Olá pessoal,
Hoje vou postar a 1ª Catequese do tempo da Mistagogia, como conteúdo doutrinal para Iniciação dos Jovens e Adultos.
Aqui a CATEQUISTA MÁRCIA GONÇALVES SIMPLÍCIO, explica para nós o que é Mistagogia, como ela está inserida no processo da IVIC e desenvolve sua Catequese baseada no Evangelho de Jo 20,19-25, tendo como Tema: "A PAZ ESTEJA CONVOSCO".
Pela força que o cristão recebe do Espírito Santo ao ser crismado, tornando-se sinal e luz é chamado a compartilhar das solicitudes pastorais da Igreja local, na fidelidade ao mesmo Espírito.
Que o Espírito Santo renove e recrie em nossos corações o anseio de sermos testemunhas do Senhor Ressuscitado. Amém!
"A partir de hoje, vamos iniciar uma nova fase no Catecumenato: o período da Mistagogia, que começa depois da celebração dos Sacramentos da iniciação cristã. Esse é o último tempo da iniciação onde o catecúmeno obtém o conhecimento completo dos mistérios através das explicações e da experiência dos sacramentos recebidos.
A palavra ‘Mistagogia' é de origem grega e composta de duas partes: ‘mist' + ‘agogia'. ‘Mist' vem de ‘mistério' e ‘agogia' significa ‘conduzir', ‘guiar'. Podemos definir a palavra como: a ação de guiar, conduzir para dentro do mistério.
Esse período, na linguagem dos jovens, podemos dizer que é o tempo em que “a ficha cai”, ou seja, em que vamos tomando consciência aprofundada e reflexiva daquilo que já é realidade na vida cristã, daquilo que vocês vivenciaram.
A mistagogia nos insere no mistério de Deus, que é o mistério de nossa própria vida e da história. É necessário que sejamos ‘iniciados' nesse mistério, não somente com palavras, mas principalmente através de ações simbólicas, através de ritos. No sentido original, são os ritos (as celebrações litúrgicas) que têm esta função mistagógica de nos conduzir para dentro do mistério. O que vocês viveram nas celebrações dos Sacramentos.
Na cultura atual, chamada de pós-moderna, onde percebemos os limites da razão, abre-se uma nova possibilidade para a liturgia como caminho mistagógico. Liturgia não é um tipo de execução de gestos mágicos ou puramente estéticos ou devocionais. Cada palavra, cada gesto, cada movimento, cada momento ‘contém' o mistério e nos faz mergulhar nele: no mistério de Deus, no mistério da vida, no mistério da história, em nosso próprio mistério. A iniciação a vida cristã tem como objetivo apresentar às pessoas o que é precioso e que transforma a nossa vida. Deus nos deu algo muito bom, e, através da catequese de iniciação cristã, queremos partilhar essa dádiva com outras pessoas. O sentido e o valor deste tempo vêm da experiência, pessoal e nova, tanto dos sacramentos como da comunidade.
Devemos entender que: “ser cristão não é uma carga, mas um dom: Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo”. “A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio e, hoje, pelas pandemias. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber e dar; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”. "
O tema da nossa primeira
Catequese Mistagógica é
A PAZ ESTEJA CONVOSCO!
“Ao cair da tarde daquele
primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por
medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: ´Paz seja com
vocês!´ Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os
discípulos alegraram-se quando viram o Senhor. Novamente Jesus disse: `Paz
seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio`. E com isso,
soprou sobre eles e disse: ´Recebam o Espírito Santo. Se perdoarem os
pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados´. Tomé,
chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus
apareceu. Os outros discípulos lhe disseram: ´Vimos o Senhor!´ Mas ele
lhes disse: ´Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o
meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei´".
Esse é o relato da primeira manifestação do Senhor ressuscitado à comunidade dos discípulos, no primeiro dia da semana, o domingo – o dia do Senhor.
João
relata um dia de muita tensão entre os discípulos. Isso se evidencia pelas
informações do primeiro versículo: “reunidos de portas trancadas, por medo dos
judeus”. Embora a versão litúrgica do texto use a expressão “portas
fechadas”, o evangelista usa mesmo é “de portas trancadas”. Isso denota insegurança
e medo em demasia. Era uma comunidade em crise, desmoronando.
Embora em crise e amedrontada, parece que a
comunidade estava decidida a não voltar mais aos esquemas de sempre: estava
reunida “ao anoitecer do primeiro dia da semana”. Segundo o esquema litúrgico
judaico, o anoitecer já não fazia mais parte do mesmo dia, seria então o início
do segundo dia. Mas, na embrionária comunidade cristã, é necessário que o dia
se prolongue, ou seja, as trevas não podem prevalecer sobre a luz.
A situação de medo em que os discípulos se
encontravam deve ser vista em um sentido mais amplo. Embora o evangelista
afirme que era por “medo dos judeus”, não podemos generalizar. Nem todos os
judeus transmitiam medo aos discípulos. O evangelista se refere às autoridades
judaicas e fariseus que sempre foram hostis a Jesus e continuavam sendo também
aos discípulos (cf. 9,22; 12,42; 16,16).
Enquanto não fizer uma experiência de encontro com
o Ressuscitado, toda comunidade tende a fechar-se por medo e falta de
convicções. Naquele medo estava a angústia, a desilusão e o remorso de alguns. O medo é, portanto, o resultado da ausência
do Senhor. Sem a presença do Ressuscitado, toda comunidade perece.
Diante dessa situação, eis que “Jesus entrou e
pôs-se no meio deles”. Aqui aparece a primeira condição para a comunidade
superar a crise: ter Jesus como centro.
Somente
tendo o Ressuscitado como centro, a comunidade pode acolher os seus dons. E o
primeiro dom oferecido é a paz. A tradução litúrgica diz “a paz esteja convosco”,
mas o correto é “paz a vós”, quer dizer que essa paz é atemporal, não pode
faltar jamais na comunidade. A paz é sinal da vida em plenitude, o bem-estar do
ser humano em todas as suas dimensões, sinal da autêntica felicidade.
Obviamente, se o Ressuscitado não estiver no centro, a comunidade não poderá
alcançar esse estado de vida.
Na continuidade da experiência, Jesus mostra as
mãos e o lado (v. 20a), ou seja, as marcas do sofrimento, da cruz, garantindo a
continuidade entre o Crucificado e o Ressuscitado. Com isso, ele diz que a cruz
não foi o fim. Assim, leva os discípulos à restituição da fé, uma vez que o
motivo principal da desilusão e decepção deles foi o escândalo de um messias
crucificado. A cruz não foi um acidente nem algo a ser esquecido pela
comunidade; pelo contrário, foi consequência das opções de Jesus, e as opções
da comunidade devem ser as mesmas. Portanto, é necessário que os discípulos
estejam sempre habituados com a cruz.
Finalmente, o medo foi vencido: “os discípulos se
alegraram por verem o Senhor”. Conforme Jesus mesmo tinha garantido, a tristeza
dos discípulos foi transformada em alegria (cf. Jo 16,20). De uma situação de
medo, a comunidade passa à alegria, como consequência da experiência com o
Ressuscitado. A alegria é uma característica marcante da comunidade que vive e
celebra a presença do Senhor.
A paz é novamente oferecida (v. 21a). Só é possível
acolher plenamente os dons pascais com a paz oferecida por Jesus. É a mesma paz
transmitida anteriormente como antídoto ao medo. Aqui, nessa segunda vez, a paz
precede o envio, como encorajamento para a missão: não basta transformar o medo
em alegria, é necessário anunciar e partilhar essa alegria... a alegria do
Evangelho!
“Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. Jesus
simplesmente envia. Temos uma Missão e, ao recebermos os Sacramentos da
Maturidade cristã, também somos enviados, por Jesus. Sem diminuir a importância da missão em sua
dimensão universal, o importante para o Evangelho é a comunidade. É essa a
primeira destinatária da missão, porque é nessa que estão as situações de medo,
desconfiança, falta de entusiasmo, por isso é a primeira a necessitar da paz do
Ressuscitado. Sendo portadores da sua paz, os discípulos são enviados com as
mesmas credencias, pois ele os envia como o “Pai o enviou” e, portanto, devem
fazer as mesmas opções e assumir as respectivas consequências.
A
paz é um dom de Deus, um dom do Seu Amor por nós. Quando a Liturgia retoma as
Palavras de Cristo “Deixo-vos a Paz, dou-vos a minha Paz.” (Jo 14, 27), devemos deixar que
essas palavras penetrem no nosso coração
como dádiva de Deus para que levemos essa Paz aonde quer que formos nesse mundo
e, em comunidade, possamos nos alimentar para a peregrinação rumo ao céu.
O texto mostra, como sempre, a conexão entre a
prática e as palavras de Jesus: “E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e
disse: Recebei o Espírito Santo” (v. 22). Jesus tinha prometido o Espírito
Santo na última ceia (cf. Jo 14,16.26; 15,26). Ao soprar sobre eles, a promessa
é cumprida, o Espírito é comunicado. O evangelista usa o mesmo verbo empregado
no relato da criação do ser humano: “O Senhor modelou o ser humano com a argila
do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o ser humano tornou-se
vivente (Gn 2,7). O verbo soprar significa transmissão de vida. Assim, podemos
dizer que Jesus recria a comunidade e, nessa, a humanidade inteira.
Finalmente, a comunidade foi revivificada e
habilitada para a missão, como vocês. Ao
receber o Espírito Santo, a comunidade se torna também comunicadora dessa força
de vida. É o Espírito quem mantém a comunidade alinhada ao projeto de Jesus,
porque é ele quem faz a comunidade sentir, viver e prolongar a presença do
Ressuscitado como seu único centro.
O Espírito Santo garante responsabilidade à comunidade, jamais
poder. Por isso, devemos prestar muita atenção à afirmação de Jesus: “A
quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem não perdoardes,
eles lhes serão retidos” (v. 23). Por muito tempo, esse trecho foi usado
simplesmente para fundamentar o sacramento da penitência ou confissão,
equivocadamente. Jesus não está dando um
poder aos discípulos, mas uma responsabilidade: reconciliar o mundo, levar a
paz e o amor do Ressuscitado a todas as pessoas e de todos os lugares. A
comunidade cristã tem essa grande missão: fazer-se presente em todas as
situações para, assim, tornar presente também o Ressuscitado.
Não se trata, portanto, de poder para determinar se
um pecado pode ou não pode ser perdoado. É a responsabilidade da
obrigatoriedade da presença cristã para que, de fato, o mundo seja reconciliado
com Deus. O Espírito Santo, doado pelo Ressuscitado, recria e renova a
humanidade. A comunidade tem a responsabilidade de fazer esse Espírito soprar
em todas as realidades, para que toda a humanidade seja recriada e, assim, o
pecado seja definitivamente tirado do mundo (cf. Jo 1,29).
João, o batista, apontou para Jesus como o
responsável por fazer o pecado desaparecer do mundo. Agora, é Jesus quem confia
à comunidade essa responsabilidade. Os pecados são perdoados à medida que o
amor de Jesus vai se espalhando pelo mundo, quando seus discípulos se deixam
conduzir pelo Espírito Santo. O que perdoa mesmo é o amor de Jesus; logo, ficam
pecados sem perdão quando os discípulos e discípulas de Jesus deixam de amar
como ele amou. Em outras palavras, os pecados ficarão retidos quando houver
omissão da comunidade.
É na comunidade que o Ressuscitado se manifesta,
fazendo-a perder o medo e a insegurança. Somente uma comunidade que tem o
Ressuscitado como centro, pode viver plenamente reconciliada, em paz e animada
pelo Espírito. São essas as condições para que a alegria do Evangelho seja, de
fato, anunciada!
Música.
“A PAZ ESTEJA CONVOSCO.”
Diz-nos Jesus.
Bibliografia:
-
Catecismo da Igreja Católica
-
Bíblia Católica
-
Homilias de diversos padres sobre Pentecostes
Fotos:
1- catequeseivc.net.br
2- Congregaçãomissionáriadesantoinaciodeantioquia.