Mt 9,9-13: “NÃO SÃO AS
PESSOAS COM SAÚDE QUE PRECISAM DE MÉDICO, MAS AS DOENTES”.
Jesus veio para os
doentes, para os pecadores. Ele veio porque toda a humanidade estava doente,
todos "sob o pecado" (Rm 3,9). O problema é que alguns se julgavam
justos e sadios, os mesmos que julgam vã a cruz de Cristo, pois ela parece
desnecessária aos que se consideram viver conforme as exigências. Como assim
doentes? A doença é aquela tentação de nos fecharmos em nós mesmos, de não
reconhecermos que só vivemos
da vida que vem da fonte que é Deus. Mateus sente que pode e deve deixar tudo,
pois Jesus, a Fonte da vida, acaba de convidá-lo a segui-lO. E quando nos
curarmos e ficarmos sãos? Atenção! Quando acolhemos Jesus em nossa vida, nós
nos tornamos doentes em processo de cura. Seremos sempre convalescentes, até
que a páscoa se realize plenamente em nós. Dizer que Deus prefere a
misericórdia aos sacrifícios, significa que Deus prefere a ternura eficaz para
com os frágeis, aos atos externos de culto; prefere os sentimentos cheios de
verdade e arrependimento do publicano, aos atos auto justificantes do fariseu.
O Cristianismo se refere sempre ao mais profundo, ao que está na raiz dos
comportamentos. Não bastam atitudes conformadas com a lei, se o coração
estivesse disposto a fazer diferente, dado que fosse outra a lei, sem a
convicção da escolha do bem, do que é verdade. Não esqueçamos: Jesus trouxe
algo para revolucionar nosso modo de ver a Deus e de nos relacionarmos com o
próximo. Ele é vinho novo para ser colocado em odres novos.
Mt 13,47-53: “O REINO
DOS CÉUS É AINDA COMO UMA REDE LANÇADA AO MAR.”
Muitas vezes Jesus alertou que
haverá um juízo, um momento em que estaremos diante da verdade, sem
possibilidades de nos tapearmos, nem tapearmos ao próximo. Somos
administradores da vida, de quem se requer responsabilidade. Não é responsável
fazermos experiências na vida só para termos histórias para contar, mas sim,
porque é bom e verdadeiro o que fazemos. Ninguém foi criado para “ser lançado
fora”. Deus quer que todas as pessoas vivam intensamente e cheguem à
plenitude de vida junto dEle nos Céus. Enquanto estamos nesse tempo, cabe-nos
viver de modo a que outros se alegrem, a que sejam minimizadas suas tristezas,
que se sintam acolhidos em nosso coração. Deus é especialmente amado, quando
amamos os menos amados do mundo. Seremos 'bons peixes', se nossas metas de vida
forem além da nossa comodidade e conveniências pessoais. Que nossa vida seja
fecunda para a glória de Deus, para nossa salvação e a de nossos irmãos!
Mt 13,54-58: “NÃO É ELE
O FILHO DO CARPINTEIRO?”
Jesus é reconhecido pelo trabalho que fazia. Qual é o
lugar do trabalho na vida cristã? O trabalho tem sua dimensão de fadiga,
própria da nossa ligação com Adão, a quem foi imposto o fardo de ganhar o pão
‘com o suor do rosto’ (Gn 3,19). Quando o Filho de Deus assume nossa carne, Ele
assume também essa dimensão de fadiga. Por isso, também aqui chegou à redenção.
Em qualquer trabalho, há um espaço de vida nova a ser vivido. Quem vive o trabalho só
na sua dimensão de fadiga, ainda não deixou a salvação em Cristo chegar lá. No
trabalho, podemos aperfeiçoar-nos, ou, ao menos, ver a ocasião de conviver com
outros a quem podemos amar concretamente; sublimar a motivação em função da
finalidade do que fazemos ou do que é feito com o que ganhamos. Enfim, a obra
redentora de Jesus não pode ficar excluída de nenhuma dimensão da nossa vida.
Daí, a importância de nos dedicarmos à oração antes de começarmos o trabalho.
Dar graças quando o concluirmos e sempre oferecermos a fadiga em união com a oferta
de Jesus ao Pai. Os jovens não esqueçam: nesse tempo, seu trabalho é o estudo!
Mt 14,1-12: “MANDOU
CORTAR A CABEÇA DE JOÃO.”
Herodes manda matar João, porque o que ele lhe diz
fere sua consciência adormecida. O fato mostra a fraqueza de Herodes: a verdade
cede lugar a outros compromissos menos nobres. A verdade exige humildade para
acolhê-la, sobretudo quando é uma verdade sobre algo errado em nosso proceder.
Ninguém gosta de ser desmascarado. Isso gera insegurança, perda do controle. O
que fazer? Herodes decide matar João. Diante da queda da máscara, ou se acolhe a verdade ou se procura destruir sua fonte.
Diante da atitude corajosa de João, temos a covardia de Herodes. O que fazemos
quando alguém nos corrige? Qual nossa atitude diante do conhecimento de alguma
zona frágil nossa? É um grande achado na vida encontrar alguém que tenha
coragem de sinalizar nossos erros e até vícios que, indevidamente, nos
acostumamos a conviver com eles. Se aparecer algum corajoso 'João Batista',
vejamos como chance pra experimentar uma páscoa na vida!
Mt 14,13-21: “VÓS
MESMOS DAI-LHES DE COMER!”
Por princípio, ninguém pode saciar a própria fome,
pois ninguém se basta. Mas toda pessoa é chamada a ser instrumento da
Providência para os outros. Nós vivemos daquele pão sobre o qual Jesus dá
graças ao Pai, o Pão da bênção. A desculpa de tempos difíceis não é
justificativa adequada para não nos dispormos a alimentar o outro. Quando
falamos de alimento, falamos de tudo que permite o outro viver, desde a forma
mais elementar do pão material até a
partilha de sentido para a vida, passando pelo amor e pela valorização do
outro. Quem não se dispõe a alimentar o outro, perde a chance de saciar a
própria 'fome'. Cada um, da sua pobreza, deve doar. Isso não é somente um
imperativo moral, mas uma consequência de quem sabe que vive de uma fonte
inesgotável de vida, que é Deus. No cristianismo, estamos diante de uma cultura
da abundância, aquela que nasce do jeito de agir de Deus e deve nos alcançar.
Senhor, o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje!
Mt 16,24-28:
“RETRIBUIRÁ A CADA UM DE ACORDO COM SEU COMPORTAMENTO.”
Somos livres para
escolher, mas pelas suas consequências também somos responsáveis. Jesus nos
convida a segui-lO, apresenta as condições e diz o que acontecerá numa e noutra
escolha: perder ou ganhar a vida. Este texto se refere ao desfecho da
existência. Como está meu comportamento em relação a Deus e ao próximo? Estou
sendo justo com Deus dando a ele o primeiro lugar na minha vida? Como tenho
tratado o próximo? Nosso modo de
tratar o próximo é um bom termômetro da nossa vida cristã. Se o estou tratando
mal é porque minha oração não está boa. Jesus aborda hoje "negar a si
mesmo", "tomar a cruz" para segui-lO. Isso é exigente, mas está
aí o sentido da vida. No fundo, o que temos a fazer é atualizar na nossa, a
existência de Jesus. Nega-se a si mesmo quem diz não ao movente de fundo de
Adão, acolhendo o limite imposto por Deus. Carrega a cruz quem acolhe a vida
com seus componentes atuais em ação de graças. Segue Jesus quem desarma dentro
de si a armadilha da prepotência e se decide a acolher as consequências da
fidelidade.
Mt 18,1-5.10.12-14:
“TERÁ MAIS ALEGRIA POR ESTA DO QUE PELAS NOVENTA E NOVE.”
Quem não deixaria as
noventa e nove ovelhas para buscar uma perdida? A pergunta de Jesus é para nos
desconsertar. Ele sabe que gostamos da segurança do nosso “cafofo”, que ir
atrás significaria correr o risco do insucesso, e isso exige de nós uma grande
reserva de generosidade que talvez não tenhamos à disposição. Nessa Palavra de
Jesus, está a opção preferencial pela ovelha perdida, aquela determinação existencial de viver para suscitar vida para os outros,
ajudando-os a se encontrarem na vida. Se isso nos parece óbvio e fácil é porque
não levamos a sério a proposta de Jesus. Não é fácil lidar com os perdidos da
vida, pois eles exigem de nós um gasto extra de energia. Olhemos para nossas
famílias e veremos essas ovelhas perdidas. Atenção! Hoje, podemos ser os
pastores que vão buscar a ovelha, mas nada impede que, amanhã, precisemos que
alguém vá atrás de nós. Como é bom que alguém se importe conosco! Eis a
ocasião, então, para fazermos aos outros o que gostaríamos que fosse feito a
nós. Só quem foi encontrado pelo Grande Pastor poderá ter a vitalidade
necessária para buscar a ovelha perdida!
Mt 18,15-20: “SE TEU
IRMÃO PECAR CONTRA TI, VAI CORRIGI-LO, TU E ELE A SÓS!”
Essa Palavra de hoje é
o locus classicus da correção fraterna. O que é a correção fraterna? É a
prática da obra de misericórdia espiritual de corrigir os que erram, feita de
forma fraterna. Entre o omisso e o “chato de plantão”, está a sentinela do
irmão, aquela pessoa que se importa com o outro e sabe o momento de pontuar o
que está errado nas atitudes dele. Aqui não cabe a desculpa de que não posso tirar o cisco do
olho do irmão porque tenho uma trave no meu. Se amo verdadeiramente o outro,
reconheço minha trave, mas sinalizo para meu irmão “o cisco” dele. Sem amor
pelo outro não há possibilidade de correção fraterna. Quem ama se importa que o
outro esteja no erro. Os amigos omissos não nos ajudam. Como princípio, é
melhor “avermelhar” uma vez que “amarelar” pelo resto da vida. É melhor um
constrangimento do que o amargor de uma negligência. Em cada ocasião, peçamos a
Sabedoria que vem do Espírito para sabermos as palavras adequadas e o momento
oportuno para ajudarmos os que estejam no erro. Estejamos abertos a que também
nos corrijam.
Mt 18,21 – 19,1: “NÃO
DEVIAS TU TAMBÉM TER COMPAIXÃO DO TEU COMPANHEIRO?”
Até quantas vezes? Essa é
uma pergunta legalista e não cristã. É da essência do Cristianismo a lei da
abundância – Deus é sempre abundante. A busca do limite para fazer o bem, para
ficar quite com a regra, é farisaico. O amor ama sempre, pode amar de forma
diferente em circunstâncias diferentes, mas nunca se cansa. Na Palavra de hoje,
Jesus toca um ponto sensível de nossas relações: o perdão. Todos nós queremos ambientes harmoniosos e relações satisfatórias. Mas há um preço a
pagar, que é a dose de mal que cada um tem que se comprometer a sanar com o
perdão para purificar as relações. O perdão não é dado porque o outro merece,
mas porque todos precisam dele: Quem perdoa, quem é perdoado e o ambiente em
torno de nós. A dificuldade de perdoar está ligada à falta de percepção de que
somos membros uns dos outros e todos “de barro”, podendo causar males uns aos
outros. Cada um tem a responsabilidade de oferecer sua parcela de perdão para o
mundo ser menos poluído espiritualmente. Pensemos nisso!
Mt 19,3-12: “NEM TODOS
SÃO CAPAZES DE COMPREENDER ESSA PALAVRA.”
A Palavra de hoje se refere a
situações definitivas: casamento e virgindade consagrada. O amor entre duas
pessoas, se houver a entrega no casamento, não permite voltar atrás, desistir
do outro. As mudanças acontecem, novas situações aparecem, mas o amor deverá
sustentar a busca de dar vida ao outro, de acompanhar o outro em todos os
momentos, particularmente, nos difíceis. Essa é uma Palavra exigente, porque determina que superemos a tentação de viver como meta do
casamento a vida gostosa, para vivê-lo como lugar de santificação, de amor
mantido. Este amor tira o casamento da tirania da paixão passageira, das
expectativas egocêntricas. Quanto à virgindade pelo Reino, é uma vocação ao
lado do casamento. Como toda vocação, ela tem um valor a partilhar com os
outros. O valor da vocação virginal é o grito profético do primado de Deus, de
que Ele está em primeiro lugar, e a relação com Ele é capaz de plenificar uma
vida como o casamento o é, tendo a mesma exigência de fidelidade. Que
compreendamos isso!
Mt 19,13-15:
“FORAM-LHE TRAZIDAS CRIANÇAS PARA QUE LHES IMPUSESSE AS MÃOS.”
Jesus é o
portador da bênção. Ele mesmo é a grande bênção que o Pai nos deu. Todos
acorrem a Ele: as crianças são trazidas para que Ele imponha as mãos sobre elas
e lhes faça uma oração. Por que os apóstolos as repreendem? O texto não deixa
claro, mas o incômodo causado a Jesus, por se sentirem as crianças
demasiadamente à vontade, pode ser o motivo. As crianças desmascaram certa
rigidez e formalismo religioso que temos. Certas posturas e linguagens
politicamente corretas do nosso jeito religioso são quebradas pelas crianças ou
por pessoas que, no coração, se parecem com elas. Ouvi, um dia, uma oração de
um jovem dependente químico, que me fez pensar. Primeiramente, pensei na
ousadia dele. Depois, pensei na verdade daquelas palavras. Dizia algo como:
“Jesus, se você é quem dizem, então, você deve estar muito feliz, pois eu estou
aqui e assim você tem alguém que não merece e que você pode amar”. Confesso que
não teria este atrevimento, mas até que gostei da oração dele!
Mt 19,16-22: “MESTRE,
QUE FAREI DE BOM PARA ENTRAR NA VIDA ETERNA?”
Essa Palavra testemunha alguém
entusiasmado, mas que não conseguiu ver em Jesus o tesouro pelo qual valia a
pena abrir mão de tudo. Mais que algo a fazer para ganhar a vida, seria necessário
retirar tudo o que impedisse que Deus fizesse a obra na sua vida, tudo que
pudesse colocar Deus em segundo lugar. Enquanto estava a vida sob controle, ele
aceitou bem as exigências, mas quando lhe foi pedido abrir mão de tudo, ele fracassou. O Cristianismo exige a radicalização da obediência. A
pobreza no Cristianismo não é ascese, é dispor-se para Deus, deixar terreno
livre no coração para que o querer divino não encontre adversário. Se algo se
entrepõe entre nós e a vontade de Deus, precisa ser removido. A Palavra de hoje
enfoca um homem cumpridor dos mandamentos, mas não disposto à medida sem medida
na obediência. Nós também queremos vida eterna. Nossos critérios de vida justa
precisam passar pelo crivo das exigências claras e diretas do Evangelho.
Mt 19,23-30: “UM RICO
DIFICILMENTE ENTRARÁ NO REINO DOS CÉUS.”
A bênção de Deus pode vir sobre todas
as coisas que temos. Em si, os bens não são um mal. Eles podem ser sempre
ocasião para a generosidade e para fazer nascer a ação de graças a Deus no coração
de quem recebe o dom. Qual é a armadilha da riqueza? É que ela dá a sensação de
segurança e estabilidade. De fato, há certa segurança, mas só aparente, pois o
ladrão pode roubar, as traças, corroer, ou a morte chegar; nada pode comprar a vida. Esta segurança alimenta no ser humano
o sentimento de independência de Deus, de seletividade com as pessoas, pois as
vê como potenciais parasitas dos seus bens. Somos convidados a não colocarmos a
esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus (cf. 1Tm 6,17). A vida que
buscamos nenhuma “coisa” nos pode dar. Os discípulos perguntam a Jesus: Quem
pode se salvar? A resposta é: Ninguém, por si mesmo. Ou seja, a vida da qual os
bens são um sinal, exige o total desapego deles para ganhá-la. São os últimos a
tornarem-se os primeiros, são os não-seguros deste mundo a conseguirem a plena
segurança em Deus.
Mt 20,1-16a "Estás com
inveja, porque estou sendo bom?”.
Jesus está falando do Reino e da sua lógica.
As parábolas são inventadas por Jesus para desconcertar os ouvintes/ leitores.
A queixa dos que trabalharam o dia todo não é pelo salário, mas porque foram
"igualados" aos outros. Essa palavra deve mexer com quem vive de
status, mesmo o religioso. Ainda pode causar incômodo a alguns a liberdade de
Deus de salvar quem "seja de outra hora" e não faça parte do
"nosso grupo". As palavras e ações de Jesus são criadoras de nova
mentalidade. Que essa palavra nos faça refletir!
Mt 20,1-16a: “OU ESTÁS COM INVEJA PORQUE ESTOU
SENDO BOM?”
Deus é justo de modo a não caber nos nossos parâmetros de justiça,
pois é próprio do amor, sem contrariar o que é devido, ir além. Deus vai além.
A queixa de quem trabalhou mais revela o sentimento de insatisfação não pelo
que não recebeu, mas pelo dom feito ao outro. No fundo, ele gostaria de ser a
regra para o agir do “patrão” generoso, gostaria de dar as cartas. Quão
distante está o sentimento dos que murmuram do sentir do “patrão”! Isso o indica a tristeza deles pelo bem
feito. Pensemos: Não é tudo graça? A disputa da vida não é com os outros, é com
a gente mesmo, com nossos limites por vezes trazidos para tão perto. É contra o
‘homem velho’ presente em nós que devemos lutar. O ‘homem velho’ é aquele que
se move por uma mentalidade de disputa, de necessidade de levar vantagem, de
que o outro esteja sempre atrás. Nisso não está a vida! A alegria por estar de
pé enquanto um outro está caído não é verdadeira e dura pouco. Aprendamos de
Deus a ser magnânimos. Tenhamos a alma grande! Alegremo-nos com os que se
alegram!
Mt 22,1-14: “COMO ENTRASTE AQUI SEM O TRAJE DE
FESTA?”
Jesus compara a alegria da vida cristã com a alegria dos noivos no dia
do casamento. Que estranho haver quem não aceite esse convite festivo! Mas é
assim, para ir a essa festa, é preciso renunciar aos ‘banquetes de Herodes’, ou
seja, é preciso apostar que aquela é, de longe, a melhor festa. Quem está
disposto a renunciar às conveniências? Também é preciso dar crédito a quem nos
convida. Mas não para aí. Não se pode ir a essa festa como curioso, ou do tipo “já que não tem nada para fazer...”
Não! Essa festa exige uma veste especial. Que veste é essa? É a veste da
escolha livre, total, cheia da certeza moral de que não há nada melhor a fazer
do que estar nessa festa preparada para o Filho. Aqui está a novidade do
Cristianismo: uma festa oferecida de graça (dom). Ninguém vai a essa festa
porque fez algo, ou porque tem algum dote prévio. Porém, aos convidados se pede
que se vistam adequadamente (fé obediente). Caríssimos, vivamos uma vida cristã
intensa, encorpada, mas não pesada, como quem parece mais empregado da festa do
que um alegre conviva dela.
Mt 22,34-40: “AMARÁS O SENHOR TEU DEUS DE TODO
O TEU CORAÇÃO.”
Quem ama é o que melhor obedece à Lei. O amor de que se fala
aqui não é o sentimento de satisfação por alguma relação. O amor aqui se refere
às atitudes voltadas para o que é bem e verdadeiro, na relação com Deus e com o
próximo. A essência do que devemos praticar está aqui explicitado: amar a Deus
e ao próximo. Como se ama a Deus? Obedecendo a Ele. Daí a necessidade de
conhecermos a vontade de Deus. No adequado amor ao próximo, praticamos, de uma só vez, o primeiro e o segundo
mandamento: obedecemos a Deus e buscamos o bem do próximo. Amar é querer e
realizar o bem verdadeiro para outro. O desejo do bem para outro deve mover as
atitudes. Por vezes, não fazemos o mais agradável ou mais desejado pelo outro,
mas a motivação é este importar-se que o outro experimente a plenitude de vida.
Sem colocarmos Deus em primeiro lugar acabamos por amar de modo errado o outro.
Sem amarmos o próximo, nosso pretenso amor a Deus é vazio.
Mt 23,23-26: “FILTRAIS O MOSQUITO, MAS ENGOLIS
O CAMELO.”
Essa Palavra hoje é dita a mim e a você. Como nos vemos no espelho
dessa Palavra? Ela toca nossos escrúpulos com coisas menos importantes e o
pouco zelo com as importantíssimas. O critério de importância é dado por Jesus.
O “mosquito” indica coisas pequenas, secundárias; o “camelo” as coisas grandes
(justiça, misericórdia e fidelidade). Quem vive o essencial, consegue ser
maleável no acidental. Quem é duro nas coisas menos importantes, talvez tenha
perdido o foco. Não aconteça que, em nome do que julgamos ser certo, faltemos com
o amor! O evangelho requer de nós conversão profunda, para ter a mente de
Jesus, os seus critérios de valor. Senhor, dá-nos o conhecimento da verdade e a
força do Espírito para vivê-la. Amém!
Mt 23,27-32: “SOIS SEMELHANTES A SEPULCROS
CAIADOS.”
Para a sobrevivência social, para sermos acolhidos no ambiente em que
vivemos, somos propensos a criar uma máscara que agrade ao grupo: jeito de
vestir, atitudes que se esperam de nós, fuga de reações que destoam. Há um
nível natural de adequação do qual ninguém foge. A Palavra de hoje alude a
pessoas mal intencionadas, nas quais a máscara funciona como armadilha para o
próximo. Elas atraem pelo disfarce, pelas ideias boas; estão até dispostas
a condenar o mal feito por outros. Essa Palavra é dirigida a mim e a você neste
dia. Como é nosso coração, nosso interior? Como nos percebemos na relação com
os outros? O que dizem as pessoas que convivem mais próximas de nós, aquelas
que nos conhecem? Você se sente aprovado no seu jeito de ser ou finge uma
bondade que não é real? Temos nossas dificuldades, mas ninguém está dispensado
para enganar o próximo. Se escolhermos um estilo de vida, sejamos responsáveis,
mas não sejamos armadilha para o outro. Que as pessoas se aproximem de nós não
pela nossa máscara, mas pelo que somos realmente. Se o que somos não está
adequado ao Evangelho, convertamo-nos.
Mt 24,42-51: “VIGIAI, PORQUE NÃO SABEIS O DIA
EM QUE CHEGARÁ VOSSO SENHOR.”
Dormir na vida é cômodo, mas a negligência é
também culpável. Vigiar é estar acordado. A vigilância é sobre nós mesmos. São
Filipe Neri costumava dizer: “Jesus, cuidado com o Filipe, porque ele pode te
trair a qualquer momento.” Somente é vigilante quem percebe a responsabilidade
de viver e é consciente do mal que pode fazer a qualquer momento. A vigilância cristã
não está voltada para um evento do futuro, ela é cheia de responsabilidade com o momento presente. A incerteza
do dia e da hora gera uma tensão moral salutar: somos servos que devem estar
atentos; somos administradores de quem se espera fidelidade e dela deveremos
prestar contas. Atenção! Aquele que esperamos no futuro é o mesmo que deu a
vida por nós, nos amando até o fim e que caminha conosco. Ele investiu em nós o
sangue dEle, nos deu talentos e nos sustenta com a graça. É justo que nutra o
desejo de que nos encontre vigilantes na vida.
Mt 25,1-13: “VIGIAI, POIS NÃO SABEIS O DIA, NEM
A HORA.”
A imagem da porta que se fecha é eloquente, indica o término da
história de cada um. Hoje, a Palavra cita a insensatez e a prudência na vida. A
falta de senso se manifesta numa vida superficial e irresponsável. A prudência
não tira nada da gostosura da vida, mas lhe acrescenta uma solenidade, uma
densidade para cada momento. O que deve ser, seja imediatamente feito. O “óleo”
da nossa parábola é algo essencial, do qual não se pode abrir mão e não se improvisa. Existe algo na vida
que ninguém pode fazer por nós. Os companheiros de viagem não dispõem daquela
sobra de “óleo”. Esse empreendimento faz parte daquelas responsabilidades que
se reservam a cada um e ninguém nos substitui. Há tarefas na vida que são
feitas com antecedência: o cuidado com a salvação compõe-se de um conjunto de
atitudes que nos acompanham na vida, não se improvisa. Temos que treinar nossa
vontade rebelde para nos submetermos a Deus e dispor nosso coração egoísta para
amar o próximo. A vida não se constrói com o “daqui a um tempo”. Não temos isso
à nossa disposição. Que o Esposo nos encontre com as lâmpadas acesas!
Fonte: Pe. José Otácio Oliveira Guedes.
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