HISTÓRIA
DA SALVAÇÃO (História sagrada)
Anjos na história da salvação
§332
Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação,
anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de
sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu
fi1ho, seguram a mão de Abraão, comunicam a lei por seu ministério, conduzem o
povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas, para
citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o
nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.
Início da história da salvação
§280
A criação é o fundamento de "todos os desígnios salvíficos de Deus",
"o começo da história da salvação", que culmina em Cristo.
Inversamente, o mistério de Cristo é a luz decisiva sobre o mistério da
criação; ele revela o fim em vista do qual, "no princípio, Deus criou o
céu e a terra" (Gn 1,1): desde o início, Deus tinha em vista a glória da
nova criação em Cristo.
§1080
Desde o começo, Deus abençoa os seres vivos, especialmente o homem e a mulher.
A aliança com Noé e com todos os seres animados renova esta bênção de
fecundidade, apesar do pecado do homem, por causa do qual a terra é
"amaldiçoada". Mas é a partir de Abraão que a bênção divina penetra a
história dos homens, que caminhava para a morte, para fazê-la retomar à vida, à
sua fonte: pela fé do "pai dos crentes" que acolhe a bênção,
inaugura-se a história da salvação.
Israel na história da salvação
§431
Na História da Salvação, Deus não se contentou em libertar Israel da "casa
da escravidão" (Dt 5,6), fazendo-o sair do Egito. Salva-o também de seu
pecado. Por ser o pecado sempre uma ofensa feita a Deus, só ele pode perdoá-lo.
Por isso Israel, tomando consciência cada vez mais clara da universalidade do
pecado, não pode mais procurar a salvação a não ser na invocação do Nome do
Deus Redentor.
Jesus recapitula a história da salvação
§430
Jesus quer dizer, em hebraico, "Deus salva". No momento da
Anunciação, o anjo Gabriel dá-lhe como nome próprio o nome de Jesus, que
exprime ao mesmo tempo sua identidade e missão. Uma vez que "só Deus pode
perdoar os pecados" (Mc 2,7), é Ele que, em Jesus, seu Filho eterno feito
homem, "salvará seu povo dos pecados" (Mt 1,21). Em Jesus, portanto,
Deus recapitula toda a sua história de salvação em favor dos homens.
§668
CRISTO JÁ REINA PELA
IGREJA... "Cristo morreu e reviveu para ser o
Senhor dos mortos e dos vivos" (Rm 14,9). A Ascensão de Cristo ao Céu
significa sua participação, em sua humanidade, no poder e na autoridade do
próprio Deus. Jesus Cristo é Senhor: possui todo poder nos céus e na terra.
Está "acima de toda autoridade, poder, potentado e soberania", pois o
Pai "tudo submeteu a seus pés (Ef 1,20-22). Cristo é o Senhor do cosmo e
da história. Nele, a história do homem e mesmo toda a criação encontram sua
"recapitulação"' sua consumação transcendente
Liturgia e eventos da história da salvação
§1103 A anamnese. A celebração litúrgica
refere-se sempre às intervenções salvíficas de Deus na história. "A
economia da revelação concretiza-se por meio das ações e das palavras
intimamente interligadas.(...) As palavras proclamam as obras e elucidam o
mistério nelas contido." Na liturgia da palavra, o Espírito Santo
"recorda" à assembleia tudo o que Cristo fez por nós. Segundo a
natureza das ações litúrgicas e as tradições rituais das Igrejas, uma
celebração "faz memória" das maravilhas de Deus em uma anamnese mais
ou menos desenvolvida. O Espírito Santo, que desperta assim a memória da
Igreja, suscita então a ação de graças e o louvor (doxologia).APROFUNDANDO O TEMA
Paróquia São
Gonçalo de Amarante
Iniciação à Vida
Cristã - Jovens e Adultos
Catequista: Vera
Oliveira.
HISTÓRIA DA
SALVAÇÃO
A
História da Salvação vai desde a Criação até a Parusia.
Os
fatos narrados nos primeiros onze capítulos da Bíblia, advém de uma linguagem
simbólica da qual a Santa Igreja retira ensinamentos fundamentais para nossa
vida cristã.
A
Criação é o fundamento de "todos os desígnios salvíficos de Deus", o
"começo da história da salvação" que culmina em Cristo. pág 51
(Apostila IVIC - Catecumenato jovens e adultos).
a) As grandes
etapas da história da salvação
O
homem é um ser histórico. Sua característica fundamental é a capacidade de se
relacionar, de se comunicar com os outros. Por isso, só percebe e aprende
aquilo que se dá dentro da história e no coração dos vários processos de
relação que ele vive: consigo mesmo, com o mundo que o cerca, com os outros,
com o Deus que se revela.
O
povo de Israel já percebeu que Deus se revelava no meio da história e não fora
dela. Certos acontecimentos históricos não carregavam apenas o sentido que se
podia perceber imediatamente, com os olhos, os ouvidos. Mas apontavam para além
de si mesmos, para uma disposição e providência divinas. Assim, a presença de
Deus é percebida pelo povo no meio de acontecimentos como a guerra, a vitória e
a derrota, a passagem do Mar Vermelho e a libertação do Egito e o exílio. Ou
melhor, onde outros só viam a guerra, a vitória, a derrota, um acaso ou uma
fatalidade, o povo de Israel via a presença de seu Deus à frente e por dentro
de todos estes fatos.
Vemos
então que a Revelação de Deus é um horizonte a partir do qual se pode ler a
história numa perspectiva de totalidade. Isso quer dizer que a história não
decorre, para o povo de Israel, apenas das leis da necessidade. Para o povo de
Israel, assim como para todo aquele ou aquela que tem fé, nada acontece por
acaso. Mas tudo decorre e acontece perpassado por um SENTIDO maior que é o
próprio Deus e que deixa suas pegadas e sinais no meio dessa mesma história.
Afirmar
que Deus está presente na história e que é o Sentido maior dessa mesma história
é afirmar que é coerente, justo e necessário comprometer-se na história, lutar
pela justiça, a paz e a liberdade. Pois a história, sendo lugar de Revelação de
Deus, nos fornece:
Ø Um passado para referir e
re-memorar e narrar;
Ø Um presente para agir e
transformar;
Ø Um futuro para esperar, onde o
novo e o imprevisível terão sempre um lugar, e onde poderemos reconhecer a
Palavra d'Aquele que vem ao nosso encontro, nos fala e nos interpela.
Ora,
estando ligada intimamente com a Salvação, a Revelação faz com que toda a
história seja uma História de Salvação. Portanto, desde o começo, para o povo
de Israel, não existem duas histórias:
Ø Uma cronologia, profana, medida
pelo tempo, com os episódios do dia a dia, onde os fatos se sucedem um após o
outro, sem maiores ligações ou sentidos;
Ø Outra transcendente, aonde o
sentido de salvação está misteriosamente presente, misturando-se aos fatos
menores do cotidiano.
Existe uma só
história: a história de salvação, a história do amor de Deus que nos salva e da
nossa resposta, que é sempre parcial e ferida pelo pecado.
Se quisermos
entender melhor, podemos dizer que há uma só história, ainda que com dupla
eficácia:
a)
Nos fatos perceptíveis pelos sentidos humanos e no fio condutor e no sentido
que só a fé e a experiência da fé conseguem captar. Deus nos ama, nos fala e nos
salva, portanto, dentro da nossa história. Olhar para os fatos históricos
cronológicos não nos “distrai” o olhar para enxergar o que Deus está fazendo
por nós. O Deus que se revela na história não quer que saiamos da história para
encontrá-Lo, mas pelo contrário, deseja mais do que nunca que mergulhemos nesta
história para aí percebermos o Seu amor e a força que Ele nos dá para
construirmos junto com Ele uma história melhor para toda a humanidade.
b)
Assim é a história que está registrada na Bíblia. Primeiro houve a experiência
do povo de Israel com seu Deus. Depois veio a necessidade e o desejo de
registrar tudo isto por escrito. De tal maneira que hoje fazemos o percurso em
outra ordem, mas vai resultar na mesma coisa: primeiro lemos o texto bíblico. E
carregados com toda a nossa experiência, nos confrontamos com a experiência do
povo da Bíblia, que é lição de vida para nós. E vamos também interpretar, com a
ajuda da Bíblia, tudo que Deus vem fazendo em nossa vida e que vai nos
"salvando", ou seja, nos libertando daquilo que nos impede de
chegarmos mais perto dele.
A história da
salvação narrada na Bíblia pelo povo de Israel tem algumas grandes etapas:
1) A etapa da
promessa e da aliança:
é a etapa onde Deus promete ser o Deus do povo e Israel promete ser o povo de
Deus. Deus vai marcar a fidelidade à sua promessa fazendo Aliança explícita com
o povo no Sinai, depois de tê-lo libertado do cativeiro no Egito. Esta aliança
vai iluminar o presente do povo de Israel e vai também dar-lhe uma perspectiva
para que ele leia tudo o que veio antes: a criação, o dilúvio, Noé e Abraão. E
vai também ajudar o povo a entender o que vai vindo depois desta aliança selada
e constituída: a longa caminhada pelo deserto, a conquista da terra, as idas e
vindas do povo em termos de fidelidade e infidelidade.
Na
Bíblia, é bom ler e reler. Os personagens principais desta primeira grande
etapa da história da salvação são vários: Abraão,
o pai da fé e modelo da relação com Deus; Moisés,
o libertador do povo, o homem da intimidade com Deus, que recebe de Suas mãos o
código da Aliança, o decálogo; os
profetas, guias espirituais do povo, que interpretam os acontecimentos à
luz da Revelação, deixando sempre a porta aberta para o futuro. Mas todos estes
são simplesmente porta vozes de Deus,
que é o grande personagem desta etapa da história, revelando-se no concreto
encarnado e na história de luta e sofrimento, fidelidade e pecado do povo.
2) A etapa da
realização e do cumprimento:
Na plenitude dos tempos, após o povo de Israel ter passado por todas as
vicissitudes que vimos acima e ter amadurecido sua relação com Deus, "Deus enviou seu Filho nascido de
mulher" (Gal. 4,4). A realização e o cumprimento da promessa e da Aliança
se dão em Jesus Cristo nascido de Maria. Ele é a realização da promessa. Ele é
a Aliança feita carne. Isto quer dizer que depois de Deus ter se aproximado do
povo, falado com ele através de seus porta-vozes e de seus líderes, Ele agora
vai nos falar diretamente. Isto é que significa dizer que Deus se encarnou ou que sua Aliança se fez carne. Deus entrou na
história como um de nós, na carne de Jesus
de Nazaré, para poder nos dizer as coisas face a face, com as nossas
palavras e para que nós pudéssemos ouvi-lo e vê-lo não através de outra pessoa,
mas diretamente.
Jesus Cristo, a Aliança de Deus que se fez
carne, vai ser a chave para entender tudo que veio antes dele e tudo que virá
depois dele. Após a Revelação em Jesus Cristo, acreditamos que já não haverá
outro momento fundante da Revelação que leve a uma interpretação radicalmente
nova em relação àquela que já foi dada nele e por ele. Tudo que virá até a
consumação da história humana não poderá superar a revelação de Deus em Jesus
Cristo, mas deverá ser entendido à luz dela. Ele - Jesus Cristo - é o próprio Filho Amado do Pai e vem coroar a
longa preparação profética do Antigo Testamento. O Novo Testamento o apresenta
como plenitude da presença de Deus no mundo. Na visibilidade e na carne de
Jesus manifesta-se a invisibilidade e a transcendência do Deus que
"ninguém jamais viu". De maneira que só se conhece o Pai pelo e no
Filho. Nele a Revelação chega à sua plenitude.
3) A etapa da
consumação: Esta
etapa não acrescenta nada ao que já foi revelado em Jesus Cristo, mas desvela e
mostra plenamente a transparência total daquilo que foi revelado n'Ele. O véu
não é levantado apenas parcialmente, como até aqui. Mas é levantado plenamente
e o mistério pode descortinar-se em toda a sua glória. Embora haja uma continuidade
inevitável entre a revelação histórica e a revelação da glória (ou seja, o que
vai nos ser dito depois da morte não vai ser algo que não tem nada a ver com o
que vivemos aqui mas será a plenitude do que já experimentamos aqui ainda com
luzes e sombras), há também uma descontinuidade: na forma, na superação da
transitoriedade e fragilidade da carne, na vitória sobre a morte, na
ultrapassagem das categorias de tempo e espaço para dimensões além do tempo e
além do espaço. E não é só cada um e cada uma de nós que vamos experimentar
isto pessoalmente. Mas é a criação toda que espera essa plenitude da Revelação
de Deus como processo coletivo, quando todas as coisas serão penetradas pelo
Espírito de Deus, e Deus será tudo em todos. Aí a justiça e a paz se abraçarão,
não haverá mais desigualdade que faz os seres humanos sofrerem porque Deus é
que será visto e reconhecido como o Sentido de toda a realidade. Aí a criação
será plenamente capaz de reconhecer o único senhorio de Jesus Cristo e a
história será cheia e perpassada da presença do seu Espírito que renova
continuamente todas as coisas.
b) A sinfonia da
Revelação na Bíblia
O
Deus da Revelação judaico-cristã é um Deus pessoal e único. Apesar de ser o
Transcendente, o Infinito, o Imanipulável, se faz próximo, se relaciona, se
comunica, dialoga e faz Aliança. A história desta Aliança com um povo (o povo
de Israel) e com uma comunidade (a comunidade do Novo Testamento) que formam o
conteúdo da Sagrada Escritura, este conjunto de livros que são a “norma non
normata” da fé cristã.
No
Antigo Testamento, a Revelação aparece como uma sinfonia pluriforme de
diferentes tradições, diferentes gêneros literários e diferentes autores, que
expressam juntos a mesma confissão de fé na mesma Aliança feita com o mesmo
Deus.
ü Assim, o discurso profético
pronunciado “em nome de Deus” por um homem, o profeta, possuído pelo
Espírito de Deus, aparece como uma voz dentro da voz, onde a linguagem humana
se torna canal direto da Palavra (dabar) de Deus.
ü O discurso narrativo faz
com que o autor desapareça e os fatos se contem a si mesmos, fundem a
comunidade e a libertem. A Revelação qualifica esses fatos em sua
transcendência com relação ao curso ordinário da história.
ü O discurso prescritivo é
a dimensão prática da Revelação, expressão simbólica da vontade de Deus.
Estando de alguma maneira incluída no gênero narrativo, a Lei é o aspecto de
uma relação muito mais englobante do que a simples relação mandar-obedecer. É
algo dinâmico, que expressa a ética de um povo livre, exigindo perfeição e
reivindicando o querer.
ü O discurso da Sabedoria
fala da arte de bem viver, de um sentido especializado da verdadeira
felicidade, que se dá mesmo nas situações-limite, ensinando a sofrer o
sofrimento e assumir o pathos (a paixão livremente assumida).
ü O discurso do hino e da celebração expressam o
sentimento do povo pela presença de Deus, transcendendo as modalidades
cotidianas do sentir humano.
A
Revelação no Novo Testamento traz como elemento central a pessoa de Jesus
Cristo. Todos os livros do NT são uma confissão de fé neste Cristo, figura que
reúne em tensão dialética o Jesus histórico e o Senhor Exaltado à direita de
Deus. A Revelação em Jesus Cristo é o cumprimento do sentido do agora, do hoje.
Nele realizou-se já o desígnio de Deus e cumpriram-se Suas promessas. O
decisivo é a presença de Jesus na história. Só desde aí se pode falar de um
futuro, um fim, uma meta dos tempos, uma esperança fundada no fato de que Jesus
já veio e que foi ressuscitado dos mortos. A Revelação em Jesus Cristo vem sob
a forma da humildade, da pobreza e do serviço, no escândalo da cruz,
experimentado por muitos como ocultamento de Deus. A confissão de fé de que
este homem é o Filho de Deus abre para a continuação da obra de Jesus pelo
Espírito Santo Paráclito, na Igreja e no mundo.