Deus procura-te, mesmo que tu
não o procures. Deus ama-te, ainda que tu o tenhas esquecido. Deus vislumbra em
ti uma beleza, não obstante tu penses que desperdiçaste inutilmente todos os
teus talentos. Deus é não só um pai, mas é como uma mãe que nunca deixa de amar
a sua criatura. Por outro lado, há uma “gestação” que dura para sempre, muito
além dos nove meses da gestação física; trata-se de uma gestação que gera um circuito
infinito de amor.
Para o cristão, rezar significa
dizer simplesmente “Aba”, dizer “Papá”, “Paizinho”, “Pai” mas com a
confiança de uma criança.
Pode ser que também a nós
aconteça percorrer sendas distantes de Deus, como aconteceu com o filho pródigo;
ou então, precipitar numa solidão que nos faz sentir abandonados no mundo; ou
ainda, errar e ficar paralisados por um sentido de culpa. Nestes momentos
difíceis, ainda podemos encontrar a força para rezar, recomeçando pela palavra
“Pai”, mas dita com o sentido terno de uma criança: “Aba”, “Papá”. Ele
não nos esconderá o seu rosto. Recordai bem: talvez alguém tenha dentro de si
coisas desagradáveis, que não sabe como resolver, tanta amargura por ter feito
isto e aquilo... Ele não esconderá a sua face. Ele não se fechará no silêncio.
Tu diz-lhe “Pai” e Ele responder-te-á. Tu tens um Pai. “Sim, mas eu sou um
delinquente...”. Mas tens um Pai que te ama! Diz-lhe “Pai”, começa a rezar
assim e, no silêncio, Ele dir-nos-á que nunca nos perdeu de vista. “Mas Pai, eu
fiz isto...” — “Nunca te perdi de vista, vi tudo. Mas permaneci sempre ali,
perto de ti, fiel ao meu amor por ti”. Esta será a resposta! Nunca vos
esqueçais de dizer: “Pai”. Obrigado!
Catequese sobre o Pai-Nosso - 6
- "Pai de todos nós"
Prezados irmãos e irmãs, bom
dia!
Continuemos o nosso percurso
para aprender a rezar cada vez melhor como Jesus nos ensinou. Devemos orar como
Ele nos ensinou.
Ele disse: quando rezas, entra
no silêncio do teu quarto, retira-te do mundo e dirige-te a Deus chamando-o
“Pai!”. Jesus quer que os seus discípulos não sejam como os hipócritas que
rezam permanecendo de pé nas praças, para ser admirados pelo povo (cf. Mt 6,
5). Jesus não quer hipocrisia. A verdadeira oração é aquela que se faz no
segredo da consciência, do coração: insondável, visível unicamente a Deus. Eu e
Deus! Ela evita a falsidade: com Deus, é impossível fingir. É impossível,
diante de Deus não há estratagema que possa funcionar, Deus conhece-nos assim,
nus na consciência, e não se pode fingir. Na raiz do diálogo com Deus existe um
diálogo silencioso, como o cruzamento de olhares entre duas pessoas que se
amam: o homem e Deus cruzam os olhares, e isto é oração. Fitar Deus e deixar-se
olhar por Deus: isto é rezar. “Mas padre, eu não pronuncio palavras...”. Olha para
Deus e deixa-te fitar por Ele: é uma prece, uma bonita oração!
Contudo, não obstante a prece do
discípulo seja totalmente confidencial, nunca decai no intimismo. No segredo da
consciência, o cristão não deixa o mundo fora da porta do seu quarto, mas traz
no coração as pessoas e as situações, os problemas, tantas questões,
apresenta-as todas na oração.
Há uma ausência impressionante
no texto do “Pai-Nosso”. Se eu vos perguntasse qual é a ausência impressionante
no texto do “Pai-Nosso”? Não será fácil responder. Falta uma palavra. Pensai
todos: o que falta no “Pai-Nosso”? Pensai, o que falta? Uma palavra. Uma
palavra que nos nossos tempos — mas talvez sempre — todos têm em grande
consideração. Qual é a palavra que falta no “Pai-Nosso”, que recitamos todos os
dias? Para poupar tempo, di-la-ei: falta a palavra “eu”. Nunca se diz “eu”.
Jesus ensina a rezar, tendo nos lábios antes de tudo o “Vós”, porque a
oração cristã é diálogo: “santificado seja o vosso nome, venha
o vosso reino, seja feita a vossa vontade”.
Não o meu nome, o meu reino, a minha vontade. Eu não,
não funciona. E depois passa para o “nós”. Toda a segunda parte do
“Pai-Nosso” é declinada na primeira pessoa do plural: “dai-nos o nosso pão
de cada dia, perdoai-nos as nossas ofensas,
não nos deixeis cair em tentação, livrai-nos do
mal”. Até os pedidos mais elementares do homem — como aquele de ter alimento
para saciar a fome — são todos no plural. Na prece cristã, ninguém pede o pão
para si mesmo: dai-me o pão de cada dia, não, dai-nos,
suplica-o para todos, para todos os pobres do mundo. Não podemos esquecer isto,
falta a palavra “eu”. Reza-se com o vós e com o nós. É um bom ensinamento de
Jesus, não o esqueçais!
Porquê? Porque no diálogo com
Deus não há espaço para o individualismo. Não há ostentação dos próprios
problemas, como se fôssemos os únicos que sofremos no mundo. Não existe oração
elevada a Deus, que não seja a prece de uma comunidade de irmãos e
irmãs, o nós: vivemos em comunidade, somos irmãos e irmãs, constituímos um
povo que reza, “nós”. Certa vez o capelão de um cárcere fez-me uma pergunta:
“Diga-me, padre, qual é o contrário de ‘eu’?”. E eu, ingênuo, disse: “tu”.
“Este é o início da guerra. A palavra oposta a ‘eu’ é ‘nós’, onde existe a paz,
todos juntos”. Foi um bonito ensinamento que recebi daquele sacerdote.
Na oração, o cristão apresenta
todas as dificuldades das pessoas que vivem ao seu lado: quando cai a noite,
narra a Deus as dores com as quais se cruzou naquele dia; põe diante d’Ele
muitos rostos, amigos e também hostis; não os afasta como distrações perigosas.
Se não se der conta de que ao seu redor há tantas pessoas que sofrem, se não
sentir pena pelas lágrimas dos pobres, se estiver habituado a tudo, então
significa que o seu coração... como é? Murcho? Não, pior: é de pedra. Neste
caso é bom suplicar ao Senhor que nos sensibilize com o seu Espírito e
enterneça o nosso coração: “Senhor, enternecei o meu coração!”. É uma bonita
oração: “Senhor, enternecei o meu coração, a fim de que eu possa entender e
responsabilizar-me por todos os problemas, por todas as dores dos outros”.
Cristo não passou incólume ao lado das misérias do mundo: cada vez que sentia
uma solidão, uma dor do corpo ou do espírito, sentia uma forte compaixão, como
as vísceras de uma mãe. Este “sentir compaixão” — não nos esqueçamos desta
palavra tão cristã: sentir compaixão — é um dos verbos-chave do Evangelho: é
isto que impele o bom samaritano a aproximar-se do homem ferido na beira da
estrada, ao contrário dos outros que têm o coração duro.
Podemos interrogar-nos: quando
rezo, abro-me ao clamor de tantas pessoas próximas e distantes? Ou então penso
na oração como numa espécie de anestesia, para poder estar mais tranquilo? Faço
a pergunta, cada um responda a si mesmo. Neste caso eu seria vítima de um equívoco
terrível. Sem dúvida, a minha oração deixaria de ser cristã. Porque aquele
“nós”, que Jesus nos ensinou, me impede de estar em paz sozinho, e me faz
sentir responsável pelos meus irmãos e irmãs.
Existem homens que,
aparentemente, não buscam Deus, mas Jesus faz-nos rezar também por eles, porque
Deus procura acima de todos estas pessoas. Jesus não veio para os sadios, mas
para os doentes, para os pecadores (cf. Lc 5, 31), ou seja,
para todos, porque quem pensa que é sadio, na realidade não o é. Se trabalharmos
pela justiça, não nos sintamos melhores do que os outros: o Pai faz nascer o
seu sol tanto sobre os bons como sobre os maus (cf. Mt 5,
45). O Pai ama todos! Aprendamos de Deus, que é sempre bom para com todos,
contrariamente a nós, que só conseguimos ser bons para com alguns, para com
alguém que me agrada.
Irmãos e irmãs, santos e
pecadores, somos todos irmãos amados pelo mesmo Pai. E, no crepúsculo da vida,
seremos julgados sobre o amor, sobre o modo como amamos. Não com um amor apenas
sentimental, mas compassivo e concreto, segundo a regra evangélica, não a
esqueçais! «Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25, 40). Assim diz
o Senhor. Obrigado!
Catequese sobre o Pai-Nosso - 7-
"Pai Nosso que estais no céu"
Estimados irmãos e irmãs, bom
dia!
A audiência de hoje realiza-se
em dois lugares. Primeiro, encontrei-me
com os fiéis de Benevento, que estavam em São Pedro, e agora
convosco. E isto deve-se à delicadeza da Prefeitura da Casa Pontifícia que não
quer que sintais frio: agradeçamos-lhe que pensou nisto. Obrigado.
Prossigamos as catequeses sobre o
“Pai-Nosso”. O primeiro passo de cada prece cristã é ingresso num mistério, o
da paternidade de Deus. Não se pode rezar como papagaio. Ou entras
no mistério, na consciência de que Deus é o teu Pai, ou não rezas. Se eu orar a
Deus, meu Pai, entro no mistério. Para compreender em que medida Deus é nosso
pai, pensemos nas figuras dos nossos pais, mas devemos sempre até certo ponto
“refiná-las”, purificá-las. O próprio Catecismo
da Igreja Católica diz: «A purificação do coração tem em vista as imagens
paternas ou maternas resultantes da nossa história pessoal e cultural, que
influenciam o nosso relacionamento com Deus» (n. 2779).
Nenhum de nós teve pais
perfeitos, nenhum: como nós, por nossa vez, nunca seremos pais ou pastores
perfeitos. Todos temos defeitos, todos. Vivemos as nossas relações de amor
sempre sob o sinal dos nossos limites e também do nosso egoísmo, portanto com
frequência são manchadas por desejos de posse ou de manipulação do outro. Por
isso às vezes as declarações de amor convertem-se em sentimentos de raiva e de
hostilidade. Mas veja, estes dois amavam-se tanto na semana passada, hoje não
se suportam: vemos isto todos os dias! É por isso, pois todos temos raízes
amargas dentro, que não são boas, e às vezes saem e fazem sofrer.
Eis por que, quando falamos de
Deus como “pai”, enquanto pensamos na imagem dos nossos pais, especialmente se
nos amaram, ao mesmo tempo devemos ir além. Porque o amor de Deus é o do Pai
que “está nos céus”, segundo a expressão que Jesus nos convida a usar: o amor
total que nós experimentamos nesta vida só de maneira imperfeita. Os homens e
as mulheres são eternamente mendigos de amor — somos mendigos de amor,
precisamos de amor — procuram um lugar onde finalmente ser amados, mas não o
encontram. Quantas amizades e quantos amores desiludidos há no nosso mundo;
muitos!
O deus grego do amor, na
mitologia, é em absoluto o mais trágico: não se entende se é um ser angélico ou
um demónio. A mitologia diz que é filho de Póros e Pênia,
isto é da dissimulação e da pobreza, destinado a ter em si um pouco da
fisionomia destes pais. Eis por que podemos pensar na natureza ambivalente do
amor humano: capaz de florescer e de viver vigorosamente numa hora do dia, e de
repente depois murchar e morrer; o que apanha, escapa-lhe sempre (cf.
Platão, O Banquete, 203). Há uma expressão do profeta Oseias que
enquadra de maneira impiedosa a fraqueza congênita do nosso amor: «O vosso amor
é como a nuvem da manhã, como o orvalho matutino que logo se dissipa» (6, 4).
Eis o que muitas vezes é o nosso amor: uma promessa com dificuldade para se
manter, uma tentativa que depressa evapora e seca, quase como quando de manhã
nasce o sol e enxuga o orvalho da noite.
Quantas vezes, nós homens, amamos
desta maneira tão frágil e intermitente. Todos nós tivemos esta experiência: amamos
mas depois aquele amor diminuiu ou tornou-se frágil. Desejosos de amar, depois
entramos em conflito com os nossos limites, com a pobreza das nossas forças:
incapazes de manter uma promessa que nos dias de graça nos parecia fácil de
realizar. No fundo também o apóstolo Pedro teve medo e fugiu. O apóstolo Pedro
não foi fiel ao amor de Jesus. Há sempre esta fragilidade que nos faz cair.
Somos mendigos que no caminho corremos o risco de nunca encontrar completamente
aquele tesouro que procuramos desde o primeiro dia da nossa vida: o amor.
Contudo, existe outro amor, o do
Pai “que está nos céus”. Ninguém deve duvidar de que é destinatário deste amor.
Ele ama-nos. “Ama-me”, podemos dizer. Se até o nosso pai e a nossa mãe não nos
tivessem amado — uma hipótese histórica — há um Deus nos céus que nos ama como
ninguém nesta terra jamais fez nem poderá fazer. O amor de Deus é constante.
Diz o profeta Isaías: «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter
carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu
nunca te esqueceria. Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos»
(49, 15-16). Hoje a tatuagem está na moda: “Eu gravei a tua imagem na palma das
minhas mãos”. Fiz uma tatuagem de ti nas minhas mãos. Estou nas mãos de Deus e
não a possa cancelar. O amor de Deus é como o amor de uma mãe, que nunca se
esquece. E se uma mãe se esquecer? “Eu não me esquecerei”, diz o Senhor. Este é
o amor perfeito de Deus, assim somos amados por Ele. Se também todos os nossos
amores terrenos se despedaçassem e nas nossas mãos ficasse apenas pó, haverá
sempre para todos nós, ardente, o amor único e fiel de Deus.
Na fome de amor que todos
sentimos, não procuremos algo que não existe: ela é o convite a conhecer Deus
que é pai. A conversão de Santo Agostinho, por exemplo, passou por este cume: o
jovem e brilhante reitor buscava simplesmente entre as criaturas algo que
nenhuma criatura lhe podia dar, até que um dia teve a coragem de erguer os
olhos. E naquele dia conheceu Deus. Deus que ama.
A expressão “nos céus” não
exprime distância mas uma diversidade radical de amor, outra dimensão de amor,
um amor incansável, um amor que permanecerá para sempre, aliás, que está sempre
ao alcance das mãos. É suficiente dizer “Pai nosso que estais nos Céus”, e
aquele amor chega.
Portanto, não tenhais medo!
Nenhum de nós está sozinho. Se por desventura o teu pai terreno se tiver
esquecido de ti e tu sentires rancor contra ele, não te é negada a experiência
fundamental da fé cristã: a de saber que és filho muito amado de Deus,
e que nada na vida pode cancelar o seu amor apaixonado por ti.
Catequese sobre o Pai-Nosso - 8
- "Santificado seja o vosso nome"
Estimados irmãos e irmãs, bom
dia!
Parece que o inverno está a ir
embora e por conseguinte voltamos à praça. Bem-vindos à praça! No nosso
percurso de redescoberta da oração do “Pai-Nosso”, hoje aprofundaremos a
primeira das suas sete invocações, isto é, «santificado seja o vosso nome».
Os pedidos do “Pai-Nosso” são
sete, facilmente divisíveis em dois subgrupos. Os primeiros três têm no centro
o “Vós” de Deus Pai; os outros quatro têm no centro o “nós” e as nossas
necessidades humanas. Na primeira parte Jesus faz-nos entrar nos seus desejos,
todos dirigidos ao Pai: «santificado seja o vosso nome, venha
a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade»;
na segunda é Ele que entra em nós e se faz intérprete das nossas necessidades:
o pão nosso de cada dia, o perdão dos pecados, o amparo na tentação e a
libertação do mal.
Eis a matriz de cada oração
cristã — diria de cada prece humana — que é sempre recitada, por um lado,
como contemplação de Deus, do seu mistério, da sua beleza e
bondade, e por outro, com sincero e corajoso pedido do que nos
serve para viver, e viver bem. Deste modo, na sua simplicidade e
essencialidade, o “Pai-Nosso” educa quantos o recitam a não multiplicar
palavras vãs, porque — como diz o próprio Jesus — «o vosso Pai celeste sabe do
que necessitais antes de lho pedirdes» (Mt 6, 8).
Quando falamos com Deus, não o
fazemos para revelar a Ele o que temos no coração: Ele conhece-o muito melhor
do que nós. Se Deus é um mistério para nós, ao contrário, nós não somos um
enigma aos seus olhos (cf. Sl 139, 1-4). Deus é como aquelas
mães às quais é suficiente um olhar para compreender tudo dos filhos: se estão
contentes ou tristes, se são sinceros ou escondem algo...
Portanto, o primeiro trecho da
oração cristã é a entrega de nós mesmos a Deus, à sua providência. É como
dizer: “Senhor, vós sabeis tudo, não há necessidade de que eu vos conte a minha
dor, peço-vos só que estejais aqui ao meu lado: sois a minha esperança”. É
interessante observar que Jesus, no sermão da montanha, imediatamente depois de
ter transmitido o texto do “Pai-Nosso”, nos exorta a não nos preocupar nem nos
aborrecer pelas situações. Parece uma contradição: primeiro ensina-nos a pedir
o nosso pão de cada dia e depois recorda-nos: «Não vos preocupeis, dizendo:
“Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?”» (Mt 6, 31). Mas
a contradição é só aparente: os pedidos do cristão exprimem a confiança no Pai:
e é precisamente esta confiança que faz com que peçamos aquilo de que
precisamos sem afã nem agitação.
Por isso rezamos dizendo: “Santificado
seja o vosso nome!”. Neste pedido — o primeiro! “Santificado seja o
vosso nome!” — sente-se toda a admiração de Jesus pela beleza e
grandeza do Pai, e o desejo de que todos o reconheçam e admirem pelo que
deveras é. E ao mesmo tempo há a súplica para que o seu nome seja santificado
em nós, na nossa família, na nossa comunidade, no mundo inteiro. É Deus que
santifica, que nos transforma com o seu amor, mas, ao mesmo tempo, somos também
nós que, com o nosso testemunho, manifestamos a santidade de Deus no mundo,
tornando presente o seu nome. Deus é santo mas se nós, se a nossa vida não for
santa, haverá uma grande incoerência! A santidade de Deus deve refletir-se nas
nossas ações, na nossa vida. “Sou cristão, Deus é santo, mas faço muitas coisas
negativas”, não, isto não serve. Isto faz até mal; escandaliza e não ajuda.
A santidade de Deus é uma força
em expansão, e nós suplicamos a fim de que ela rompa depressa as barreiras do
nosso mundo. Quando Jesus começa a pregar, o primeiro a pagar as consequências disto
é precisamente o mal que aflige o mundo. Os espíritos malignos praguejam: «Que
tens a ver conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és:
o Santo de Deus!» (Mc 1, 24). Nunca se tinha visto uma santidade
assim: não preocupada consigo mesma mas inclinada para fora. Uma santidade — a
de Jesus — que se alarga em círculos concêntricos, como quando se lança uma
pedra num lago. O mal tem os dias contados — o mal não é eterno — o mal não nos
pode prejudicar: chegou o homem forte que toma posse da sua casa (cf. Mc 3,
23-27). E este homem forte é Jesus, que dá também a nós a força para tomar
posse da nossa casa interior.
A oração afasta qualquer temor.
O Pai ama-nos, o Filho ergue os braços apoiando-os aos nossos, o Espírito age
em segredo pela redenção do mundo. E nós? Não vacilemos na incerteza. Tenhamos
uma grande certeza: Deus ama-me; Jesus doou a vida por mim! O Espírito está
dentro de mim. Esta é a grande verdade. E o mal? Tem medo. E isto é bom.
Catequese sobre o Pai-Nosso - 9
- "Venha a nós o vosso Reino"
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Quando rezamos o “Pai-Nosso”, a
segunda invocação com a qual nos dirigimos a Deus é «venha a nós o vosso Reino»
(Mt 6, 10). Depois de ter rezado para que o seu nome seja
santificado, o crente expressa o desejo de que se apresse a vinda do seu Reino.
Este desejo brotou, por assim dizer, do próprio coração de Cristo, que deu
início à sua pregação na Galileia proclamando: «Completou-se o tempo e o Reino
de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1,
15). Estas palavras não são minimamente uma ameaça, ao contrário, são um feliz
anúncio, uma mensagem de alegria. Jesus não quer forçar as pessoas a
converter-se semeando o medo do juízo iminente de Deus ou o sentimento de culpa
pelo mal cometido. Jesus não faz proselitismo: simplesmente anuncia. Ao
contrário, a que Ele traz é a Boa Nova da salvação, e a partir dela chama a
converter-se. Cada um é convidado a acreditar no “evangelho”: o senhorio de
Deus tornou-se próximo dos seus filhos. Este é o Evangelho: o senhorio de Deus
fez-se próximo dos seus filhos. E Jesus anuncia esta maravilha, esta graça:
Deus, o Pai, ama-nos, está próximo de nós e ensina-nos a andar pelo caminho da
santidade.
Os sinais da vinda deste Reino
são numerosos e todos positivos. Jesus começa o seu ministério cuidando dos
doentes, quer no corpo quer no espírito, de quantos viviam uma exclusão social
— por exemplo os leprosos — dos pecadores desprezados por todos, até por
aqueles que eram mais pecadores do que eles mas se fingiam justos. E como os
chama Jesus? “Hipócritas”. O próprio Jesus indica estes sinais, os sinais do
Reino de Deus: «Os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres» (Mt 11,
5).
“Venha a nós o vosso Reino!”,
repete com insistência o cristão quando reza o “Pai-Nosso”. Jesus veio; mas o
mundo ainda está marcado pelo pecado, povoado por tantas pessoas que sofrem,
por pessoas que não se reconciliam nem perdoam, por guerras e muitas formas de
exploração, pensemos no tráfico de crianças, por exemplo. Todas estas
realidades são a prova de que a vitória de Cristo ainda não se concretizou
totalmente: muitos homens e mulheres ainda vivem com o coração fechado. É
sobretudo nestas situações que aos lábios do cristão aflora a segunda invocação
do “Pai-Nosso”: “venha a nós o vosso Reino!”. Que é como dizer: “Pai,
precisamos de Ti! Jesus, precisamos de ti, temos necessidade de que em toda a
parte e para sempre Tu sejas o Senhor no meio de nós!”. “Venha a nós o vosso
Reino, que tu estejas entre nós”.
Por vezes perguntamo-nos: porque
este Reino se realiza tão lentamente? Jesus gosta de falar da sua vitória com a
linguagem das parábolas. Por exemplo, diz que o Reino de Deus é semelhante a um
campo no qual crescem juntos o trigo e o joio: o pior erro seria querer
intervir imediatamente extirpando do mundo aquelas que nos parecem ervas
daninhas. Deus não é como nós, Deus tem paciência. Não é com a violência que se
instaura o Reino no mundo: o seu estilo de propagação é a mansidão (cf. Mt 13,
24-30).
O Reino de Deus é certamente uma
grande força, a maior que existe, mas não segundo os critérios do mundo; por
isso parece nunca ter a maioria absoluta. É como o fermento que se mistura com
a farinha: aparentemente desaparece, mas é precisamente isso que faz fermentar
a massa (cf. Mt 13, 33). Ou então, é como um grão de mostarda,
que é tão pequenino, quase invisível, mas tem em si a impetuosa força da
natureza, e quando cresce torna-se a maior planta do horto (cf. Mt 13,
31-32). Neste “destino” do Reino de Deus pode-se intuir a trama da vida de
Jesus: também Ele foi para os seus contemporâneos um sinal frágil, um evento
quase desconhecido pelos historiadores da época. Um «grão de trigo», assim Ele
mesmo se definiu, que morre na terra mas só assim pode dar «muito fruto»
(cf. Jo 12, 24). O símbolo da semente é eloquente: um dia o
camponês lança à terra (um gesto que parece uma sepultura), e depois «quer
esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e
cresce, sem ele saber como» (Mc 4, 27). Uma semente que germina é
mais obra de Deus do que do homem que semeou (cf. Mc 4, 27).
Deus precede-nos sempre, Deus surpreende-nos sempre. Graças a Ele depois da
noite da Sexta-feira Santa há uma alvorada de Ressurreição capaz de iluminar de
esperança o mundo inteiro.
“Venha a nós o Vosso Reino!”.
Semeemos esta palavra no meio dos nossos pecados e das nossas faltas.
Ofereçamo-la às pessoas derrotadas e martirizadas pela vida, a quem conheceu
mais ódio do que amor, a quem viveu dias inúteis sem nunca compreender porquê.
Ofereçamo-la a quantos lutaram pela justiça, a todos os mártires da história, a
quem se deu conta que combateu por nada e que neste mundo domina sempre o mal.
Ouviremos então que a prece do “Pai-Nosso” responde. Repetirá mais uma vez
aquelas palavras de esperança, as mesmas que o Espírito colocou como selo da
inteira Sagrada Escritura: “Sim, venho depressa!”: esta é a resposta do Senhor.
“Venho depressa”. Amém. E a Igreja do Senhor responde: “Vinde, Senhor Jesus”
(cf. Ap 2, 20). “Venha a nós o vosso Reino” é como dizer
“Vinde, Senhor Jesus”. E Jesus responde: “Virei depressa”. E Jesus vem, à sua
maneira, mas todos os dias. Tenhamos confiança nisto. E quando rezarmos o
“Pai-Nosso” digamos sempre: “Venha a nós o vosso Reino”, para sentir no
coração: “Sim, sim, venho, e venho depressa”. Obrigado!
Catequese sobre o Pai-Nosso - 10
- "Seja feita a vossa vontade"
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguindo as nossas
catequeses sobre o “Pai-Nosso”, hoje analisamos a terceira invocação: «Seja
feita a vossa vontade». Ela deve ser lida em unidade com as primeiras duas —
«santificado seja o vosso nome» e «venha a nós o vosso Reino» — de modo que o
conjunto forme um tríptico: «santificado seja o vosso nome», venha a nós o
vosso Reino», «seja feita a Vossa vontade». Hoje falaremos da terceira.
Antes do cuidado do mundo por
parte do homem, há o cuidado incansável que Deus dedica ao homem e ao mundo. O
inteiro Evangelho reflete esta inversão de perspectiva. O pecador Zaqueu sobe a
uma árvore porque quer ver Jesus, mas não sabe que, muito antes, Deus se tinha
posto à sua procura. Jesus, quando chega, diz-lhe: «Zaqueu, desce depressa,
pois hoje tenho de ficar em tua casa». E no final declara: «pois, o Filho do
Homem veio procurar e salvar o que estava perdido» (Lc 19, 5.10).
Eis a vontade de Deus, aquela que nós pedimos que seja feita. Qual é a vontade
de Deus encarnada em Jesus? Procurar e salvar o que está perdido. E nós, na
oração, pedimos que a busca de Deus tenha bom êxito, que o seu desígnio
universal de salvação se realize, primeiro, em cada um de nós e depois em todo
o mundo. Pensastes no que significa que Deus está à minha procura? Cada um de
nós pode dizer: “Como, Deus procura-me?” — “Sim!” Procura-te! Procura a mim”:
procura cada um de nós, pessoalmente. Deus é grande! Quanto amor há por detrás
de tudo isto.
Deus não é ambíguo, não se
esconde por detrás de enigmas, não planificou o futuro do mundo de maneira
indecifrável. Não, Ele é claro. Se não compreendemos isto, corremos o risco de
não compreender o sentido da terceira expressão do “Pai-Nosso”. Com efeito, a
Bíblia está cheia de expressões que nos narram a vontade positiva de Deus em
relação ao mundo. E no Catecismo da Igreja Católica encontramos
uma recolha de citações que testemunham esta vontade divina fiel e paciente
(cf. nn. 2821-2827). E São Paulo, na Primeira Carta a Timóteo, escreve: «Deus
quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (2,
4). Esta é, sem dúvida alguma, a vontade de Deus: a salvação do homem, dos
homens, de cada um de nós. Deus bate à porta do nosso coração com o seu amor.
Porquê? Para nos atrair; para nos atrair a Ele e nos levar em frente no caminho
da salvação. Deus está próximo de nós com o seu amor, para nos levar pela mão à
salvação. Quanto amor há por detrás disto!
Por conseguinte, rezando “seja
feita a Vossa vontade”, não somos convidados a inclinar servilmente a cabeça,
como se fôssemos escravos. Não! Deus quer-nos livres; é o Seu amor que nos
liberta. Com efeito, o “Pai-Nosso” é a oração dos filhos, não dos escravos; mas
dos filhos que conhecem o coração do seu pai e têm a certeza do seu desígnio de
amor. Ai de nós se, pronunciando estas palavras, levantarmos os ombros em sinal
de rendição diante de um destino que nos repugna e que não conseguimos mudar.
Ao contrário, é uma oração cheia de confiança fervorosa em Deus que quer para
nós o bem, a vida, a salvação. Uma oração corajosa, até combativa, pois há no
mundo muitas, demasiadas realidades que não são segundo os planos de Deus.
Todos as conhecemos. Parafraseando o profeta Isaías, poderíamos dizer: “Aqui,
Pai, há a guerra, a prevaricação, a exploração; mas sabemos que Vós quereis o
nosso bem, por isso Vos suplicamos; seja feita a Vossa vontade! Senhor,
invertei os planos do mundo, transformai as espadas em arados e as lanças em
foices; que ninguém se exercite mais para a arte da guerra!” (cf. 2, 4). Deus
deseja a paz.
O “Pai-Nosso” é uma oração que
acende em nós o mesmo amor de Jesus por vontade do Pai, uma chama que estimula
a transformar o mundo com o amor. O cristão não acredita num “fato”
incontornável. Nada há de incerto na fé dos cristãos: ao contrário, há a
salvação que aguarda para se manifestar na vida de cada homem e mulher e para
se cumprir na eternidade. Se rezamos é por que acreditamos que Deus pode e quer
transformar a realidade vencendo o mal com o bem. A este Deus tem sentido
obedecer e abandonar-se até no momento da provação mais difícil.
Foi assim para Jesus no jardim
do Getsemani, quando experimentou a angústia e rezou: «Pai, se quiseres, afasta
de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua» (Lc 22,
42). Jesus está oprimido pelo mal do mundo, mas abandona-se confiante no oceano
do amor à vontade do Pai. Também os mártires, na sua provação, não procuravam a
morte, procuravam o pós-morte, a ressurreição. Deus, por amor, pode levar-nos a
caminhar por veredas difíceis, a experimentar feridas e espinhos dolorosos, mas
nunca nos abandona. Estará sempre conosco, ao nosso lado, dentro de nós. Para
um crente esta é, mais do que uma esperança, uma certeza. Deus está comigo. A
mesma que encontramos naquela parábola do Evangelho de Lucas dedicada à
necessidade de rezar sempre. Jesus diz: «E Deus não fará justiça aos seus
eleitos, que a Ele clamam dia e noite, e há-de fazê-los esperar? Eu vos digo
que lhes vai fazer justiça prontamente» (18, 7-8). Assim é o Senhor, é deste
modo que ele nos ama, que gosta de nós. Mas eu sinto vontade de vos convidar,
agora, todos juntos a rezar o Pai-Nosso. E quantos de vós não souberem o
italiano, rezai-o na vossa língua. Rezemos juntos.
Catequese sobre o Pai-Nosso - 11
«O pão nosso de cada dia nos dai hoje»
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje passamos a analisar a
segunda parte do “Pai-Nosso”, aquela na qual apresentamos a Deus as nossas
necessidades. Esta segunda parte começa com uma palavra que perfuma de dia a
dia: o pão.
A oração de Jesus parte de uma
pergunta impelente, que é muito semelhante à imploração de um mendigo: “O pão nosso
de cada dia nos dai hoje!”. Esta oração provém de uma evidência que muitas
vezes esquecemos, ou seja, que não somos criaturas autossuficientes, e que
todos os dias precisamos de nos alimentar.
As Escrituras mostram-nos que
para muitas pessoas o encontro com Jesus se realizou a partir de uma pergunta.
Jesus não pede invocações requintadas, aliás, toda a existência humana, com os
seus problemas mais concretos e diários, se pode tornar prece. Nos Evangelhos
encontramos uma multidão de mendigos que suplicam libertação e salvação. Há
quem pede o pão, quem a cura; alguns a purificação, outros a vista; ou que uma
pessoa querida possa reviver... Jesus nunca fica indiferente face a estes
pedidos e padecimentos.
Por conseguinte, Jesus ensina a
pedir ao Pai o pão de cada dia. E ensina-nos a fazê-lo juntamente com muitos
homens e mulheres para os quais esta prece é um grito — muitas vezes abafado —
que acompanha a ansiedade de todos os dias. Quantas mães e quantos pais, ainda
hoje, vão dormir com o tormento de não ter no dia seguinte o pão suficiente
para os próprios filhos! Imaginemos esta oração recitada não na segurança de um
apartamento confortável, mas na precariedade de um ambiente ao qual se adapta,
onde falta o necessário para viver. As palavras de Jesus assumem uma força
nova. A oração cristã começa por este nível. Não é um exercício para ascetas;
parte da realidade, do coração e da carne de pessoas que vivem em necessidade,
ou que partilham a condição de quem não dispõe do necessário para viver. Nem
sequer os místicos cristãos mais elevados podem prescindir da simplicidade
deste pedido. “Pai, faz com que para nós e para todos, hoje, haja o pão
necessário”. E “pão” significa água, medicamentos, casa, trabalho... Pedir o
necessário para viver.
O pão que o cristão pede na
oração não é o “meu” pão mas o “nosso”. Assim quer Jesus. Ensina-nos a pedi-lo
não só para nós mesmos, mas para a inteira fraternidade do mundo. Se não se
rezar deste modo, o “Pai-Nosso” deixa de ser uma oração cristã. Se Deus é o
nosso Pai, como nos podemos apresentar a Ele sem nos darmos a mão? Todos nós. E
se roubarmos uns aos outros o pão que Ele nos concede, como podemos dizer que
somos seus filhos? Esta prece contém uma atitude de empatia, uma atitude de
solidariedade. Na minha fome sinto a fome das multidões, e então rezarei a Deus
enquanto o pedido delas não for ouvido. Assim Jesus educa a sua comunidade, a
sua Igreja, a apresentar a Deus as necessidades de todos: “Todos somos Vossos
filhos, tende piedade de nós!”. E agora far-nos-á bem pensar por alguns
momentos nas crianças famintas. Pensemos nas crianças que vivem em países em
guerra: nas crianças famintas do Iémen, nas crianças famintas na Síria, nas
crianças famintas em muitos países onde não há pão, no Sudão do Sul. Pensemos
nestas crianças e pensando nelas recitemos juntos, em voz alta, a prece: “Pai,
o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Todos juntos.
O pão que pedimos ao Senhor na
oração é o mesmo que um dia nos acusará. Repreender-nos-á o pouco hábito de o
repartir com quem está próximo, o pouco hábito de o repartir. Era um pão
oferecido à humanidade, e ao contrário foi comido só por alguns: o amor não
pode suportar isto. O nosso amor não o pode suportar; nem sequer o amor de Deus
pode suportar este egoísmo de não repartir o pão.
Certa vez havia uma grande
multidão diante de Jesus; eram pessoas que tinham fome. Jesus perguntou se
havia entre eles quem tivesse alguma coisa, e viu que só uma criança estava
disposta a partilhar aquilo de que dispunha: cinco pães e dois peixes. Jesus multiplicou
aquele gesto generoso (cf. Jo 6, 9). Aquele menino tinha
compreendido a lição do “Pai-Nosso”: que os alimentos não são propriedade
individual — convençamo-nos disto: os alimentos não são propriedade individual
— mas providência a partilhar, com a graça de Deus.
O verdadeiro milagre realizado
por Jesus naquele dia não foi tanto a multiplicação — que foi verdadeira — mas
a partilha: dai-me o que tendes e eu farei o milagre. Ele mesmo, multiplicando
aquele pão oferecido, antecipou a oferenda de Si no Pão eucarístico. Com
efeito, só a Eucaristia é capaz de saciar a fome de infinito e o desejo de Deus
que anima cada homem, até na busca do pão de cada dia.
Catequese sobre o Pai-Nosso -
12 «Perdoai-nos os nossos pecados assim como nós perdoamos a quem nos
tem ofendido».
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O dia não é muito agradável, mas
não obstante bom dia!
Depois de ter pedido a Deus o
pão de cada dia, a prece do “Pai-Nosso” entra no campo das nossas relações com
os demais. E Jesus ensina-nos a pedir ao Pai: «Perdoai-nos os nossos pecados
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). Assim
como precisamos do pão, também precisamos do perdão. E isto, todos os dias.
O cristão que reza, antes de
tudo, pede a Deus que sejam perdoados os seus pecados, ou seja, as
suas faltas, as más ações que comete. Esta é a primeira verdade de cada oração:
fôssemos até pessoas perfeitas, fôssemos até santos cristalinos que nunca se
desviam de uma vida de bem, permanecemos sempre filhos que devem tudo ao Pai.
Qual é a atitude mais perigosa de cada vida cristã? É o orgulho. É a atitude de
quem se coloca diante de Deus pensando que tem sempre as contas em ordem com
Ele: o orgulhoso pensa que está tudo bem consigo. Como o fariseu da parábola,
que no templo pensa que reza mas na realidade louva-se a si mesmo diante de
Deus: “Agradeço-te, Senhor, porque eu não sou como os outros”. E as pessoas que
se sentem perfeitas, que criticam os outros, são pessoas orgulhosas. Ninguém é
perfeito, ninguém. Ao contrário o publicano, que estava atrás, no templo, um
pecador desprezado por todos, para no limiar do templo, e não se sente digno de
entrar e recomenda-se à misericórdia de Deus. E Jesus comenta: «Este voltou
justificado para sua casa» (Lc 18, 14), ou seja, perdoado, salvo.
Porquê? Porque não era orgulhoso, porque reconhecia os seus limites e os seus
pecados.
Há pecados que se veem e pecados
que não se veem. Há pecados evidentes que fazem barulho, mas há também pecados
súbtos, que se escondem no coração sem que nem sequer nos apercebamos. O pior
deles é a soberba que pode contagiar também pessoas que vivem uma vida
religiosa intensa. Havia outrora um convento de religiosas, no ano 1600-1700,
famoso, no tempo do jansenismo: eram perfeitíssimas e dizia-se que eram
puríssimas como os anjos, mas soberbas como os demônios. E isto é mau. O pecado
divide a fraternidade, o pecado faz-nos presumir que somos melhores que os
outros, o pecado faz-nos crer que somos semelhantes a Deus.
Mas ao contrário, diante de Deus
somos todos pecadores e temos motivos para bater a mão no peito — todos! — como
aquele publicano no templo. São João, na sua primeira Carta, escreve: «Se
dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em
nós» (1 Jo 1, 8). Se quiseres enganar-te a ti mesmo, diz que não
pecaste: assim estás a enganar-te.
Somos devedores, antes de tudo,
porque nesta vida recebemos tanto: a existência, um pai e uma mãe, a amizade,
as maravilhas da criação... Mesmo se acontece a todos ter dias difíceis,
devemos recordar-nos sempre que a vida é uma graça, é o milagre que Deus tirou
do nada.
Em segundo lugar somos devedores
porque, mesmo se conseguimos amar, nenhum de nós é capaz de o fazer unicamente
com as suas forças. O amor verdadeiro é quando podemos amar, mas com a graça de
Deus. Nenhum de nós brilha de luz própria. Há aquilo a que os teólogos antigos
chamavam um “mysterium lunae” não só na identidade da Igreja, mas também
na história de cada um de nós. O que significa este “mysterium lunae”?
Que é como a lua, que não tem luz própria: reflete a luz do sol. Também nós,
não temos luz própria: a luz que temos é um reflexo da graça de Deus, da luz de
Deus. Se amares é porque alguém, ao teu redor, te sorriu quando eras uma
criança, ensinando-te a responder com um sorriso. Se amas é porque alguém ao
teu lado te despertou para o amor, fazendo-te compreender que nele reside o
sentido da existência.
Procuremos ouvir a história de
alguma pessoa que errou: um preso, um condenado, um drogado... conhecemos
tantas pessoas que erram na vida. À exceção da responsabilidade, que é sempre
pessoal, algumas vezes podemos perguntar quem deve ser culpado pelos seus
erros, se unicamente a sua consciência, ou a história de ódio e de abandono que
alguém carrega consigo.
E isto é o mistério da lua:
amemos antes de tudo porque fomos amados, perdoemos porque fomos perdoados. E
se alguém não foi iluminado pela luz do sol, torna-se gélido como o terreno no
inverno.
Como não reconhecer, na corrente
de amor que nos precede, também a presença providencial do amor de Deus? Nenhum
de nós ama Deus quanto Ele nos amou. É suficiente pôr-se diante de um crucifixo
para compreender a desproporção: Ele amou-nos e ama-nos sempre primeiro.
Portanto rezemos: Senhor, até o
mais santo no meio de nós não deixa de ser teu devedor. Ó Pai, tem piedade de
todos nós!
Catequese sobre o "Pai
Nosso": 13 - "Como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido"
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje completamos a catequese
sobre o quinto pedido do “Pai-Nosso”, analisando a expressão «assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). Vimos que é próprio
do homem ser devedor diante de Deus: d’Ele recebemos tudo, em termos de
natureza e de graça. A nossa vida não só foi querida, mas foi amada por Deus.
Deveras não há espaço para a presunção quando juntamos as mãos para rezar. Não
existem na Igreja “self made man”, homens que se fizeram sozinhos. Todos
somos devedores para com Deus e para com tantas pessoas que nos proporcionaram
condições de vida favoráveis. A nossa identidade constrói-se a partir do bem
recebido. O primeiro é a vida.
Quem reza aprende a dizer
“obrigado”. E nós muitas vezes esquecemo-nos de dizer “obrigado”, somos
egoístas. Quem reza aprende a dizer “obrigado” e pede a Deus para ser benévolo
com o próximo. Por muito que nos esforcemos, permanece sempre uma dívida
impagável diante de Deus, que nunca poderemos restituir: Ele ama-nos
infinitamente mais de quanto nós o amamos. E depois, por muito que nos
empenhemos para viver segundo os ensinamentos cristãos, na nossa vida haverá
sempre alguma coisa da qual pedir perdão: pensemos nos dias passados na
preguiça, nos momentos em que o rancor invadiu o nosso coração e assim por
diante... São estas experiências, infelizmente não raras, que nos fazem implorar:
“Senhor, Pai, perdoai-nos os nossos pecados”. Deste modo pedimos perdão a Deus.
Pensando bem, a invocação podia
até limitar-se a esta primeira parte; teria sido bela. Ao contrário Jesus
liquida-a com uma segunda expressão que é um todo com a primeira. A relação de
benevolência vertical por parte de Deus desvia-se e é chamada a traduzir-se
numa relação nova que vivemos com os nossos irmãos: uma relação horizontal. O
Deus bom convida-nos a sermos todos bondosos. As duas partes da invocação
ligam-se com uma conjunção impiedosa: pedimos ao Senhor que perdoe os nossos
pecados, as nossas faltas, “como” nós perdoamos aos nossos amigos, às pessoas
que vivem conosco, aos nossos vizinhos, a quem nos fez alguma coisa
desagradável.
Cada cristão sabe que existe para
ele o perdão dos pecados, isto todos o sabemos: Deus perdoa tudo e perdoa
sempre. Quando Jesus conta aos seus discípulos o rosto de Deus, esboça-o com
expressões de terna misericórdia. Diz que há mais alegria no céu por um pecador
que se arrepende, do que por uma multidão de justos que não precisam de
conversão (cf. Lc 15, 7-10). Nos Evangelhos nada deixa
suspeitar que Deus não perdoa os pecados de quem está bem disposto e pede para
ser reabraçado.
Mas a graça de Deus, tão
abundante, é sempre exigente. Quem recebeu muito deve aprender a dar muito e a
não reter só para si aquilo que recebeu. Quem recebeu muito deve aprender a dar
muito. Não é ocasional que o Evangelho de Mateus, logo depois de ter oferecido
o texto do “Pai-Nosso”, entre as sete expressões usadas frise precisamente a do
perdão fraterno: «Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o
vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as
suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas» (Mt 6,
14-15). Mas isto é forte! Eu penso: algumas vezes ouvi quem disse: “Nunca
perdoarei aquela pessoa! Nunca perdoarei o que me fez!”. Mas se tu não
perdoares, Deus nunca te perdoará. Fechas a porta. Pensemos se nós somos
capazes de perdoar ou se não perdoamos. Um sacerdote, quando eu estava na outra
diocese, contou-me angustiado que tinha ido conferir os últimos sacramentos a
uma idosa que estava em ponto de morte. A pobre senhora não conseguia falar. E
o sacerdote disse: “Senhora, arrepende-se dos pecados?”. A senhora acenou que
sim; não os podia confessar mas acenou que sim. É suficiente. E depois ainda:
“A senhora perdoa os demais?”. E a senhora, em ponto de morte acenou que não. O
sacerdote ficou angustiado. Se tu não perdoares, Deus não te perdoará. Pensemos
se nós cristãos, aqui, perdoamos, se somos capazes de perdoar. “Padre, eu não
consigo, porque aquela gente fez-me tantas”. “Mas se tu não conseguires, pede
ao Senhor que te conceda a força para conseguires: Senhor, ajuda-me a perdoar.
Encontramos aqui a ligação entre o amor a Deus e o amor ao próximo. Amor chama
amor, perdão chama perdão. Ainda em Mateus encontramos outra parábola muito
intensa dedicada ao perdão fraterno (cf. 18, 21-35). Ouçamo-la.
Havia um servo que tinha
contraído uma dívida enorme com o seu rei: dez mil talentos! Uma quantia
impossível de restituir; não sei quanto seria hoje, mas centenas de milhões.
Mas aconteceu o milagre, e aquele servo não obtém um prazo mais longo para
pagar, mas o perdão total. Uma graça inesperada! Mas eis que precisamente
aquele servo, logo a seguir, se volta contra um seu irmão que lhe deve cem
denários — pouca coisa — e, mesmo sendo esta uma quantia acessível, não aceita
desculpas nem súplicas. Por isso, no final, o dono chama-o e condena-o. Pois se
não te esforças por perdoar, não serás perdoado; se não te esforças por amar,
também não serás amado.
Jesus insere nas relações
humanas a força do perdão. Na vida nem tudo se resolve com a justiça. Não.
Sobretudo onde se deve pôr um limite ao mal, alguém tem que amar além do
devido, para recomeçar uma história de graça. O mal conhece as suas vinganças,
e se ele não for interrompido corre o risco de se alastrar sufocando o mundo
inteiro.
Jesus substitui a lei de talião
— o que me fizeste, eu restituo-te — com a lei do amor: aquilo que
Deus fez a mim, eu restituo-o a ti! Pensemos hoje, nesta semana de Páscoa tão
bonita, se eu sou capaz de perdoar. E se não me sentir capaz, devo pedir ao
Senhor que me conceda a graça de perdoar, pois saber perdoar é uma graça.
Deus concede a cada cristão a
graça de escrever uma história de bem na vida dos seus irmãos, especialmente
daqueles que fizeram algo desagradável e errado. Com uma palavra, um abraço, um
sorriso, podemos transmitir aos outros aquilo que recebemos de mais precioso.
Qual é a coisa preciosa que recebemos? O perdão, que devemos ser capazes de dar
também aos demais.
Catequese sobre o "Pai
Nosso”: 14 - "Não nos deixeis cair em tentação"
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguimos a catequese sobre o
“Pai-Nosso”, chegando hoje à penúltima invocação: «Não nos abandones à
tentação» [versão em italiano]. Outra versão diz: «Não nos deixeis cair em
tentação» (Mt 6, 13). O “Pai-Nosso” começa de maneira serena:
faz-nos desejar que o grande projeto de Deus se possa realizar no meio de nós.
Depois lança um olhar à vida, e faz-nos pedir aquilo de que precisamos todos os
dias: o “pão de cada dia”. Em seguida, a oração concentra-se nas nossas
relações interpessoais, muitas vezes poluídas pelo egoísmo: pedimos o perdão e
comprometemo-nos a concedê-lo. Mas é com esta última invocação que o nosso
diálogo com o Pai celeste entra, por assim dizer, vai ao cerne do drama, ou
seja, ao âmbito do confronto entre a nossa liberdade e as ciladas do maligno.
Como se sabe, a expressão
original grega contida nos Evangelhos é difícil de traduzir de maneira exata, e
todas as traduções modernas são um pouco imprecisas. Mas sobre um elemento
podemos convergir de maneira unânime: seja qual for a interpretação do texto,
devemos excluir que é Deus o protagonista das tentações que ameaçam o caminho
do homem. Como se Deus estivesse emboscado para armar ciladas e armadilhas aos
seus filhos. Uma interpretação deste gênero antes de tudo está em contraste com
o próprio texto, e longe da imagem de Deus que Jesus nos revelou. Não
esqueçamos: o “Pai-Nosso” começa com “Pai”. E um pai não arma ciladas aos
filhos. Os cristãos não têm que lidar com um Deus invejoso, em competição com o
homem, ou que se diverte a pô-lo à prova. Estas são as imagens de tantas
divindades pagãs. Lemos na Carta de Tiago apóstolo: «Ninguém diga, quando for
tentado pelo mal: “É Deus que me tenta”. Porque Deus não é tentado pelo mal,
nem tenta ninguém» (1, 13). No máximo é o contrário: o Pai não é o autor do
mal, a nenhum filho que pede um peixe ele dá uma serpente (cf. Lc 11,
11) — como ensina Jesus — e quando o mal se insinua na vida do homem, combate
ao seu lado, para que possa ser libertado. Um Deus que combate sempre por nós,
não contra nós. É o Pai! É neste sentido que rezamos o “Pai-Nosso”.
Estes dois momentos — a prova e
a tentação — estiveram misteriosamente presentes na vida de Jesus. Nesta
experiência o Filho de Deus fez-se completamente nosso irmão, duma maneira que
chega quase ao escândalo. E são precisamente estes excertos evangélicos que nos
demonstram que as invocações mais difíceis do “Pai-Nosso”, aquelas que encerram
o texto, já foram ouvidas: Deus não nos deixou sozinhos, mas em Jesus Ele
manifesta-se como o “Deus-conosco” até às extremas consequências. Está conosco
quando nos dá a vida, está conosco durante a vida, está conosco na alegria,
está conosco nas provações, está conosco nas tristezas, está conosco nas
derrotas, quando pecamos, mas está sempre conosco, porque é Pai e não nos pode
abandonar.
Se formos tentados a praticar o
mal, negando a fraternidade com os outros e desejando um poder absoluto sobre
tudo e sobre todos, Jesus já combateu por nós esta tentação: confirmam-no as
primeiras páginas dos Evangelhos. Logo depois de ter recebido o batismo pelas
mãos de João, no meio da multidão dos pecadores, Jesus retira-se no deserto e é
tentado por Satanás. Começa assim a vida pública de Jesus, com as tentações que
vêm de Satanás. Satanás estava presente. Muitas pessoas dizem: “mas por que
falar do diabo que é uma coisa antiga? O diabo não existe”. Repara no que te
ensina o Evangelho: Jesus confrontou-se com o diabo, foi tentado por Satanás.
Mas Jesus afasta qualquer tentação e sai vitorioso. O Evangelho de Mateus tem
um aspeto interessante que encerra o duelo entre Jesus e o Inimigo: «Então, o
diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no» (4, 11).
Mas também no tempo da provação
suprema Deus não nos deixa sozinhos. Quando Jesus se retira para rezar no Getsemani,
o seu coração é invadido por uma angústia indescritível — assim diz aos
discípulos — e Ele experimenta a solidão e o abandono. Sozinho, com a
responsabilidade de todos os pecados do mundo sobre os ombros; sozinho, com uma
angústia inenarrável. A provação é tão dilacerante que acontece algo
inesperado. Jesus nunca mendiga amor para si mesmo, contudo naquela noite sente
a sua alma triste até à morte, e então pede a proximidade dos seus amigos:
«ficai aqui e vigiai comigo» (Mt 26, 38). Como sabemos, os
discípulos, sobrecarregados por um entorpecimento causado pelo medo,
adormeceram. No tempo da agonia, Deus pede ao homem que não o abandone, e ao
contrário o homem dorme. No tempo em que o homem conhece a sua provação, Deus
vigia. Nos momentos mais difíceis da nossa vida, nos momentos de mais
sofrimento, nos momentos mais angustiantes, Deus vigia conosco, Deus luta
conosco, está sempre próximo de nós. Porquê? Porque é Pai. Começamos assim a
oração: “Pai-Nosso”. E um pai não abandona os seus filhos. Aquela noite de dor
e de luta são para Jesus o último selo da Encarnação: Deus desce para se
encontrar conosco nos nossos abismos e nas aflições que constelam a história.
É o nosso conforto na hora da
provação: saber que aquele vale, desde quando Jesus o atravessou, já não está
desolado, mas está abençoado pela presença do Filho de Deus. Ele nunca nos
abandonará!
Por conseguinte, ó Deus, afasta
de nós o tempo da provação e da tentação. Mas quando chegar para nós este
tempo, Pai nosso, mostra-nos que não estamos sozinhos. Tu és o Pai. Mostra-nos
que Cristo já carregou sobre si também o peso daquela cruz. Mostra-nos que
Jesus nos chama a carregá-la com Ele, abandonando-nos confiantes ao teu amor de
Pai. Obrigado.
Catequese sobre o "Pai
Nosso”: 15 - "Livrai-nos do mal"
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
E eis que chegamos ao sétimo
pedido do “Pai-Nosso”: «Livrai-nos do mal» (Mt 6, 13b).
Com esta expressão, quem reza
não só pede para não ser abandonado no tempo da tentação, mas suplica também
para ser libertado do mal. O verbo grego original é muito forte: evoca a
presença do maligno que tende a agarrar-nos e a morder-nos (cf. 1 Pd 5,
8) e do qual se pede a Deus a libertação. O apóstolo Pedro diz também que o
maligno, o diabo, está à nossa volta como um leão furioso, para nos devorar, e
nós pedimos a Deus que nos liberte.
Com esta dúplice súplica “não
nos deixeis cair em tentação” e “livrai-nos”, sobressai uma característica
essencial da oração cristã. Jesus ensina aos seus amigos a colocar a invocação
do Pai diante de tudo, até e sobretudo nos momentos nos quais o maligno faz
sentir a sua presença ameaçadora. Com efeito, a oração cristã não fecha os
olhos sobre a vida. É uma prece filial e não uma oração infantil. Não está
encantada pela paternidade de Deus, a ponto de esquecer que o caminho do homem
está cheio de dificuldades. Se não houvesse os últimos versos do “Pai-Nosso”
como poderiam rezar os pecadores, os perseguidos, os desesperados, os
moribundos? A última petição é precisamente o nosso pedido quando estivermos no
limite, sempre.
Há um mal na nossa vida, que é
uma presença incontestável. Os livros de história são o desolador catálogo de
quanto a nossa existência neste mundo tem sido uma aventura muitas vezes
fracassada. Há um mal misterioso, que certamente não é obra de Deus mas que
penetra silenciosamente nas dobras da história. Silencioso como a serpente que
leva o veneno sorrateiramente. Nalguns momentos parece que domina: em certos
dias a sua presença parece até mais nítida do que a da misericórdia de Deus.
O orante não é cego, e vê claramente
diante de si este mal tão pesado, e em contradição com o próprio mistério de
Deus. Divisa-o na natureza, na história, até no seu coração. Pois não há
ninguém entre nós que possa dizer que está livre do mal, ou que não se sente
pelo menos tentado. Todos nós sabemos o que é o mal; todos sabemos o que é a
tentação; todos experimentamos na nossa pele a tentação, de qualquer pecado.
Mas é o tentador que nos move e nos leva ao mal, dizendo-nos: “faz isto, pensa
isto, vai por aquele caminho”.
O último brado do “Pai-Nosso” é
lançado contra este mal “com orlas amplas”, que mantém debaixo do seu
guarda-chuva as experiências mais diversas: os lutos do homem, o sofrimento
inocente, a escravidão, a instrumentalização do outro, o pranto das crianças
inocentes. Todos estes eventos protestam no coração do homem e tornam-se voz na
última palavra da oração de Jesus.
É precisamente nas narrações da
Paixão que algumas expressões do “Pai-Nosso” encontram o seu eco mais
impressionante. Jesus diz: «Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este
cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres» (Mc 14,
36). Jesus experimenta totalmente o trespasse do mal. Não só a morte, mas a
morte de cruz. Não só a solidão, mas também o desprezo, a humilhação. Não só a
má vontade mas também a crueldade, a perseguição contra Ele. Eis o que é o
homem: um ser devotado à vida, que sonha o amor e o bem, mas que depois se
expõe continuamente ao mal, a si mesmo e aos seus semelhantes, a ponto que
podemos ser tentados a perder a esperança no homem.
Queridos irmãos e irmãs, assim o
“Pai-Nosso” assemelha-se a uma sinfonia que pede para ser realizada em cada um
de nós. O cristão sabe quanto é tentador o poder do mal, e ao mesmo tempo
experimenta como Jesus, que nunca cedeu às suas lisonjas, está da nossa parte e
vem em nossa ajuda.
Assim a oração de Jesus
deixa-nos a herança mais preciosa: a presença do Filho de Deus que nos libertou
do mal, lutando para o converter. Na hora do combate final, ordena a Pedro que
enfie a espada na bainha, garante ao ladrão arrependido o paraíso, a todos os
homens que estavam à sua volta, inconscientes da tragédia que estava a ser
consumada, oferece uma palavra de paz: «Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que
fazem» (Lc 23, 34).
Do perdão de Jesus na cruz jorra
a paz, a verdadeira paz vem da cruz: é dom do Ressuscitado, um dom que Jesus
nos concede. Pensai que a primeira saudação de Jesus ressuscitado é “a paz
esteja convosco”, a paz nas vossas almas, nos vossos corações, nas vossas
vidas. O Senhor concede-nos a paz, dá-nos o perdão mas nós devemos pedir:
“livrai-nos do mal”, para não cair no mal. Esta é a nossa esperança, a força
que Jesus ressuscitado nos concede, que está aqui, no meio de nós: está aqui.
Está aqui com aquela força que nos concede para irmos em frente, e promete que
nos liberta do mal.
Catequese sobre o "Pai
Nosso”: 16 - "Onde quer que estiveres, invoque o Pai"
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje concluímos o ciclo de
catequeses sobre o “Pai-Nosso”. Podemos dizer que a oração cristã nasce da
audácia de chamar Deus com o nome de “Pai”. Esta é a raiz da oração cristã:
dizer “Pai” a Deus. Mas é preciso coragem! Não se trata tanto de uma fórmula, quanto
de uma intimidade filial na qual somos introduzidos por graça: Jesus é o
revelador do Pai e doa-nos a familiaridade com Ele. «Não nos deixa uma fórmula
para ser repetida maquinalmente. Como em toda a oração vocal, é pela Palavra de
Deus que o Espírito Santo ensina os filhos de Deus a orar ao seu Pai» (Catecismo
da Igreja Católica, 2766). O próprio Jesus usou diversas expressões para
rezar ao Pai. Se lermos com atenção os Evangelhos, descobrimos que estas
expressões de oração que afloram aos lábios de Jesus evocam o texto do
“Pai-Nosso”.
Por exemplo, na noite do
Getsémani Jesus reza deste modo: «Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim
este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres» (Mc 14,
36). Já recordamos este texto do Evangelho de Marcos. Como não deixar de
reconhecer nesta prece, mesmo sendo breve, um vestígio do “Pai-Nosso”? No meio
das trevas, Jesus invoca Deus com o nome de “Abbá”, com confiança filial e,
mesmo sentindo medo e angústia, pede que se cumpra a sua vontade.
Noutros trechos do Evangelho
Jesus insiste com os seus discípulos, para que cultivem um espírito de oração.
A prece deve ser insistente, e sobretudo deve incluir a recordação dos irmãos,
sobretudo quando vivem relações difíceis com eles. Jesus diz: «Quando vos
levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe
primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas
ofensas» (Mc 11, 24-25). Como não reconhecer nestas expressões a
concordância com o “Pai-Nosso”? E os exemplos poderiam ser numerosos, também
para nós.
Nos escritos de São Paulo não
encontramos o texto do “Pai-Nosso”, mas a sua presença emerge naquela síntese
maravilhosa na qual a invocação do cristão se condensa numa só palavra: “Abbá!”
(cf. Rm 8, 15; Gl 4, 6).
No Evangelho de Lucas, Jesus
satisfaz plenamente o pedido dos discípulos que, vendo muitas vezes que Ele se
afasta e se imerge na oração, um dia decidem-se a pedir-lhe: «Senhor,
ensina-nos a orar, como João — o Batista — também ensinou os seus discípulos»
(11, 1). E então o Mestre ensinou-lhes a oração ao Pai.
Considerando o Novo Testamento
no seu conjunto, vê-se claramente que o primeiro protagonista de cada oração
cristã é o Espírito Santo. Mas não esqueçamos isto: protagonista de cada oração
cristã é o Espírito Santo. Nós nunca poderíamos rezar sem a força do Espírito
Santo. É Ele que reza em nós e nos move a rezar bem. Podemos pedir ao Espírito
que nos ensine a rezar, pois ele é o protagonista, aquele que faz a verdadeira
oração em nós. Ele sopra no coração de cada um de nós, que somos discípulos de
Jesus. O Espírito torna-nos capazes de rezar como filhos de Deus, como
realmente somos mediante o Batismo. O Espírito faz-nos rezar no “sulco” que
Jesus escavou para nós. Este é o mistério da oração cristã: por graça somos
atraídos naquele diálogo de amor da Santíssima Trindade.
Jesus rezava assim. Algumas
vezes usou expressões que certamente estão muito distantes do texto do
“Pai-Nosso”. Pensemos nas palavras iniciais do salmo 22, que Jesus pronuncia na
cruz: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Mt 27, 46).
Pode o Pai celeste abandonar o seu Filho? Claro que não. Contudo o amor por
nós, pecadores, levou Jesus até este ponto: até experimentar o abandono de
Deus, a sua distância, pois assumiu sobre si todos os nossos pecados. Mas
também no grito angustiado, permanece o «meu Deus, meu Deus».
Naquele “meu” está o núcleo da relação com o Pai, está o fulcro da fé e da
oração.
Eis por que, a partir deste
fulcro, um cristão pode rezar em qualquer situação. Pode assumir todas as
orações da Bíblia, especialmente dos Salmos; mas pode rezar também com tantas
expressões que em milênios de história brotaram do coração dos homens. E ao Pai
nunca deixemos de falar dos nossos irmãos e irmãs em humanidade, para que
nenhum deles, sobretudo os pobres, permaneça sem uma consolação nem uma porção
de amor.
No final desta catequese,
podemos repetir aquela oração de Jesus: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da
Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as
revelaste aos pequeninos» (Lc 10, 21). Para rezar devemos fazer-nos
pequeninos, para que o Espírito Santo venha em nós e seja Ele quem nos guia na
oração.
fonte: Vaticano
Nenhum comentário:
Postar um comentário