O SENHOR TE CHAMA


"Gostaria de dizer àqueles e àquelas que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que têm medo ou aos indiferentes:
O Senhor também te chama para seres parte do seu povo, e o faz com grande respeito e amor!" EG, n.113.

domingo, 26 de maio de 2013

SANTÍSSIMA TRINDADE - Crer na Santíssima Trindade é crer em Deus que é Uno e Trino.

Santíssima Trindade: Pai - Filho - Espírito Santo. (Jo 16,12-15)

O ser humano vive sonhando e buscando descobrir o sentido da vida e de tudo o que existe. Em Jesus Cristo realizou-se o sonho humano e toda busca encontrou sua resposta.

A festa da Santíssima Trindade celebra num só dia as Três Pessoas da Santíssima Trindade: Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Deus que é Amor revela-se ao homem, em toda a sua plenitude, através de Jesus Cristo, e faz que o homem, conhecendo-o, viva em comunhão com o Espírito Santo.

Esta passagem do evangelho de João relata o tema do Amor de Deus traduzido em obras.Deus nos ama, cada um de nós individualmente e eternamente. Esse amor é que salva o mundo.
A primeira evidência do amor de Deus é ele nos ter enviado seu Filho em condições humanas - Filho que, consequentemente, pelo amor que tem pela humanidade, derramou seu sangue na cruz.
Uma segunda evidência de seu amor é a atitude de salvar e perdoar. Há ainda uma outra evidência: acreditar que seu amor nos levará para uma autêntica vida e para uma libertação sem fim.
A condição para ser salvo é crer nesta verdade: Jesus é o Filho de Deus. Quem o rejeita, rejeita o amor de Deus, rejeita a salvação e se condena.

Jesus, como luz, veio iluminar nossa existência com essa certeza. Acreditar nesse amor, manifestado e revelado em Cristo, faz que se saia das trevas e se conheça a verdade.
Assumindo essa missão, o Espírito glorifica a Cristo, assim como Cristo, que recebe tudo do Pai, glorifica ao Pai. Portanto, uma só Revelação, sua fonte está no pai, realiza-se no Filho e se completa nos que creem por meio do Espírito.
Deus é um Mistério de Amor. O princípio desse amor chama-se PAI. E sua realização concreta é o FILHO. A perpetuação desse amor é o ESPÍRITO SANTO.

Como acolho estas verdades?
Professamos nossa fé na Santíssima Trindade fazendo o sinal da cruz: "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo"; ao rezar o Glória ou o Credo e ao final da oração Eucarística.

"Oh Senhor nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!" (Sl 8,2a).

sábado, 25 de maio de 2013

Sinais da Intervenção do Espírito Santo na vida da Igreja

«Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica»:

Dizemos nós no Credo depois de professar a fé no Espírito Santo.

Na verdade, há uma profunda ligação entre estas duas realidades da fé, porque é o Espírito Santo que dá a vida à Igreja, que a guia e anima no anúncio do Evangelho.
São sinais da sua intervenção:

Primeiro, a unidade e a comunhão, como se viu no dia de Pentecostes, quando cada um dos presentes conseguia ouvir os Apóstolos na sua própria língua. É que todos falavam uma língua nova: a língua do amor que o Espírito derrama nos nossos corações.

O segundo sinal é a coragem humilde que o Espírito dá ao mensageiro do Evangelho, fazendo brotar sempre novas energias, novos caminhos e nova audácia para a missão.

E o terceiro sinal: tudo parte sempre da oração, porque, sem ela, torna-se vazia a nossa ação e sem alma o nosso anúncio.

O ESPÍRITO SANTO "Ensinar-vos-á toda a verdade" (Jo 16,13) - O ESPÍRITO DA VERDADE (Jo 14,17;15,26;16,13)

Hoje, gostaria de meditar sobre a ação que o Espírito Santo realiza ao guiar a Igreja e cada um de nós para a Verdade. O próprio Jesus diz aos discípulos: o Espírito Santo «ensinar-vos-á toda a verdade» (Jo 16, 13), dado que Ele mesmo é «o Espírito da Verdade» (cf. Jo 14, 17; 15, 26; 16, 13).
Vivemos numa época em que se é bastante céptico em relação à verdade. Bento XVI falou muitas vezes de relativismo, ou seja, da tendência a considerar que não existe nada de definitivo e a pensar que a verdade depende do consenso ou daquilo que nós queremos. Surge a interrogação: existe verdadeiramente «a» verdade? O que é «a» verdade? Podemos conhecê-la? Conseguimos encontrá-la? Aqui vem ao meu pensamento a pergunta do Procurador romano Pôncio Pilatos, quando Jesus lhe revela o sentido profundo da sua missão: «Que é a verdade?» (Jo 18, 37.38). Pilatos não consegue entender que «a» Verdade está diante dele, não consegue ver em Jesus o rosto da verdade, que é o rosto de Deus. E no entanto, Jesus é precisamente isto: a Verdade que, na plenitude dos tempos, «se fez carne» (Jo 1, 1.14), veio habitar no meio de nós para que nós a conhecêssemos. A verdade não se captura como uma coisa, mas a verdade encontra-se. Não é uma posse, é um encontro com uma Pessoa.

Mas quem nos faz reconhecer que Jesus é «a» Palavra da verdade, o Filho unigênito de Deus Pai? São Paulo ensina que «ninguém pode dizer: “Jesus é o Senhor”, a não ser sob a ação do Espírito Santo» (1 Cor 12, 3). É precisamente o Espírito Santo, o dom de Cristo ressuscitado, que nos faz reconhecer a Verdade. Jesus define-o o «Paráclito», ou seja, «aquele que vem em ajuda», que está ao nosso lado para nos sustentar, neste caminho de conhecimento; e, durante a última Ceia, Jesus garante aos discípulos que o Espírito Santo há-de ensinar todas as coisas, recordando-lhes as suas palavras (cf. Jo 14, 26).
Então, qual é a ação do Espírito Santo na nossa vida e na existência da Igreja, para nos guiar rumo à verdade? Antes de tudo, recorda e imprime nos corações dos fiéis as palavras que Jesus disse e, precisamente através de tais palavras, a lei de Deus — como tinham anunciado os profetas do Antigo Testamento — inscreve-se no nosso coração e em nós torna-se princípio de avaliação das escolhas e de orientação nas obras quotidianas, torna-se princípio de vida. Realiza-se a grande profecia de Ezequiel: «Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas manchas e de todas as vossas abominações. Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo... Dentro de vós colocarei o meu espírito, fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os meus preceitos» (36, 25-27). Com efeito, é do íntimo de nós mesmos que nascem as nossas obras: é precisamente o coração que deve converter-se a Deus, e o Espírito Santo transforma-o, se nós nos abrirmos a Ele.

Além disso o Espírito Santo, como Jesus promete, orienta-nos «para toda a verdade» (Jo 16, 13); guia-nos não só para o encontro com Jesus, plenitude da Verdade, mas fá-lo inclusive «dentro» da Verdade, ou seja, faz-nos entrar numa comunhão cada vez mais profunda com o próprio Jesus, proporcionando-nos a compreensão das realidades de Deus. E não a podemos alcançar só com as nossas forças. Se Deus não nos iluminar interiormente, o nosso ser cristãos será superficial. A Tradição da Igreja afirma que o Espírito da verdade age no nosso coração, suscitando aquele «sentido da fé» (sensus fidei) através do qual, como afirma o Concílio Vaticano II, o Povo de Deus, sob a guia do Magistério, adere indefectivelmente à fé transmitida, aprofunda-a com juízo recto e aplica-a mais plenamente na vida (cf. Constituição dogmática Lumen gentium, 12). Procuremos perguntar-nos: estou aberto à ação do Espírito Santo, peço-lhe que me conceda a luz, que me torne mais sensível às realidades de Deus? Esta é uma oração que devemos recitar todos os dias: «Espírito Santo, fazei com que o meu coração permaneça aberto à Palavra de Deus, que o meu coração esteja aberto ao bem, que o meu coração se abra à beleza de Deus todos os dias». Gostaria de dirigir uma pergunta a todos: quantos de vós rezam todos os dias ao Espírito Santo? Serão poucos, mas nós temos que satisfazer este desejo de Jesus e rezar todos os dias ao Espírito Santo, para que abra o nosso coração a Jesus.
Pensemos em Maria, que «conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (Lc 2, 19.51). Para que se torne vida, o acolhimento das palavras e das verdades da fé realiza-se e desenvolve-se sob a obra do Espírito Santo. Neste sentido, é necessário aprender de Maria, reviver o seu «sim», a sua disponibilidade total a receber o Filho de Deus na sua vida, que se transforma a partir daquele momento. Através do Espírito Santo, o Pai e o Filho passam a habitar em nós: nós vivemos em Deus e de Deus. Mas a nossa vida é verdadeiramente animada por Deus? Quantas coisas ponho antes de Deus?
Estimados irmãos e irmãs, temos necessidade de nos deixarmos inundar pela luz do Espírito Santo, para que Ele nos introduza na Verdade de Deus, que é o único Senhor da nossa vida. Durante este Ano da fé interroguemo-nos se, concretamente, demos alguns passos para conhecer mais Cristo e as verdades da fé, lendo e meditando a Sagrada Escritura, estudando o Catecismo, frequentando com constância os Sacramentos. Mas perguntemo-nos, contemporaneamente, que passos estamos a dar a fim de que a fé oriente toda a nossa existência. Não se é cristão «a tempo parcial», apenas em determinados momentos, em certas circunstâncias, nalgumas escolhas. Não se pode ser cristão assim, somos cristãos em cada momento! Totalmente! A verdade de Cristo, que o Espírito Santo nos ensina e nos concede, diz respeito sempre e totalmente à nossa vida quotidiana. Invoquemo-lo mais frequentemente, a fim de que nos oriente pelo caminho dos discípulos de Cristo. Invoquemo-lo todos os dias. Faço-vos esta proposta: invoquemos o Espírito Santo todos os dias, e assim o Espírito Santo aproximar-nos-á de Jesus Cristo.

Caros jovens, durante este mês de Maio, esforçai-vos por imitar a jovem de Nazaré, Maria. Ela vos ajude a ser simples, puros de coração, e a levar uma centelha de serenidade onde houver tristeza e solidão. A vós, amados doentes, faço votos a fim de que vivais, com a ajuda de Maria, a vossa situação com abandono confiante ao Senhor, Deus de toda a consolação. E vós estimados recém-casados, possais encontrar sempre alegria e apoio na vossa fidelidade recíproca.
Papa Francisco.
© Copyright 2013 - Libreria Editrice Vaticana

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O QUE É EVANGELIZAR?


Complexidade da ação evangelizadora
Na ação evangelizadora da Igreja há certamente elementos e aspectos que se devem lembrar. Alguns deles são de tal maneira importantes que se verifica a tendência para os identificar simplesmente com a evangelização. Pode-se assim definir a evangelização em termos de anúncio de Cristo àqueles que o desconhecem, de pregação, de catequese, de batismo e de outros sacramentos que hão de ser conferidos.
Nenhuma definição parcial e fragmentária, porém, chegará a dar a razão da realidade rica, complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com o risco de a empobrecer e até mesmo de a mutilar. E impossível captá-la se não se procurar abranger com uma visão de conjunto todos os seus elementos essenciais.
Tais elementos, acentuados com insistência no decorrer do mencionado Sínodo, são ainda agora aprofundados muitas vezes, sob a influência do trabalho sinodal. E nós regozijamo-nos pelo fato de eles se situarem, no fundo, na linha daqueles que o Concílio Ecumênico Vaticano II nos proporcionou, sobretudo nas Constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes e no Decreto Ad Gentes.

Renovação da humanidade
Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade: "Eis que faço de novo todas as coisas". No entanto não haverá humanidade nova, se não houver em primeiro lugar homens novos, pela novidade do batismo e da vida segundo o Evangelho. A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios.

Estratos da humanidade
Estratos da humanidade que se transformam: para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação,

Evangelização das culturas
Poder-se-ia exprimir tudo isto dizendo: importa evangelizar, não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem, no sentido pleno e amplo que estes termos têm na Constituição Gaudium et Spes, a partir sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus.
O Evangelho, e conseqüentemente a evangelização, não se identificam por certo com a cultura, e são independentes em relação a todas as culturas. E no entanto, o reino que o Evangelho anuncia é vivido por homens profundamente ligados a uma determinada cultura, e a edificação do reino não pode deixar de servir-se de elementos da civilização e das culturas humanas. O Evangelho e a evangelização independentes em relação às culturas, não são necessariamente incompatíveis com elas, mas suscetíveis de as impregnar a todas sem se escravizar a nenhuma delas.
A ruptura entre o Evangelho e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas. Assim, importa envidar todos os esforços no sentido de uma generosa evangelização da cultura, ou mais exatamente das culturas. Estas devem ser regeneradas mediante o impacto da Boa Nova. Mas um tal encontro não virá a dar-se se a Boa Nova não for proclamada.

Importância primordial do testemunho da vida
E esta Boa Nova há de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho. Suponhamos um cristão ou punhado de cristãos que, no seio da comunidade humana em que vivem, manifestam a sua capacidade de compreensão e de acolhimento, a sua comunhão de vida e de destino com os demais, a sua solidariedade nos esforços de todos para tudo aquilo que é nobre e bom. Assim, eles irradiam, de um modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança em qualquer coisa que se não vê e que não se seria capaz sequer de imaginar. 

Por força deste testemunho sem palavras, estes cristãos fazem aflorar no coração daqueles que os vêem viver, perguntas indeclináveis: Por que é que eles são assim? Por que é que eles vivem daquela maneira? O que é, ou quem é, que os inspira? Por que é que eles estão conosco?
Pois bem: um semelhante testemunho constitui já proclamação silenciosa, mas muito valiosa e eficaz da Boa Nova. Nisso há já um gesto inicial de evangelização. Daí as perguntas que talvez sejam as primeiras que se põem muitos não-cristãos, quer se trate de pessoas às quais Cristo nunca tinha sido anunciado, ou de batizados não praticantes, ou de pessoas que vivem em cristandades mas segundo princípios que não são nada cristãos. Quer se trate, enfim, de pessoas em atitudes de procurar, não sem sofrimento, alguma coisa ou Alguém que elas adivinham, sem conseguir dar-lhe o verdadeiro nome. E outras perguntas surgirão, depois, mais profundas e mais de molde a ditar um compromisso, provocadas pelo testemunho aludido, que comporta presença, participação e solidariedade e que é um elemento essencial, geralmente o primeiro de todos, na evangelização.
Todos os cristãos são chamados a dar este testemunho e podem ser, sob este aspecto, verdadeiros evangelizadores. E aqui pensamos de modo especial na responsabilidade que se origina para os migrantes nos países que os recebem.

Necessidade de um anúncio explícito
Entretanto isto permanecerá sempre insuficiente, pois ainda o mais belo testemunho virá a demonstrar-se impotente com o andar do tempo, se ele não vier a ser esclarecido, justificado, aquilo que São Pedro chamava dar "a razão da própria esperança", explicitado por um anúncio claro e inelutável do Senhor Jesus. Por conseguinte, a Boa Nova proclamada pelo testemunho da vida deverá, mais tarde ou mais cedo, ser proclamada pela palavra da vida. Não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados.
A história da Igreja, a partir da pregação de Pedro na manhã do Pentecostes amalgama-se e confunde-se com a história de tal anúncio. Em cada nova fase da história humana, a Igreja, constantemente estimulada pelo desejo de evangelizar, não tem senão uma preocupação instigadora: Quem enviar a anunciar o mistério de Jesus? Com que linguagem anunciar um tal mistério? Como fazer para que ele ressoe e chegue a todos aqueles que o hão de ouvir? Este anúncio, kerigma, pregação ou catequese, ocupa um tal lugar na evangelização que, com freqüência, se tornou sinônimo dela. No entanto, ele não é senão um aspecto da evangelização.

Para uma adesão vital numa comunidade eclesial
O anúncio, de fato, não adquire toda a sua dimensão, senão quando ele for ouvido, acolhido, assimilado e quando ele houver feito brotar naquele que assim o tiver recebido uma adesão do coração. Sim, adesão às verdades que o Senhor, por misericórdia, revelou. Mais ainda, adesão ao programa de vida, vida doravante transformada, que ele propõe; adesão, numa palavra, ao reino, o que é o mesmo que dizer, ao "mundo novo", ao novo estado de coisas, à nova maneira de ser, de viver, de estar junto com os outros, que o Evangelho inaugura. Uma tal adesão, que não pode permanecer abstrata e desencarnada, manifesta-se concretamente por uma entrada visível numa comunidade de fiéis.
Assim, aqueles cuja vida se transformou ingressam, portanto, numa comunidade que também ela própria é sinal da transformação e sinal da novidade de vida: é a Igreja, sacramento visível da salvação. Mas, a entrada na comunidade eclesial, por sua vez, há de exprimir-se através de muitos outros sinais, que prolongam e desenvolvem o sinal da Igreja. No dinamismo da evangelização, aquele que acolhe o Evangelho como Palavra que salva, normalmente, o traduz depois nestas atitudes sacramentais: adesão à Igreja, aceitação dos sacramentos que manifestam e sustentam essa adesão, pela graça que eles conferem.

Causa de um novo apostolado
Finalmente, aquele que foi evangelizado, por sua vez, evangeliza. Está nisso o teste de verdade, a pedra-de-toque da evangelização: não se pode conceber uma pessoa que tenha acolhido a Palavra e se tenha entregado ao reino sem se tornar alguém que testemunha e, por seu turno, anuncia essa Palavra.
Ao terminar estas considerações sobre o sentido da evangelização, importa formular uma última observação, que consideramos esclarecedora para as reflexões que se seguem.
A evangelização, por tudo o que dissemos é uma diligência complexa, em que há variados elementos: renovação da humanidade, testemunho, anúncio explícito, adesão do coração, entrada na comunidade, aceitação dos sinais e iniciativas de apostolado.
Estes elementos, na aparência, podem afigurar-se contrastantes. Na realidade, porém, eles são complementares e reciprocamente enriquecedores uns dos outros. É necessário encarar sempre cada um deles na sua integração com os demais. Um dos méritos do recente Sínodo foi precisamente o de nos ter repetido constantemente o convite para congraçar estes mesmos elementos, em vez de os estar a opor entre si, a fim de se ter a plena compreensão da atividade evangelizadora da Igreja.
É esta visão global que nós intentamos apresentar seguidamente, examinando o conteúdo da evangelização, os meios para evangelizar e precisando a quem se destina o anúncio evangélico e a quem é que incumbe hoje esta tarefa de evangelizar.
Fonte EN.

EVANGELIZAÇÃO, VOCAÇÃO PRÓPRIA DA IGREJA


A Igreja sabe-o bem, ela tem consciência viva de que a palavra do Salvador, "Eu devo anunciar a Boa Nova do reino de Deus", se lhe aplica com toda a verdade. Assim, ela acrescenta de bom grado com São Paulo: "Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho". 

Foi com alegria e reconforto que nós ouvimos, no final da grande assembléia de outubro de 1974, estas luminosas palavras: "Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja"; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. 

Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição.

Laços recíprocos entre a Igreja e a evangelização
Quem quer que releia no Novo Testamento as origens da Igreja e queira acompanhar passo a passo a sua história e, enfim, a examine em sua vida e ação, verá que ela se acha vinculada à evangelização naquilo que ela tem de mais íntimo.
A Igreja nasce da ação evangelizadora de Jesus e dos doze. Ela é o fruto normal, querido, o mais imediato e o mais visível dessa evangelização: "Ide, pois, ensinai todas as gentes". Ora "aqueles que acolheram a sua Palavra, fizeram-se batizar. E acrescentaram-se a eles, naquele dia, cerca de três mil pessoas... E o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos".
Nascida da missão, pois, a Igreja é por sua vez enviada por Jesus, a Igreja fica no mundo quando o Senhor da glória volta para o Pai. Ela fica aí como um sinal, a um tempo opaco e luminoso, de uma nova presença de Jesus, sacramento da sua partida e da sua permanência, Ela prolonga-o e continua-o. Ora, é exatamente toda a sua missão e a sua condição de evangelizado, antes de mais nada, que ela é chamada a continuar. 

A comunidade dos cristãos, realmente, nunca é algo fechado sobre si mesmo. Nela, a vida íntima, vida de oração, ouvir a Palavra e o ensino dos apóstolos, caridade fraterna vivida e fração do pão, não adquire todo o seu sentido senão quando ela se torna testemunho, a provocar a admiração e a conversão e se desenvolve na pregação e no anúncio da Boa Nova. Assim, é a Igreja toda que recebe a missão de evangelizar, e a atividade de cada um é importante para o todo.

Evangelizadora como é, a Igreja começa por se evangelizar a si mesma. Comunidade de crentes, comunidade de esperança vivida e comunicada, comunidade de amor fraterno, ela tem necessidade de ouvir sem cessar aquilo que ela deve acreditar, as razões da sua esperança e o mandamento novo do amor. Povo de Deus imerso no mundo, e não raro tentado pelos ídolos, ela precisa de ouvir, incessantemente, proclamar as grandes obras de Deus, que a converteram para o Senhor; precisa sempre ser convocada e reunida de novo por ele. Numa palavra, é o mesmo que dizer que ela tem sempre necessidade de ser evangelizada, se quiser conservar frescor, alento e força para anunciar o Evangelho. 

O Concílio Ecumênico Vaticano II recordou e depois o Sínodo de 1974 retomou com vigor este mesmo tema: a Igreja que se evangeliza por uma conversão e uma renovação constantes, a fim de evangelizar o mundo com credibilidade.
A Igreja é depositária da Boa Nova que há de ser anunciada. As promessas da nova aliança em Jesus Cristo, os ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, a Palavra da vida, as fontes da graça e da benignidade de Deus, o caminho da salvação, tudo isto lhe foi confiado. É o conteúdo do Evangelho e, por conseguinte, da evangelização, que ela guarda como um depósito vivo e precioso, não para manter escondido, mas sim para o comunicar.
Enviada e evangelizadora, a Igreja envia também ela própria evangelizadores. É ela que coloca em seus lábios a Palavra que salva, que lhes explica a mensagem de que ela mesma é depositária, que lhes confere o mandato que ela própria recebeu e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas próprias pessoas ou as suas idéias pessoais, mas sim um Evangelho do qual nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são os ministros para o transmitir com a máxima fidelidade.

A Igreja inseparável de Cristo
Existe, portanto, uma ligação profunda entre Cristo, a Igreja e a evangelização. Durante este "tempo da Igreja" é ela que tem a tarefa de evangelizar. E essa tarefa não se realiza sem ela e, menos ainda, contra ela.
Convém recordar aqui, de passagem, momentos em que acontece nós ouvirmos, não sem mágoa, algumas pessoas, cremos bem intencionadas, mas com certeza desorientadas no seu espírito, a repetir que pretendem amar a Cristo mas sem a Igreja, ouvir a Cristo mas não à Igreja, ser de Cristo mas fora da Igreja. O absurdo de uma semelhante dicotomia aparece com nitidez nesta palavra do Evangelho: "Quem vos rejeita é a mim que rejeita". E como se poderia querer amar Cristo sem amar a Igreja, uma vez que o mais belo testemunho dado de Cristo é o que São Paulo exarou nestes termos: "Ele amou a Igreja e entregou-se a si mesmo por ela"? 
Fonte: EN.

Jesus Cristo Evangelizador


Testemunho e missão de Jesus
O testemunho que o Senhor dá de si mesmo e que São Lucas recolheu no seu Evangelho, "Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus",(12) tem, sem dúvida nenhuma, uma grande importância, porque define, numa frase apenas, toda a missão de Jesus: "Para isso é que fui enviado".

Estas palavras assumem o seu significado pleno se se confrontam com os versículos anteriores, nos quais Cristo tinha aplicado a si próprio as palavras do profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres".

Andar de cidade em cidade a proclamar, sobretudo aos mais pobres, e muitas vezes os mais bem dispostos para o acolher, o alegre anúncio da realização das promessas e da aliança feitas por Deus, tal é a missão para a qual Jesus declara ter sido enviado pelo Pai. 
E todos os aspectos do seu mistério, a começar da própria encarnação, passando pelos milagres, pela doutrina, pela convocação dos discípulos e pela escolha e envio dos doze, pela cruz, até a ressurreição e à permanência da sua presença no meio dos seus, fazem parte da sua atividade evangelizadora.

Jesus, o primeiro evangelizador
O próprio Jesus, "Evangelho de Deus", foi o primeiro e o maior dos evangelizadores. Ele foi isso mesmo até o fim, até a perfeição, até o sacrifício da sua vida terrena.
Evangelizar: Qual o significado que teve para Cristo este imperativo? Não é fácil certamente exprimir, numa síntese completa, o sentido, o conteúdo e os modos da evangelização, tal como Jesus a concebia e a pôs em prática. De resto, uma tal síntese jamais será uma coisa perfeitamente acabada. Aqui, bastar-nos-á recordar alguns dos aspetos essenciais.

O anúncio do reino de Deus
Como evangelizador, Cristo anuncia em primeiro lugar um reino, o reino de Deus, de tal maneira importante que, em comparação com ele, tudo o mais passa a ser "o resto", que é "dado por acréscimo". Só o reino, por conseguinte, é absoluto, e faz com que se torne relativo tudo o mais que não se identifica com ele. O Senhor comprazer-se-ia em descrever, sob muitíssimas formas diversas, a felicidade de fazer parte deste reino, felicidade paradoxal, feita de coisas que o mundo aborrece; as exigências do reino e a sua carta magna; os arautos do reino; os seus mistérios; os seus filhos; e a vigilância e a fidelidade que se exigem daqueles que esperam o seu advento definitivo.

O anúncio da salvação libertadora
Como núcleo e centro da sua Boa Nova, Cristo anuncia a salvação, esse grande dom de Deus que é libertação de tudo aquilo que oprime o homem, e que é libertação sobretudo do pecado e do maligno, na alegria de conhecer a Deus e de ser por ele conhecido, de o ver e de se entregar a ele. Tudo isto começa durante a vida do mesmo Cristo e é definitivamente alcançado pela sua morte e ressurreição; mas deve ser prosseguido, pacientemente, no decorrer da história, para vir a ser plenamente realizado no dia da última vinda de Cristo, que ninguém, a não ser o Pai, sabe quando se verificará.

À custa de um esforço de conversão
Este reino e esta salvação, palavras-chave da evangelização de Jesus Cristo, todos os homens os podem receber como graça e misericórdia; e no entanto, cada um dos homens deve conquistá-los pela força, os violentos apoderam-se dele, diz o Senhor, pelo trabalho e pelo sofrimento, por uma vida em conformidade com o Evangelho, pela renúncia e pela cruz, enfim pelo espírito das bem-aventuranças. Mas, antes de mais nada, cada um dos homens os conquistará mediante uma total transformação do seu interior que o Evangelho designa com a palavra "metanoia", uma conversão radical, uma modificação profunda dos modos de ver e do coração.

Pregação infatigável
Cristo realiza esta proclamação do reino de Deus por meio da pregação infatigável de uma palavra da qual se diria que não tem nenhuma outra igual em parte alguma: "Eis uma doutrina nova, ensinada com autoridade!"; "Todos testemunhavam a seu respeito, e admiravam-se das palavras cheias de graça que saíam de sua boca"; "Jamais alguém falou como este homem". As suas palavras desvendavam o segredo de Deus, o seu desígnio e a sua promessa, e modificavam por isso mesmo o coração dos homens e o seu destino.

Também com sinais
Mas ele realiza igualmente esta proclamação com sinais inumeráveis que provocam a estupefação das multidões e, ao mesmo tempo, as arrastam para junto dele, para o ver, para o escutar e para se deixarem transformar por ele: enfermos curados, água transformada em vinho, pão multiplicado e mortos que tornam à vida. Entre todos os demais, há um sinal a que ele reconhece uma grande importância: os pequeninos, os pobres são evangelizados, tornam-se seus discípulos, reúnem-se "em seu nome" na grande comunidade daqueles que acreditam nele. Efetivamente, aquele Jesus que declarava, "Eu devo anunciar a Boa Nova do reino de Deus", é o mesmo Jesus do qual o evangelista São João dizia que ele tinha vindo e devia morrer "para congregar na unidade todos os filhos de Deus dispersos". Assim aperfeiçoou ele a sua revelação, completando-a e confirmando-a com toda a manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, com sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e com a sua ressurreição e com o envio do Espírito de verdade. 

Para uma comunidade evangelizada e evangelizadora
Aqueles que acolhem com sinceridade a Boa Nova, por virtude desse acolhimento e da fé compartilhada, reúnem-se portanto em nome de Jesus para conjuntamente buscarem o reino, para o edificar e para o viver. Eles constituem uma comunidade também ela evangelizadora. A ordem dada aos doze, "Ide, pregai a Boa Nova", continua a ser válida, se bem que de maneira diferente, também para todos os cristãos. É precisamente por isso que São Pedro chama a estes últimos "povo de sua particular propriedade a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou"; aquelas mesmas maravilhas que cada um pode alguma vez escutar na sua própria língua. A Boa Nova do reino que vem e que já começou, de resto, é para todos os homens de todos os tempos. Aqueles que a receberam, aqueles que ela congrega na comunidade da salvação, podem e devem comunicá-la e difundi-la ulteriormente.

Fonte: EN.

O ESPÍRITO SANTO - CARIDADE NA IGREJA, Unidade dos Cristãos.

O Pai e o Filho quiseram que ficássemos unidos entre nós e com eles por meio daquele mesmo vínculo que os une, isto é o AMOR, que é o Espírito Santo.
Este é o princípio que permite passar da contemplação do Espírito-Amor na Trindade a este mesmo Espírito-amor na Igreja.
A partir do século V, esta função unificante do Espírito na Trindade e na Igreja foi encerrada numa fórmula breve, que durante muito tempo, constituiu a única menção do Espírito Santo no cânon latino da Missa: "Na unidade do Espírito Santo" (in unitate Spiritus Sancti).

Este é um tema que Agostinho desenvolve em todos os seus discursos sobre Pentecostes. Usa sempre o mesmo esquema. Reevoca o evento de Pentecostes e o milagre das línguas. E então se pergunta: se cada apóstolo, naquele dia, falava todas as línguas, como é que hoje um cristão, mesmo tendo já recebido o Espírito Santo, não fala todas as línguas? A resposta do bispo é esta: Mas, não há dúvida, hoje também o cristão fala todas as línguas. cada cristão, com efeito, pertence ao corpo, que é a Igreja, que fala todas as línguas e em todas as línguas anuncia a verdade de Deus.
Nem todos os membros do nosso corpo vêem, nem todos ouvem, nem todos andam, e no entanto, não dizemos: o meu olho enxerga, o meu pé anda; mas dizemos, eu velo, eu ando, porque cada membro age por todos, e todo o corpo age em cada membro.
Assim faz o Espírito Santo no corpo de Cristo, que é a Igreja.
Ele se comporta, no corpo de Cristo, como a alma no corpo humano.
É o princípio motor e inspirador de tudo. Qual, então, o sinal seguro de se ter recebido o Espírito Santo? Falar em línguas, fazer milagres?
Não! é amar a unidade, manter-se unido firmemente à Igreja:
"Se portanto, quereis viver do Espírito Santo, conservai a caridade, amai a verdade, desejai a unidade e alcançareis a eternidade" 
"Como então as várias línguas que um homem podia falar eram o sinal da presença do Espírito Santo, assim também, agora, o amor à unidade de todos os povos é o sinal de sua presença.... Sabeis, portanto, que tereis o Espírito Santo quando consentirdes que o vosso coração se afeiçoe à unidade através de uma caridade sincera" (Agostinho)

Isto explica por que a caridade é "o caminho melhor" (1Cor 12,31): ela multiplica os carismas. Do carisma de um ela faz o carisma de todos.
Segundo Agostinho existem dois níveis de unidade da Igreja: o nível visível dos sinais, que se designa por "Comunhão dos Sacramentos", e o nível invisível, que se chama de "sociedade dos santos". Este último se realiza quando uma pessoa adere, mediante a caridade, à unidade do corpo e é "animada" pelo Espírito Santo.
Esta Igreja, íntima e plena, constituída por aqueles que, mediante a caridade, compartilha o mesmo Espírito Santo é representada em forma visível por uma pomba, símbolo ao mesmo tempo da Igreja (Cânticos dos Cânticos) e do Espírito Santo (batismo de Cristo).
Não é um fato singular que o mesmo termo caridade tenha se tornado na tradição cristã um modo de designar, simultaneamente, o Espírito Santo e a Igreja? Diz Inácio de Antioquia que a comunidade de Roma "preside à agapè", ou seja, ao conjunto de toda a Igreja.
Esta é a constelação doutrinal que o título de "amor"
 evocava no tempo em que se compôs o Veni Creator (hino). O que nos sugere, hoje?

O que professamos, o que pedimos quando chegamos à palavra caritas? No discurso da Igreja, com a encíclica Mystici Corporis, de Pio XII, se fala do Espírito Santo como da alma e do vínculo de unidade da Igreja.
Esta redescoberta recebeu decisivo impulso com o Concílio Vaticano II, que fala dos carismas e da dimensão pneumática da Igreja.
Depois do Vaticano II, falou-se da Igreja, entre os católicos, como do "mistério do Espírito Santo em Cristo e nos cristãos". Como na Trindade, o Espírito Santo é uma espécie de nós divino, em que se acham reunidos o eu do Pai e o tu do Filho, bem como na Igreja Ele é aquele que faz de uma multidão de pessoas uma única "mística pessoa".

"Onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus; e onde está o Espírito de Deus, ali também está a Igreja e toda a graça" (Santo Irineu).

A necessidade que a Igreja tem do Espírito Santo, segundo o Papa Paulo VI.

"Mais de uma vez nos perguntamos(...) que necessidade percebemos, em primeiro e último lugar, para esta nossa Igreja bendita e amada. Devemos dizê-lo, quase com estremecimento e suplicantes, porque é o seu mistério e a sua vida, bem o sabeis: o Espírito, o Espírito Santo, animador e santificador da Igreja, seu alento divino, o vento das suas velas, seu princípio unificador, sua fonte interior de luz e de força, seu sustentáculo e seu consolador, sua fonte de carismas e de cantos, sua paz e sua alegria, seu penhor e prelúdio de vida bem-aventurada e eterna.
A Igreja tem necessidade de seu perene Pentecostes; tem necessidade de fogo no coração, de palavras nos lábios, de profecia no olhar. (...) Tem necessidade, a Igreja, de readquirir o anseio, o gosto e a certeza da sua verdade(...) E tem ainda necessidade, a Igreja, de sentir refluir por todas as suas humanas faculdades a onda do amor, daquele amor que se chama caridade, e que está precisamente derramada em nossos corações justamente pelo Espírito Santo que nos foi dado". (Paulo VI, 19.11.72).

A contemplação do Espírito como caridade e amor pode ser-nos útil também na caminhada rumo à unidade de todos os cristãos. A pergunta que hoje muitos começam a se pôr é esta: posso eu, como católico, sentir-me mais em comunhão com a multidão daqueles que, batizados na mesma Igreja que eu, não mostram todavia nenhum interesse por Cristo e são cristãos apenas de nome, do que com o grande contingente daqueles que, embora pertencendo a outras Igrejas, creem nas mesmas verdades fundamentais em que eu também creio, amam a Jesus Cristo a ponto de darem a vida por Ele e operam pelo poder do mesmo Espírito Santo?

Se o sinal da presença do Espírito Santo, como dizia Agostinho, é "amor à unidade", devemos então dizer que o Espírito Santo está operando, hoje, sobretudo ali onde é viva a paixão pela unidade dos cristãos, onde se trabalha e se sofre por ela.
Fonte: Meditações-Raniero Cantalamessa.

JESUS "de novo virá na glória para julgar os vivos e os mortos"


No Credo, nós professamos que Jesus “de novo virá na glória para julgar os vivos e os mortos”. A história humana começou com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus e se conclui com o juízo final de Cristo. Muitas vezes, esquecemo-nos destes dois pólos da história, sobretudo, da fé no retorno de Cristo e no juízo final, os quais, às vezes, não são assim tão claros e fortes no coração dos cristãos.
Jesus, durante a vida pública, concentrou-se sempre na realidade da sua última vinda. Hoje, gostaria de refletir sobre três textos evangélicos que nos ajudam a entrar neste mistério: 
aquele das dez virgens, dos talentos e aquele sobre o juízo final. 
Todos os três fazem parte do discurso de Jesus sobre o fim dos tempos no Evangelho de São Mateus.
Antes de tudo, recordamos que, com a Ascensão, o Filho de Deus levou para junto do Pai a nossa humanidade por Ele assumida e quer atrair todos a si, chamar todo mundo a ser acolhido entre os braços abertos de Deus, a fim de que, ao final da história, toda a realidade seja entregue ao Pai. Há , porém, este “tempo imediato” entre a primeira vinda de Cristo e a última, que é propriamente o tempo que estamos vivendo. 
Neste contexto do “tempo imediato”, coloca-se a parábola das dez virgens (cfr Mt 25,1-13). Trata-se das dez moças que esperavam a chegada do Esposo, mas estes demoram e elas adormecem. Ao anúncio repentino de que o Esposo está chegando, todas se preparam para acolhê-lo, mas, enquanto cinco dessas, prudentes, levaram o óleo para alimentar as próprias lâmpadas, as outras, tolas, permanecem com as luzes apagadas, porque não o têm; e, enquanto o procuram, chega o Esposo e as virgens tolas encontram fechada a porta que introduz à festa de casamento. Batem insistentemente, mas agora é tarde demais, o Esposo responde: não vos conheço. 
O Esposo é o Senhor e o tempo de espera pela sua chegada é o tempo que Ele nos dá, a todos nós, com misericórdia e paciência, antes de sua vinda final; é um tempo de vigilância; tempo no qual devemos ter acesas as lâmpadas da fé, da esperança e da caridade, no qual é preciso ter aberto o coração ao bem, à beleza e à verdade; tempo de viver segundo Deus, porque não conhecemos nem o dia, nem a hora do retorno de Cristo. Aquilo que nos foi pedido é para estarmos preparados para o encontro – preparados para um encontro, para um belo encontro com Jesus – , que significa saber ver os sinais da sua presença, ter viva a nossa fé com a oração, com os sacramentos, ser vigilantes para não adormecer, para não nos esquecermos de Deus. A vida de cristãos adormecidos é uma vida triste, não é uma vida feliz. O cristão deve ser feliz, a alegria de Jesus. Não nos adormeçamos!
A segunda parábola, aquela dos talentos, faz-nos refletir sobre a relação entre como usamos os dons recebidos de Deus e o Seu retorno, no qual nos perguntará como os utilizamos (cfr. Mt 25,14-30). Conhecemos bem a parábola: antes da partida, o patrão dá a cada servo alguns talentos, a fim de que sejam utilizados bem durante a sua ausência. Ao primeiro doa cinco, ao segundo dois e ao terceiro um. No primeiro dia de ausência, os dois primeiros servos multiplicam os seus talentos – estes são moedas antigas – , enquanto o terceiro prefere enterrar o próprio e conservá-lo intacto para o patrão. Com o seu retorno, o patrão julga os seus operários: elogia os dois primeiros, enquanto o terceiro é lançado às trevas exteriores, porque escondeu por medo o talento, fechando-se em si mesmo. Um cristão que se fecha em si mesmo, que esconde tudo aquilo que o Senhor lhe deu não é cristão! É um cristão que não agradece a Deus por tudo aquilo que lhe deu! Isto nos faz dizer que a espera pelo retorno do Senhor é o tempo de ação – nós estamos no tempo de ação – , o tempo no qual colher os frutos dos dons de Deus não para nós mesmos, mas para Ele, para a Igreja, para os outros, o tempo no qual procurar sempre fazer crescer o bem no mundo. E em particular, neste tempo de crises, hoje, é importante não se fechar em si mesmo, enterrando o próprio talento, as próprias riquezas espirituais, intelectuais, materiais, tudo aquilo que o Senhor nos deu, mas abrir-se, ser solidários, ser atentos ao outro. Na Praça, vi que há muitos jovens: é verdade isto? Há muitos jovens? Onde estão? A vocês, que estão no início do caminho da vida, pergunto: já pensaram nos talentos que Deus deu a vocês? Já pensaram em como podem colocá-los a serviços dos outros? Não enterrem os talentos! Apostem em grandes ideais, aqueles que alargam o coração, aqueles ideais de serviço que tornam fecundos os vossos talentos. A vida não é dada para que a conservemos para nós mesmos, mas para que a doemos. Queridos jovens, tenham uma grande alma! Não tenham medo de sonhar com coisas grandes!
Enfim, uma parábola sobre o trecho do juízo final, no qual vem descrita a segunda vinda do Senhor, quando Ele julgará todos os seres humanos vivos e mortos (cfr Mt 25,31-46). A imagem utilizada pelo evangelista é aquela do pastor que separa as ovelhas dos cabritos. À direita estão colocados aqueles que agiram segundo a vontade de Deus, socorrendo o próximo que tem fome, sede, o estrangeiro, nu, doente, encarcerado – disse “estrangeiro”: penso que tantos estrangeiros que estão aqui na diocese de Roma: o que fazemos por eles? – enquanto para a esquerda vão aqueles que não socorreram o próximo. Isto nos diz que nós seremos julgados por Deus sobre a caridade, sobre como o temos amado nos nossos irmãos, especialmente os mais frágeis e necessitados. Certo, devemos sempre ter bem presente que nós somos justificados, somos salvos pela graça, por um ato de amor gratuito de Deus que sempre nos precede; sozinhos não podemos fazer nada. A fé é, antes de tudo, um dom que nós recebemos. Mas para dar frutos, a graça de Deus pede sempre a nossa abertura a Ele, a nossa resposta livre e concreta. Cristo vem trazer-nos a misericórdia de Deus que salva. A nós é pedido para nos confiarmos a Ele, para corresponder ao dom do seu amor com uma vida boa, feita de ações animadas pela fé e pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, olhar para o juízo final não nos cause medo; impulsione-nos para viver melhor o presente. Deus nos oferece com misericórdia e paciência este tempo, a fim de que aprendamos, a cada dia, a reconhecê-Lo nos pobres e nos pequenos, a fim de que nos comprometamos com o bem e sejamos vigilantes na oração e no amor. O Senhor, ao término da nossa existência e da história, possa reconhecer-nos como servos bons e fiéis. 
Fonte: Catequese Papa Francisco.

QUEM É O ESPÍRITO SANTO?

O tempo Pascal, guiado pela liturgia da Igreja, é por excelência o tempo do Espírito Santo dado “sem medida” (cf. Jo 3:34) por Jesus crucificado e ressuscitado. Este tempo de graça termina com a festa de Pentecostes, quando a Igreja revive o derramamento do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos reunidos em oração no Cenáculo.
Mas quem é o Espírito Santo? No Credo professamos com fé: “Creio no Espírito Santo, que é Senhor e nos dá a vida.” A primeira verdade a qual aderimos no Credo é que o Espírito Santo é Kyrios, Senhor. Isto significa que Ele é verdadeiramente Deus, como são o Pai e o Filho, objeto, de nossa parte, do mesmo ato de adoração e glorificação que elevamos ao Pai e ao Filho. O Espírito Santo, de fato, é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é o grande dom do Cristo ressuscitado  que abre as nossas mentes e nossos corações à fé em Jesus como Filho enviado pelo Pai, que nos leva à amizade, à comunhão com Deus.
Mas eu quero focar no fato de que o Espírito Santo é a fonte inesgotável da vida de Deus em nós. O homem de todos os tempos e todos os lugares deseja uma vida plena e bela, justa e boa, uma vida que não seja ameaçada pela morte, mas que possa amadurecer e crescer até sua plenitude. O homem é como um viajante que, atravessando os desertos da vida, tem sede de água viva, abundante e fresca, capaz de saciar seu profundo desejo de luz, de amor, de beleza e paz. Todos nós sentimos esse desejo! E Jesus nos dá essa água viva, o Espírito Santo que procede do Pai e que Jesus derrama em nossos corações. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”, Jesus nos diz (Jo 10,10).
Jesus promete à samaritana uma “água viva”, com abundância e para sempre a todos aqueles que O reconhecem como o Filho enviado pelo Pai para nos salvar (cf. Jo 4, 5-26; 3:17). Jesus veio para nos dar esta “água viva” que é o Espírito Santo, para que a nossa vida seja guiada por Deus, animada por Ele, alimentada por Ele. Quando dizemos que o cristão é um homem espiritual, queremos dizer exatamente isso: o cristão é alguém que pensa e age segundo Deus, segundo o Espírito Santo. Mas me pergunto: e nós, pensamos segundo Deus? Agimos de acordo com Deus ou nos deixamos guiar por tantas outras coisas que não Deus? Cada um de nós deve responder a isto no profundo de seu coração.
Neste ponto, podemos nos perguntar: por que esta água pode saciar plenamente a nossa sede? Sabemos que a água é essencial para a vida; sem água morremos, ela sacia, lava, torna fecunda a terra. Na carta aos Romanos encontramos esta expressão: “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (5:5). Água viva, o Espírito Santo, dom do Ressuscitado que habita em nós, nos purifica, nos ilumina, nos renova, nos transforma para que nos tornemos participantes da própria vida de Deus, que é Amor. Por isso, o apóstolo Paulo afirma que a vida do cristão é animada pelo Espírito e seus frutos, que são “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5:22-23).O Espírito Santo nos introduz à vida divina como “filhos no Filho Unigênito”.
Em outro trecho da carta aos Romanos, que já mencionamos outras vezes, São Paulo resume tudo nestas palavras: “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. E vós… recebestes o Espírito que nos torna filhos adotivos, pelo qual clamamos: ‘Abba, Pai’!. O mesmo Espírito, em união com o nosso espírito, comprova que somos filhos de Deus e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, se sofremos com Ele, para que também sejamos glorificados com Ele” (8, 14-17).
Este é o dom precioso que o Espírito Santo coloca em nossos corações: a própria vida de Deus, vida de verdadeiros filhos, uma relação de confiança, liberdade, confiança no amor e na misericórdia de Deus, que tem como efeito também um novo olhar ao outro, próximo ou distante, cada vez mais visto como irmão e irmã em Jesus, a ser respeitado e amado.
O Espírito Santo nos ensina a olhar com os olhos de Cristo, a viver a vida como Ele viveu, a entender a vida como Ele entendeu. É por isso que a água viva, que é Espírito Santo, sacia a nossa vida, porque nos diz que somos amados por Deus como filhos, que podemos amar Deus como filhos e que por sua graça podemos viver como filhos de Deus, como Jesus. E nós, escutamos o Espírito Santo? O que podemos dizer em relação ao Espírito? Dizem: Deus te ama. Dizem isso a nós. Deus te ama. Nós realmente amamos Deus e os outros como Jesus?
Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, que Ele nos fale ao coração e nos diga isto: que Deus é amor, que Deus nos espera, que Deus é Paique nos ama como um verdadeiro Pai, nos ama verdadeiramente e isso somente o Espirito Santo nos diz ao coração. Sintamos o Espírito Santo, escutamos o Espírito Santo e vamos em frente pelo caminho do amor, da misericórdia e perdão. 
Fonte: Papa Francisco, Vaticano 08.05.2013.

A Ação do Espírito Santo em nossas vidas e na vida da Igreja


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, quero centrar-me na ação que o Espírito Santo realiza na condução da Igreja e de cada um de nós rumo à Verdade. Jesus disse aos discípulos: “O Espírito Santo ‘vos guiará à verdade’ (Jo 16:13), sendo ele mesmo ‘o Espírito da verdade’” (cf. Jo 14:17, 15:26, 16:13).
Vivemos em uma época na qual somos, cada vez mais, cético em relação à verdade. Bento XVI falou, muitas vezes, sobre o relativismo, a tendência de acreditar que não há nada de definitivo e pensar que a verdade vem pelo consentimento ou por aquilo que queremos.
Surge a pergunta: existe realmente a verdade? O que é a verdade? Podemos conhecê-la? Podemos encontrá-la? Aqui, vem-me à mente a pergunta do procurador romano Pôncio Pilatos, quando Jesus revela o sentido profundo de Sua missão: “O que é a verdade?” (Jo 18,37.38). Pilatos não consegue entender que a Verdade está diante dele, não consegue ver em Jesus a face da verdade, que é o rosto de Deus. E Jesus, de fato, é a Verdade que, na plenitude dos tempos, “se fez carne” (Jo 1,1.14), veio a nós para que nós a conhecêssemos. Ela não se agarra como uma coisa, mas se encontra. Não é uma posse, é um encontro com uma Pessoa.
Mas quem nos faz reconhecer que Jesus é a Verdadeira Palavra, o Filho unigênito de Deus Pai? São Paulo ensina que “ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor!’ senão pelo Espírito Santo” (ICor. 12,3). É Ele, o dom de Cristo ressuscitado, que nos faz reconhecer a verdade. Jesus o define como o Paráclito, que significa “aquele que vem em nosso auxílio”, que está do nosso lado para nos apoiar neste caminho de conhecimento, Na Última Ceia, Jesus assegura aos discípulos que o Espírito Santo os ensinará todas as coisas , recordando-os de Suas palavras (cf. Jo 14,26).
Qual é a ação do Espírito Santo em nossas vidas e na vida da Igreja para nos guiar à verdade? Antes de tudo, Ele recorda e marca, no coração dos que creem, as palavras que Jesus disse e, por meio destas, a lei de Deus – como haviam anunciado os profetas do Antigo Testamento. Está inscrito, em nosso coração e em nós; torna-se um princípio de avaliação nas escolhas e orientação nas ações do dia a dia; torna-se um princípio de vida. Realiza-se a grande profecia de Ezequiel: “Eu vos purificarei de todas as vossas imundícies e de todos os vossos ídolos, vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo… Porei o meu espírito dentro de vós e vos farei viver de acordo com as minhas leias, vos farei observar e colocar em prática os meus preceitos” (36:25-27). De fato, é do nosso interior que nascem nossas ações: é o coração que precisa se converter a Deus e o Espírito Santo o transforma se nós nos abrimos a Ele.
O Espírito Santo, então, como Jesus promete, guia-nos “a toda a verdade” (Jo 16:13), leva-nos não somente a encontrar Jesus, a plenitude da Verdade, mas também nos guia para “dentro” dela, faz-nos entrar em comunhão mais profunda com Jesus, dando-nos a inteligência das coisas de Deus. E isso não podemos conseguir por conta própria. Se Deus não nos ilumina interiormente, o nosso ser cristão será superficial.
A Tradição da Igreja afirma que o Espírito da verdade age em nossos corações suscitando o “sentido da fé” (sensus fidei), por meio do qual, como afirma o Concílio Vaticano II, o povo de Deus, guiado pelo Magistério, infalivelmente adere à fé transmitida, aprofunda-se nela com um julgamento correto e a aplica mais plenamente na vida (cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 12). Perguntemo-nos: “Estou aberto à ação do Espírito Santo? Peço para que Ele me traga luz, faça-me mais sensível às coisas de Deus? Esta é uma oração que devemos fazer todos os dias: “Espírito Santo, faça com que meu coração seja aberto à Palavra de Deus, que meu coração esteja aberto ao bem, à beleza de Deus todos os dias”. Gostaria de fazer uma pergunta a todos: “Quantos de vocês rezam todos os dias ao Espírito Santo?” Serão poucos, mas devemos cumprir esse desejo de Jesus e orar, todos os dias, ao Espírito de Deus para que Ele nos abra o coração a Jesus.
Pensemos em Maria, a qual “guardava todas as coisas, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19.51).  O acolhimento das palavras e das verdades da fé, para que se tornem vida, se realiza e cresce sob a ação do Espírito Santo. Neste sentido, devemos aprender de Maria, revivendo o seu ‘sim’,  a disponibilidade total em receber o Filho de Deus em sua vida, a qual, a partir daquele momento, é transformada. Por meio do Espírito Santo, o Pai e o Filho permanecem em nós e nós vivemos em Deus e para Deus. Mas a nossa vida é realmente animada pelo Senhor? Quantas coisas coloco em primeiro lugar em vez de Deus?
Queridos irmãos e irmãs, precisamos nos deixar inundar pela luz do Espírito para que Ele nos introduza à Verdade de Deus, o único Senhor de nossa vida. Neste ‘Ano da Fé’, perguntemo-nos se, realmente, temos dado algum passo para conhecer mais Cristo e as verdades da fé, lendo e meditando as Escrituras, estudando o Catecismo, recorrendo, com frequência, aos sacramentos. Mas nos perguntemos também quais os passos temos dado para que a fé oriente a nossa existência. Não podemos ser cristãos de momento, só em certas ocasiões, em certas circunstâncias, em algumas escolhas. Devemos ser cristãos em todos os momentos!Totalmente! A verdade de Cristo, que o Espírito Santo nos ensina e nos revela, para sempre e totalmente, interessa para sempre à nossa vida diária.
Invoquemos, mais vezes, o Espírito Santo para que nos guie no caminho dos discípulos de Cristo. Invoquemos todos os dias. Faço-vos esta proposta: invoquemos todos os dias o Espírito Santo, assim Ele vai nos aproximar, cada vez mais, de Jesus Cristo.
Fonte: Catequese do Papa Francisco-Vaticano-15.05.2013.

sábado, 11 de maio de 2013

Celebração da Ceia do Senhor (1Cor 11,17-34) no relato de Paulo

"Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que ele venha" (1Cor 11,17-34).

Paulo enfrenta um problema muito mais sério, o escândalo das celebrações eucarísticas dos coríntios. A "ceia do Senhor" ou eucaristia costumava ser celebrada ao entardecer nas casas particulares - não havia ainda igrejas - dos mais ricos da comunidade, as únicas que tinham capacidade para acolher cinquenta ou sessenta pessoas.
Antes de começar a "ceia do Senhor" propriamente dita, fazia-se uma refeição fraterna à qual os ricos traziam suas provisões que evidentemente tinham de ser compartilhadas entre todos. Sem esperar que chegassem os mais necessitados e os retardatários que costumavam ser os trabalhadores e escravos em razão de sua longa jornada de trabalho, os ricos comiam e bebiam a mais não poder, de modo que quando chegavam os pobres para eles restavam as sobras, se é que sobrava alguma coisa.
Imediatamente depois ricos e pobres, uns de barriga cheia e até embriagados e outros famintos e sedentos, procediam à celebração da eucaristia.

Ao saber disso, Paulo fica cheio de indignação. Até esse extremo chegam as divisões entre os ricos e os pobres da comunidade? Que espécie de eucaristia celebrais vós?, chega a dizer o apóstolo para aqueles ricos. Para comer e embriagar-se, comam e embriaguem-se em suas casas. Fazê-lo onde o fazem menosprezam a assembleia de Deus e envergonham os que nada possuem(v.22) e que são simplesmente seus irmãos e suas irmãs.
Diante dessa situação, Paulo expõe aos coríntios o relato da Instituição da Eucaristia, seu sentido e consequências, em uma bela catequese que, ao mesmo tempo que ensina, denuncia e repreende.
Trata-se do documento mais antigo do Novo Testamento sobre a Instituição da Eucaristia, dado que esta carta foi escrita lá pelos anos 55-56, muito temo antes dos evangelhos. O apóstolo diz que lhes transmite uma tradição que ele mesmo recebeu, provavelmente em Antioquia, e que remonta até o Senhor.
Nos tempos de Paulo, essa tradição já se havia concretizado em uma celebração litúrgica na qual se realizavam as duas ações eucarísticas (vv 23-25), uma em continuação da outra - exatamente como em nossas celebrações eucarísticas de hoje, na qual à benção do pão segue a benção do cálice (vinho) -, e não espaçadas de acordo com o ritmo da ceia judaica da Páscoa, tal como aconteceu na "última ceia do Senhor".
A refeição fraterna se realizava antes e estava intimamente ligada ao próprio sentido da eucaristia, isto é, união e solidariedade.

Paulo situa a celebração eucarística entre dois horizontes, ambos referentes a Jesus. Um histórico: "na noite em que foi traído" (v.23). Outro, futuro: "até que venha" (v.26).
Entre ambos os horizontes transcorre o "aqui e agora" da vida e missão da comunidade cristã que tem seu coração e seu centro
 na Eucaristia. O pão e o vinho consagrados recordam, atualizam, tornam presentes no seio da comunidade "a memória de Jesus", isto é, toda a sua vida entregue aos pobres, aos marginalizados e pecadores que culmina com a morte na cruz e a ressurreição.

Pois bem, essa "memória de Jesus" pela invocação e presença do Espírito Santo liberta, transforma e salva, pois "todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha" (v.26). Assim, o "corpo eucarístico" de Jesus não é já somente seu corpo morto e ressuscitado, presente no pão e no vinho, mas abrange toda a comunidade de crentes que fica transformada no "corpo de Cristo", segundo a metáfora favorita de Paulo para se referir à comunidade cristã.

O apóstolo tira as consequências. Pode-se participar da eucaristia, ouvir a Palavra de Deus, comungar o corpo e o sangue do Senhor e depois ignorar o pobre e o oprimido? O apóstolo é duríssimo: quem come o pão e bebe o cálice do Senhor de maneira indigna comete pecado contra o Corpo e o Sangue do Senhor, come e bebe sua própria condenação porque despreza o Corpo de Cristo em seus membros mais frágeis, oprimidos e marginalizados.

O compromisso pela justiça e pela libertação não é já uma simples exigência ética para Paulo, e sim que surge do próprio cerne do ser cristão, isto é, de pertencer ao "Corpo" daquele que deu sua vida pela libertação de todos em uma clara opção pelos mais desprotegidos e marginalizados da sociedade.

Essa é a missão da Igreja, Corpo de Cristo, "até que venha" e faça definitiva e universal a salvação já começada.
fonte: Bíblia Jerusalém
         Bíblia Ave Maria
     

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Os diversos campos de apostolado - Comunidade; Família; Jovens; Sociedade; Ordem.


OS VÁRIOS CAMPOS DO APOSTOLADO

Vários campos do apostolado dos leigos.
A Igreja
Os leigos exercem o seu apostolado multiforme tanto na Igreja como no mundo. Em ambos os planos se abrem vários campos de atividade apostólica de que queremos aqui lembrar os principais. São: as comunidades eclesiais, a família, a juventude, o meio social, as ordens nacional e internacional. E como hoje a mulher tem cada vez mais parte ativa em toda a vida social, é da maior importância que ela tome uma participação mais ampla também nos vários campos do apostolado da Igreja.

Porque participam no múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, têm os leigos parte ativa na vida e ação da Igreja. A sua ação dentro das comunidades eclesiais é tão necessária que, sem ela, o próprio apostolado dos pastores não pode conseguir, a maior parte das vezes, todo o seu efeito. Porque os leigos com verdadeira mentalidade apostólica, à imagem daqueles homens e mulheres que ajudavam Paulo na propagação do Evangelho (cf. At. 18, 18, 20; Rom. 16, 3), suprem o que falta a seus irmãos e revigoram o espírito dos pastores e dos outros membros do povo fiel (cf. 1 Cor. 16, 17-18). Pois eles, fortalecidos pela participação ativa na vida litúrgica da comunidade, empenham-se nas obras apostólicas da mesma.

Conduzem à Igreja os homens que porventura andem longe, cooperam intensamente na comunicação da palavra de Deus, sobretudo pela atividade catequética, e tornam mais eficaz, com o contributo da sua competência, a cura de almas e até a administração dos bens da Igreja.
A paróquia dá-nos um exemplo claro de apostolado comunitário porque congrega numa unidade toda a diversidade humana que aí se encontra e a insere na universalidade da Igreja. Acostumem-se os leigos a trabalhar na paróquia intimamente unidos aos seus sacerdotes, a trazer para a comunidade eclesial os próprios problemas e os do mundo e as questões que dizem respeito à salvação dos homens, para que se examinem e resolvam no confronto de vários pareceres. Acostumem-se, por fim, a prestar auxílio a toda a iniciativa apostólica e missionária da sua comunidade eclesial na medida das próprias forças.

Cultivem o sentido de diocese, de que a paróquia é como que uma célula, e estejam sempre prontos, à voz do seu pastor, a somar as suas forças às iniciativas diocesanas. Mas, para responder às necessidades das cidades e das regiões rurais, não confinem a sua cooperação dentro dos limites da paróquia ou da diocese, mas esforcem-se por estendê-la aos campos interparoquial, interdiocesano, nacional ou internacional. Tanto mais que a crescente migração de povos, o incremento de relações mútuas e a facilidade de comunicações já não permitem que parte alguma da sociedade permaneça fechada em si. Assim devem interessar-se pelas necessidades do Povo de Deus disperso por toda a terra. Em primeiro lugar, façam suas as obras missionárias, prestando auxílios materiais ou mesmo pessoais. Pois é dever e honra dos cristãos restituir a Deus parte dos bens que d'Ele recebem.

A família
O criador de todas as coisas constituiu o vínculo conjugal princípio e fundamento da sociedade humana e fê-lo, por sua graça, sacramento grande em Cristo e na Igreja (cf. Ef. 5, 32). Por isso, o apostolado conjugal e familiar tem singular importância tanto para a Igreja como para a sociedade civil.
Os esposos cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé um para com o outro, para com os filhos e demais familiares. Eles são os primeiros que anunciam aos filhos a fé e os educam. Formam-nos, pela palavra e pelo exemplo, para a vida cristã e apostólica. Ajudam-nos com prudência a escolher a sua vocação e fomentam com todo o cuidado a vocação de consagração porventura neles descoberta.

Foi sempre dever dos esposos e hoje é a maior incumbência do seu apostolado: manifestar e demonstrar, pela sua vida, a indissolubilidade e a santidade do vínculo matrimonial; afirmar vigorosamente o direito e o dever próprio dos pais e tutores de educar cristãmente os filhos; defender a dignidade e legítima autonomia da família. Cooperem, pois, eles e os outros cristãos, com os homens de boa vontade para que estes direitos sejam integralmente assegurados na legislação civil. No governo da sociedade, tenham-se em conta as necessidades familiares quanto à habitação, educação dos filhos, condições de trabalho, seguros sociais e impostos. Ao regulamentar a migração salve-se sempre a convivência doméstica.

Foi a própria família que recebeu de Deus a missão de ser a primeira célula vital da sociedade. Cumprirá essa missão se se mostrar, pela piedade mútua dos seus membros e pela oração feita a Deus em comum, como que o santuário doméstico da Igreja; se toda a família se inserir no culto litúrgico da Igreja e, finalmente, se a família exercer uma hospitalidade atuante e promover a justiça e outras boas obras em serviço de todos os irmãos quê sofrem necessidade. Podem enumerar-se, entre as várias obras de apostolado familiar, as seguintes: adotar por filhos crianças abandonadas, receber com benevolência estrangeiros, coadjuvar no regime das escolas, auxiliar os adolescentes com conselhos e meios materiais, ajudar os noivos a prepararem-se melhor para o matrimônio, colaborar na catequese, auxiliar os esposos e as famílias que se encontram em crise material ou moral, proporcionar aos velhos não só o necessário, mas também fazê-los participar, com equidade, dos frutos do progresso econômico.

As famílias cristãs, pela coerência de toda a sua vida com o Evangelho e pelo exemplo que mostram do matrimônio cristão, oferecem ao mundo um preciosíssimo testemunho de Cristo, sempre e em toda a parte, mas sobretudo naquelas regiões em que se lançam as primeiras sementes do Evangelho ou em que a Igreja está nos começos ou atravessa alguma crise grave.
Pode ser oportuno que as famílias se, unam em certas associações para mais facilmente poderem atingir os fins do seu apostolado.

Os jovens
Os jovens exercem na sociedade de hoje um influxo da maior importância. As condições em que vivem, os hábitos mentais e até as relações com a própria família estão profundamente mudadas. É frequente passarem com demasiada rapidez a uma condição social e econômica nova. Por um lado, cresce cada vez mais a sua importância social e até política; por outro, parecem incapazes de assumir convenientemente as novas tarefas.

Este acréscimo de influência na sociedade exige deles uma atividade apostólica correspondente. Aliás, a sua própria índole natural os dispõe para ela. Com o amadurecimento da consciência da própria personalidade, estimulados pelo ardor da vida e pela atividade transbordante, assumem a própria responsabilidade e desejam tomar a parte ativa que lhes compete na vida social e cultural. Se este zelo é penetrado pelo espírito de Cristo e animado pela obediência e pelo amor para com os pastores da Igreja, podemos esperar dele frutos muito abundantes. Eles mesmos devem ser os primeiros e imediatos apóstolos da juventude e exercer por si mesmos o apostolado entre eles, tendo em conta o meio social em que vivem.

Os adultos procurem estabelecer com os jovens um diálogo amigo que permita a ambas as partes, superando a distância de idades, conhecerem-se mutuamente e comunicarem uns aos outros as próprias riquezas. Estimulem os adultos a juventude ao apostolado, primeiro pelo exemplo e, dada a ocasião, por conselhos prudentes e ajuda eficaz. E os jovens mostrem para com os mais velhos respeito e confiança. E, ainda que por natureza são inclinados a novidades, tenham, contudo, na devida estima aquelas tradições que são válidas.
Também as crianças têm a sua própria atuação apostólica. Segunda as suas forças, são em verdade testemunhos vivos de Cristo entre os companheiros.

O apostolado social
O apostolado no meio social, isto é, o empenho em informar de espírito cristão a mentalidade e os costumes, as leis e estruturas da comunidade em que se vive, são incumbência e encargo de tal modo próprios dos leigos que nunca poderão ser plenamente desempenhados por outros. Neste campo, podem os leigos exercer um apostolado de semelhante para com semelhante. Aí completam o testemunho da vida pelo testemunho da palavra. Nesse campo do trabalho, da profissão, do estudo, da residência, do tempo livre ou da associação, são eles os mais aptos para ajudar os seus irmãos.

Os leigos realizam esta missão da Igreja no mundo, antes de tudo, por aquela coerência da vida com a fé, pela qual se tornam luz do mundo; pela honestidade nos negócios, com a qual a todos atraem ao amor da verdade e do bem e, finalmente, a Cristo e à Igreja; pela caridade fraterna que, fazendo-os participar das condições de vida, dos trabalhos, dos sofrimentos e aspirações de seus irmãos, prepara insensivelmente todos os corações para a ação da graça salutar; por aquela plena consciência da participação que devem ter na construção da sociedade, a qual os leva a esforçarem-se por desempenhar com magnanimidade cristã a atividade doméstica, social e profissional. Assim, o seu modo de agir penetra pouco a pouco no meio de vida e de trabalho.
Este apostolado deve abranger todos aqueles que aí se encontram e não excluir nenhum bem espiritual ou temporal que possam fazer. Mas os verdadeiros apóstolos não se contentam só com esta ação e esforçam-se por anunciar Cristo ao próximo também por meio da palavra. E que muitos homens só por meio de seus companheiros leigos podem ouvir o Evangelho e conhecer Cristo.

O apostolado na ordem nacional e internacional
Um imenso campo de apostolado se abre na ordem nacional e internacional, em que são sobretudo os leigos os administradores da sabedoria cristã. Os católicos sintam-se obrigados a promover o bem comum na dedicação à pátria e no fiel cumprimento dos deveres civis, e façam valer o peso da sua opinião de modo a que o poder civil se exerça com justiça e as leis correspondam aos preceitos morais e ao bem comum. Os católicos peritos nos negócios públicos e firmes, como devem ser, na fé e doutrina cristã, não recusem participar neles uma vez que, exercendo-os dignamente, podem atender ao bem comum e, ao mesmo tempo, abrir caminho ao . Evangelho.

Empenhem-se os católicos em cooperar com todos os homens de boa vontade para promover tudo o que é verdadeiro, tudo o que é justo, tudo o que é santo, tudo o que é digno de ser amado (cf. Fl. 4,8). Dialoguem com eles, indo ao seu encontro com prudência e bondade. E investiguem em conjunto o modo de organizar as instituições sociais e públicas segundo o espírito do Evangelho.
Entre os sinais do nosso tempo, é digno de especial menção aquele crescente e inelutável sentido de solidariedade entre todos os povos que o apostolado dos leigos tem por encargo promover ativamente e converter em sincero e verdadeiro afeto fraternal. Além disso, devem os leigos ter consciência da realidade internacional e das questões e soluções, doutrinais ou práticas, que nela se originam, sobretudo quanto aos povos em desenvolvimento.

Lembrem-se todos aqueles que trabalham em nações estrangeiras ou lhes prestam auxílio, que as relações entre os povos devem ser um verdadeiro convívio fraterno em que ambas as partes simultaneamente dão e recebem. Aqueles, porém, que viajam ou por causa de obras internacionais, ou por negócios ou por motivo de descanso, lembrem-se que são também, em toda a parte, pregoeiros itinerantes de Cristo e procedam como tais.
Concílio Vaticano II - Apostolicam actuositatem
Cap. III; §9-14.